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domingo, 23 de setembro de 2018

LIVROS QUE EU LI - "O ALIENISTA", MACHADO DE ASSIS

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[Joaquim Maria] Machado de Assis é autor de "O Alienista", sua primeira obra realista, considerada por alguns críticos um conto e para outros uma novela, a maioria o classifica como um conto mais longo, principalmente devido à narrativa. Obra que inaugura a fase realista do autor, apresenta características como a análise psicológica e a crítica social, é um daqueles livros que além de ser um clássico, eu digo que não deve deixar de ser lido. Ele é simplesmente sensacional, isso sem dizer que seu contexto é mais atual do que nunca. Afinal, o que ao certo é a loucura? Essa é a complexa reflexão na qual o livro nos mergulha.

A balada do louco


O conto é narrado em 3ª pessoa, o chamado narrador onisciente. Machado de Assis consegue mostrar o comportamento humano no que diz respeito a aparência, vaidade e egoísmo.

O alienista na obra de Machado de Assis não é apenas o insigne cientista de Itaguaí. Da mesma forma que esta cidadela, neste contexto, também não é só o que diz o escritor por meio das páginas deste conto.

Uma peculiaridade em sua obra é que ele desafia o leitor a enxergar um discurso invisível, que sublima detrás do texto gráfico e emerge apenas em nossas consciências.

Devemos saber ler o que está escrito atrás dos caracteres para entender o quanto é exorbitante e ferina a palavra cuidadosamente selecionada em sua obra.

Itaguaí é um universo abreviado; o alienista é um médico quase onisciente – é o dedo em riste da ciência e da justiça; nós somos os alienados.

Eu poderia ter poupado o advérbio "cuidadosamente", mas esta é a razão pela qual muitas pessoas o adotam como escritor, e outras o rechaçam. Postumamente, muitos críticos do começo do século XX o consideraram mediano.

Consideravam que em seu texto havia muitas filigranas narrativas, um excesso de pompa ou talvez um preciosismo. Claro que não esqueceram de sua importância para literatura brasileira ao ser o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, cuja cadeira é a 23.

Porém, esperou-se muito tempo para perceber que a antologia machadiana não tratava apenas de uma nobreza morna do segundo império. Só mais tarde os estudiosos entenderam a preciosidade e sutileza de sua obra. Por quase quarenta anos, seus críticos e conterrâneos o relegaram à obsolescência dos medíocres.

Provavelmente, os seus textos, tão extemporâneos à sua época, permanecessem incógnitos se o homem não tivesse vivido diversas guerras e revoluções, cujo reflexo fora projetado em todas as esferas sociais.

O Alienista não é uma alegoria restritiva; é uma narrativa atemporal que abarca problemas da sociedade brasileira que vigoram até os dias atuais.

É um recurso, velado pelo humor e pela ironia, para explicar como ideias extremamente positivistas e cientificistas podem ser nocivas a um tecido social imenso, cujos átomos (nós próprios) se perdem atônitos.

Somos todos alienistas ou alienados?


Alienista, etimologicamente, designa a pessoa que trata de alienados. A personagem machadiana, Simão Bacamarte, possui mais do que os caracteres de um homem. Pode-se dizer que ele é uma paródia personificada do homem racional, da idealização incoerente do perfeito.

O problema de toda perfeição é que, para ela ser admirada como tal, necessitam-se o imperfeito e o inferior. Representa também a mão de ferro da política. Era um senhor absoluto por reter conhecimentos diversos; por ser laureado pelas melhores universidades da Europa.

Torna-se, afinal, evidente que uma sociedade que não pensa, fica à mercê de qualquer figura que detenha o discurso da hegemonia. Uma cadeia científica, cujo o suposto detentor de todo conhecimento seja o mais forte em sua comunidade. Uma cadeia alimentar corporativa.

Da chegada de o alienista à rebelião do barbeiro Porfírio


A chegada de Simão Bacamarte à Itaguaí representa uma conjunção de novas ideias, que singrou os mares atlânticos, e aportou no Rio de Janeiro, migrando, em seguida, para a pequena província, vizinha à capital brasileira, quando no segundo império.

Bacamarte é uma mistura de pensamentos ensejados no núcleo intelectual do mundo à época – a Europa – condensado em carne e osso; ou seja, humanizado. Sua mulher pertencia a um padrão que não corresponde à idealização de beleza da época em que a história é contada; mas "o homem da ciência", segundo conta a história, não se prende a futilidades, mas a condições anatomicamente suscetíveis à procriação.

Trata-se de um personagem que foi fundido na forja da nobreza. Além disso, como fora recorrente no século XIX, mais tarde diplomara-se em Coimbra e Pádua, ou seja, nas universidades "de Portugal e das Espanhas".

Este dado se torna relevante porque será criada uma área de autoridade sobre Bacamarte ao longo da história, o que reforça ainda mais sua influência sobre os alienados. Mas quem seriam estes alienados? Somos nós.

Descobre-se que toda a comunidade, num determinado momento, sofre com o peso de sua mão de ferro; de sua paixão científica.

Há algo acima dos homens, na história, um poder soberano que sobrevive a manifestações, posses e derrubadas de governos, sejam eles legítimos ou espúrios, é a razão como meio de moralização. Mais evidente do que o cientificismo intelectivo, talvez seja o cientificismo político parodiado na obra.

O personagem, se desconstruído, desvelaria ideologias que à época ainda eram incipientes, por isso nebulosas. A metamorfose ou o período de maturação de Simão Bacamarte te quatro estágios. O primeiro, aparentemente, se manifesta como uma vocação precocemente encarnada da própria ciência.

No segundo, há uma expansão na forma de observar a sua teoria, estendendo o estudo não só aos loucos de todo gênero, mas a qualquer pessoa que mostre o mínimo de desequilíbrio.

A terceira é ainda mais genérica: em vez de abrigar aqueles que antes mostravam alguma disfunção no comportamento social (por menor que esta fosse), adstringem-se à casa verde todos aqueles que não tiveram nenhuma manifestação de loucura; ou seja, aqueles que exercem plenamente suas faculdades.

O quarto ocorre quando este considera que todos foram curados, ao pretensamente alterar o comportamento dessa comunidade de maneira terrífica no método e na imposição, até que ele próprio decide se estudar e se tranca em sua Casa de Orates.

Os eixos de virada, porém, estão explícitos no texto; os elementos que os compõe como denso repertório velado pelo humor e ironia são a parte do legado machadiano. Porque, a partir disso, manifestações extremamente comuns de nossa funcionalidade, enquanto unidades vivas de um tecido social, começam a surgir.

Veem-se corrupção, extorsão, abuso de poder, traição, etc. É como se, por meio da contextualização e da habilidade como escritor, ele conseguisse tornar concretos os temas mais abstratos que circundam toda nossa comunidade até os dias de hoje.

Divergem vários críticos quanto à autenticidade de conto ou novela, já que ainda não conseguiram consentir quanto à categoria a que essa possa ser atribuída. Uma das críticas mais contundentes para este leitor trata dos impostos cobrados para que a ideia do alienista seja engendrada:
"A matéria do imposto não foi fácil achá-la; tudo estava tributado em Itaguaí. Depois de longos estudo, assentou-se em permitir o uso de dois penachos nos cavalos dos enterros. Quem quisesse emplumar os cavalos de um coche mortuário pagaria dois tostões à câmara, repetindo-se quantas vezes esta quantia quantas fossem as horas decorridas entre a do falecimento e a da última benção na sepultura".
Como quase todos os textos do autor, a crítica é latente, não está registrada explicitamente em palavras, mas, sim, contextualizada. É possível projetar o que está grafado no papel – uma benesse, um fornecimento do bem público mal-ajambrado que o locupletou. É um texto imagético.

