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quinta-feira, 2 de março de 2017

ACONTECIMENTOS - O FENÔMENO MAMONAS ASSASSINAS


O dia de ontem (quinta-feira, 2 de março, 2017) é marcado por um dos mais trágicos acontecimentos da história da música brasileira. Há 21 anos, um fatídico acidente causou a morte dos cinco integrantes dos Mamonas Assassinas. O país inteiro se comovia pela perda de uma das bandas mais impactantes que tivemos. 

Quem foram? 

  • Os Mamonas 
Dinho [✶1971 - Alecsander Alves] - vocal; 
Bento Hinoto [✶1970 - Alberto Hinoto] - guitarra, violão e vocal de apoio; 
Júlio Rasec [✶1968 - Júlio César Barbosa] - teclados e vocal de apoio; 
Samuel Reoli [✶1973 - Samuel Reis de Oliveira] - baixo e vocal de apoio; 
Sérgio Reoli [✶1969 - Sérgio Reis de Oliveira] - bateria.

A história 


Em março de 1989, Sérgio Reoli, ao trabalhar na Olivetti [extinta fábrica de máquinas de datilografia], conhece Maurício Hinoto, irmão de Bento. Ao saber que Sérgio é baterista, Maurício decide apresentar o irmão, que toca guitarra. A partir daí, Sérgio conhece Bento e decidem criar uma banda. Na época, Samuel Reoli, irmão de Sérgio, não era "ligado" na música, preferia desenhar aviões. Mas, de repente, se envolveu com a música e começou a tocar baixo.
 
Sérgio, Samuel e Bento, então, formaram uma banda de rock chamada Utopia, especializada em covers de grupos como Legião Urbana, Titãs e Rush. Em um show, o público pediu para tocarem uma música dos Guns N' Roses ["Sweet Child O'Mine"], e como não sabiam a letra, pediram a um espectador para ajudá-los. Dinho voluntariou-se para cantar, em meio a vaias e com sua performance escrachada fez o público rir, sendo aceito no grupo. Júlio Rasec, por intermédio do vocalista Dinho, foi o último a entrar "em" Utopia. 

A Utopia [1. lugar ou estado ideal, de completa felicidade e harmonia entre os indivíduos. 2. qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade.] passou a apresentar-se na periferia de São Paulo e lançou um disco que vendeu menos de 100 cópias. 

Aos poucos, os integrantes começaram a perceber que as palhaçadas e músicas de paródia eram mais bem recebidas pelo público do que os covers e as músicas sérias. Começaram introduzindo algumas paródias musicais, com receio da aceitação do público. 

Através de um show em uma boate em Guarulhos, conheceram o produtor Rick Bonadio. Decidiram, então, mudar o perfil da banda, a começar pelo nome, "Mamonas Assassinas do Espaço", criado por Samuel Reoli e reduzido para "Mamonas Assassinas". 

Mandaram uma fita demo com as músicas "Pelados em Santos", "Robocop Gay" e "Jumento Celestino" para 3 gravadoras, entre elas a Sony Music e a EMI. Rafael Ramos, amigo da banda, baterista da banda Baba Cósmica e filho do diretor artístico da EMI, João Augusto Soares, insistiu na contratação. Após assistir uma apresentação do grupo em 28 de Abril de 1995, João Augusto resolveu assinar contrato com os Mamonas.

Da utopia ao sucesso 


Após gravar um disco produzido por Rick Bonadio (apelidado pela banda de Creuzebek), os Mamonas saíram em imensa turnê, apresentando-se em programas como Jô Soares Onze e Meia, Domingo Legal, Programa Livre (SBT), Domingão do Faustão, Xuxa Park (Globo) e tocando cerca de 8 vezes por semana, com apresentações em 25 dos 27 estados brasileiros e ocasionais dois shows por dia. O cachê dos Mamonas tornou-se um dos mais caros do país, R$50 à 70 mil, e a EMI faturou cerca de R$80 milhões com a banda. Em certo período, a banda vendia 100 mil cópias a cada dois dias.

Sucesso que, aliás, é fácil de ser explicado. Em 1995, o Brasil estava há apenas 10 anos em um regime democrático. O cenário musical era recheado de revoltados cujas músicas já não faziam mais tanto sentido para o povo, uma vez que a ditadura foi derrubada e todos já se acostumavam com o regime atual e românticos, entre sertanejos, pagodeiros, roqueiros e outros. 

No entanto, nenhum destes havia ousado tanto quando o quinteto da cidade de Guarulhos (SP). Nenhuma banda havia testado, de maneira tão intensa, os limites da liberdade de expressão após o fim da censura. 

Entra aí a genialidade dos Mamonas Assassinas. Ao terem a noção da liberdade que tinham para escrever, abusaram da criatividade ao criarem letras cômicas, sexuais e até ofensivas para a época ao ponto de serem considerados "agentes do diabo" pelos crentes da época, que os acusaram de estar pervertendo as crianças - que engrossavam suas fileiras de fãs - e a família. 

Satirizaram outros estilos musicais que estavam na moda na época. O fator criativo surpresa, que gerou certo choque na população, foi o ponto de partida do sucesso do grupo.

