"Porque Narciso acha feio o que não é espelho", canta o poeta Caetano Veloso em uma de suas mais célebres canções, a famosa "Sampa ('Alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga, com Avenida São João...')". No artigo anterior (http://circuitogeral2015.blogspot.com.br/2016/02/a-aparencia-nao-e-tudo-sera.html?spref=fb) falei sobre o narcisismo, um problema psíquico, onde o indivíduo tem um amor exacerbado por si próprio ou por sua imagem. Entretanto, falei pouco sobre a lenda de Narciso. Afinal, quem foi ele?
Narciso, uma lenda da mitologia grega
Narciso, um jovem de extrema beleza, era filho do deus-rio Cephisus e da ninfa Liriope. No entanto, apesar de atrair e despertar cobiça nas ninfas e donzelas, Narciso preferia viver só, pois não havia encontrado ninguém que julgasse merecer seu amor. E foi o seu desprezo pelos outros que o derrotou.
Quando Narciso nasceu, sua mãe consultou o adivinho Tirésias que lhe predisse que Narciso viveria muitos anos desde que nunca conhecesse a si mesmo. Narciso cresceu tornando-se cada vez mais belo e todas as moças e ninfas queriam seu amor, mas ele desprezava a todas.
Certo dia, enquanto Narciso descansava sob as sombras do bosque, a ninfa Eco se apaixonou por ele. Porém tendo-a rejeitado, as ninfas jogaram-lhe uma maldição: - Que Narciso ame com a mesma intensidade, sem poder possuir a pessoa amada. Nêmesis, a divindade punidora, escutou e atendeu ao pedido.
Naquela região havia uma fonte límpida de águas cristalinas da qual ninguém havia se aproximado. Ao se inclinar para beber água da fonte, Narciso viu sua própria imagem refletida e encantou-se com sua visão. Fascinado, Narciso ficou a contemplar o lindo rosto, com aqueles belos olhos e a beleza dos lábios, apaixonou-se pela imagem sem saber que era a sua própria imagem refletida no espelho das águas.
Por várias vezes Narciso tentou alcançar aquela imagem dentro da água mas inutilmente; não conseguia reter com um abraço aquele ser encantador. Esgotado, Narciso deitou na relva e aos poucos seu corpo foi desaparecendo. No seu lugar, surgiu uma flor amarela com pétalas brancas no centro que passou a se chamar, Narciso.
A importância da imagem nas relações pessoal, interpessoal e profissional
Fiz esse preâmbulo sobre a história do Narciso para continuar a discorrer sobre o quão importante é a aparência. Apesar de muitos crentes afirmarem que "Deus não olha a aparência, mas o coração" - o que também foi explicado no artigo anterior, nossa aparência diz muito sobre quem somos.
Se a "primeira impressão é a que fica", então, o cuidado com a aparência não deve ser deixado de lado. Seja no ambiente profissional, seja na esfera pessoal, é preciso lembrar que o seu visual e a sua postura diante dos outros dizem muito sobre você.
Isso mesmo. Quantas vezes você olha para uma pessoa e já imagina como ela deve ser apenas pela forma como ela se veste ou como ela se comporta? Por isso, é importante saber qual a imagem que você quer transmitir para os outros.
As celebridades e pessoas famosas estampam capas de revistas e portais noticiosos a todo momento. A fama já é o suficiente para a super-exposição. Mas algumas delas conseguem chamar a atenção ainda mais por suas posturas exageradas e, por vezes, desnecessárias.
É comum que celebridades atraiam os olhares da mídia (os tais "paparazzi") durante o desfiles de moda de grifes famosas, desfiles de carnaval e outras farras glamourosas. Não bastassem os decotes, muitas artistas dispensam as roupas íntimas, como calcinha e sutiã, para completar o seus figurinos não raramente bizarros que beiram o esdrúxulo. Isto quando não estampam capas e recheios de revistas com os seios (e outras partes menos decorosas) à mostra.