E no recorte sugerido acima vemos importância debitada num homem, à época, considerado relevante para quase todas as castas de sua sociedade devido aos seus direitos congênitos (o de sua linhagem) e adquiridos (os diplomas das universidades).

Todos esquecem das "atrocidades" perpetradas por Bacamarte, porém ninguém parece ter argumentos suficientes para uma sublevação que seja, realmente, efetiva e libertadora à população de Itaguaí.

Além disso, é notável também a relação estreita e, ao mesmo tempo, odiosa entre a ciência, como um estatuto inexorável, e a religião, representada pelo padre Lopes. Ambos são obrigados a se suportar por serem, segundo o texto, as duas instituições mais fortes em Itaguaí, além da câmara, neste momento da narrativa.

Uma relação de conveniência é denunciada ali. Até porque, antes da chegada de Simão Bacamarte até ali, a única autoridade, depois do poder do Estado, era a igreja ou o padre, conforme a personificação feita no conto.

Outros elementos de crítica, tirados do corão, são utilizados para apontar outros tipos de alienação, como o fato de a sociedade de Itaguaí se deixar dominar por Bacamarte, um sábio de falsas ideias.

A ignorância se torna uma benção quando nos tira a noção de nossas práticas. Na história, cria-se ainda uma analogia referindo-se à "Casa de Orates" como um espaço que, dubiamente, sugere que não sirva só aos loucos, mas também aos socialmente abilolados:
"Como grande arabista, achou no Corão que Maomé declara veneráveis os doidos, pela consideração de que Alá lhes tirem o juízo para que não pequem" 


Brilhante loucura


Adiante, comparam-se grandes nomes históricos e filosóficos, como Sócrates, Pascal, Maomé, Caracala, Domiciano e Calígula. A ironia, neste trecho, torna-se cada vez mais vigorosa. Estes são homens que, antes de serem comparados aos supostos "loucos" da história, assemelham-se muito mais ao próprio alienista.

Historicamente, são figuras que representam escolas do conhecimento, da religião, da política e da autoridade. Estas se parecem muito mais com o médico Bacamarte do que com qualquer outro personagem coadjuvante.

Afinal, é ele quem, messianicamente, dispensa todas as propostas oferecidas por el-rei para ir para Itaguaí instituir todas as suas doutrinas científicas. É ele quem faz vigorar uma ideia positivista e tirânica naquela comunidade.

Antes de prosseguirmos com a resenha desta história, é importante registrar algumas informações que talvez esclareçam a sua importância na literatura não apenas brasileira, como mundial.

Começava a ser propalada, em diversos países da Europa, o positivismo político, de Auguste Comte, que professava que todo Estado deveria ser regido por uma autoridade intelectual. Um homem, cujos conhecimentos fossem acima da média.

Essas idealizações ensejaram, mais tarde, manifestações ideológicas totalmente enviesadas, como o nazismo, de Hitler, e o fascismo, de Mussolini. Ambos os governos beberam em fontes, cujos conceitos concebidos no séc. XIX, mais tarde, submetidos pelos regimes dos dois ditadores, tornaram-se uma cartilha eugênica, cujo resultado foi o genocídio.

Engana-se quem pensa que essas ideias eram inerentes apenas a esses dois países. Do Brasil a Rússia, praticamente em todos os rincões do mundo havia pensamentos, cuja gênese era a mesma à dos líderes, respectivamente, Mussolini e Hitler.

O sécúlo XIX concebeu o cientificismo, o séc. XX o aplicou, deixando para as gerações futuras uma fuligem ideológica que perpetua, indelevelmente, na história.

Machado de Assis, porém, já criticava essas proposições, ou a gênese de tais ideias, em seu tempo, quando ainda se buscava fecundar nos tecidos políticos e sociais da época a matéria germinal para modelos políticos que sobreviveram até o século presente.

O que explica a viagem de D. Evarista para o Rio de Janeiro, em que ela pede para que a acompanhe (pergunta). A formação de uma comitiva patrocinada com o dinheiro de Bacamarte. À Casa Verde, porém, entravam mais e mais supostos enfermos.

O povo tentava falar, mas todos se calavam sob a determinação do protagonista, muito escolado, detentor de todo conhecimento das Américas e da Europa; a câmara se fazia surda, cega e muda, deixando de deliberar pelo povo, preservando cada um o seu cargo e a sua liberdade que poderia ser usurpada a qualquer momento por Simão Bacamarte.

Com isso, diz-se que da mesma maneira em que ocorrem as quatro reviravoltas da história, as quais já foram enumeradas acima, sendo essas a acepção e encarnação da ciência, a expansão da teoria, o alienamento dos não alienados e a auto alienação das práticas cientificistas; da mesma forma, ao longo da história, há outras circunstâncias que colocam a idoneidade do médico em xeque.

Se formos elencar, poderíamos determinar, que o primeiro item está relacionado, não só a concepção da Casa Verde, mas também ao enriquecimento por meio dos gastos públicos.

O segundo, a um deslocamento da própria imagem do alienista em frente a pessoas que praticam o que para ele é impraticável, ou, como foi dito acima, por uma inveja aventada ou sugestionada.

O terceiro, a manifestação de ciúme, velada pelo interesse científico. Até aqui as sanções podem ser todas consideradas morais, mas no decorrer da história, as ocorrências abarcam cada vez mais o grupo social, fazendo suscitar a cada deliberação do protagonista consequências avassaladoras para a sua comunidade.

Seu texto permeia também alguns assuntos religiosos; pode se levar em conta que ele trata aqui de pecados, antes capitais ou morais, do que científicos.

A luxúria, a inveja, a avareza, a traição… Tudo são sintomas apontados pelo Alienista, porém, estes mesmos pecados são facilmente encontráveis no próprio protagonista.

O político parece um ser que entretém. Uma figura caricatural. E o que mais espanta é o retrato tão hodierno dessa categoria de cidadão. Em uma das inúmeras vezes em que Bacamarte se utiliza de seu conhecimento para exercer a tirania, conta-se o caso de um político que se opusera ao protagonista, quando este peticionava a criação da Casa Verde.

O político fora recolhido ao manicômio, porém, segundo as descrições do autor, este trecho da história é quase alegórico pelo seu influxo de ironia:
"Por exemplo, um dos vereadores – aquele que justamente mais se opusera à criação da Casa Verde, – desfrutava a reputação do perfeito educador de cobras e macacos, e aliás nunca domesticara um só desses bichos; mas, tinha o cuidado de fazer trabalhar a matraca todos os meses".
Adiante, o narrador emenda: 
"E dizem as crônicas que as pessoas afirmavam ter visto cascavéis dançando no peito do vereador; afirmação perfeitamente falsa, mas só devido à absoluta confiança no sistema. Verdade, verdade; nem todas as instituições do antigo regime mereciam o desprezo do nosso século".
De fato, este é um personagem que enxergava nos outros o que ele não conseguia enxergar em si próprio.

A prisão do albardeiro é uma das mais empolgantes do texto. O caso do indivíduo que enriquecera devido aos seus consertos de albardas. Isto foi suficiente para que ele comprasse uma das casas mais suntuosas de Itaguaí, que fosse até maior do que a de Orates, do alienista.

Sempre motivado pela ciência, este interessa-se pela contemplação do homem, que, pela manhã senta à frente da propriedade para admirá-la e, à tarde, repete a prática, porém, para que os transeuntes que passam na rua sintam inveja de sua conquista ao adquirir o patrimônio.

