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sábado, 27 de fevereiro de 2016

SEM CENSURA - PARTE 5: PORNOGRAFIA A DOIS

"Você acha que o casal cristão assistir a filmes pornôs seja pecado?" Me perguntou certa vez um irmão. Antes de entrar no tema que fecha essa série especial de artigos, quero fazer uma breve reflexão sobre a maneira que nós cristãos encaramos o pecado.

O pecado em si


Nós cristãos somos educados muito mal. O maniqueísmo parece ainda dominar nossas concepções de vida religiosa. Com certeza as igrejas, com seus métodos de formação, têm a sua parcela de culpa. Segundo os maniqueus o ser humano é caracterizado por uma realidade dualista: somos fruto de uma mistura de dois princípios em luta entre si: a luz (o bem) e as trevas (o mal). É nossa missão, segundo essa visão, preparar a vitória final do bem sobre o mal, oxalá através de privações e sacrifícios. 

Não quero defender uma atitude gnóstica, a libertinagem, mas aprofundar o conceito de pecado. No fundo, muita gente gostaria, embora tanto longe da Idade Média, ter uma lista de ações e, paralelamente, a definição em relação a pecado, ou seja, se é pecado ou não. Quem sabe até com a descrição da relativa pena para a expiação da falta, como existia há tantos séculos na história da igreja.

A base fundamental para uma reflexão sobre o pecado, que elimina a visão maniquéia, é que Deus é o autor de todas as coisas. E, como diz o livro da Gênesis, Ele viu que tudo era bom. É óbvio que essa premissa não nos proíbe questionar sobre como a experiência do mal seja compatível com a ideia de Deus criador, que fez tudo bom. Criou Deus também o mal?

Biblicamente, o pecado não é simplesmente a transgressão de uma ordem moral, mas uma condição que afasta de Deus. É por isso que os profetas veem o pecado não como a violação de um tabu ou transgressão de um mandamento, mas a interrupção de uma relação pessoal com o divino, uma traição da confiança que Deus colocou em nós.

Portanto, em nossas ações, devemos ter como parâmetro de juízo o fato de que aquilo que fazemos tem presença do divino, do modo de ser divino, ou significa ausência do modo de ser divino. À medida que uma ação se afasta do modo de ser divino, é mais pecaminosa.

"Pornô gospel"


Uma nova indústria de entretenimento está surgindo, não é exatamente uma novidade, mas para a visão que a maioria tem sobre o sexo pode ser. Já ouviu falar em filme pornô da indústria gospel? Pois é, segundo seus idealizadores  agora "os fiéis poderão ter seu momento de prazer, mas com algumas regras bem pouco excitantes" que as propostas nos filmes adultos convencionais, e/ou "mundanos".

Segundo organizadores da empresa produtora de filmes "pornô-cristãos" há várias regras a serem seguidas, e somente assim, pode dar certo dentro das normas divinas.

A ideia de quem faz esses filmes é o de ensinar aos casais cristãos como tirar proveito do sexo sem ofender o parceiro e até tomando cuidado com os órgãos sexuais do outro, tudo muito tranquilo. Posições mais ousadas, nudismo, sadomasoquismo e ménage à tròis (sexo a três) e homossexualidade, nem pensar.

Seguem-se algumas regras que saíram em grandes veículos de imprensa, pois chamou a atenção pelo conteúdo. Todo filme pornô-cristão deve acontecer sob algumas condições:
  • Todos os filmes são protagonizados por casais realmente casados, só pode se for o marido com a mulher, nada de beijar ou fazer sexo com outra/outro.
  • O contexto da cena de sexo, ou da história precisa ser cristão. Algo como orar antes do ato, ou mostrar cenas do casal frequentando a igreja ou realizando alguma tarefa na igreja, em vez de somente cenas de sexo.
  • Falar alguma palavra de baixo calão para esquentar a transa também está proibido. Emitir alguns sons até é permitido, mas de forma discreta...
A hipocrisia e a ganância dessa gente não têm limites. São capazes de tudo para ganhar dinheiro. E não duvido que haverá público para o consumo desse absurdo. O papo será o mesmo que rola em relação à música. Filme pornô mundano; é pecado, filme pornô gospel, não.

Então, sobre o tema...


A pergunta do irmão me fez lembrar o conselho de Paulo aos Coríntios: "Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam" - 1 Co 10:23. Na realidade, se você quiser, quem vai te impedir de assistir filme pornográfico com sua esposa? Ninguém! Não existe nenhum texto na Bíblia que diga: "Não assistirás filme pornô com sua esposa". Porém, é preciso avaliar os atos de nossa vida e observar se eles convêm, se eles edificam, se estão de acordo com a vontade de Deus. Vejamos, então:

Assistir filme pornográfico com a esposa convém e edifica o casamento e a vida espiritual?