Será preciso tanta exposição para se destacar entre as câmeras e os holofotes? Ou melhor: será que é preciso chamar atenção para ser uma pessoa de destaque? Em tempos efusivos de mídias sociais, homens e mulheres se expõem sem o menor pudor. Sem o menor constrangimento. Sem um pingo de vergonha na cara. O grande problema é quando relés mortais tentam copiar esse procedimento. O problema transborda quando tal procedimento chega no ceio da Igreja.
Quando observamos posturas assim, lembramos o quanto o nosso exterior diz muito sobre nós. O que você quer que os outros saibam ou pensem sobre você? É preciso saber comunicar aos outros o seu próprio valor. E o primeiro passo para isso é cuidando da sua aparência.
Em texto publicado no blog da escritora Cristiane Cardoso, a palestrante Evelyn Higginbotham lembra o quanto mudou depois que passou a dar importância ao aspecto visual. "Eu passei a falar o que o meu espírito sempre quis dizer através do ato de investir tempo e esforço na minha aparência. Minha linguagem corporal mudou, minhas opiniões foram mais valorizadas e não porque eu fosse mais bonita, mas porque eu estava comunicando meu próprio valor", explica.
Você não deve se vestir para os outros ou se arrumar para agradar alguém. Mas é indispensável pensar na impressão que quer e deseja passar. "Nós falamos através de nossa aparência e comportamento e, embora não possamos fazer nada acerca do DNA que herdamos de nossos pais, há muito o que fazer para que consigamos comunicar o que queremos através da nossa linguagem corporal, dos nossos olhares e de nossas palavras. E não é apenas o que dizemos aos outros que importa, mas sim o que dizemos a nós mesmas", completa Evelyn.
Você sabe o que diz sua imagem?
A comunicação é de extrema importância para o sucesso das relações pessoais, profissionais e no âmbito eclesiástico, pois através dela podemos estabelecer conexões. A imagem pessoal tem grande influência na habilidade de convencer pessoas em um primeiro momento de conexão e quando fazemos esse processo consciente, ou seja, conhecemos a mensagem que comunicamos, tornamos nossa comunicação mais assertiva
Você sabe o que comunica a sua imagem?
As relações se estabelecem através da comunicação. Em um primeiro momento que conhecemos alguém, em poucos segundos (de modo inconsciente) somos levados a fazer julgamentos, avaliando se a pessoa que estamos conhecendo é uma ameaça ou uma oportunidade; se a consideramos uma ameaça, nos segundos seguintes iremos através de nossos filtros mentais, buscar motivos que justifiquem nosso julgamento.
Mas igualmente na mente desta pessoa ocorre o mesmo. Se ela considerar que somos uma oportunidade, irá tentar estabelecer conexão encontrando justificativas positivas para o seu julgamento.
Nesse processo, a comunicação não verbal apresenta uma grande influência em provocar emoções positivas ou negativas.
O contato visual é um dos canais não verbais mais importantes, pois o olhar dá direção, foco e significado a nossa mensagem, a região dos olhos correspondem a parte do rosto responsável pela emoção e o sorriso a segunda melhor forma de se estabelecer conexão, pois mostra o quanto receptivo estamos para nos comunicar.
Saber qual a mensagem que estamos comunicando, e se ela está alinhada aos nossos objetivos é tão importante quanto saber aonde queremos chegar, quais os nossos objetivos. A imagem provoca reações emocionais, por isso, muito além do impacto que a nossa imagem pode ter de convencer o outro; ela participa ativamente do nosso sistema motivacional nos conduzindo ao nosso objetivo.
Quando falo de comunicação não verbal me refiro a imagem, comportamento e atitude que deve sempre fortalecer a autoestima e tornar a comunicação assertiva. Esse entendimento nos permite ser mais conscientes e bem sucedidos pessoal e profissionalmente falando.
Conclusão
O desafio cristão não de ser diferente, mas de fazer a diferença
Fazer a diferença não é simplesmente ser conhecido como "evangélico", fazer a diferença é ter a postura de um cristão que anda com Deus e que reflete esse andar nos seus relacionamentos. O cristão deve, obviamente, ter uma imagem de sobriedade que o remeta à pessoa de Cristo.