Em nenhuma linha do texto, lê-se uma frase relacionada à inveja, porém, nota-se a acuidade do autor ao adiante lançar ao texto uma de suas mais finas ironias: 
"Mas não se pode dizer que Itaguaí fosse feio; tinha belas casas, a casa do Matheus (albardeiro), a Casa Verde".
Por detrás de todo autoridade existem razões humanas, por mais que estas sejam egoístas ou embotadas por algum ranço ideológico, para justificar suas ações. Mais adiante, prende-se um rapaz, segundo a história, muito garboso e metido a ser poeta que galanteia D. Evarista, consorte de Bacamarte:
"Pobre moço! Pensou o alienista. E continuou consigo: – trata-se de um caso de lesão cerebral; fenômeno sem gravidade, mas digno de estudo".
Um caso de ciúme. Ele realmente se enxergava como um paladino da perfeição. Há um verniz nobre sobre Bacamarte que o aparta dos demais. Evidentemente, existe nele uma ironia. Ele apenas aceita internar-se quando uma plêiade de outros cientistas diz que enxerga nele o símbolo pleno da razão.

Apesar de todas as mazelas perpetradas ao longo de toda história, por fim, o problema pelo qual ele, como homem da ciência, tanto saiu à cata, terminou por vencê-lo com uma dúvida:
"Mas deveras estariam eles doidos e foram curados por mim, – ou o que pareceu cura, não foi mais do que a descoberta do perfeito desequilíbrio do cérebro (pergunta)".
Não é nenhum bom senso de humanidade o que faz amolecer o coração do médico, mas sim, a colocação de si próprio como objeto de estudo. Ele segue resoluto quanto às suas convicções mesmo quando a constatação foge de seus poderes alcançá-la.

Conclusão


Machado de Assis não perde o tom ferino, apesar da sofisticação de seu texto. A crítica é contínua da ironia. Ele era um escritor de qualidade inquestionável! O texto fui de uma maneira muito impressionante.

Eu já havia lido Dom Casmurro há muito tempo e me lembro de ter gostado bastante da obra, mas gostei ainda mais de O Alienista. Livro mais do que recomendado, principalmente para quem está começando a ler livros de autores clássicos.

Informações gerais 

  • Título da obra: O Alienista
  • Autor: Machado de Assis
  • Ano da edição lida: 1979
  • Editora: Ática
  • Páginas: 55
  • Classificação: ✯✯✯✯✯
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sábado, 22 de setembro de 2018

É PRIMAVERA...


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A primavera é uma das quatro estações do ano, ocorrendo logo após o inverno e antes do verão, e sua principal característica é o florescimento de várias espécies de plantas. Por isso, é também conhecida como "estação das flores".

No hemisfério Norte, essa estação é chamada de "primavera boreal", com início em 20 ou 21 de março e término em 21 ou 22 de junho. Já no hemisfério Sul, onde se localiza quase todo o Brasil, tem-se a "primavera austral", começando em 22 ou 23 de setembro e terminando no dia 21 ou 22 de dezembro. Logo que começa essa estação, o dia tem o mesmo número de horas que a noite, mas, conforme o tempo vai passando, o dia vai ficando mais longo e a noite mais curta.

O "nascimento" da primavera


O termo primavera vem do latim, com a união das palavras primo e vere, que significam "antes do verão". É uma época de extrema beleza, cheia de flores coloridas e perfumadas, que marcam o início da reprodução de muitos vegetais. Na primavera, que é um período em que as temperaturas são mais elevadas em relação ao inverno, também ocorre o acasalamento de muitos animais, como borboletas, pássaros e abelhas, que se alimentam do néctar das flores. Outra mudança climática, além da elevação da temperatura, é o aumento da umidade do ar, em algumas regiões, devido às chuvas.

O Brasil é um país com uma grande biodiversidade, ou seja, várias espécies de vegetais e animais, e, como não tem um inverno rigoroso, diferentes plantas florescem no decorrer do ano todo. Entre as flores que mais se destacam na primavera estão as rosas, as margaridas, os jasmins, as hortênsias, as violetas, as orquídeas e muitas outras.

Tornou-se quase que um lugar comum falar de primavera como renovação: das flores que voltam, da alegria da natureza, sempre ao som das "Quatro Estações" de Vivaldi ou assistindo "Fantasia", do Disney. Por que um filósofo viria questionar este cenário idílico? simplesmente porque os filósofos acreditam que, assim como todas as coisas se renovam naqueles seres a quem pertencem, a reflexão também deve se "renovar" nos homens.

Tempo de renovação


Renovar parece palavra simples, mas tem umas entrelinhas complicadas e enganosas. Pelo dicionário, significa "fazer com que (algo) fique como novo" ou "volte a ser como novo". Bem, uma flor, quando nova, é como um foco para onde convergem todos os olhares, pela sua beleza, cor e graça; ela mesma, não volta jamais a ficar assim, mas a natureza produz outras, na próxima primavera... idênticas? quase. Num passar de dezenas anos, são muito parecidas, a cada ciclo; em milhares de anos... já começam a se modificar, lentamente.

O que deduzir disso? A flor, como indivíduo, não se renova; a natureza, como coletividade, sim. E aí, entramos na peculiaridade da condição humana: interessa-nos a individualidade, e não apenas a nossa imersão inconsciente na marcha do coletivo. Interessa-nos (ou deveria nos interessar!) crescer por mérito individual, e não apenas "ser arrastado" pelas correntes da moda; não o individualismo egoísta, que busca o destaque por vaidade, ambição e desejo incessante de conforto e entretenimento, mas a individualidade consciente, que busca comprometer-se com a humanidade fazendo seu papel: tornando-se mais humano para dar exemplo, para demonstrar que isso é possível, para abrir caminhos.

Ou seja, a flor nasce flor por requinte da natureza; o homem torna-se Homem por esforço próprio; a flor, como indivíduo, só envelhece e perde suas cores, parecendo menos com uma flor, à medida que o tempo passa; o homem pode ganhar novas cores e ficar mais parecido com um Homem, quando o mesmo tempo transcorre. A flor faz o que lhe corresponde: desabrocha na primavera, encanta os apaixonados, decora os jardins. O Sol nasce e se põe, gerando espetáculos belíssimos e pontuais, todos os dias, para os que se dispõe a apreciá-lo...

O homem... nem sempre tem feito o que lhe corresponde; há um compasso de expectativa para que os homens desabrochem, e a primavera humana, que depende apenas de cada homem, individualmente, não chega. O amanhecer humano tarda, e a escuridão já assusta e incomoda. Imagino que um Homem, na sua plenitude de valores, sabedoria, fraternidade, ética, honra e bondade seria um espetáculo tão belo quanto o desabrochar de qualquer flor, e a aurora e o crepúsculo de qualquer sol... quando?

Conclusão



Comecemos por nós; busquemos intensamente, como o maior dos objetivos, o despertar da nossa natureza humana; há um apelo que ecoa pela natureza: "Precisamos de seres humanos!" Atender a este apelo talvez seja uma das formas mais eficazes e contundentes de trabalhar em prol da natureza, objetivo tão buscado em palavras, em nosso dias. Em atos... nem tanto; se buscarmos o "humano", quem sabe todo o demais não seja conquistado por acréscimo?

