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segunda-feira, 10 de julho de 2023

PAPO RETO — "GERAÇÃO MIMIMI" OU JUVENTUDE INCOMPREENDIDA?

"Geração vai e geração vem; mas a terra permanece para sempre. Levanta-se o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo. O vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; volve-se, e revolve-se, na sua carreira, e retorna aos seus circuitos. Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr" (Eclesiastes 1:4-7).
Atualmente é muito comum ver memes que satirizam a geração atual, especialmente pelo chamado mimimi e por um suposto caráter fraco, características que teriam surgido por conta de uma vida mais fácil do que aquela experimentada há trinta ou quarenta anos.

Segundo esses críticos, bom mesmo seria o tempo em que só havia telefone fixo, a música se tocava em um disco de vinil e tudo no carro era manual — do câmbio à manivela para abrir o vidro da porta. Neste mundo analógico, tudo era mais difícil e as provações moldaram um presumível caráter forte nos baby boomers e em integrantes da chamada geração X.

Faço parte dessa safra de tiozões. Sou grato a Deus por minhas realizações e das caraterísticas que adquiri como adolescente nos anos 1970 e 1980. Mas não as considero melhores que as dos jovens da atualidade. São diferentes fases e realidades contextuais. Apenas isso. E vou além: se a juventude de agora tem uma vida mais fácil que a nossa, também somos responsáveis por isso.

As facilidades proporcionadas pelas tecnologias, podem criar uma geração de molengas, preguiçosos e egoístas? Por certo que sim. Isso pode causar um caráter fraco? Sim. Uma geração de incapazes? Talvez. Mas, se isso acontecer, nós, mais velhos, teremos nossa parcela de responsabilidade, pois pavimentamos uma estrada que, em nosso tempo, era de terra e pedregulhos.

É uma reflexão sobre este tema que proponho no texto deste artigo, mais um capítulo da minha série especial de artigos Papo Reto.

Geração vai, geração vem...


Costumamos dizer que os nossos jovens vêm de uma geração mimimi, que, devido a falta de pulso firme dos pais e responsáveis eles acham que podem tudo. Quem pensa assim está completamente enganado e errado. Não estamos criando uma geração mimimi porque não castigamos as nossas crianças e jovens ou porque não as batemos mais com cinturões ou chinelos, como faziam os nossos pais antigamente.

A geração que nasceu no século XXI está completamente perdida. Ela não sabe para onde ir ou o que é melhor para si. São tantas as oportunidades, tantas as escolhas a serem feitas, tantas as responsabilidades logo cedo, muitas vezes ainda crianças, que elas acabam prejudicadas e tendo os seus desenvolvimentos cognitivos e emocionais sobrecarregados e como válvula de escape acabam fazendo coisas que os adultos não gostam.

A tecnologia batendo a toda hora na porta das nossas crianças e jovens com aparelhos eletrônicos modernos capazes de se conectarem com o mundo em milésimos de segundos, as redes sociais, os jogos eletrônicos e os amigos virtuais que eles conquistam no meio de todos esses algoritmos e inteligência artificial especialmente preparada para lidar com os cérebros ainda em formação, são um perigo para formarmos crianças e jovens que por tudo fazem uma confusão no supermercado ou no shopping envergonhando pais e responsáveis.

É preciso ressaltar que crescer em um ambiente confortável e sem desafios não é determinante para produzir jovens encostados. A capacidade de realização, muitas vezes, é uma característica que inspirada pelo exemplo — mas há aqueles que trazem isso já gravado no DNA e se tornam indivíduos proativos e empreendedores.

Parece que foi ontém...


A preocupação com a interpretação do mundo está presente no pensamento dos mais diversos filósofos e, sem dúvidas, é um dos temas mais fascinantes em que estudiosos buscam através de sua ótica decifrar os acontecimentos. Esta preocupação, embora posta anteriormente como presente no pensamento dos filósofos não se limita a eles.

O próprio estudo da história exige determinada interpretação do mundo, uma vez que a história é um estudo do passado que se coloca como pergunta no presente. Desta forma, o historiador olha pro passado com a preocupação voltada para o futuro e atento ao seu presente, sem abandonar o rigor e o dever de investigação e interpretação dos fatos ocorridos ao longo do tempo.

Ocorre que, diferente do que muitos pensam, este processo de interpretação do mundo não adota uma postura completamente pacífica, pelo contrário, é marcada por disputas de narrativas que visam dar razão ao mundo, as ações e as interpretações acerca daquilo que acomete a humanidade.

Durante este processo que inclui a disputa de narrativas e a busca por uma tomada racional das ações que atue como fator legitimador, é nítido que haverá um mal-estar intrínseco a própria atividade de perceber-se enquanto indivíduo dentro de um mundo que, da passagem do moderno para o contemporâneo, é marcado pela fragmentação da sociedade com noções cada vez mais subjetivas.

Efeito metamorfose


As transformações das mais diversas ordens estão presentes na história da humanidade, que por sua vez, se caracteriza por rupturas, continuidades e, por último e não menos importante, transformações. Neste ponto, a modernidade vivenciou um processo de profundas transformações com o racionalismo, individualismo e noções político-econômicas que se diferem das estruturas anteriores.

Por obviedade, os conflitos não demorariam a surgir e, sob o risco de dar um grande salto, temos o momento pós-moderno marcado por um mal-estar que novamente coloca em conflito de narrativas a exigência de reconhecimento dentro de uma perspectiva de mundo cada vez mais voltado a pluralidade e por outro lado uma corrente de pensamento que enxerga nas bandeiras plurais uma carga vitimista, popularizada como "mimimi".

O embate muitas vezes perpassa uma noção que muitos atribuem ao conflito geracional, pois as diferentes experiências trazem a capacidade de leitura, interpretação e capacidade de se ver enquanto indivíduo diante do mundo e, quando uma determinada geração já não mais responde aos anseios das novas experiências formuladas, o conflito torna-se iminente.

O presente momento traz um mal-estar bem traçado pela maioria dos sociológos e que remete a uma realidade cada vez mais fluída que sequer permite a criação de padrões sólidos, sob o risco de engessamento social que não acompanha as constantes mudanças ocorridas.

Ao passo em que a fluidez se apresenta, urge a necessidade cada vez mais destacada de apelo a singularidade do indivíduo que exige o reconhecimento e em decorrência disso verifica-se a presença pautada pelas subjetividades ocuparem cada vez mais o debate no campo político.

Algo mais que mimimi


Na prática, o termo mimimi é comumente utilizado de modo a atacar e banalizar bandeiras e pautas de relevância, geralmente reivindicados por grupos de minorias, por exemplo, a população negra, indígena, a população LGBTQIAP+, as mulheres, as pessoas com deficiência, entre outros. A tensão que se estabelece pela conquista dos direitos faz parte do processo de transformação social.

Em um mundo cada vez mais plural e inclusivo, é nítido que a geração que desenvolve e se enxerga dentro deste panorama carregará o mal-estar que se estabelece entre a conquista e expansão de direitos em face de um modelo de pensamento voltado ao modo que estabelece uma estrutura menos plural.

Neste sentido, o sociólogo e filósofo polonês Zygmut Bauman (✩1925/✞2017) diagnosticou um novo mal-estar, ou seja, uma nova fonte de sofrimento psíquico: enquanto Freud (✩1856/✞1939) entendeu que o desconforto das pessoas com a modernidade estava no fato de que as necessidades sociais de ordem deixavam pouco espaço para a liberdade individual, os homens e as mulheres pós-modernos trocaram um quinhão de suas possibilidades de segurança por um quinhão de felicidade. A busca pela felicidade passa a ser vetor e um objetivo a ser alcançado.

Nessa procura pela felicidade, nos últimos anos a internet tem sido um importante instrumento da geração mimimi, já que estes cresceram em meio à uma sociedade extremamente digital, onde o que se fala tem extrema relevância e repercussão. 

Nesse sentido, um aspecto que também está atrelada à geração de 2000 é a onda dos cancelamentos que tem se difundido pelas mídias sociais. Tal comportamento tem se mostrado um tanto quanto inadequado levando em consideração as consequências que a sociedade tem sofrido.

Esse hábito do cancelamento tem tido reflexo direto na saúde mental dos indivíduos e retrata exatamente o conceito de mal-estar para Bauman, já que a sociedade tem desenvolvido diversos problemas psíquicos decorrentes das demonstrações de ódio que a internet expõe, sendo mais frequente ainda em jovens.

Não só isso, nos últimos tempos as divergências de opinião têm causado um mal-estar constante, já que a exposição e o consequente julgamento têm se mostrado fortes gatilhos para impulsionar problemas como depressão, processos judiciais, suicídios, problemas familiares, conjugais etc.

Diante das diversas mudanças e rupturas, quem decide compartilhar sua vida pessoal com centenas ou milhões de espectadores tem que lidar diariamente com críticas relacionadas a posições políticas, religião, gosto musical, classificação social ou até mesmo a maneira como as pessoas respondem perguntas.

Como já mencionado, as pautas dos grupos minoritários são as que mais sofrem com essa geração, já que todas as vertentes têm seus apoiadores e as redes sociais viraram um verdadeiro tribunal em que as pessoas se polarizam e proferem discursos de ódio somente para afirmar que determinado posicionamento é o mais acertado. 

Diante disso, é evidente que a geração mimimi tem extrema dificuldade de lidar com as opiniões divergentes e sempre tentam fazer com que as suas convicções sejam ouvidas e levadas em consideração.

Nesse sentido é que surge o questionamento: 
Nós somos realmente livres?
De acordo com os sociólogos, a liberdade contemporânea é mitigada em detrimento da construção constante de camadas sociais que propagam várias percepções do mundo.

Entretanto, não se há liberdade para expor todos os ideais, as pessoas escolhem se manter na zona de conforto, mantendo relações somente com pessoas que compartilham das mesmas concepções.

Em 2018, ano das últimas eleições presidenciais, diversos foram os desentendimentos causados em razão da opção política. Este foi um dos primeiros anos em que as redes sociais influenciaram fortemente as pautas políticas.

