Olá, prezados(as) seguidores(as) do meu blogue Circuito Geral. Em mais um capítulo da minha série especial de artigos "Canções Eternas Canções", vou contar a história de como surgiu mais um clássico da música.
Porém, dessa vez, vou falar sobre a música de um país onde o romantismo sempre foi evidenciado nos mais diversos segmentos artísticos: a França.
Aliás, para mim é algo inédito na série, pois, nunca antes escrevi sobre alguma música francesa, mesmo muitas delas tendo feito expressivo sucesso aqui no Brasil, todas, obviamente, românticas.
Romantismo Francês
Bom, antes de falar especificamente sobre a música "Je T'Aime... Moi No Plus", que é o cerne desse artigo, acho interessante conhecermos um pouco sobre o histórico do romantismo francês, afinal, além de relevante ao contexto, conhecimento é algo que não ocupa espaço e não faz mal a ninguém, certo?
Classificação conceitual
O romantismo francês refere-se à era romântica da literatura e da arte francesas da segunda metade do século XVIII à primeira metade do século XIX.
"Romantismo francês" significa não apenas o movimento literário, mas também a visão de mundo, época, escola e estilo. Inclui todos os gêneros e artes. A classificação temporal é aproximadamente entre 1750 e 1850.
O significado atual da palavra "romântico" difere consideravelmente do primeiro. Em inglês, "romântico" significava algo como "à maneira romana", que se referia ao "romance", que se referia a um gênero literário da Idade Média, escrito em vernáculo romanche e não em latim, contando heróis e sentimentos.
Os românticos alemães também associavam "romântico" sobretudo a "medieval" e "cristão". Na França, o movimento do romantismo atrasou-se em ganhar terreno em comparação com os vizinhos (por razões explicadas abaixo).
Romance é geralmente entendido como uma mudança para a sensibilidade, natureza, sentimento, fantástico, sonho, inconsciente, sublime, passado e exótico. O amplo espectro desses elementos ilustra a orientação universal-poética e liberal do Romantismo: ele quer incluir todos os aspectos da natureza humana e rejeita tanto a exclusão da subjetividade através do Iluminismo, a regularidade do clássico e a relativização do indivíduo pelo revolução.
Geral
No alvorecer do século XIX, uma nova geração literária subiu ao palco e pediu uma renovação da literatura. Depois da Revolução Francesa, o indivíduo perdeu seu lugar na sociedade, a ordem política e religiosa anterior foi destruída, e a revolução e Terreur deixaram traços traumáticos. O derramamento dos grilhões do Ancien Régimesmeant para o indivíduo, tanto de libertação quanto de isolamento e desespero.
Tradicionalmente, instituições normativas, como a igreja, haviam perdido a influência, de modo que os escritores viam cada vez mais a tarefa de realizar uma literatura que atendesse às condições da sociedade pós-revolucionária e romper com as regras ainda dominantes da música clássica.
Já no Iluminismo surgira uma nova sensibilidade, condicionada pela mudança de situação do indivíduo na sociedade. Em particular, o filósofo Jean-Jacques Rousseau (✩1712/✞1778) com a natureza, sua tendência a substituir a razão pelo sentimento e sua linguagem poética deram importantes impulsos à era pós-revolucionária.
Mas as possibilidades de desenvolvimento artístico sob o regime napoleônico eram limitadas. Napoleão (✩1769/✞1821) estava bem ciente do efeito didático-moralizador da literatura e culpava os escritos iluministas pela Revolução e suas tribulações.
Ele tirou a consequência de supervisionar o trabalho artístico do Império e suprimir opiniões de oposição pela censura. Sua política cultural visava provocar um renascimento do período clássico: promovia literatura que continuava temas e formas antigas e reprimia o presente.
Isto posto, após esse resumo sobre o significado e importância históricas do Romantismo Francês, vamos à música.
"Gemidão" com classe, estilo, romantismo e sem vulgaridade
Serge Gainsbourg e Brigitte Bardot |
Imagine ter uma música romântica e sensual gravada para você? Assim aconteceu com a linda canção "Je T'Aime... Moi Non Plus". Polêmica e sedutora a canção foi composta por Serge Gainsbourg (✩1928/✞1991) em Paris para uma das maiores musas, a Brigitte Bardot. A música foi composta para a musa do cinema em clima romântico, pois os dois mantinham um caso de amor extraconjugal.
"Je T'Aime... Moi Non Plus" está entre as musicas francesas mais conhecidas em todo mundo, com a sua temática de amor e muita sensualidade.
Eles se conheceram durante um trabalho na TV e se apaixonaram perdidamente. Assim, resolveram manter a relação. E os dois ainda gravaram outras músicas juntos, "Harley Davidson", "Comic Strip", "Bonnie & Clyde", nenhuma delas, entretanto, conseguiu o mesmo êxito que "Je T'Aime...".
A mudança depois da gravação
Depois da gravação de "Je T'Aime... Moi Non Plus" as coisas mudaram. A musa Bardot começou a fazer viagens mais longas, enquanto Serge ficava em Paris compondo as canções de amor.
