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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

ESCRITO NAS ESTRELAS - O CENTENÁRIO DE CHACRINHA, O ETERNO "VELHO GUERREIRO"


Irreverente e sempre vestido de forma extravagante, com roupas de paetês coloridos, usava uma buzina pendurada ao pescoço, que utilizava quando o calouro cometia algum deslize. Sons de animais e panelas eram usados no programa onde também atirava bacalhau à plateia e oferecia abacaxi como prêmio aos cantores. Neste capítulo da série especial Escrito nas Estrelas, uma homenagem a este que é considerado pela maioria como o maior comunicador do rádio e da televisão brasileira de todos os tempos. 

"Roda, roda, roda e avisa..."


José Abelardo Barbosa de Medeiros, mais conhecido como Chacrinha, nasceu em Surubim, Pernambuco, no dia 30 de setembro de 1917. 

Aos 10 anos mudou-se com a família para Campina Grande, na Paraíba. Com 17 anos foi estudar em Recife e logo em 1936 entrou para a faculdade de Medicina. Foi quando foi fazer uma palestra sobre alcoolismo e percebeu seu jeito, junto ao público. Pode-se dizer que isso aconteceu de estalo, tanto que ele interrompeu seus estudos, já no 3º ano da faculdade e embarcou para o Rio de Janeiro. Iniciou sua carreira como locutor na Rádio TUPI do Rio de Janeiro, em 1939.

Após perder um ano de faculdade por conta de uma cirurgia do apêndice, o jovem aceitou o convite para tocar em um navio com destino à Europa. De volta ao Brasil, ele desembarcou aos 22 anos no Rio de Janeiro. Trabalhou em várias emissoras de rádio e começou a carreira como locutor na Rádio Tupi. Mas era inquieto e em 1943 foi para a Rádio Fluminense e lançou o programa: "Rei Momo na Chacrinha", que fez muito sucesso. É que a emissora se localizava em uma pequena chácara, em Niteroi (RJ). 

Ele ficou sendo chamado de Abelardo Chacrinha Barbosa e depois só Chacrinha. Com o fim do carnaval de 1944, Abelardo criou o Cassino da Chacrinha. Fez tanto sucesso que passou a ser conhecido como Abelardo “Chacrinha” Barbosa. Pouco depois, assumiu o apelido como nome artístico.

Casou-se com dona Florinda Barbosa, viveram juntos por 41 anos e tiveram 3 filhos: José Amélio, Jorge Abelardo e Zé Renato.

Ele é considerado o maior comunicador do rádio e da televisão brasileira. Começou a carreira no rádio, no final dos anos 30. Em 1956, estreou na televisão com um programa de auditório, alegre, diferente e inovador que conquistou o gosto popular.

O Grande Guerreiro é considerado responsável pela popularização da televisão como meio de comunicação de massa. Autor de inesquecíveis frases, como: 
"Na televisão, nada se cria, tudo se copia", "Quem não se comunica se trumbica" 
"Eu vim para confundir, não para explicar"
e das perguntas: 
"Vocês querem bacalhau?" 
e
"Vai para o trono ou não vai?"
misturava em seu trabalho descontração, alegria e ironia. O grito de guerra "Terezinha!", que era respondido pela plateia com "Uh, uuuh!, já dando uma prova pela discordância rítmica de que Chacrinha não estava nem aí com o "politicamente correto", não era homenagem a nenhuma Tereza, surgiu em substituição ao antigo patrocínio de água sanitária Clarinha que possuía uma sonoridade parecida.


Do rádio para a televisão


Em seus programas de rádio ele "fingia" sons e ruídos e lá aconteciam enormes festas e lançamentos. Foi em 1956 que estreou na televisão. Na TV Tupi do Rio de Janeiro, lançou: "Rancho Alegre", programa homônimo ao de Mazzaropi em São Paulo. Ali Abelardo lançou "A Discoteca do Chacrinha". Passou depois para a TV Rio e em 1968, para a TV Globo. Chegou a fazer dois programas semanais. Fez "A Buzina do Chacrinha", onde, com uma buzina na mão, "gongava" calouros e que passou a ser uma de suas marcas registradas. E perguntava: "Vai para o Trono, ou não vai?". Foi para a TV Tupi de São Paulo, depois TV Bandeirantes e em 1982 retornou à Rede Globo de Televisão.

