“Só na sorte adversa se encontram as grandes lições de heroísmo”(Sêneca).
Arthur Ashe (✰1943/✞1993), um esportista profissional, definiu o heroísmo nos seguintes termos:
“o verdadeiro heroísmo é notavelmente sóbrio, muito pouco dramático. Não é o desejo de superar todos os outros a qualquer custo, mas o desejo de servir aos outros a qualquer custo.”Os atos de heroísmo têm o poder de nos causar admiração. Eles nos dão esperança na espécie humana, enquanto nos lembram de nosso poder de transcender a individualidade.
No entanto, friamente não é tão fácil definir como esses atos são abordados e o que caracteriza os heróis contemporâneos.
Na mitologia da maioria das sociedades, o herói é alguém especial que encarna os valores mais queridos de sua cultura.
É um modelo idealizado de ser humano que serve de exemplo para uma comunidade. Também evoca um esquema literário em que alguém geralmente descobre que possui habilidades excepcionais.
É um modelo idealizado de ser humano que serve de exemplo para uma comunidade. Também evoca um esquema literário em que alguém geralmente descobre que possui habilidades excepcionais.
Na realidade, o herói é alguém que se destaca por ter realizado um feito extraordinário que exige coragem, pois envolve expor-se ao perigo para resgatar alguém de uma situação catastrófica.
Chacina em Janaúba
Há seis anos, Janaúba, no Norte de Minas, ganhou notoriedade nacional por um motivo trágico, mas que atraiu novos olhares para a educação infantil.
Desde 2017, ano após ano, o mês de outubro em Janaúba traz de volta memórias do cenário de terror na Creche Gente Inocente, hoje Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Helley de Abreu, batizado em homenagem à professora que impediu que a tragédia fosse ainda mais grave.
Aquele dia 5 de outubro de 2017 começou como qualquer outro para os moradores de Janaúba, em Minas Gerais. Era uma manhã comum na creche Gente Inocente e as professoras se preparavam para começar mais um dia letivo com as crianças.
Era para ser mais um dia cheio de brincadeiras, aprendizado e, inevitavelmente, algum choro. Os profissionais da creche, no entanto, foram surpreendidos por algo muito distante do que eles estavam acostumados a enfrentar: uma verdadeira tragédia.
Com motivos que só foram descobertos mais tarde, durante as investigações do caso, o segurança noturno da escola fez o impensável. Munido de um galão de álcool, o homem entrou na escola e ateou fogo em si mesmo e em diversas crianças.
O abraço da morte
Pouco antes do segurança entrar na instituição, criando uma cena digna de filmes de terror, a professora Helley de Abreu Silva Batista, de 43 anos, guiava seus alunos para a sala de aula.
Foi nesse momento que, horas antes do começo de seu turno, o vigilante Damião Soares dos Santos, de 50 anos, invadiu a instituição. Com o líquido inflamatório em mãos, o segurança noturno foi até a sala do segundo período e começou o incêndio.
A sala que era usada pelas crianças para recreação, com 40 metros quadrados, teto em PVC — material altamente inflamável — e janelas bloqueadas por grades, se cobriu rapidamente de labaredas.
Damião, que trabalhava para a prefeitura desde 2008 e há três lidava com problemas psiquiátricos, havia se molhado com o combustível e, em chamas, chegou a abraçar algumas das crianças, segundo relato de testemunhas.
Damião, que trabalhava para a prefeitura desde 2008 e há três lidava com problemas psiquiátricos, havia se molhado com o combustível e, em chamas, chegou a abraçar algumas das crianças, segundo relato de testemunhas.
Após atear fogo em si mesmo, logo partiu para cima dos pequenos, que tinham entre quatro e cinco anos, jogando o líquido inflamável neles. A sala de aula foi rapidamente tomada pelas chamas, enquanto Helley e outras duas professores tentavam impedir o ataque.
Sem pensar duas vezes, a pedagoga partiu para cima do vigilante e, segundo testemunhas, entrou em uma luta corporal com o homem em chamas. Dessa forma, antes de tentar salvar o maior número de crianças que conseguiria, Heley também teve seu corpo incendiado.
Junto de outras duas funcionárias, Jéssica Morgana e Geni Oliveira, a professora conseguiu retirar vários alunos da sala de aula, mas teve de ser levada para o hospital. Mais de 90% do seu corpo estava coberto por queimaduras irreversíveis.
Durante o incêndio, logo que a gritaria começou, diversos vizinhos da creche foram até a escola para socorrer as vítimas. Por sorte, muitas crianças foram salvas.
Ao menos nove pequenos foram vítimas fatais do ataque. Além deles, segundo os bombeiros da região, outras crianças e adultos ficaram feridos e foram levados para o hospital às pressas.
Helley chegou a ser levada para o Hospital Regional de Janaúba, mas, já em estado grave, não resistiu aos ferimentos. Sob cuidado dos médicos, a professora chegou a ter duas paradas cardíacas. As outras duas funcionárias também não sobreviveram.
Damião, o único responsável pelo incêndio, morreu na tarde do ataque. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu, assim como a professora que tentou detê-lo. Segundo sua família, o segurança tinha problemas de saúde mental e recebia tratamento psiquiátrico.
Exemplo de entrega
O feito da professora Helley, que teve repercução internacional, modificou a percepção de quem na época do atentado já atuava na educação de crianças.
O ato heróico dela foi reconhecido por todos os docentes que fazem parte do cotidiano das creches e escolas, apontando a necessidade de valorização desse profissão que exige muito dos educadores.
