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terça-feira, 5 de setembro de 2017

DISCOS QUE EU OUVI - 35: "ACÚSTICO AO VIVO", OFICINA G3


Ao contrário do que muitos costumam pensar, esse é o segundo álbum ao vivo da Oficina G3 e não o primeiro. Em 1990, sem nenhum álbum lançado ainda, a banda apareceu no mercado com o álbum "Ao Vivo", distribuído pela extinta Gospel Records, que era o braço fonográfico da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, do apóstolo Estevam e da bispa Sônia Hernandes. Pouca gente conhece esse primeiro trabalho da banda, e acabam atribuindo o título de "primeiro álbum" ao seu sucessor "Nada é Tão Novo, Nada é Tão Velho" de 1993. Mas neste artigo quero enfocar o álbum "Acústico Ao Vivo".

Desplugados


Chega a ser desnecessário dizer que o Acústico MTV marcou toda uma geração e ainda hoje provoca discussões acaloradas. Ao todos foram 30 artistas que participaram do projeto (32 se contarmos com Marcelo Nova — que gravou o programa piloto — e João Bosco — que não teve o seu lançado em nenhum formato de vídeo) e teve de tudo nesse meio: grandes nomes da MPB, passando pelas ascensão das bandas de rock dos anos 80, chegando no pop e até mesmo no pagode. 

Gravar um acústico configurava status de grande banda, era o auge, a consagração de todo artista. Trazia todo aquele ar mais sofisticado, uma atmosfera intimista que possibilitava conversas e uma maior interação com o público, além da releitura de antigas canções. Como esquecer os excelentes Acústicos MTV: Capital Inicial (2000), que foi o responsável pelo upgrade na carreira da banda; Kid Abelha (2002); Cássia Eller (2001) e o clássico Legião Urbana, que foi gravado em 1992, só sendo lançado em 1999, após a morte do Renato Russo e tendo vendido mais de 2 milhões de cópias só aqui no Brasil. 

Pois é, foi surfando nessa onda que estava bem alta que a banda Oficina G3 resolveu também se desplugar e lançou o abusado e muito bem sucedido projeto. Uma ousadia para uma banda gospel. E mesmo que o público e a crítica especializada discorde em algumas opiniões no que diz respeito aos melhores álbuns da Oficina G3, é óbvio que o CD "Acústico ao Vivo" (que também teve uma versão não tão bem sucedida quanto de estúdio) ocupou um importante lugar que, talvez, seja quase unânime para a maioria dos fãs da banda. Numa época em que a internet ainda engatinhava no Brasil, sabe-se que muitos passaram a conhecer o Oficina através desse álbum, o qual, constantemente, era tocado nas rádios evangélicas no fim da década de 90.
Capa da versão de estúdio
E o acústico da Oficina não ficou devendo absolutamente nada aos seus congêneres da MTV. Muito antes pelo contrário. 

Não, eu não estou fazendo comparações, não cabem comparações aqui. Estou apenas fazendo um comentário que acho relevante. 

Sem sombra de dúvidas, um dos pontos fortes do projeto é o repertório, impecavelmente selecionado e bem produzido. A interpretação de PG, ainda novato, trouxe novos ares à identidade ao grupo. Juninho, Jean, Duca e Waltão encontraram nisso uma boa oportunidade para explorar uma sonoridade mais intimista e diferente do hard rock característico dos álbuns anteriores. 

As influências do acústico vão desde o folk até pitadas de blues, jazz e bossa nova, mostrando toda destreza e versatilidade dos músicos que, inclusive, contaram com um ótimo time de participações especiais nos violinos, gaita e percussões. Em meio a isso, claramente se percebe que a nova roupagem das canções foi algo sistematicamente trabalhado, não admitindo margem para possíveis incômodos no tocante ao encaixe dos arranjos. 

O início da "era PG"


O álbum "Acústico Ao Vivo" de 1999 marca de vez a chegada do então novo vocalista, PG, que entrou no lugar do Luciano Manga que saiu após o clássico e referencial "Indiferença", e é também o último álbum da banda pela Gospel Records. O Show que deu origem à esse trabalho aconteceu na casa de shows Olympia em São Paulo. O repertório é composto por músicas dos trabalhos anteriores, principalmente do trabalho anterior a esse que foi o "Acústico", álbum de estreia do PG, gravado em estúdio, acrescido das faixas 'Magia Alguma' e 'Novos Céus'.