Passou pelas TVs Tupi (atual SBT), Rio e Bandeirantes (Band), com os programas Discoteca do Chacrinha, Buzina do Chacrinha e Cassino do Chacrinha, sempre acompanhado das famosas chacretes, as dançarinas profissionais de palco que mesmo em tempos da dureza da censura, usando ousados maios coloridos, dançavam e animavam o programa. Dentre elas, a mais conhecida é sem dúvida, Rita Cadillac.

A era Rede Globo


Chacrinha foi contratado pela Globo em 1967, para apresentar dois programas: a "Discoteca do Chacrinha", às quartas-feiras, e "A Hora da Buzina", rebatizado em 1970 como "Buzina do Chacrinha", aos domingos.

Apesar da boa repercussão, em dezembro de 1972, voltou para a TV Tupi. Em seguida, foi para a Record e retornou para a TV Tupi. E em 1978, mudou-se para a TV Bandeirantes. Só voltou à Globo em março de 1982, dessa vez para apresentar, nas tardes de sábado, seu maior sucesso, o "Cassino do Chacrinha". Mistura de programa de auditório com atrações musicais e show de calouros, o "Cassino" tinha a direção de José Aurélio 'Leleco' Barbosa, filho do apresentador, e de Helmar Sérgio, e permaneceu na grade de programação da Globo até a morte do apresentador, em 1988.

Em seus programas, o "Velho Guerreiro", exerceu seu talento único para a comunicação através de uma persona extravagante que o tornou um ícone da televisão brasileira. Até o início dos anos 1960, vestia-se de terno e gravata para apresentar os programas. Depois, passou a se apresentar com figurinos excêntricos – o primeiro deles incluía um boné de disc-jóquei e um enorme disco de telefone para pendurar no pescoço – ou fantasiado das maneiras mais espalhafatosas, como baiana estilizada, telefone gigante, noiva ou mulher-maravilha.

"Alô, Terezinha!"


O ator e cantor Fábio Jr. era presença constante no Cassino
Durante o programa, fazia soar a buzina de mão que usava para desclassificar os calouros nos concursos que promovia. Tinha o hábito de apontar para o próprio nariz quando queria enfatizar uma de suas frases, ao mesmo tempo debochadas e insólitas, que se tornavam bordões instantâneos. O apresentador também "distribuía" gêneros alimentícios para a plateia, arremessando bacalhaus, farinha, abacaxis, pepinos, etc.

Os programas de Chacrinha contavam ainda com as chacretes – dançarinas que faziam coreografias durante as atrações e tinham nomes exóticos como Rita Cadillac, Fernanda Terremoto e Fátima Boa Viagem (dizem que ele as mantinha sob forte controle e segurança) – e com o seu corpo de jurados, do qual fizeram parte figuras marcantes como o produtor musical Carlos Imperial, a cantora Aracy de Almeida, a transformista Rogéria e a atriz Elke Maravilha (todos já falecidos).

Convidava muitos artistas e cantores em seus programas e lançou a moda de se apresentar fantasiado. Dizem que, a princípio, recebia na chacrinha seus convidados de cueca. Depois, porém, criava a cada semana uma fantasia diferente. Foi patrocinado pelas "Casas da Banha", por muitos anos e é por isso, que quando fazia programa de auditório , jogava os já ditos gêneros alimentícios.

O "Velho Guerreiro", como passou a ser chamado, lançava músicas de carnaval e foi homenageado pela Escola de Samba Império Serrano, em 1987. Nesse ano também recebeu o título de professor honoris-causa da UniverCidad, do Rio de Janeiro, e sua frase "Quem não se comunica, se trumbica" ainda hoje e citada por especialistas acadêmicos na área de comunicação. Por três décadas foi líder de audiência na televisão.