O ato heróico dela foi reconhecido por todos os docentes que fazem parte do cotidiano das creches e escolas, apontando a necessidade de valorização desse profissão que exige muito dos educadores.
O comportamento de Helley na época ampliou os contornos dramáticos do atentado. Ao perceber o início do incêndio, a professora iniciou a retirada de seus alunos do maternal por uma janela da sala, até ser alcançada por Damião.
Segundo testemunhas, ela lutou corpo a corpo com o agressor em chamas, até que o fogo a deixou inconsciente e incapaz de conter o vigia e salvar o restante dos estudantes.
Segundo testemunhas, ela lutou corpo a corpo com o agressor em chamas, até que o fogo a deixou inconsciente e incapaz de conter o vigia e salvar o restante dos estudantes.
Legado
O ato de heroísmo da professora foi imediatamente reconhecido, dias após o atentado, quando ela recebeu postumamente a Ordem Nacional do Mérito, do então presidente Michel Temer (MDB).
Como ela, outros educadores Brasil afora recordam o evento trágico na Creche Gente Inocente, que reflete, em um cenário extremo, como os professores não poupam esforços para proteger seus alunos.
Eles, os professores, não são os mediadores do conhecimento, são os mediadores do todo. A educação infantil trata sobre os valores e cuidados que criam uma base fundamental.
O heroísmo do que aconteceu em Janaúba está basicamente no trabalho da educação infantil, que envolve esse cuidado materno. Os professores colocam os alunos como filhos.
Eles, os professores, não são os mediadores do conhecimento, são os mediadores do todo. A educação infantil trata sobre os valores e cuidados que criam uma base fundamental.
O heroísmo do que aconteceu em Janaúba está basicamente no trabalho da educação infantil, que envolve esse cuidado materno. Os professores colocam os alunos como filhos.
Condecorações
Conhecida na comunidade como membro da Pastoral Familiar, Helley era um exemplo de profissional. Por isso, não foi surpresa para ninguém quando revelaram que ela deu a própria vida para salvar a das crianças que lecionava.
Formada em pedagogia, ela era especializada na inclusão de Pessoas com deficiência e, segundo colegas, tinha um bebê de apenas um ano de idade. Helley dedicava grande parte de seu tempo a cursos para noivos e trabalhos voluntários.
Posteriormente, pelo “gesto de coragem e de heroísmo”, a professora foi condecorada com a Ordem Nacional do Mérito e com a Medalha da Inconfidência.
Muito mais do que os títulos, contudo, Heley passou a fazer parte da história, como a professora que salvou a vida de 25 crianças na tragédia.
Homenagens
A heroína do Norte de Minas recebeu a Ordem Nacional do Mérito e a Medalha da Inconfidência, honrarias dos governos federal e estadual, respectivamente, e teve seu nome espalhado por todo o país em diversas homenagens. Veja algumas delas:
- Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Helley de Abreu – Janaúba/MG;
- Centro de Educação Infantil Professora Helley de Abreu Batista – Lagoa Santa/MG;
- Creche Proinfância Helley de Abreu Silva Batista – Pouso Alegre/MG;
- Centro Educacional Infantil (CEI) Helley de Abreu Silva Batista – Fortaleza/CE;
- Centro de Educação Infantil (CEI) Helley de Abreu Silva Batista – Araquari/SC;
- Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Professora Helley de Abreu Silva Batista – Foz do Iguaçu/PR;
- Centro de Ensino Infantil Professora Helley de Abreu Batista – Sorocaba/SP;
- Rodovia Helley de Abreu Silva Batista (antiga LMG-631) - Liga São João da Ponte à BR-122;
- Nome de ruas em Picos/PI, Jacutinga/MG e Lajeado/RS;
- Prêmio Helley de Abreu Silva Batista, concedido pelo Conselho Estadual de Educação de MG.
Conclusão
Renovação após o abalo
O Centro Municipal de Educação Infantil Helley de Abreu foi reaberto em março de 2018, menos de seis meses após o atentado que assombrou a cidade e destruiu a antiga Creche Gente Inocente.
A reconstrução do espaço foi feita com apoio de empresários do setor de construção civil do Norte de Minas e instituições como a Fundação Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos).
A unidade fica no Bairro Rio Novo, em novo prédio com capacidade para cerca de 40 crianças de até 5 anos em estrutura com quatro salas de aula, berçário, fraldário, sala administrativa e cantina.
A professora e diretora do Cemei Izabel Maria de Jesus, Eliane Mendes, relembra como foi trabalhar na retomada das atividades da creche incendiada.
A reconstrução do espaço foi feita com apoio de empresários do setor de construção civil do Norte de Minas e instituições como a Fundação Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos).
A unidade fica no Bairro Rio Novo, em novo prédio com capacidade para cerca de 40 crianças de até 5 anos em estrutura com quatro salas de aula, berçário, fraldário, sala administrativa e cantina.
A professora e diretora do Cemei Izabel Maria de Jesus, Eliane Mendes, relembra como foi trabalhar na retomada das atividades da creche incendiada.
"Todo professor fica se imaginando no lugar da Helley. Todo todos nós que trabalhamos com as crianças pensamos o tempo todo: 'Se fosse com a gente, o que a gente faria?'".
Professora Helley de Abreu Silva Batista, essa sim, uma verdadeira heroína, que merece não só menção honrosa ao seu nome, como todas as honrarias que já recebeu até aqui — e que são poucas.
Ela sim é merecedora de receber uma estátua em sua homenagem, não só na pequena Janaúba mas em todas as capitais brasileiras. Eu não me esqueci, porque é impossível esquecer.
Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.

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