PG como novo vocalista não teve muito trabalho para conquistar o seu lugar na banda já que os dois primeiros trabalhos com ele como vocalista não contaram com composições suas, com exceção da música 'Autor da Vida'. Sendo assim ele acabou conquistando temporariamente a simpatia de quase todos os fãs da banda, simpatia essa que ele perderia no fotogênico (e na minha opinião injustiçado) "O Tempo", álbum que contou efetivamente com composições dele. Mas isso é uma questão para outro artigo, pois por incrível que pareça, muitos acabaram gostando do PG, muitos só conheceram a banda depois de sua entrada, então é uma questão difícil e que divide famílias e acaba com amizades nesse país afora, vamos falar do que realmente estamos aqui para falar, do álbum "Acústico Ao Vivo".

Acústico e ao vivo


As músicas foram praticamente reescritas, novos arranjos, uma nova interpretação, uma produção artística de botar inveja em muitos trabalhos seculares por ai, casa lotada e toda a energia da banda em palco transmitida para o registro do show, tudo que poderíamos esperar de um bom álbum ao vivo. E por se tratar de um álbum acústico, eles abusaram de recursos de percussão, cordas e piano. Musicalmente falando, é um trabalho que marcou a história do "rock cristão" no Brasil. Muitas das músicas que estão nesse álbum são até hoje clássicos da banda e são faixas obrigatórias no set-list de qualquer fã que se preze.

Destaque para as versões acústicas de 'Davi', 'Espelhos Mágicos', 'Magia Alguma', 'Indiferença' e para o solo de bateria e percussão onde o Walter Lopes (Aliás, por onde anda ele após a tumultuada e polêmica saída da Oficina?) mostrou porque ainda hoje é considerado um dos maiores bateras do rock nacional. 

Faixa a faixa


O álbum é aberto com 01] 'Cante' ressalta um forte apelo à alma no intuito de prestar adoração ao seu Criador; seguida pela crítica social em 02] 'Indiferença'. Em 03] 'Profecias', a ênfase está na mensagem escatológica. De forma equilibrada, a viagem continua com a clássica adoração 04] 'Deus Eterno', que é precedida da melancólica e reflexiva 05] 'Quem' que expressa a indagadora súplica humana em busca da ajuda divina (seria interessante uma versão elétrica dessa música). 

Em linha com a reflexão proposta por esta canção, vem a contestadora 06] 'Magia Alguma'. A próxima faixa é 07] 'Mi Pastor', uma introdução ousada no espanhol. Entretanto, a temática que prevalece é mais voltada à mensagem evangelística, como na divertida 08] 'Pirou' (com a participação de Luciano Manga). Assim como em 'Profecias', os elementos escatológicos estão explícitos também em 09] 'Novos Céus'

10] 'Naves Imperiais' talvez seja considerada como um dos principais "cartões de visita" da banda, visto ela ter sido um de seus primeiros sucessos. Apesar de ter perdido toda sua agressividade original, continua emblemática como sempre foi; 11] 'Davi' é uma canção análoga ao tema de batalha espiritual. Em seguida vem uma apresentação 12] 'Solo' da banda em suas performances acústicas. 

A próxima faixa é 13] 'Espelhos Mágicos'  que a propósito, nesta versão acústica é celebrada por muitos como uma das baladas definitivas da Oficina, seguida da então inédita 14] 'Autor da Vida', com o PG sendo o PG que todos conhecem. Encerrando o álbum, temos 15] 'Más que Vencedores', que junto com 'Mi Pastor' são ótimas versões em espanhol que refletem a proposta da banda em se aventurar em outro idioma latino. 

Conclusão


Ao contrário do que muitos saudosistas podem afirmar, a obra não foi uma tentativa de suprimir as raízes musicais do grupo. Foi um passo importante na reinvenção criativa do G3, o qual precisava tomar um novo fôlego após a saída de Manga, seu antigo vocalista. Aliás, álbuns unplugged geralmente despertam o interesse do público em redescobrir a obra de certos artistas. 

A repercussão de discos como "Acústico" (Resgate), "10 anos... 15 meses e muitos dias!" (Fruto Sagrado), "A Revolução está de Volta" (Katsbarnea) e "Acima do Nível do Mar" (Catedral) são fortes exemplos. Evidentemente, a fórmula acabou se saturando e com o passar dos anos, sem produções competentes, tornou-se um clichê. No entanto, Oficina provou que poderia fazer um trabalho coeso nesta linha e ainda trazer à tona seus antigos hits de maneira proveitosa e interessante. 

É redundante descrever todos os talentos que o Oficina G3 possui como banda consolidada no meio musical brasileiro. Diferente de outros grupos de vanguarda, o G3 conseguiu manter uma carreira firme, embora tenha experimentando momentos ruins, posteriormente. Fugindo ou não dos estereótipos do mercado (os quais até eles ajudaram a construir de uma forma ou de outra), o grupo não deixa a desejar quanto à sua responsabilidade artística, mesmo quando precisa abrir mão do peso das guitarras.

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso. 


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