Agora, como estudande de Psicanálise, é quase impossível que eu não faça um leitura com viés mais psicanalítico dos temas que permeiam ou caracterizam os diversos contextos sociais. Aliás, não apenas faço uma leitura psicanalítica, mas, também teológica (por mais que não queiram, é quase impossível desassociar a psicanálise da teologia, obviamente, respeitando-se as devidas especificidades e proporções de cada uma delas). Pois bem, é exatamente o que faço no texto desse artigo, mais um capítulo da minha série especial Direto ao Ponto.
Sejamos sinceros, hoje em dia, quem não usa as redes sociais (eu prefiro chamar de mídias digitais)? Quem não usa o aplicativo mais popular de todos, ele mesmo, o hoje quase indispensável WhatsApp para enviar mensagens, fotografias e fazer chamadas de áudios ou vídeos? O nosso mundo "virtual" mudou e temos de nos adaptar a esta nova realidade. Resistir a ela, mais que uma imbecilidade é um atestado de total alienação.
Limites tardam, mas não falham
O aparecimento da internet e, por sua vez, das redes sociais e aplicações, fez com que a maneira como comunicamos se alterasse, tornando-a mais prática, rápida e eficiente. Conseguimos estar em contato através de um simples clique e a existência de wifi gratuito por todos os lados facilita a comunicação instantânea.
Os jovens já nasceram nesta geração do advento das redes/mídias sociais/digitais e não imaginam a sua vida sem estes meios de comunicação. Aliás, podemos observar uma rápida alteração de humor no jovem quando a internet falha em casa, não conseguem acesso ao wifi num local público ou quando esgotam os dados móveis. É notório o desagrado e o sentimento de angústia em tentar resolver a situação o mais breve possível.
E por que isso? Porque, como em tantos outros âmbitos dessa nossa vida moderna, o que se busca é conectividade. E nesse emaranhado de comunicação instantânea é quase impossível conseguir impor limites aos acessos de conteúdos nocivos e criminosos.
Por exemplo, a criação de perfis ocultos que espalham notícias falsas (as chamadas fake news), por exemplo, o que já desencadeou crises políticas sérias, então nada melhor do que "limpar" as redes contando com perfis de pessoas que realmente existem.
A busca insana por seguidores
Números importam? Claro que sim — eles empregam autoridade. Se tantas pessoas, tantas contas seguem aquela, algo de bom, útil, divertido, informativo ou produtivo deve ter ali. Geralmente. Às vezes, não.
E nessa busca por seguidores, há pessoas que fazem loucuras: inventam seu próprio sequestro, seu estupro, rifam a virgindade, se expõem ou expõem a família e os amigos de forma desequilibrada.
Em um cenário inicial, essa busca traz muita ansiedade, sensação de inutilidade, de invalidade, de fraqueza. Eu perco meu valor porque tenho poucos seguidores. E estamos criando gerações penduradas nessa perigosa crença.
O desafio de ser autêntico num universo imaginário
Em redes sociais, os chamados digital influencers, ou somente influencers, estão sempre felizes e pregam a felicidade como um estilo de vida. Essas pessoas espalham conteúdo para milhares de seguidores, principalmente no Instagram, rede de compartilhamento de fotos e vídeos, que permite aplicar filtros digitais nas fotos e compartilhá-los em outras redes sociais.
Os influencers ditam tendência e estão sempre mostrando um estilo de vida sonhado por muitos, como o corpo esbelto, malhado, perfeito, viagens incríveis, casas deslumbrantes, carros novos e alegria em tempo integral. Convenhamos, algo bem improvável de ocorrer o tempo todo.
A diferença entre a felicidade autêntica, legítima e real e a felicidade postada nas redes é abismal. Porque a felicidade, tal qual nós abordamos, tanto via psicologia positiva
— a chamada psicologia positiva é o campo da psicologia que investiga a felicidade e os vários aspectos positivos da experiência humana —,
quanto à luz da Palavra de Deus é uma experiência intrínseca, interna, que pode, claro, ser manifestada, mas nada tem a ver com a ostentação de felicidade.
A problemática pode surgir com a busca incessante por essa felicidade plástica e efêmera, que gera efeitos colaterais em quem consome diariamente a "vida perfeita" de outros. Daí vem o conceito de positividade tóxica:
a expressão tem sido usada para abordar uma espécie de pressão pela adoção de um discurso positivo aliada a uma vida editada para as redes sociais, avaliam os especialistas em psicanálise e sociologia.