Como igreja, temos a missão de fazermos a diferença na vida das pessoas, de marcarmos a vida dos nossos familiares, dos nossos colegas de trabalho, enfim da nossa sociedade.
Para termos igrejas fortes, abençoadas, vencendo o poder do pecado e do inimigo é preciso ter crentes fortes, vigorosos, dispostos a pagarem o preço pela santificação de suas vidas.
A santificação na vida do cristão não vem ao acaso. E também não é coletiva, pelo contrário é individual. É gradual, é constante, é a escada em direção ao céu.
A todos nós foi dada a ordem de sermos santos, "porque Ele é santo". (1 Pedro 1:16). Portanto, quem não está buscando a santificação para a sua vida está deixando de cumprir a Palavra de Deus.
É necessário ter um coração voluntário para buscar "as coisas de cima" (Colossenses 3:1) e o "reino de Deus em primeiro lugar" (Mateus 6:33), deixando a "Palavra de Cristo habitar em nós abundantemente" (Colossenses 3:10), "perseverando em oração, velando com ações de graças". (4:2).
Será que estamos fazendo a diferença onde Deus nos colocou? E se estamos que tipo de diferença estamos fazendo? Jesus nos chamou para fazermos diferença.
A Bíblia nos fala da importância do sal, nos mostrando a sua função de temperar, preservar e limpar (Levítico 2:13; Juízes 9:45; Jó 6:6; Ezequiel 16:4). Sabemos que o sal é extremamente necessário para a conservação dos alimentos e um elemento importante em nossa alimentação.
Jesus disse: "vocês são o sal da terra", quer dizer, somos o sal na vida das pessoas, Jesus compara a postura dos discípulos ao sal. Mas será que o nosso mundo precisa de sal (cristãos)? Com certeza, pois a cada dia que passa os níveis de violência aumentam, a quantidade de famintos aumenta, a venda e consumo de drogas alcançam números espantosos, a cada dia as famílias estão se deteriorando, os níveis de corrupção, prostituição, sequestros e destruição da natureza alcançam números recordes.
Se estamos aqui, constituídos como igreja, reunidos para louvar e adorar ao Senhor, para estudar sua Palavra, foi porque os cristãos que viveram antes de nós fizeram a diferença em sua geração, sendo sal da terra, influenciando a vida de pessoas. Como os apóstolos, os heróis da fé, e uma multidão de anônimos.
Jesus afirma que o sal que não salga, que não tempera, não serve para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens - Mateus 5:13. Os cristãos que não salgam caem no esquecimento da história e não são lembrados pelos homens e nem por Deus. O cristão deve salgar e não perder o seu poder de temperar (Marcos 9:50; Lucas 14:34; Colossenses 4:6).
Muitos cristãos estão vivendo um cristianismo insípido, de fachada, que não sai do seu gueto, que não causa impacto em sua geração e que em muitos casos não se envergonham de buscar a aparência do mundo.
Nosso grande desafio enquanto igreja, não é parecer diferentes apenas por causa da roupa que usamos e da aparência e postura que temos. Fazer a diferença é causar impacto com uma imagem que seja o reflexo do que temos em nosso interior.
Quanto à imagem, o apóstolo Paulo nos diz para sermos "cartas vivas". Ou seja, as pessoas têm que olhar para nós e associar as palavras que dissermos e escrevermos com o nosso viver. Jesus tem que ser conhecido pelas pessoas por meio das nossas atitudes, do nosso exemplo. Todos devem olhar para nós e ver novas criaturas transformadas pelo poder de Deus. "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo - (2 Coríntios 5:17)".
Que tipo de carta temos sido? O que as pessoas podem ler em nós? A imagem que passamos, refletem ou remetem ao Cristo que pregamos? Acho prudente revermos nossos conceitos antes de sair por aí vociferando que a aparência não é tudo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário