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sábado, 29 de julho de 2023

PRONTO, FALEI! — O "EFEITO BARBIE" E A IDIOTIZAÇÃO DE UMA SOCIEDADE "IN MEMORIAN"

O [na minha opinião, famigerado] filme "Barbie", estrelado por Margot Robbie (assumo minha ignorância: a mim essa moça é uma ilustríssima desconhecida) — que estreiou nas salas de cinema brasileiras no último dia 20 —, e em apenas cinco dias de vendas, se consolidou como a maior pré-venda do ano na Ingresso.com, é o cerne para o texto desse artigo. 

A empresa também revela que, após o segundo final de semana de exibição da película, as expectativas de pré-venda foram superadas em 166 %. Ainda, o longa lidera o ranking geral das vendas da Ingresso.com no mês de julho e já se consagra como um grande sucesso.

Para se ter uma ideia, segundo o Google Trends — ferramenta do buscador Google que mostra os mais populares  termos buscados em um passado recente —, dentre os filmes mais aguardados para este ano, "Barbie" é o mais buscado pelos brasileiros na internet.

Mas parece que o universo cor-de-rosa da boneca já toma conta não só das vitrines das lojas, dos cardápios de restaurantes como também da vida e do intelecto dos fãs, entre adultos e crianças.

Adultos infatilizados


E é exatamente essa orda de adultos — homens e mulheres — vestidos de rosa que lotaram as cubículas salas de cinemas dos shoppings Brasil afora que me chamaram a atenção para este fenômeno que tem sido chamado de "efeito Barbie". Muito além de mera diversão, como gostam de resumir os mais simplistas, tal comportamento tem algo muito mais complexo e merece ser analisado.

Fuga da realidade


Lidar com sentimentos como medo, sofrimento e dor é um grande desafio na vida dos seres humanos e, por diversos motivos, nem todos estão dispostos a enfrentá-los. Contudo, os momentos difíceis são responsáveis por uma parcela significativa da formação de um indivíduo, incluindo seu caráter, maturidade e força emocional. É importante aprender a voltar para si a fim de se conhecer e entender o que sente e as emoções que isso gera.

A fuga da realidade é um mecanismo que muitos costumam usar quando não se sentem fortes o suficiente para enfrentar determinada situação, que pode ser, por exemplo, a perda de um ente querido, uma demissão, insatisfação com algo ou o fim de um relacionamento. Se você está passando por isso, saiba que o poder para superar os problemas está em seu interior e é perfeitamente possível encontrá-lo e fazer dele seu aliado para vencer seus fantasmas. É o que na Psicanálise chamamos de resignificação.

Em muitos casos, o ato de fugir da realidade se torna um vício e o indivíduo passa a nem analisar o que está acontecendo verdadeiramente. Porém, saiba que grande parte dos problemas que acredita ter pode ser mais simples do que imagina. Assim, se empoderar para encará-los vai possibilitar que encontre as soluções necessárias para resolver as questões pendentes e seguir em frente.

A fuga da realidade e o risco de adquirir uma compulsão


Uma pessoa pode fugir da realidade de várias formas, através de comportamentos que a distraia daquilo que está sentindo e promovam sensações de prazer e um breve esquecimento do seu incomodo. E, este é, sem qualquer sombra de dúvida, uma da explicação para esse lúdico transporte de tantas pessoas para o mundo cor-de-rosa da tal Barbie, o que foi impulsionado não só pelo acirrado marketing, mas também pelo roteiro e temática do filme.

É bastante comum que esse seja o início de vários tipos de compulsões, como as relacionadas ao abuso de álcool e outras substâncias alucinógenas, jogos de azar, transtornos alimentares e os relacionados a compras. Porque você acha que houve um verdadeiro tsunami de produtos relacionados ao tal filme invadindo todos os setores comerciais, até mesmo os do segmento alimentício 
(as mais famosas redes de fast food, encheram seus já indigestos e nocivos cardápios com guloseimas temáticas referentes ao filme — e coloridas sabe-se lá com quais recursos químicos).
Vale lembrar, ainda, que nem sempre a fuga da realidade se dá através de alguma atividade que provoque uma clara mudança de comportamento, como é o caso do uso de drogas. Atualmente, a tecnologia oferece diversas possibilidades para quem deseja fugir do que está sentindo, seja através de jogos eletrônicos ou das redes sociais, por exemplo.