Não adianta querer ser quem você não é. Você não é o ator famoso global, o influencer milionário do YouTube e nem o atleta milionário. Então, primeira coisa: tudo no seu lugar.
Mostre quem você é, o que faz, como pode informar, divertir, compartilhar seu conhecimento com os outros. Mostre o que pode oferecer em sua essência, os diferenciais de sua real personalidade, por que a pessoa que vier a te seguir deve escolher adquirir algo de você.
Seja transparente, conte suas histórias, dificuldades, conquistas e seja autêntico: as pessoas querem conhecer quem está atrás daquela conta, daquela marca, daquele perfil. Se você está nas redes sociais, esteja pra valer — afinal, é rede social que chama. Não adianta se esconder em conteúdos alheios ou em verdades que não são suas.
Você vai ganhar milhares de seguidores? Pode ser que sim, ou nem tanto; vai depender também da sua criatividade e do tempo disponível para se envolver com os seguidores, conversar, responder mensagens. Isso tudo conta.
Entretanto, o número de seguidores que alguém tem não define quem ela de fato é.
Especialistas dizem que atualmente é muito fácil que as pessoas sintam-se atingidas por essa positividade tóxica das redes. Eles explicam que não é saudável tentar repetir o que se vê na rede. Não é saudável repetir o que outra pessoa faz, seja uma celebridade ou uma pessoa da rede de convivências.
Quando eu tento mimetizar [assumir a forma] o comportamento de outra pessoa, tornar o indivíduo o modelo que eu vou seguir, porque ele alcançou algo na vida que eu desejo alcançar, estou fazendo um caminho equivocado para me construir enquanto ser humano.
Ser feliz é ser você
Os especialistas em psicanálise explicam que a felicidade tem alguns princípios similares para a humanidade, mas a forma de vivê-la é individual. A gente tem quase 8 bilhões de habitantes no planeta. A gente pode dizer que há quase oito bilhões de formas de se viver a felicidade, embora a gente tenha quase dois pilares em comum: uma vida com um pouco mais de emoções positivas do que negativas e a percepção de uma vida significativa e com propósitos.
Eles explicam que não é todo o tipo de post que gera em nós essa positividade tóxica. Em relação à infelicidade por não poder visitar aqueles lugares paradisíacos que aquele influencer está, eu nunca senti esse sentimento, graças a Deus. Mas conheço pessoas que se sentem assim e ficam deprimidas.
Uso racional
Os psicanalistas afirmam que para manter a saúde mental e evitar ser atingido pela positividade tóxica, o uso racional das redes sociais é o mais indicado.
De acordo com eles, o uso racional é o uso equilibrado, em que a pessoa tem outras fontes de prazer, de passatempo, de trabalho, que a pessoa consiga conviver com a família, que consiga praticar uma atividade física, que não se influencie pela vida da outra pessoa.
E aí tem também a questão do tempo; se consegue fazer todas as coisas e usa a rede social tem aí um equilíbrio de tempo e de atividades ao longo do dia. É o equilíbrio do tempo e das atividades fora das redes. Agora, quando a pessoa está muito restrita, que sente falta, sente abstinência de ficar sem o celular na mão, este já não é mais um uso racional.
Os psiquiatras destacam ainda que desejar ter uma vida melhor não é o problema, mas sim acreditar que a felicidade só será alcançada quando realizar todos os desejos. De acordo com eles, o problema é quando a gente projeta que a felicidade só vai vir quando a gente tiver uma casa maravilhosa, quando viver só viajando, quando tiver aquele carro, quando tiver um milhão de seguidores, por exemplo.
Esse é o problema, desejar uma vida que é muito difícil ter e só depois que atingir todas essas metas que a gente vai ser feliz. Na verdade, a gente tem que ser feliz e seguir aos poucos melhorando.
Influencers também sofrem
Segundo os especialistas, as redes sociais podem oferecer gatilhos mentais para quem tem algum distúrbio ou transtornos psiquiátricos e agravar os sintomas. Ou seja, eles alertam que a pessoa que já tem transtornos mentais são as mais vulneráveis, tem outros fatores de risco e a rede pode servir de gatilhos mentais para muitas coisas, por exemplo, nos transtornos alimentares, com comportamentos purgativos, de pacientes anoréxicos, ou bulímicos.
