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terça-feira, 9 de maio de 2017

ACONTECIMENTOS - O ASSASSINATO DO JORNALISTA TIM LOPES

Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, conhecido como Tim Lopes, nasceu em 18 de novembro, de 1950, na cidade de Pelotas (Rio Grande do Sul).

Gaúcho de nascença e carioca desde os 8 anos, quando veio com a família morar na Mangueira, Tim era o estereótipo do carioca: mulato, sorridente, conhecedor de quase todos os cantos da cidade. Criado na Mangueira, circulava com a elegância de um mestre-sala tanto na Vieira Souto, em Ipanema, quanto na Baixada Fluminense.

Uma viagem de aproximadamente 24 horas, que trouxe ao sudeste aquele que foi um grande jornalista e repórter brasileiro, produtor da Rede Globo.


Carreira


Tim Lopes brilhou como jornalista. Encarnou mil e um personagens para suas matérias investigativas. Se disfarçou de operário para denunciar as péssimas condições de um canteiro de obras do metrô, no Rio. Vestiu-se como um mendigo e passou dois dias dormindo com meninos que cheiravam cola. Também colocou o uniforme de Policial Rodoviário Federal para apurar um esquema de propinas. 

Anos depois, para fazer seu último trabalho, mostrado no "Fantástico", Tim se disfarçou de dependente químico e se internou, durante dois meses, em clínicas de recuperação de drogados. Não existe outro nome que tenha encarnado de maneira tão visceral a essência do genuíno jornalismo investigativo. Essa modalidade jornalística aliás, pode sem nenhum exagero, ser dividida em antes e depois de Tim Lopes.


Prêmios


Tim Lopes recebendo o Prêmio Esso
Com uma carreira estável e de sucesso, Tim Lopes se consolidou como jornalista investigativo, recebendo muitos prêmios e se tornando sinônimo de seriedade, profissionalismo, além de um ícone dentro do maior conglomerado de comunicação do Brasil, a Rede Globo.

Cursou Jornalismo na Faculdade Hélio Alonso (FACHA), no Rio de Janeiro, instituição que até hoje se orgulha deste seu nobre formado. Era considerado pelos colegas de profissão como um dos mais corajosos e audaciosos repórteres investigativos em atividade.

Uma de suas primeiras reportagens foi publicada na década de 70 no jornal alternativo "O Repórter". Ele se inscreveu para trabalhar como peão nas obras do metrô do Rio. A reportagem relatava as precárias condições de trabalho dos operários.

Em 2001, recebeu o Prêmio Esso com a equipe da Rede Globo pela reportagem "Feirão das Drogas", em que denunciava, por meio de uma câmera escondida, a venda livre de drogas no complexo do Morro do Alemão. Foi o primeiro prêmio Esso concedido na categoria televisão. 

Recebeu ainda o 11º e o 12º Prêmio Abril de Jornalismo na categoria Atualidades pelas matérias "Tricolor de Coração" publicada na revista Placar de dezembro de 1985, e "Amizade sem Limite", de maio de 1986. Em fevereiro de 1994, recebeu um prêmio de melhor reportagem feita no jornal O Dia pela série "Funk: som, alegria e terror" - ironicamente, o mesmo tema de sua última grande reportagem na TV Globo.

Trajetória

Tim Lopes disfarçado de peão para fazer
matéria jornalística que o projetou ao sucesso

O jornalista era conhecido por ser um apaixonado por Carnaval e pela escola de samba Mangueira. Mangueirense doente e vascaíno fanático, Tim Lopes trabalhou no GLOBO, na revista "Placar", no "Jornal do Brasil", em "O Dia" e no extinto jornal "O Repórter". 

Seu primeiro trabalho foi na revista "Domingo Ilustrada", de propriedade do jornalista Samuel Wainer. Mas não como repórter: Tim era contínuo. Ele começou a fazer reportagens na rua, mas Wainer não considerava seu nome de batismo bom para assiná-las. Assim, Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento (que já no nome era um anjo de ordem superior) passou a ser chamado de Tim. O dono do jornal achava o ex-contínuo parecido com o músico Tim Maia.

Na TV Globo, participou de uma série de reportagens do "Fantástico" que promoviam o encontro de familiares de vítimas com assassinos presos. 