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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

CANÇÕES ETERNAS CANÇÕES - "AQUARELA", TOQUINHO

















A música que destaco hoje na série especial de artigos Canções Eternas Canções, mais do que um dos grandes clássicos da MPB, é daquelas canções que desde o seu lançamento, em 1983 (há 35 anos), se tornou uma espécie de hino de todas as gerações, uma vez que sua mensagem alcança os corações infantis e adultos. Além de uma irretocável melodia, a letra de "Aquarela" nos pinta com suas matizes sonoras, um mundo ideal colorido com muita emoção e paz.

Vinícius & Toquinho... Toquinho


O nome de Toquinho quase sempre é associado ao de Vinícius. Uma associação correta, mas que nem sempre faz justiça à qualidade de compositor de Toquinho. Ele compôs clássicos, mesmo sem Vinícius, e algumas de suas músicas se eternizaram no cancioneiro popular do Brasil (e não só do Brasil).

Do site oficial de Toquinho, conta-se a bela história de "Aquarela", sucesso no Brasil e em vários países do mundo. A vinculação de Toquinho com Vinícius de Moraes se deve aos 11 anos em que foram parceiros – de 1969 a 1980, quando o poeta faleceu (Toquinho estava com ele quando deu o último suspiro).

E a confusão é porque a primeira parte de "Aquarela" é justamente uma canção que Toquinho e Vinícius fizeram em 1974, intitulada "Uma Rosa em Minha Mão", sob encomenda para a novela "Fogo Sobre Terra", da TV Globo – naquela novela, os dois foram contratados para compor toda a trilha sonora nacional.

Nasce uma Aquarela


Em 1982, após vários anos de apresentações na Itália, Toquinho já era um nome de destaque naquele país. O empresário Franco Fontana criara a gravadora "Maracana" objetivando diretamente a música brasileira, e resolvera gravar um disco com Toquinho, com músicas novas. Para isso escolheu o músico italiano Maurizio Fabrizio, que havia vencido o festival de San Remo e que, na visão de Franco, concentrava características semelhantes às do violonista brasileiro.

Do encontro dos dois resultou uma generosa parceria, material para quatro discos entre o período de 1983 e 1994. Essas canções receberam originalmente letras em italiano, a grande maioria, de Guido Morra, e poucas de Sergio Bardotti. Depois algumas foram vertidas para o castelhano por I. Baldacchi e outras por C. Toro. Parte delas recebeu versões de Toquinho, que as gravou também em português. Toquinho conta como teve início essa parceria:
"Quando o Franco decidiu investir nesse disco, surgiu a grande controvérsia: a parceria. Ele arriscou no Maurizio Fabrizio. Eu não sabia quem era o Maurizio..."
 – explica Toquinho. – 
"Não o conhecia, nunca o tinha visto. Aí, o Maurizio me telefonou do Aeroporto de Congonhas: 'Eu estou com uma blusa amarela, uma calça cinza e uma mala marrom te esperando'. E eu: 'Vou estar com um carro prata'. Cheguei, olhei, lembrei das dicas, ele me viu, nos acenamos, e pronto. 
Fomos para casa e ele dormiu um pouco. Quando acordou, almoçamos – isso no dia em que ele chegou – e eu tinha uma pianolinha, uma coisinha ridícula – ele toca piano – então peguei meu violão e disse: 'Nós temos que fazer músicas. Vamos combinar uma coisa: o que você não gostar daquilo que eu faço, me fala. E o que eu não gostar do que você faz, eu falo. Tudo bem?'. 
Ele concordou e começou a mostrar uma música. Achei meio chata a primeira parte, mas quando ele entrou na segunda parte, eu gostei, lembrava a primeira parte de 'Uma rosa em minha mão', que fiz com Vinicius, em 1974, para a novela 'Fogo Sobre Terra', da Globo. 
Então, toquei para ele, que, em seguida, começou com a segunda parte da música dele. Uma se encaixou na outra, naturalmente, na primeira tentativa, era a primeira música que ele me mostrava… Assim, gastamos nem três minutos para fazer a música que seria conhecida como 'Acquarello', em italiano, que é a nossa 'Aquarela'.
'Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo 
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo.
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva, 
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva. 
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel, 
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu. 

Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul, 
Vou com ela, viajando, Havai, Pequim ou Istambul. 
Pinto um barco a vela branco, navegando, é tanto céu e mar num beijo azul. 
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená. 
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar. 
Basta imaginar e ele está partindo, sereno, indo, 
E se a gente quiser ele vai pousar. 

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida 
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida. 
De uma América a outra consigo passar num segundo, 
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo. 
Um menino caminha e caminhando chega no muro 
E ali logo em frente, a esperar pela gente, o futuro está. 

E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar, 
Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar. 
Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar. 
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá. 
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar. 
Vamos todos numa linda passarela 
De uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá. 

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá). 
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá). 
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo (que descolorirá).'

Continua Toquinho...
Achei bonita, me animei, e nos outros dias fizemos umas oito melodias. Maurizio voltou para a Itália para criar os arranjos e trabalhar com o letrista, o Guido Morra, que fez as letras de todas as nossas canções. 
Quando cheguei na Itália, em novembro de 1982, para fazer a temporada de shows e gravar o disco, nunca me esqueço, estava num restaurante e eles apareceram com todas as letras já datilografadas. 'Vamos mostrar todas as letras para você, e deixar por último, aquela pela qual todos estão encantados'.
Eu não confiava nessa música como música de sucesso, nem imaginava isso. Para mim, era só uma canção de meio de disco. Então, me mostraram todas as letras e, por fim, a última: 'Acquarello'. 
É uma letra mágica: desperta a criança que carregamos dentro de nós, reforça o romantismo da amizade, aviva as delícias de se ganhar o mundo com a rapidez moderna, e, por fim, nos alerta para o enigma do futuro que guarda em seu bojo a implacável ação do tempo, fazendo tudo perder a cor, perder o viço, perder a força. 
Gravei o disco e fizemos o lançamento em Sanremo – conta Toquinho. – Depois da primeira apresentação de 'Acquarello', começaram a pipocar comentários os mais maravilhosos, o disco saiu com 30 mil cópias, que se esgotaram no segundo dia. 
Essa música tem realmente um aspecto emocional muito forte, um apelo comercial, as pessoas ouvem e se envolvem. De repente, o Franco passou a me telefonar: 'Olha, a música estourou por aqui, está nos primeiros lugares das paradas'. Voltei lá para fazer promoção, aí, ninguém segurou mais. 
Fui o primeiro artista brasileiro a ganhar um Disco de Ouro na Itália – 100.000 cópias, como aqui. Virei artista popular fora do Brasil! Então, resolveu-se gravar a música em português. Quando conheci a letra, ainda na Itália, me empolguei em fazer a tradução. 
Sabia que encontraria dificuldades, pois é uma letra grande, as rimas tinham de ser precisas. Mudei muita coisa na forma de dizer, para poder conservar em nossa língua, a mesma magia atingida pelo Morra, em italiano. E começou a sair um negócio bonito, nem eu mesmo sabia o que era. Mesmo assim, achava a letra muito grande. 
Mas não deu outra coisa. Saiu aqui e foi outro estouro igual. Na Espanha, a mesma coisa. Na Argentina, na França, em todo lugar. Aqui no Brasil virou tema de publicidade, tarefa de escola para a criançada, e até hoje é exigida e cantada nos shows, como na época de seu lançamento. 'Aquarela' foi um marco em minha carreira, como seria na de qualquer outro" 
– continua Toquinho.
"Uma coisa definitiva na vida de um compositor. 'Aquarela' é uma música que tem algo melhor, quem sabe a força da ingenuidade infantil ligada a um encanto popular que emociona. O primeiro acorde já levanta as pessoas. Consolidou-me, tanto na Itália como aqui, na América do Sul e na Europa. A partir daí as pessoas me reconheceram também como instrumentista, tornei-me popular."