Isso acontece porque, enquanto o indivíduo está realizando uma atividade que considere prazerosa, tem a sensação de que os problemas sumiram. Como consequência, do desejo de se sentir cada vez mais anestesiado e longe do sofrimento, começa, então, a repetir as mesmas atitudes, o que, muitas vezes, resulta em vícios e compulsões.
É necessário entender que fugir não fará com que o problema desapareça ou diminua, na realidade o que pode acontecer é que a situação se agrave. Enxergar os acontecimentos de forma racional é a melhor maneira de parar de sentir medo e ir em busca de soluções. Lembre-se que sempre é tempo para mudar algo que esteja te impedindo de ser feliz.

Fuga da Realidade e a fantasia

A fantasia passa a ser prejudicial quando se sobrepõe à realidade, e a pessoa se mantém presa na idealização, recusando-se a encarar o mundo externo e concreto. As crianças são especialistas em fantasiar, vivem no mundo da imaginação, onde tudo é possível.
Elas amam contos e historinhas, passam horas brincando e dando vida à bonecos inanimados, se identificam e se consideram super-heróis, afirmam ter superpoderes, e imergem num mundo paralelo onde podem ser fadas, duendes ou até mesmo um adulto. Nas brincadeiras de "faz de conta" se comportam como atores nas novelas e filmes, vestem o personagem e os interpreta dentro da sua capacidade de imitação.

Mas à medida que o tempo vai passando, e a criança vai se desenvolvendo gradualmente, ela percebe que o mundo não é tão belo e tão doce quanto se apresentava nos desenhos animados. Aos poucos, vai percebendo que o papai noel não virá trazer presentes no Natal, e que quem colocava o presente no lugar do dentinho, era a mamãe e não a fada do dente.
Imagine o estrago psicológico essa fuga pode fazer em um adulto? É uma completa idiotização crônica que ignora completamente os limites do esdrúxulo. É exatamente o que está acontecendo no caso do tal efeito Barbie.

Um mundo de responsabilidades


A criança começa a ser inserida num mundo de responsabilidades, e então o tédio passa a fazer parte de suas vidas. Agora ela não pode mais brincar o tempo inteiro, ela precisa estudar também, ir para a escola, dividir brinquedos, obedecer aos mais velhos, e a lista de obrigações só aumenta com o tempo, até chegar ao ponto em que os bonecos são deixados de lado, os livros de historinhas infantis são doados para uma biblioteca, as fantasias de super-heróis são guardadas no porão.

O psicanalista Freud (✩1856/✞1939) estudou sobre esse processo de amadurecimento, em que a criança deixa de ser regida pelo princípio do prazer e passa a ser regida pelo princípio da realidade. Ele afirma ser um processo que acontece à medida que os pais, familiares, professores e a sociedade em geral passa a integrar a criança na civilização e na cultura vigente.

É então que se ensina os valores morais, as tradições, os costumes e as regras presentes na vida adulta. Esse processo de amadurecimento gera sofrimento psíquico, porque agora não se pode mais realizar todos os desejos, e é nesse momento que a repressão começa a acontecer.
Enfim, fugir da realidade momentaneamente traz a falsa sensação de descarte dos problemas. Mas a fuga da realidade não dissolve os problemas, pelo contrário, os perpetua e intensifica. 
Empurrar a poeira para debaixo do tapete não faz com que a poeira deixe de existir, só a acumula, até chegar ao ponto de não ter mais como ignorá-la.
Portanto ao invés de evitar os problemas, os desafios e as dores na vida, é necessário compreender que a evitação dos mesmos gera ainda mais conflitos e dores, porque no fim o sofrimento é inevitável. A vida é cercada por problemas, e eles existem para serem solucionados.

Sendo assim, é importante compreender que quando se é adulto, se faz essencial assumir responsabilidades, tomar decisões e arcar com as consequências das mesmas. Fantasiar é bom, sonhar acordado de vez em quando traz sensações maravilhosas, mas é preciso abrir os olhos, pôr os pés no chão e abraçar a realidade com coragem.

O mundo irreal de Barbie vs. a inexorável realidade


Envolta em um mundo de beleza, riqueza e aventura, a boneca Barbie está imersa em uma pedagogia cultural, com o intuito de ensinar a supremacia de um tipo de corpo, etnia e comportamento. As representações da boneca Barbie na cultura lúdica e o modo como tem afetado a construção das identidades infantis, especialmente em relação à identidade de gênero e à diversidade cultural é um dos pontos que devem ser analisados na mensagem nada subliminar que este filme passa. 

Analisa-se o que há tempos estudos específicos têm revelado sobre as representações culturais dessa boneca. Para tanto, basta pesquisar como referencial os Estudos Culturais, tendo como marco teórico a abordagem Pós-Estruturalista de análise, tratando a boneca como um artefato cultural. Destacam-se seus efeitos produzidos pela mídia e pela configuração discursiva da infância.
A boneca manequim mais famosa do mundo, Barbie, envolta em um mundo cor-de-rosa, que evoca magia e fantasia, pode parecer apenas um simples e inocente brinquedo para entreter e divertir crianças. 
No entanto, ao se revisitar sua história, emergência e permanência no mercado de brinquedos, vê-se que sua produção está imersa em intenções pedagógicas, com o intuito de ensinar a supremacia de um tipo de corpo, raça e comportamento.
Estima-se que, desde a sua criação, um bilhão de bonecas Barbies foram vendidas em mais de 150 países. Com o status de boneca mais vendida do mundo, seu sucesso é sempre vinculado à beleza, à juventude e ao consumo. 

Devido às diversas adaptações visuais, à representação de diferentes etnias e ao discurso multiculturalista e "inclusivo", a boneca norte-americana acompanhou as mudanças de tendência em moda, beleza e comportamento e construiu uma memória da cultura ocidental. 

Nos seus mais de 50 anos de existência, a fabricante da Barbie, a Mattel, cria inúmeros artefatos midiáticos, utensílios, roupas, acessórios, cenários e a representação das diferenças com o intuito de aumentar as vendas da boneca, fomentando a cultura do consumo.

O dispositivo pedagógico da boneca Barbie


O brinquedo participa da construção da infância por meio de complexos significados e práticas produzidas não apenas por seus criadores e difusores, mas por aqueles que o utilizam. É possível entender o lugar da criança na sociedade através dos usos e significados atribuídos aos brinquedos. Por serem portadores de significados e valores culturais que revelam os discursos, concepções e representações da sociedade, revelam os conceitos de infância construídos historicamente pela cultura ocidental.

A cada momento histórico, forjam-se subjetividades próprias, pertencentes à cultura hegemônica consolidada.

Tendo em vista que as identidades infantis e suas representações são produzidas pelos discursos que se enunciam sobre ela, as representações sociais da infância são moldadas na e pela linguagem. A "virada linguística" concebe a linguagem como constituidora, em outras palavras: a linguagem forma sistematicamente os objetos sobre os quais narra. 

A cada época histórica forjam-se modelos hegemônicos, e certas narrativas são tidas como verdadeiras. As narrativas agora passam a ser vistas como formadoras do sujeito, dessa forma, elas produzem as identidades, partindo-se da ideia de que somos o que contamos e o que nos contam, sob a influência dos lugares, tempo e vozes que narram, fazendo com que a narrativa se torne responsável pela formulação dos processos identitários. 

Com a virada linguística, a verdade única deixa de existir, sendo substituída por verdades constituídas. Estas, a partir de então, são consideradas crenças, tendo como alvo de análise o processo pelo qual algo se torna verdade.