  • Não convém e não edifica porque a pornografia em si é maligna. Não existe pornografia "do bem" (e já inventaram a "pornografia gospel", falo mais abaixo). Qual a diferença entre ver sozinho e com a esposa? Acaso ver com a esposa vai santificar a pornografia? Não! Esse tipo de filme é um atentado contra o ser humano, contra aquele que foi criado à imagem e semelhança de Deus! Como alguém pode achar normal ver uma pessoa ser exposta em sua nudez em cenas de sexo explicito com o objetivo de entretenimento de telespectadores? Quando consumimos pornografia estamos indiretamente concordando com a forma com que tudo aquilo é feito. Financiamos a sua produção.
  • Não convém e não edifica porque a pornografia faz mal ao coração humano. Que benefícios a pornografia poderá trazer ao seu coração e ao da sua esposa? Vai ajudá-los a aprender umas posições "legais" e melhorar o relacionamento? Pelo contrário (já tratamos disso no artigo anterior)! Ela trará mal ao coração do casal. O homem terá centenas de cenas explicitas de outra mulher em sua mente A mulher terá centenas de cenas explicitas de outro homem em sua mente. Soma-se a isso o tipo de sexo humilhante e degradante apresentado nesse tipo de filme e terá um coração manchado com um tipo de pecado que poderá causar muito dano à relação. Não há edificação alguma.
  • Não convém e não edifica porque a pornografia fere a dignidade das pessoas. Talvez você possa dizer: Mas minha esposa aceitaria numa boa vermos esse tipo de filme para melhorarmos a parte sexual da nossa relação. Pois bem, a pornografia irá pouco a pouco ferir a relação do casal e não melhorar. Isso porque ela é em si maligna e pecaminosa, desrespeitosa com o ser humano, tratando-o como objeto. Logo, não tem potencial de trazer bem algum à relação, mas de destruir.
  • Não convém e não edifica porque homem e mulher não conseguem ficar isentos diante desse tipo de cenas. Seria possível homem e mulher ficarem isentos diante das cenas pornográficas que estão vendo? Creio ser praticamente impossível isso acontecer. Logo, esse tipo de filme leva ao adultério, que é pecado. E o pecado gerará consequências graves ao casamento. Veja o que Jesus disse: "Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela" (Mateus 5:28)". Se podemos ser traídos por um olhar de cobiça, imagine assistindo a um filme desse tipo! O perigo é ainda maior para o homem, pois este é naturalmente mais propenso a ser tentado pelo olhar. A pornografia leva o homem a um outro vício: o da masturbação. É típico caso de um abismo levando a outro.

Conclusão


Há um texto na Bíblia que eu amo e que funciona como uma peneira em questões diversas da nossa vida cristã. O apóstolo Paulo ao escrever aos filipenses disse:

"Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento" - Fp 4:8 (Grifos meus).

Então, filmes pornográficos (quer sejam "mundanos" ou "gospel") são verdadeiros? São respeitáveis? São justos? São puros? Demonstram amor? Têm boa fama? Têm alguma virtude? Transparecem louvor? Se não, que isso não ocupe o pensamento do casal em seu momento sublime de vida sexual e nenhum outro momento.

Não estou pregando uma cruzada de moralização, embora evidentemente a igreja evangélica brasileira poderia tirar bastante proveito de uma. A pornografia é um mal de graves consequências espirituais e sociais embora não acredite que devamos fazer dela o inimigo público número um, como algumas organizações moralistas e fundamentalistas dos Estados Unidos. Afinal de contas, a raiz desse problema — e de outros — é o coração depravado e corrompido do homem que só pode ser mudado pelo Evangelho de Cristo. 

Hitler conseguiu em quatro anos banir da Alemanha todas as formas de pornografia e perversão e incutir na geração jovem de sua época a aspiração por altos valores morais e pela pureza da raça ariana. Os motivos eram errados e o projeto de Hitler acabou no desastre que conhecemos. Não acabaremos com a depravação moral somente com leis e discursos políticos. 

Jack Eckerd, um empresário milionário dono de um negócio que rendia mais de 2,5 milhões de dólares por ano, ao se converter a Cristo em 1986, determinou que todas as publicações pornográficas vendidas em suas 1.700 lojas fossem retiradas, mesmo que isso significasse a perda de alguns milhões de dólares anuais. Quando o coração é mudado as mudanças morais seguem atreladas.

Eu poderia colocar aqui muitas formas para ajudar cada um a fugir da pornografia, mas o mais importante de tudo, muito além de se colocar regras e estabelecer limites, é deixar muito claro que a raiz do problema não são fatores externos, mas o próprio coração do homem que é depravado e descomprometido com Deus, o Criador de todas as coisas. 

O antídoto é a fé confiante no poder do evangelho de Cristo que pode e muda o nosso caráter, imprimindo em nós uma nova natureza, regenerada e capaz, pela graça de Deus, de dizer não ao pecado.

Ouçamos, pois, a voz de Deus, através das Sagradas Escrituras, e busquemos a santidade oferecida no sangue de seu Filho Jesus Cristo: 

"Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus" - 1 Coríntios 7:1.

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