Conclusão


Conhecemos a verdadeira história sobre essa maravilhosa, inesquecível e eterna canção contada por seu próprio compositor. No Brasil, os anos finais do século passado destinaram ao grande músico Toquinho realizações artísticas que sintetizaram homenagens, recordações, reencontros e novas parcerias. E, até hoje a canção, imortalizada (na nossa memória e) na propaganda da Faber Castell, gera suspiros…

[Fonte: Toquinho]

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segunda-feira, 17 de setembro de 2018

MISTÉRIOS DA BÍBLIA - 4) JESUS "EVANGELIZOU" NO INFERNO?

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Outro texto que tem sido motivo de muitos debates entre teólogos e cristãos é o com relação à uma suposta descida de Jesus ao inferno. O texto, que há tempos tem dado pano para mangas, está registrado em 1 Pedro 3:18-20.

Será mesmo que Cristo desceu a um mundo inferior entre a sua morte e ressurreição? Já não é de hoje que ouvimos pessoas interpretarem esse texto bíblico e tirarem conclusões precipitadas sobre o assunto. Isso causa um grande problema que é a doutrina do purgatório e do Sheol ou Inferno, onde supostamente pode existir uma "segunda chance" para aqueles que morreram em pecado. Mas em primeiro lugar, vamos ler o que o texto diz:
"Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água" (grifo meu).
Sinceramente, eis aí um texto bíblico que requer muito, mas muito cuidado mesmo com sua interpretação. Trata-se de uma passagem assaz complexa e que, portanto, requer uma minuciosa análise.

Análise contextual


A expressão "...desceu ao Hades...", com referência a Cristo, não é encontrada em nenhum lugar das Escrituras. Afirma-se que o Redentor "...desceu às regiões inferiores, à terra...", mas não que Ele desceu a um lugar chamado Hades depois de sua morte e sepultamento.

Por isso diz: 
"Quando Ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até às regiões inferiores, à terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas" (Efésios 4:8-10 - grifo meu).
O texto diz muito simplesmente que Jesus sofreu a morte física e que foi sepultado. Todavia, essa expressão apareceu em dois credos da igreja cristã antiga, ainda que com palavras diferentes. A primeira ocorrência está no Credo Apostólico, que tem a expressão latina 
"descendit ad inferna (desceu aos infernos/Hades)"
e a outra se encontra no Credo de Atanásio, com a expressão latina
"descendit ad inferos (desceu às regiões inferiores)".

Vejamos então quais são as principais interpretações

Interpretação da Tradição Católica


O entendimento católico é o de que Cristo, após a sua morte, foi ao limbus patrum. Na teologia católica esse lugar é para onde vão os mortos que não são salvos pela graça, mas que não podem ser classificados como pagãos ou mesmo como pecadores réprobos. Esse lugar fica nas bordas do inferno e do purgatório; todavia, não deve ser confundido com eles. 

O limbus patrum, segundo a teologia católica, não é um lugar de tormentos. É o "seio de Abraão", ao qual Cristo se refere na parábola do rico e Lázaro. O inferno é o lugar de condenação eterna enquanto que o purgatório é um lugar temporário de punição purgativa reservada para os cristãos que morrem com as manchas dos pecados veniais ou que morrem sem a devida penitência pelos seus pecados. 

No limbus patrum, os santos do Antigo Testamento esperavam a sua redenção ser consumada por Jesus Cristo, o que se deu com sua descida ao Hades. Ali Jesus concedeu às almas dos santos do Antigo Testamento que haviam morrido os benefícios do seu sacrifício expiatório, pois eles estavam esperando o anúncio final da sua salvação... Ele não foi efetivamente ao lugar dos ímpios.

Interpretação Arminiana


Defende que os contemporâneos de Noé não tiveram nenhum redentor e nenhum guia. Portanto, Deus teve de lhes suprir esta deficiência e, assim, por fim, o Senhor ressuscitado lhes trouxe a salvação. 

Para eles, a rejeição do Evangelho no passado não foi uma rejeição final e definitiva. Desta forma a morte não coloca um fim no período em que Deus opera com Sua graça para salvar pecadores e existe uma nova oportunidade para os ímpios se salvarem, mesmo depois de sua morte. A grande dificuldade é que os santos do Antigo Testamento já haviam crido no Messias e, por isso, estavam justificados, conforme Romanos 4:3 e Gálatas 3:6-9.

Interpretação luterana


Ela crê que Cristo morreu e, antes de ser ressuscitado, teve seu espírito restituído ao corpo e, na totalidade de sua natureza humana, foi ao inferno e proclamou sua vitória a satanás.

Interpretação anglicana


Ensina que a alma de Cristo desceu ao inferno para conquistar a morte e o diabo (tomar as chaves) e para libertar as almas dos homens justos e bons, que desde a queda de Adão morreram por causa de Deus e na fé e na crença em Jesus, que estava para vir. Sua conquista destruiu qualquer reivindicação que o diabo tinha sobre os homens, e a descida foi parte do "resgate" pago por Cristo. 

Todavia, as Escrituras não ensinam que os crentes do Antigo Testamento foram para o Hades e que Jesus lá desceu para libertá-los. Esses crentes foram estar com Deus após a sua morte, conforme Salmo 73:23,24. Enquanto Cristo estava na terra, Elias e Moisés já estavam com Deus no céu, e não no Hades, conforme Lucas 9:28-36.

Interpretação reformada


O ensino desta passagem de 1 Pedro 3:18-20 é que Cristo pregou o evangelho aos contemporâneos de Noé no seu estado antes da Encarnação e não entre a Sua morte e a ressurreição, conforme 1 Pe 1:8-12. Espiritualmente, Cristo estava presente em Noé quando este era o "pregoeiro da justiça", conforme 2 Pedro 2:5. O apóstolo Pedro mostra o evangelho sendo pregado pelos profetas. Noé certamente pregou aos seus contemporâneos o evangelho e convocou-os ao arrependimento.

Portanto a expressão "espíritos em prisão" se refere às pessoas que no tempo de Noé (noutro tempo) rejeitaram a sua pregação e que foram consideradas "espíritos em prisão", incapazes de fazer qualquer coisa que os deixassem livres. Permaneceram no cativeiro espiritual; permaneceram incrédulos quanto à mensagem pregada por Noé e na prisão de suas almas.

O mesmo Jesus, durante a crucificação, disse ao malfeitor em Lucas 23:43 
"E disse-lhe Jesus: 'Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso'."
Portanto de forma alguma podemos conjeturar que Jesus desceu ao inferno entre a morte e a ressurreição sendo que Ele mesmo afirma que estará no mesmo dia no Paraíso.

Agora, vamos entender o que Pedro quis dizer

1º Quem pregou?


Jesus Cristo foi quem pregou por meio do Espírito. Esse termo "Espírito" usado no texto bíblico é um elemento da trindade e não o espírito "ruach" que se refere a uma pessoa. Jesus já se revelava de algumas formas no Antigo Testamento (isto chama-se Cristofania), onde em várias passagens Ele é chamado de "Anjo do Senhor".

Então, Jesus Cristo pregou naquele tempo de Noé através do Espírito Santo para que as pessoas se arrependessem, tentando convencê-las dos seus pecados e para que não fossem exterminadas. Aqui vemos mais uma vez o amor de Deus por nós, pois Ele que tentou de todas as formas evitar a morte e perdição daquelas pessoas. Esse papel de convencimento do pecado é do Espírito Santo.