Mensagem ideológica

Uma diva para todes governar


Em meados da década de 1960, enquanto as diferenças, a pluralidade cultural e a inclusão social são temáticas que se tornaram centrais no panorama educativo nos últimos anos, a fabricante da boneca Barbie percebeu que o discurso da diversidade tinha grande potencial de marketing

Para a Mattel, diversidade consiste em tons de pele, países, línguas e hábitos alimentares diferentes dos da Barbie loura e branca. A pluralidade cultural foi relegada às amigas da Barbie, pois nada poderia retirar a supremacia da branca da boneca.
Alguns pesquisadores afirmam que Barbie não representa um modelo heterossexual, mas que possui um currículo queer. Barbie também foi revista sob o olhar da teoria queer, que fala de uma sexualidade transgressiva, não normatizada. 
Mesmo com seu visual "ultrafeminino", Barbie representaria a imagem de uma drag queen, com suas longas pernas, roupas purpurinadas, maquiagem colorida, tiaras brilhantes e inúmeros acessórios. 
Na década de 1990, Barbie e Ken passaram a ser ícones de lésbicas e homossexuais como, por exemplo o Earing Magic Ken. Segundo pesquisadores, o mundo da Barbie é bissexual, já que ela possui um duradouro relacionamento com Ken e com sua melhor amiga Midge. 

Inclusive, a revista de colecionador Barbie Bazaar, destinada aos adultos, possui artigos que tratam da controversa sexualidade de Barbie. Diversos colecionadores que se afirmavam como gays e lésbicas escreviam para a revista relatando sua identificação com as personalidades de Ken e Barbie. Muitas drag queens citavam a influência da Barbie em suas vidas. (Entendeu agora a jogada, né?)

Conclusão


Neste artigo, busquei argumentar como o "dispositivo" organiza-se, produz e incita o aprendizado de um conjunto de saberes e modelos comportamentais. Procurei mostrar como esse "dispositivo" promove linhas de subjetivação de modo que os infantis sejam convidados a falar de si e estabelecer uma relação reflexiva consigo mesmo através das brincadeiras com bonecas, além de despertar a reflexão sobre os males que podem causar aos adultos a constante (e muitas vezes indireta ou imperceptível) tentativa de fugir da realidade.

Pode ser desafiador convencer alguém de que aquele comportamento que está apresentando se trata de uma fuga da realidade. Contudo, sua ajuda pode ser fundamental para quebrar esse ciclo, que pode ser tão prejudicial para a saúde física e mental das pessoas. Vale lembrar que, em casos mais graves, procurar o suporte de um profissional é fundamental.

E você, como está a sua relação com a realidade? Acredita que já recorreu ao mecanismo de fuga como forma de se proteger? Reflita! Por fim, busque seu autoconhecimento de modo a entender como os acontecimentos e experiências passadas influenciam os seus sentimentos e comportamentos atuais. Isto é indispensável para você viver sua realidade sem atalhos e para conquistar uma vida mais plena, madura e feliz como merece.

A Barbie cumpre um papel educativo. Envolta em um mundo de beleza, riqueza e aventura, que supostamente valoriza a diversidade e as diferenças, Barbie está imersa em uma pedagogia cultural, com o intuito de ensinar a supremacia de um tipo de corpo, raça e comportamento, além da produção de subjetividades infantis. 

A pedagogia analisada da boneca mostra que a pressão da publicidade impressa e difundida através de diferentes artefatos incorpora valores e modelos que são ubíquos na sociedade atual. O marketing por trás das Barbies étnicas, que pretendem representar minorias da sociedade, reforça as representações estereotipadas e a exclusão de determinados grupos. A Barbie personifica a fantasia de um mundo glamoroso, um ideal de beleza feminino, branco, magro e loiro. Pronto, falei!

[Fonte: Original em SciELO, adaptado por Leonardo Sérgio da Silva, acesso em 29/07/2023; Psicanálise Clínica, por Ivana Oliveira do IBPC, graduada em psicopedagogia]

Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.
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