A despedida


Tim Lopes em 1988, disfarçado de morador de rua
para realização de reportagem
De bermuda, com uma velha camisa amarela e sandálias, como um típico carioca do morro, o jornalista Tim Lopes, 51 anos, por volta de 17h saiu da sede da TV Globo no dia 2 de junho de 2002 para fazer a sua última grande reportagem investigativa. Levava uma microcâmera escondida dentro da pochete presa à cintura para filmar um baile funk na favela da Vila Cruzeiro, uma das 12 favelas integrantes do morro conhecido como Complexo do Alemão, no bairro da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro. 

Ele havia recebido uma denúncia dos moradores da favela de que nos bailes patrocinados por traficantes acontecia a exploração sexual de jovens e o consumo de drogas. Os moradores pediam ajuda.  Iria verificar também a informação de que os traficantes construíram um parque infantil num acesso da comunidade, para dificultar a ação da polícia, e que desfilavam armados de fuzis.

Aquela seria a quarta vez que Lopes subiria à favela para realizar esta reportagem. Nas duas primeiras, fez o reconhecimento de área. Na terceira, levou a microcâmera, mas as imagens não foram consideradas boas o suficiente para sustentar a denúncia - ele não tinha imagens do baile. 

Por isso, voltou ao local. A combinação era que o motorista, contratado pela TV Globo especialmente para o serviço, o pegasse no morro às 20h. No horário previsto, entretanto, Lopes avisou que precisaria de mais tempo para completar o trabalho. Pediu que o buscasse novamente às 22h. O motorista voltou como foi combinado, mas o jornalista não apareceu.


O crime


Os traficantes estranharam a presença de Tim Lopes no local. Há suspeita de que, uma vez descoberto, sua morte tenha sido decidida como vingança pela reportagem feita anteriormente, sobre a venda de drogas no morro, veiculada em agosto de 2001 pela TV Globo. Depois desta reportagem, vários traficantes foram presos e o tráfico da região teve um prejuízo em suas atividades criminosas por um longo tempo. Outras hipóteses são de que Tim Lopes tenha sido confundido com um policial ou um informante da polícia.

Segundo testemunhas, a morte de Tim Lopes foi definida pelo traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, um dos líderes do grupo criminoso Comando Vermelho, que dominava na época o Complexo do Alemão. 

As investigações indicam que participaram do crime outros nove traficantes de sua quadrilha. Antes da execução, os traficantes fizeram uma espécie de julgamento para decidir sobre a morte do jornalista. Ele foi torturado antes de morrer, com golpes de uma espada ninja. Seu corpo foi queimado na localidade da Grota.

Ele também teria sido esquartejado antes de ser queimado - método popularmente chamado como "micro-ondas" e usado para ocultar o cadáver e o crime.

Restos mortais do repórter Tim Lopes,  foram enterrados, dia 07 de julho de 2002 no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na região oeste do Rio. Cerca de 150 pessoas, entre parentes, amigos e colegas de trabalho despediram-se do jornalista ao som da música Canção da América, de Milton Nascimento, interpretada pelo cantor Ângelo Lourenço, de 15 anos na época, revelado por Lopes numa de suas reportagens.


Os assassinos

"Perdi Chefe, mas não esculacha", teria dito o traficante
 Elias Maluco ao ser capturado pela polícia

Entre os que participaram da morte de Tim Lopes, foram julgados e condenados em júri popular: Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, condenado a 28 anos e seis meses de reclusão; Cláudio Orlando do Nascimento, o Ratinho; Elizeu Felício de Souza, o Zeu; Reinaldo Amaral de Jesus, o Cadê; Fernando Sátyro da Silva, o Frei; e Claudino dos Santos Coelho, o Xuxa, todos condenados a 23 anos e seis meses de prisão. Ângelo Ferreira da Silva, o Primo, foi condenado à 15 anos por ter tido uma participação menor no crime e ter colaborado com a polícia, mas, ao ser beneficiado com o regime semiaberto, teve direito à visita periódica aos familiares e ficou foragido de 7 de fevereiro a 26 de maio de 2010, quando foi recapturado pela polícia.