Os Mamonas já preparavam uma carreira internacional, com partida para Portugal preparada para 3 de Março de 1996. Porém em 2 de Março, enquanto voltavam de um show em Brasília, o jatinho Learjet em qe viajavam, prefixo LR-25D - PT-LSD, chocou-se contra a Serra da Cantareira, numa tentativa de arremeter voo, matando todos que estavam no avião. O enterro, no dia 4 de Março, fora acompanhado por mais de 65 mil fãs.

O trágico acidente (juízo divino ou fatalidade do destino?)


O extinto jornal sensacionalista NP
destacando o acidente com a banda

Há exatos 21 anos, em um sábado de sol, eu acordava e me dirigia à sala, para tomar meu café da manhã. A televisão estava já estava ligada na sala e um noticiário (aquele daquela musiquinha aterrorizante do plantão da Globo - "Tantantan... tantantantantantannn...") anunciava em primeira mão que um acidente aéreo havia matado os Mamonas Assassinas. 

A notícia foi recebida como um raio em minha cabeça. Não demorou muito e o fato tomou proporções gigantescas. Os cinco foram enterrados com honras de Estado, devido ao sucesso tão rápido conquistado. 

O legado em apenas um CD


A identificação popular foi além da música. O fanatismo criado em torno dos Mamonas Assassinas foi, de certa forma, um grito de liberdade. O público entendia, enfim e novamente, o significado da liberdade. 

Em poucos meses, os Mamonas Assassinas conseguiram disco duplo de platina pelo álbum de estreia, autointitulado, em poucos meses. Estiveram em todos os maiores programas de todos os maiores canais da televisão brasileira e chegaram ao auge de forma tão rápida que, talvez, jamais seja repetida. 

Perdemos essa genialidade de uma forma tão rápida quanto uma estrela cadente que nos traz a esperança de um desejo e desaparece. 

Ainda está presente em nossas cabeças o modelo irreverente de um grupo musical que contestava todos os costumes do mundo moderno. Trata-se do Mamonas Assassinas. Vejamos sua contestação e desejo de mudança. 

Nem acabaram eles de agradecer a "Santos Dumont, que inventou o avião", um acidente aéreo sepulta abruptamente a banda, surgida do anonimato e em vertiginosa ascensão no espaço da música popular brasileira. Quase dois milhões de discos vendidos em tempo relâmpago e a multidão de crianças e jovens chorando o repentino desaparecer dos ídolos testemunham o sucesso e a popularidade.

A mídia - que não contava com as facilidades e rapidez da internet - exerceu, sem dúvida, um papel relevante na produção desse fenômeno meteórico. Mas, para além dessa explicação óbvia, quase lugar-comum, que sempre credita os meios de comunicação, em especial a TV, pelos acontecimentos massivos de nossos dias, é necessário suscitar uma questão de fundo, muito pouco refletida, que pergunta pelo motivo da enorme aceitação e desse misto de delírio coletivo e rebeldia, que contagiou a massa receptora da música dos Mamonas.

Conclusão


Brasília Amarela 1977, que foi eternizada na letra da música 
"Pelados em Santos", e virou a marca registrada da banda
Esta breve radiografia a brotar de uma despretensiosa análise das letras do estrondoso e super comercializado CD permite-me concluir que o jeito e a mensagem desses garotos saídos da penumbra para uma rápida apoteose explicam o sucesso muito mais do que a montagem e a especulação da mídia. Eles cantaram e falaram ao coração da juventude tocando temas que circundam a vida hoje. 

Diria eu até que a mídia, enfatizando apenas o lado irreverente, jocoso e frenético da banda (evidentemente por motivos de marketing) acabou assassinando em proposital ostracismo a profunda filosofia presente nas letras dos Mamonas. Elas apresentam, em seus traços essenciais, o homem pós-moderno. 

E, por cúmulo da fatalidade, até o jeito de morrer desses garotos, repentino e inesperado, retrata a figura do sujeito humano daquele quase fim de século: fugidio, transitório, efêmero, como um meteoro fugaz cruzando o céu de um cosmo que ninguém sabe para onde vai. 

Entretanto, o legado de liberdade deixado pelos cinco meninos de Guarulhos permanece até os dias de hoje. Dificilmente, na atualidade, alguém cantaria as letras dos funks cariocas e sertanejos universitários se não fosse o pioneirismo dos Mamonas Assassinas em desafiar o sistema e implantar um novo padrão na música. 

Resta entre nós, contudo, a dúvida: como seriam eles hoje? Será que ainda fariam sucesso? Ainda estariam juntos? Na verdade, isso não importa. Eles existiram e, por mais breve que tenha sido a história da banda, foi o suficiente para nos alegrar e nos fazer entender como é gostoso sermos livres. 

Fora anunciado um filme da história da banda, baseado em "Blá, Blá, Blá - A Biografia Autorizada dos Mamonas Assassinas" (minha fonte de pesquisa para este artigo) de Eduardo Bueno, e a ser dirigido por Maurício Eça. A responsável pelo filme será a Tatu Filmes, em parceira com a Rede Record. Existiram riscos de o filme não ser produzido, devido ao possível fim do contrato entre a Tatu Filmes e a Record, haja visto que a produtora não conseguia concluir o filme devido a problemas de documentação envolvendo as gravadoras e os familiares dos integrantes do grupo. O problema foi resolvido e a Tatu Filmes já se prepara para o lançamento do filme.

Uma coisa é certa, para o bem ou para o mal os Mamonas Assassinas nunca serão esquecidos.

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