Essa diferença de gerações ficou muito evidente nesse período, afinal, a geração "mimizenta" já estava adentrando na vida política, o que causou uma incompatibilidade entre integrantes das mesmas famílias que por estarem em gerações diferentes, não possuíam a mesma concepção de mundo e, portanto, não concordavam politicamente.

Não é porque eles querem fazer a birra ou por falta de palmadas, é porque eles não sabem como se comportar. As suas cabecinhas estão sobrecarregadas de informações desnecessárias. É a escola que tem disciplinas demais e exige da criança e do jovem que seja o melhor em todas elas, é o futebol ou a natação que exige que ele vença sempre, é o curso de idiomas ou de música que exige o melhor do aluno.

Autodefesa


Para se protegerem de tantas cobranças que nós, adultos, sem nos darmos conta preparamos para os nossos filhos matriculando eles em tudo quanto é curso que vemos ou nos informam a Internet, cobrando que eles tirem nota 1000 no ENEM e que sejam aprovados nos cursos de medicina ou direito das melhores universidades do país, esses reagem ao contrário do que esperávamos só para nos contrariar, só para nos afirmarem que as coisas não funcionam como queremos, que eles têm autonomia mesmo sendo tão jovens para decidirem sobre as suas vidas.

Assim, eles passam a ter comportamentos rebeldes. Coisas que muito desagrada os pais. Muitos começam a beberem bebidas alcóolicas muito jovens, outros começam a usar drogas cedo demais e ainda têm aqueles que abandonam os estudos e vão viver pelas ruas sem quererem saber de responsabilidades. Sem contar com o que dorme demais e perde a hora de ir à escola.

O maior de todos esses problemas são as diversas síndromes que estão acometendo as nossas crianças e jovens devido não saberem lidar com este mundo de cobranças que seus próprios pais os colocaram: ansiedade, crises de pânico, depressão, estresse ao limite. 

São tantas as síndromes que listo apenas as mais comuns. Isso é um pedido de ajuda, de socorro. Uma forma que as crianças e jovens encontram para dizerem que não aguentam mais essa vida doida e doída ao mesmo tempo.

Se para nós, adultos, as diversas cobranças do dia a dia no trabalho nos atormentam, imagine para crianças e jovens que só querem saber de brincar e se divertirem com os amigos. Como eles vão ter tempo para fazerem o que gostam se nós roubamos tudo o que lhes pertencem, fazendo deles nossas máquinas controladas por uma espécie de controle remoto que são as nossas ordens de faça isso e faça aquilo rápido.

Conclusão


Apesar de estarmos em um período em que as pessoas começaram utilizar as redes sociais de maneira muito mais frequente, além de agora servirem como ferramenta de trabalho, este também é o período em que os casos de distúrbios psicológicos também aumentaram exponencialmente, principalmente entre os jovens.
Com isso, até que ponto as pessoas continuarão atacando as outras por simplesmente não compartilharem dos mesmos pensamentos?
É evidente o mal-estar da modernidade e o quanto isso tem afetado o cotidiano de cada indivíduo. A sociedade ainda tem muito a evoluir, e as individualidades são pontos essenciais que devem ser respeitados. 

A famigerada cultura do cancelamento propagada pela geração mimimi possui consequências irreversíveis que precisam de uma maior conscientização para que não cause danos ainda maiores em um futuro breve, já que até lá mais diversas rupturas irão ocorrer.

É preciso cuidar dessa geração que tem tudo a sua disposição a hora que desejar. Que como dizemos não sabe aceitar um não. Não é assim. Sabemos que uma das primeiras palavras que as nossas crianças aprendem é o não. 

E se elas aprendem que o não é uma negação, é algo que não se pode fazer, basta continuarmos do nosso jeito, com cuidados dizendo não para os nossos jovens.

Tudo é uma questão de bom senso e criticidade. A reflexão nos convida a criarmos uma geração com mentes e corpos sadios prontos para a competitividade de um mudo que exige cada vez mais pessoas com inteligência emocional de alto nível.

Para concluir este texto que eu gostaria de não o concluir, mas de poder conversar com você, leitor/seguidor sobre a sua opinião dessa geração dita "perdida" e que precisa ser salva dos perigos da globalização e da massificação das culturas onde tudo está misturado e se tornando uma coisa só, impossível de se separar.

Não cobremos demais das nossas crianças e jovens. Tudo tem um limite. Essa geração que nos acostumamos a chamar de mimimi é a que está se suicidando todos os dias, a que está matando pais e responsáveis porque não suporta mais as cobranças de um mundo que elas não pediram para viver nele. Um mundo que não perdoa erros e defeitos.

[Fonte: Exame, por Aluizio Falcão Filho; Filosofia, Política e Direito por Nikolly Milani Simões Silva (Autores: Jezebel de Melo Eiras, João Victor dos Santos Bomfim, Nikolly Milani Simões Silva e Roberto Augusto Brito Alves); Nei Alberto Pies, por Rosângela Trajano]

Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.
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E nem 1% religioso.

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