Cassino musicalmente democrático


Grandes nomes da Música Popular Brasileira foram revelados pelos programas de auditório do Chacrinha. Em 1950 lançou o programa "Cassino do Chacrinha", no qual lançou vários sucessos da música brasileira. Foi ele quem lançou: "Estúpido Cupido" de Cely Campelo"; "Coração de Luto", de Teixeira.

Por lá passaram desde nomes famosos como o rei Roberto Carlos, bandas cultuadas no rock nacional como Legião Urbana, Titãs, Kid Abelha, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso, ídolos da música sertaneja como Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, Zezé di Camargo & Luciano, astros da música brega como Amado Batista e Reginaldo Rossi, sambistas respeitados como Martinho da Vila, Alcione, Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, dentre outros (inclusive artistas internacionais como a boyband Menudo, no auge de sua carreira na década de 1980).

É difícil um cantor ou banda das antigas que não tenha participado de um programa do Chacrinha. E o mais interessante é que todos eram atrações no mesmo programa. O Cassino do Chacrinha, sem dúvida, era o palco mais democrático do Brasil. Por tudo isso o programa foi líder de audiência nas tardes de sábado, por vários anos, na TV Globo graças à capacidade de improvisação e de entretenimento.

O Grande Guerreiro é considerado responsável pela popularização da televisão como meio de comunicação de massa e é tido como referência por todos os comunicadores do rádio e da televisão, até mesmo para os novatos que ainda eram crianças quando a estrela de Chacrinha já brilhava alto.

Censura e carnaval


Por conta de seu comportamento anárquico, Chacrinha teve problemas com setores mais conservadores da sociedade e com a Censura Federal. Foi importunado pelos censores que não permitiam que as câmeras mostrassem os corpos das chacretes e procuravam inibir suas brincadeiras, especialmente as frases de duplo sentido. Numa ocasião, o apresentador se sentiu desrespeitado na maneira de ser abordado nos bastidores do programa e chegou a escrever à Censura Federal, reclamando formalmente dos maus-tratos recebido pelos censores.

Todos os anos, Chacrinha lançava marchinhas de carnaval que ficaram famosas, como "Maria Sapatão" (já pensou se fosse hoje? Chacrinha seria chamado de "homofóbico"). Em 1987, foi homenageado pela Escola de Samba carioca Império Serrano, com o enredo "Com a boca no mundo: quem não se comunica se trumbica". Chacrinha fechou o desfile, no alto de um carro alegórico, cercado de chacretes e acompanhado da jurada Elke Maravilha e do seu assistente de palco, Russo. 

Conclusão


Chacrinha em seu último já programa, já bastante debilitado por
causa do câncer no pulmão
Em 1988, a saúde de Chacrinha começou a dar sinais de que não ia bem. O humorista João Kléber chegou a apresentar alguns programas em seu lugar. Em junho, o apresentador voltou ao comando do programa, mas, ainda não totalmente restabelecido fisicamente, precisou da ajuda de João Kléber. 

O último "Cassino do Chacrinha" (que pode ser visto na íntegra ➫ aqui) foi ao ar no dia 2 de junho de 1988. Chacrinha faleceu naquele ano, em 30 de junho, aos 70 anos, vítima de câncer no pulmão, deixando imensa saudade em todos aqueles que o conheceram e o amaram.

Chacrinha, se vivo, completaria 100 anos em 2017. Entre as homenagens que o "Velho Guerreiro” vai receber pelo centenário, somam-se um especial na TV Globo, tributos prestados por diversos blocos carnavalescos do Rio de Janeiro (como a Banda de Ipanema) e, é claro, a homenagem da Paraíso do Tuiuti junto ao enredo sobre o movimento tropicalista. E, pode-se dizer, deixou uma lacuna, pois ainda não apareceu quem ocupe seu lugar.

[Fonte e imagens: Memória Globo]

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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