2º Quem são esses espíritos em prisão?


São aquelas pessoas rebeldes do tempo antigo, ou seja, os antediluvianos (que viveram antes do dilúvio) no mesmo tempo que Noé. Ademais, a Bíblia retrata os seres humanos vivos como espíritos (ver Hebreus 12:22-24), almas, pó, filhos, homens, igreja, etc. Nesse texto de 1ª Pedro, o termo "espíritos em prisão" foi utilizado para se referir às pessoas em prisão, ou seja, aqueles que estavam presos por suas próprias iniquidades.

3º Que prisão é essa?


Essa é a prisão da iniquidade e do pecado, conforme está escrito em Provérbios 5:22 e em Atos 8:23. Ou seja, essas pessoas rebeldes (espíritos) estavam "presos" pelo pecado.

Conclusão


1º – O apóstolo Pedro disse simplesmente que: Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo, pregou por vários anos [longanimidade de Deus] aos antediluvianos que estavam presos na cadeia do pecado para que eles não se perdessem.

Pedro só quis dizer isso, tanto que no contexto anterior ele está ensinando a outros cristãos a terem paciência e suportarem as adversidades da vida e terem esperança. Pedro não está ensinando uma outra doutrina.

2º – Pedro não está ensinando (de forma alguma) que existe outra chance após a morte, pois ele estaria contrariando a própria Palavra de Deus, conforme Eclesiastes 9:5-10Isaías 55:6,72 Coríntios 6:1,2Hebreus 3:13,14.

Jesus não desceu ao Inferno, o diabo não possuía as "chaves" da morte e do inferno, não existe uma segunda chance de salvação aos desobedientes após sua morte. Cristo esteve sempre presente tipologicamente no Antigo Testamento, pregando através dos profetas o Evangelho de Salvação.

Portanto, não se enganem… NÃO EXISTE OUTRA CHANCE! O tempo é agora! Jesus não pregou no Inferno, Ele continua anunciando o evangelho hoje, para nós vivos.

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

POLÍTICA NÃO É ASSUNTO DE SE TRATAR EM PÚLPITO

É grande, profunda e crônica a decepção com os políticos. Uma onda de descrédito com os políticos varre a nação. Somos herdeiros de uma cultura extrativista. Nossos colonizadores vieram para o Brasil com a intenção de tirar proveito. Rui Barbosa alertou para o perigo das ratazanas que mordiam sem piedade o erário público, perdendo a capacidade de se envergonhar com isso. 

A maioria dos políticos se capitulam a um esquema de corrupção, de vantagens fáceis, de fisiologismo, nepotismo, enriquecimento ilícito, drenando as riquezas da nação, assaltando os cofres públicos e deixando um rombo criminoso nas verbas destinadas a atender às necessidades sociais. As campanhas milionárias já acenam e pavimentam o caminho da corrupção.

O resultado da corrupção, da má administração, da ganância insaciável pelo poder é que somos a oitava economia do mundo, mas temos um povo pobre, com mais de 50 milhões vivendo na pobreza extrema.

Diante desse quadro, muitos cristãos ficam também desencantados com a política e cometem vários erros, como por exemplo: "Política é pecado". "Política é coisa do diabo". "O cristão não deve participar de política". "O cristão deve ser apolítico". "Toda pessoa que se envolve com política é corrupta". "Todo crente que se envolve com política acaba se corrompendo". "A política é mundana e não serve para os crentes". "Não adianta fazer coisa alguma; devemos pregar o evangelho e aguardar o retorno do Senhor".

Outros erros são cometidos: "Irmão sempre vota em irmão". "Todo crente é um bom político". "Político evangélico deve lutar apenas pelas causas evangélicas". "O púlpito transforma-se em palanque político". "A igreja troca voto por favores".

Púlpito ou palanque?


Estamos bem próximos das eleições, e como você já deve saber, algumas igrejas evangélicas (e também católicas ou de outras vertentes) têm como costume ceder o púlpito para candidatos discursarem. Toda véspera de eleição é comum ver o altar se transformar em palanque e as portas dos templos se abrindo para toda classe de charlatanismo.

Acontece que esta prática, além de medíocre, também é criminosa. Segundo a Lei 9.504/97 e de acordo com o artigo 13 da resolução 22.718/2008, do Tribunal Superior Eleitoral, fica proibida toda e qualquer propaganda eleitoral dentro de templo. A lei entende que os templos são espaços de acesso comum e não devem ser usados como palanques eleitorais.

Sendo assim, se você notar que estão usando sua igreja como curral eleitoral, DENUNCIE. Precisamos dar um basta nessa politicagem dentro dos templos. Igreja é lugar de louvar a Deus não de promover quaisquer evento de cunho político! Distribuir santinhos, fazer o púlpito de palanque eleitoral e colocar cabresto no eleitor, ditando em quem ele deve votar, é uma atitude criminosa.

O culto não visa satisfazer ou agradar a desejos e/ou angariar confiança, votos ou simpatias. O culto é oferecido a Deus conforme suas próprias prescrições e Ele é quem julga as nossas ofertas (Isaías 66:3,4). O culto a Deus não pode se transformar em um comício, pois isso trairia o sentimento e o objetivo pelo qual os membros estariam na igreja naquele momento. Com certeza foram para adorar a Deus e não para ouvir promessas e planos de governos que, via de regra, não os cumprem. 
  • Para denunciar a politicagem na sua igreja, basta procurar a delegacia ou o cartório eleitoral.
Vamos acabar com essa palhaçada!

Consciência política cristã

"Vós sois o salda terra; mas se o sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor? para nada mais presta, senão para ser lançado fora, e ser pisado pelos homens" (Mateus 5:13).
O cristão como cidadão de uma sociedade democrática, pluralista e livre deve desenvolver uma correta consciência política, interferir nos destinos da nação por meio do voto e participar da vida pública candidatando-se a cargos públicos. 

A Palavra de Deus não veta o cristão de filiar-se a um partido político e candidatar-se a um cargo público. A Bíblia relata a história de homens de Deus que assumiram funções políticas: 
  • José, governador do Egito; 
  • Davi, rei de Israel; 
  • Josias e Ezequiel, reis de Judá; 
  • Daniel, um dos ministros de Estado do reino da Pérsia; 
  • Mordecai, primeiro-ministro na Pérsia; 
  • Neemias, governador de Judá após a volta do cativeiro; etc. 
Este Cristão deve buscar a vontade "literal" de Deus, a qual deve vir em primeiro lugar. É preciso que o Senhor seja consultado e que seja ouvido. Deve comportar-se como Servo do Deus Altíssimo (Provérbios 11:11; 14:34; 16:12), dando testemunho de sua fé e obedecendo os princípios bíblicos da santidade, pureza, honestidade, amor ao próximo, renúncia, abnegação, etc., e uma vez empossado no cargo deve lembrar-se que não representará apenas uma fatia da sociedade, mas se torna um servidor público para servir ao e à nação.

Conclusão

1) Como votar?


Devemos escolher um candidato pela sua vocação, preparo, caráter, compromisso com o povo e propostas. Há coisas básicas: saúde, educação, emprego, segurança, moradia, progresso. Se temos pessoas evangélicas com esse perfil, demos a elas prioridade em nosso voto. Mas seria irresponsabilidade votar numa pessoa apenas por ser evangélica se ela não tem essas credenciais.

2) Como fiscalizar? 