Há ainda outros gatilhos, conforme aprendemos na psicanálise. Uma pessoa que está triste porque não conseguiu tal coisa e a outra pessoa está comemorando porque conseguiu, ou a pessoa que está triste e vê nas redes sociais só coisas boas; este também é um gatilho de um paciente deprimido ou ansioso.
De um lado ao outro
Quem está do outro lado também sofre, apontam os psiquiatras. Os influenciadores sofrem de uma competição constante, ficam o tempo inteiro olhando quantas curtidas tiveram, quantos seguidores ganharam ou perderam. Às vezes, [o influenciador] não quer falar sobre um assunto e acaba tendo que falar porque os seguidores estão perguntando, então causa muita ansiedade, tristeza, medo de perder alguma coisa.
A exposição também gera baixa autoestima, destaca a psiquiatra. Posta uma foto que acha que está maravilhosa, uma foto cheia de retoques e filtros e sempre outra pessoa vai encontrar algum defeito, vai criticar. Aí gera o cyberbullying e a pessoa sofre, perde o sono e altera hábitos de alimentação na busca incessante por uma coisa que não é real. A vida do influenciador também não é fácil.
Os pesquisadores explicam que a positividade tóxica afeta seguidores e influenciadores. Todos nós perdemos: quem vai buscar replicar um comportamento e quem é alvo de uma clonagem simbólica de identidade também pode enfrentar muito sofrimento.
Conclusão
Estes meios de comunicação possuem aspetos positivos como a comunicação fácil, a maior aceitação pelo grupo depares ou a criação de uma maior rede de contactos. No entanto, também acarreta consequências negativas se for usado de forma descontrolada ou abusiva. Poderá levar ao isolamento social, sedentarismo, diminuição do rendimento escolar, dificuldades em estabelecer relações e em casos mais graves, quando está instalada a dependência da internet, poderá surgir sintomatologia ansiosa e/ou depressiva.
Alguns autores introduziram termos como a "depressão do facebook" ou o "toque fantasma" para descrever novos sintomas ou patologias derivadas do uso excessivo das novas tecnologias.
Por exemplo, a depressão do facebook faz-se sentir por uma tristeza ou angústia profundas por não estarem constante contacto com os outros, sentir que está desligado do mundo, e o toque fantasma é descrito como a sensação de estar a ouvir o telemóvel a tocar ou a vibrar quando na realidade não está.
Esta geração move-se pelo número de "likes" nas fotografias e publicações, pelo número de amigos ou seguidores nas redes sociais (amigos virtuais, porque não os conhecem na realidade), pela maior partilha de informação pessoal na sua página e é aqui que devemos ter alguma atenção.
É preciso alertar para os cuidados a ter na informação que é partilhada, como as fotografias que desde o momento que são expostas, nunca mais podem ser retiradas da internet, independentemente se forem apagadas da conta.
Outro aspeto a ter cuidado são os desafios que são lançados nas redes sociais. Os jovens desafiam-se a fazer determinadas proezas e o objetivo é superar e elevar a fasquia da provocação lançada pelo amigo.
Nestes casos, os jovens testam os seus próprios limites, havendo uma busca constante de adrenalina, de aprovação e valorização por parte dos outros, de forma a demonstrar que são destemidos, omnipotentes, que para eles tudo é possível e nada de mal lhes acontece quando ultrapassam esses mesmos limites, características típicas da fase da adolescência.
Vivemos na Era da Tecnologia, a procura pelas redes sociais e formas mais rápida e modernas de comunicar com os amigos, é natural e não deve ser encarado como um problema social desta geração.
Devemos ter em atenção é que em todo o excesso há mal. Se for usado de forma moderada e não abusiva, não traz consequências negativas nem para o desenvolvimento do jovem nem para a imagem que o jovem passa de si.
As redes sociais podem e devem ser utilizadas como uma ferramenta de comunicação, mas existe algo que a internet não pode proporcionar, a interação e o ambiente social, sendo que a permissão do seu uso excessivo leva à banalização da interação social e à superficialidade das relações interpessoais.
[Fonte: Instituto de Administração da Saúde, IP-RAM, por Natacha Almeida — Psicóloga; Ventura Comunica; Agência Brasil, por Ludmilla Souza - Repórter da Agência Brasil - São Paulo]
Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.
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E nem 1% religioso.
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