O traficante Zeu, sendo recapturado em 2010
Outros partícipes, André da Cruz Barbosa, o André Capeta; Flávio Reginaldo dos Santos, o Buda; e Maurício de Lima Matias, o Boizinho, foram mortos em confronto com a polícia.

O criminoso Zeu, beneficiado mais tarde pela progressão de regime, acabou foragido. Denúncias levaram investigadores a crer que ele foi morto em 2007 pelo traficante Tota, após ter assassinado a própria mulher. Porém, em 28 de novembro de 2010, às 15 horas e 02 minutos o traficante Zeu se entregou à polícia diante de uma grande operação de pacificação do Complexo do Alemão. 

Segundo a polícia, ele se rendeu, em sua casa, às forças de segurança que ocupam o conjunto de favelas. Dizem até que na ocasião o valentão "mijou nas calças". Em dezembro de 2008, houve nova decisão judicial no sentido de conceder benefícios judiciais a criminosos envolvidos no caso.


Conclusão


Tim trabalhava há seis anos na TV Globo e dizia se espelhar no repórter Octávio Ribeiro, o Pena Branca, que morreu em 1986, aos 54 anos. Tim o considerava um mestre. 

Quando foi morto, Tim escrevia, em parceria com Alexandre Medeiros, o livro "Eu sou o samba", baseado numa série de entrevistas com sambistas cariocas consagrados. Os dois eram vizinhos em Copacabana.

Assim que entrou de férias, após ganhar seu primeiro prêmio Esso com a reportagem "Feirão do Pó", da Globo, Tim Lopes tinha uma preocupação: descansar em algum lugar distante da agitação e da violência do Rio. Procurou amigos e pediu indicação de pousadas no interior.
"Quanto mais no meio do mato, melhor..."
 - disse Tim Lopes.

Com os amigos, ele já mostrava cansaço. Chegou a comentar que estava "enxugando gelo", porque o tráfico vinha tomando proporções alarmantes na cidade, apesar das denúncias que a imprensa, inclusive ele, vinha fazendo. Lamentava a falta de ação das autoridades e reclamava a ausência de medidas sociais e de programas educacionais que ajudassem a solucionar o problema das drogas. 

Demonstrava uma preocupação muito grande com o envolvimento das crianças no tráfico. Mas em nenhum momento mencionou medo dos traficantes por causa do seu trabalho, embora tenha revelado a intenção de preparar reportagens mais leves, sobre meio ambiente. 

Não conseguiu.


Tributos


O repórter Miro Lopes, irmão de Tim, esteve em Erechim/RS, no dia 22 de março de 2003, dia de filmagem do filme em homenagem ao irmão, quando fez uma palestra sobre "O poder paralelo e a Imprensa", para estudantes de jornalismo.

No início do ano de 2003 começava a ser rodado o filme "Sonho de Liberdade", uma produção cinematográfica independente. Captado em película Super-8, produzido por cineastas amadores, o filme procura reproduzir os últimos minutos de vida do jornalista Tim Lopes.

A história se baseia em alguns dos fatos reais que antecederam a morte de Tim, como por exemplo, a perseguição dos traficantes e o momento em que foi levado ao local onde acabou morto. O filme mostra um paralelo da violência no Brasil e o momento em que Tim Lopes era massacrado pelos bandidos. A equipe esteve gravando a última cena do filme, que teve a participação de 500 crianças pedindo paz.

Bruno Quintella em cena do filme 

Em 2014 outro tributo cinematográfico foi feito em homenagem a Tim Lopes, trata-se de "Tim Lopes - Histórias de Arcanjo". Quem guiou a homenagem foi Bruno Quintella (com direção de Guilherme Azevedo, repórter cinematográfico que era parceiro de Tim), seu filho. Bruno cursava o primeiro ano de faculdade de Jornalismo quando o pai foi morto. 

Bruno contou que a estrutura do documentário, com ele em primeiro plano e Guilherme na direção, foi planejada para que o assassinato fosse o ponto de partida. Assim, o filme sai da figura pública que era Tim rumo ao registro privado da relação entre pai e filho e dos laços familiares. Lopes, o jornalista, faz falta. Tim, o pai de Bruno, também faz. Mas Tim Lopes, o filme, deixa a certeza de que o bom jornalismo é, mais do que nunca, insubstituível.

A Deus toda glória.
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