A igreja é a consciência do Estado. Ela exerce voz profética. Ela precisa votar, acompanhar e cobrar dos seus representantes posturas dignas, sobretudo nos assuntos de ordem moral e social: casamentos gays, aborto, etc.

3) Como encorajar? 


A Bíblia nos ensina a interceder, honrar e obedecer as autoridades constituídas - sejam elas quais forem:
"Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus" (Romanos 13:1).
"Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade" (1 Timóteo 2:1,2 - ambos os grifos meus).
Entendendo que com esta palavra estou contribuindo para clarear o entendimento dos servos do Senhor à luz de sua Palavra, isto posto, concluímos que: 
  1. O Senhor Jesus edificou a igreja para ser uma casa de oração para todos os povos. 
  2. O Senhor Jesus edificou a igreja para ser uma porta divina para cuidar da vida espiritual das pessoas. 
  3. Jesus Levantou pastores (líderes) com chamado específico para cuidar do rebanho de Deus. 
  4. Jesus ordenou aos seus servos que sejam luz e sal da terra em qualquer circunstância e lugar. 
  5. Igreja e política não se misturam e tem propósitos diferentes.

A Deus toda glória. 
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FILMES QUE EU VI - 43: "GUNG HO - FÁBRICA DE LOUCURAS"

Assisti a este filme três vezes, aliás, cinco. Sendo três delas  - as duas últimas vezes mais recentemente - como parte do conteúdo disciplinar do meu curso de administração.  Eu até já havia escrito um outro artigo sobre este longa, mas sob um viés meramente cinéfilo e com uma análise mais voltada mais aos aspectos técnicos da produção. 

Como o arquivo com o texto desse primeiro artigo se perdeu (procurei, mas não o localizei de jeito nenhum!) em algum lugar desse extenso ambiente cibernético, optei por escrever outro (mesmo porque me comprometi com os professores Robson - Adm. da Produção - e Lillian - Ética Profissional - em compartilhá-lo com a minha turma - ADM-1), agora, com um prisma mais voltado para os aspectos didáticos da película que muito tem a nos ensinar sobre a Ética Profissional no âmbito organizacional. Boralá?

Cultura Organizacional



"Fábrica de Loucuras" ("Gung Ho", nome original e que vem de uma expressão chinesa que significa trabalho em equipe), filme de 1986 e que admito que só voltei a assistir porque tenho uma atividade avaliativa sobre o assunto. De certa forma o filme impressiona, a principio pensei seria um tédio total rever, mas a história meio que prende um pouco a atenção.

O cenário


O filme se passa em uma pequena cidade norte americana, onde uma fábrica de produção de automóveis é a principal geradora de empregos na região. Porém, essa fábrica é fechada e com o alto desemprego e a frustração pelo ocorrido, um dos empregados, Hunt (o então jovem ator Michael Keaton, bem antes de ser o Batman) resolve ir para o Japão e convencer a fictícia "Assan Motors" a comprar a fábrica fechada e com isso gerar empregos novamente na região.

Na segunda metade dos anos 1980, o imaginário popular norte-americano trazia de forma marcada uma noção a respeito do futuro que era fonte de temor e especulação: a possibilidade de, uma vez suplantados de seu lugar de liderança na economia mundial, terem de sucumbir em breve à dominação mundial do Japão. 

O reflexo disso na cultura pop da época se deu das mais variadas formas. Por exemplo, no âmbito do cinema, temos no futuro irremediavelmente oitentista de De Volta Para o Futuro Parte II um Marty McFly respondendo em videoconferência a seu chefe Fujitsu-san, enquanto que são várias as pistas visuais de uma cultura futurista marcada por influências orientais no ainda hoje icônico Blade Runner

No campo da literatura, a Trilogia Sprawl de William Gibson traz cultura e economia mundiais marcadas pela dominância nipônica. E, no âmbito da música, temos a contribuição um tanto atrasada do Ultraje a Rigor, com seu não-hit de 1992, "Vamos Virar Japonês". Pois é. É também desta fonte que "Gung Ho – Fábrica de Loucuras" bebe ao se propor enquanto uma comédia dramática retratando as dificuldades dos trabalhadores de uma fábrica de automóveis japonesa na Pensilvânia, ameaçada de fechar devido à baixa produtividade.

Choque de cultura organizacional


Longe da escala dos futuros distópicos ou da sagacidade da obra-prima da crítica social musical brasileira, a película enfoca sob uma perspectiva bem pé-no-chão a reação do cidadão médio americano em ter que se adaptar a uma cultura que não a sua. 

A trama gira em torno de Hunt Stevenson (Keaton), funcionário com cargo de chefia da recém-condenada filial da Assan Motors na fictícia cidadezinha provinciana de Hadleyville, PA. Com praticamente toda a economia do lugar dependendo da fábrica, Hunt parte em viagem para a matriz da companhia em Tóquio para tentar salvar não apenas o seu emprego e o de seus amigos, mas a própria cidade em si. Como resultado surpreendente de sua desastrosa apresentação, a empresa recebe uma comitiva de executivos japoneses para supervisionar uma reestruturação a partir da qual uma nova avaliação será feita.

Com Stevenson eleito para servir de mediador entre a nova direção e os funcionários antigos, ele passa a lidar diretamente com Takahara Kazuhiro (Gedde Watanabe), executivo que Hunt conheceu brevemente no Japão participando de um bizarro programa de treinamento para executivos fracassados. Assim, temos uma premissa de uma comédia que se embasa sobre um choque cultural muito especificamente localizado em um período histórico que, aos olhos de hoje, certamente parece bastante datado. 

Se com uma economia global consolidada e após duas décadas de estagnação econômica no Japão muito do subtexto do filme permanece atado a temas de 1986, por outro lado o fato de que a trama permanece significativa dá pistas de que o central na execução não é a sátira social em si, mas sim o próprio drama interpessoal.

Essa nova empreitada do diretor Ron Howard na comédia traz uma de suas marcas que é a precisão em desenvolver um humor leve, com muita gentileza e pouca acidez. Pode parecer uma escolha pouco eficiente para uma comédia baseada em um choque de culturas, mas eu penso que é justamente o que salva o filme de se tornar um besteirol descartável. É claro que, acredito, propositalmente, tanto americanos quanto japoneses são retratados como estereótipos. Porém, tratam-se mais de caricaturas simpáticas do que de charges sarcásticas, e é isso que dá a toada para o humor e a tonalidade do filme, que por vezes mais parece um drama leve com toques comédicos. 

A abordagem aqui preza pelo humor situacional e não pelo satírico, os momentos comédicos construídos mais por mal-entendidos anedóticos do que às custas de satirizar as óbvias fraquezas dos personagens da trama. Trata-se de um filme "com coração", que enquadra bem o otimismo dos dramas para as famílias oitentistas.

Líder, chefe e equipes

O elenco

Os responsáveis por carregar grande parte do sucesso da empreitada aqui são os protagonistas Hunt e Kaz, ambos muito bem interpretados por Keaton e Watanabe, respectivamente. A veia comédica do jovem Michael Keaton nos faz lembrar este lado de sua atuação que foi sendo jogado para escanteio ao longo de sua carreira, mas que para mim é um dos grandes fortes no trabalho do ator. 

O atrapalhado Hunt é muito bem retratado aqui no melhor estilo da "improvisação roteirizada". Tanto em seus momentos geniais quanto em suas demonstrações mais contundentes de ignorância, trata-se de uma figura com a qual o espectador consegue empatizar e que diverte de um jeito sutil, provavelmente não arrancando muitas gargalhadas, mas também sem deixar perder o interesse entre esses momentos de pico. Gedde Watanabe não fica atrás ao interpretar um personagem bastante interessante em Kaz, o mais "humanizado" da comitiva japonesa, um executivo que carrega o estigma da falha mas que mesmo assim não deixa de se preocupar com sua responsabilidade perante seus subordinados.

A dinâmica entre os dois personagens gira em torno das personalidades opostas de Chuck e Bill, temos em "Gung Ho" uma dinâmica análoga entre Hunt e Kaz (com a diferença que Keaton é quem recebe o centro dos holofotes aqui – para o benefício do filme). Tratam-se dos opostos entre o extrovertido despreocupado, que obteve sucesso na base do mais puro bullshit, e do introvertido esforçado que sucumbe perante exigências excessivamente rigorosas por parte de seus superiores - cultura ainda hoje vigente no Japão. É deste encontro que surgem os melhores momentos do filme, que explora bem essas diferenças sob diversos ângulos sutis, e sob a tonalidade tanto do drama quanto do humor.

Gestão por competência X Gestão tradicional


Nesse sentido é que a película dá conta de humanizar as diferenças culturais de modo a não deixar que se percam numa caricatura excessivamente generalizante. Os funcionários norte-americanos encarnam o individualismo e a preocupação consigo mesmos e com seu próprio bem-estar em primeiro lugar, enquanto que os japoneses trazem para eles a malquista ideia da "companhia em primeiro lugar", o trabalho como o dignificador prioritário de suas vidas. 

Porém, na dinâmica entre nossos protagonistas vemos um pouco do outro lado das respectivas moedas: o compromisso com a equipe e com um trabalho de qualidade da parte do aparentemente despreocupado Hunt, e o lado individualista de um Kaz que quer sentido para sua vida para além do ofício.

Deste ponto também é compreensível o quanto as melhores cenas comédicas também são aquelas em que o choque cultural aparece pela lente da relação entre os dois (talvez com a exceção da descida da comitiva do avião, quando os japoneses tentam lidar com o tapete vermelho – impagável!). Destaque para as vezes em que Hunt se coloca em maus lençóis por não entender uma peculiaridade da cultura e língua japonesa, que é a da evitação da negativa direta – são várias as vezes em que o atrapalhado funcionário não consegue compreender a forma muito polida e indireta pela qual Kaz tenta negar suas sugestões, o que representa (até onde eu sei) uma dificuldade bastante real nessa comunicação intercultural até hoje.

A centralidade concedida à relação entre os dois é fundamental para sustentar os desfechos da trama, que como se pode esperar envolvem o vislumbre de algum tipo de compromisso possível entre as duas forças opostas em jogo, ou: o que os americanos podem aprender com os japoneses e vice-versa? O desfecho otimista encontra apoio justamente no crescimento pessoal convincente pelo qual vemos passar Hunt e Kaz, sempre sustentado por diálogos muito bem escritos e entregues de maneira precisa. As soluções finais podem não nos soar muito realistas (ainda mais pelo fato de que o contexto econômico é totalmente diferente hoje em dia), mas a sequência final é daquelas que os dramas oitentistas melhor sabem fazer, simplesmente de encher o coração com um drama leve e inspirador, auxiliado por uma trilha sonora fantástica (destaco o mega hit "Don't Get Me Wrong", do The Pretenders).

Culturas trabalhistas do Filme Fábrica de Loucuras


O filme "Fábrica de Loucuras" mostra o choque entre dois sistemas produtivos e as culturas de trabalho por eles criadas. Veja as características de cada uma delas:

  • Método de trabalho: Norte americana – os funcionários exercem sempre a mesma função e a produção independe da demanda. Linhas de montagem. Japonesa – sistema flexível onde a produção é regulada pela demanda e há menor desperdício. Ilhas de produção.
  • Direitos e deveres dos trabalhadores: Norte americana – Direito de dispensa em ocasiões especiais e dever de realizar a sua função no processo produtivo. Japonesa – Direito de fazer parte da equipe e dever de garantir a produtividade e a qualidade do processo.
  • Produtividade do trabalho: Norte americana – Alta para manter os custos menores. Japonesa – Muito alta com estoques mínimos.
  • Qualidade da produção: Norte americana – baixa. Japonesa – alta. 
  • Hierarquia: Norte americana – Pouco rigorosa e importante para manutenção da ordem. Japonesa – Rigorosa e de extrema importância. 
  • Paradigma produtivo: Norte americana - Fordismo. Japonesa – Toyotismo.
 

Conclusão


A história se baseia nisso, Hunt consegue convencer os japoneses e com isso a "Assan Motors" vai para a pequena cidade e abre uma nova fábrica de automóveis. Porém, o modo de trabalho dos japoneses se diferencia muito do dos americanos. Enquanto os trabalhadores queriam apenas cumprir suas horas diárias de trabalho e voltar para suas casas, os japoneses queriam dar prestigio para a empresa, nem que para isso fosse necessário trabalhar fora do horário estipulado. A Diferença de modo de trabalho acaba gerando muitas brigas e discussões tanto dos empregados com os japoneses, como também com Hunt, o qual havia se tornado um "porta-voz" dos Japoneses (donos da Assan Motors) com os americanos.

O filme além de passar a diferença dos modos de trabalho entre os países, principalmente o do Japão o qual produz muito em pouco tempo, o mesmo deixa a ideia de que muitas vezes nem os japoneses concordam com o modo de trabalho exaustivo, como observado por Kazihiro, o qual em determinado momento chama os próprios japoneses de loucos, e afirma que a fábrica era uma "fábrica de loucuras".

Em algumas cenas é utilizado alguns alívios cômicos, porém, dá para se contar nos dedos aqueles que "funcionam" ou que fazem dar aquele "sorrisinho", nada de mais. Acredito que a principal mensagem que o filme passa é de que em certos momentos é melhor deixar as diferenças de lado e trabalhar em equipe, no caso de "Fábrica de Loucuras" seria a diferença cultural em relação ao modo de trabalho, e apenas trabalhar para que dessa forma o prestigio possa ocorrer, não pelo número alcançado, mas sim pelo trabalho e empenho realizado.

Por fim, "Fábrica de Loucuras" é um filme legal e que traz alguma mensagem para o expectador, vale a pena pelo menos dar uma chance para ele e tentar se envolver com a história passada. No contexto de uma economia global já bem concretizada (e após quase duas décadas de estagnação econômica no Japão), as premissas centrais de "Gung Ho" nos parecem definitivamente datadas. No entanto, é notável que o filme funciona enquanto documental a respeito do imaginário da época em que foi feito e, ao mesmo tempo, enquanto sátira do choque cultural entre EUA e Japão que permanece em diversos pontos bastante atual e, com isso, com interesse conservado. 

Mais um drama com toques comédicos do que uma comédia com toques dramáticos, o filme rende sim bons momentos de humor, com diálogos bem escritos e situações bem montadas, mas é do lado do enredo e nas batidas dramáticas que se encontra seu maior sucesso – um pequeno clássico dos anos 80, que merecia sem dúvida ser mais lembrado.


  • "Gung Ho – Fábrica de Loucuras" (Gung Ho) – EUA, 1986
  • Direção: Ron Howard
  • Roteiro: Lowell Ganz, Babaloo Mandel, Edwin Blum
  • Elenco: Michael Keaton, Gedde Watanabe, George Wendt, Mimi Rogers, John Turturro, Soh Yamamura, Sab Shimono, Rick Overton, Clint Howard
  • Duração: 112 min.
A Deus toda glória. 
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