Durante o caso, Brigitte não terminou o relacionamento e quando viu que não daria certo com Serge voltou para os braços do marido e eles juntos proibiram a veiculação da música gravada pelos amantes.
Serge que estava bem apaixonado por Bardot chegou a se viciar em cigarros e ter a parede do quarto coberta com fotos da musa. Mas as coisas aos poucos melhoraram e em um filme ele contracenou com uma atriz inglesa, Jane Birkin e se apaixonaram.
Logo então, Jane se tornou a segunda voz feminina a gravar a música "Je T'Aime... Moi Non Plus". E com ela não podia ser diferente, a música novamente se tornou inesquecível e com um tom menos provocante.
Como conheci essa canção?
Imaginem a curiosidade adolescente sobre assuntos ligados ao sexo, numa época em que não havia internet e que tais coisas não se discutiam na mesa do almoço de domingo em família.
Revistas de mulher nua, só as que algum parente mais velho deixasse dando sopa. O exemplar ia logo para no "esconderijo" mais peculiar (e sugestivo): debaixo do colchão!
Quem já tinha alguma experiência, passava cochichado para os outros. A maior parte das coisas ficava no terreno da imaginação. E assim os adolescentes do início da década de 1970 iam tocando a vida.
Lá pelos idos de 1978, fui a uma festa de aniversário na casa de um familiar, quando vi em meio às pilhas de discos e fitas cassetes, um compacto em vinil, onde vinha uma tarja vermelha com a seguinte descrição:
"Proibida a execução pública e para menores de 18 anos."
Pronto, foi o suficiente para aguçar minha curiosidade em ouvir a música. Claro que os adutos não permitiram-me a façanha de ouvir a tal música proibida, causando-me enorme frustração e aguçando aos níveis insuportáveis minha curiosidade adolescente.
Proibida [não só] pra mim...
Serge e Jane, acervo Estadão |
Com o seu tecladinho e a letra do diálogo de um casal sussurada, a música é daquelas que pega na primeira audição. Quando, no meio da música, as falas do casal ficam mais lânguidas e surgem os gemidos da mulher, a incredulidade era geral. Tanto de quem gostou, quanto de quem não gostou. É isso mesmo?
A obra-prima composta por Gainsbourg e gravada junto com sua estonteante namorada Birkin foi sucesso instantâneo. E a reação contra a música também. Em pouco tempo, a parceria do mais charmoso dos mal-diagramados com a atriz inglesa era acusada de obscena, ofensiva à moral pública e estava proibida em alguns países. Um deles, o Brasil, que vivia há cinco anos sob uma ditadura militar. Em 17 setembro de 1969, o jornal Estadão noticiava "Proibida a canção Je T'Aime", com a seguinte matéria:
"A exemplo do que já ocorrera na Espanha e na Itália, a canção 'Je T'Aime... Moi Non Plus' foi proibida em todo o território nacional pelo coronel Aloisio Mulethaler, chefe do Serviço de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal.
O coronel mandou apreender todas as cópias da canção nas lojas de discos e responsabilizou a Companhia Brasileira de Discos por não ter providenciado a censura da letra" (Grifo meu).
Mas, é claro que dei um jeito de "pegar emprestado" o disquinho e, enfim, ouvir a música. Obviamente, não entendia nada de francês (e continuo não entendendo, diga-se de passagem... [hoje, um pouco (muito pouco mesmo...) de inglês também]), mas sabia que havia algo de picante acontecendo com o casal que cantava a música. A música era toda sussurrada e cheia de insinuantes gemidos.
"Dizem que essa música só toca na zona e em motéis"
— diziam alguns.
O fato é que a reprodução pública dessa música era de fato proibida no Brasil pela censura da ditadura. Tal coisa só contribuía para aumentar a aura mística que envolvia o dueto entre Serge Gainsbourg e, sua mulher à época, Jane Birkin. O determinante para sua proibição foram os gemidos orgásticos de Birkin, que não precisavam de tradução para sua compreensão pelos ouvintes.
O título é dúbio, algo como "Eu te amo… eu também não". Tudo isso acabou servindo para alavancar ainda mais o seu sucesso, sendo a música mais conhecida de Serge Gainsbourg de todos os tempos. E provou que, neste caso, o proibido é mesmo mais gostoso.
Curiosidades
- A música "Je T'Aime Moi Non Plus" foi lançada em 1969, só que devido à ousadia foi até censurada na Brasil, Portugal, Itália, Espanha e Suécia que consideravam a música inapropriada;
- Censurada em uns países e outros não, a música logo ocupou o 1º lugar nas rádios e tornou-se sucesso mundial, sendo até hoje considerada uma música erótica e sensual;
- A primeira versão da canção foi gravada com Serge Gainsbourg e Brigitte Bardot em um estúdio em Paris, numa cabide de vidro, em duas horas;
- A letra da música é claramente um diálogo entre dois amantes;
- A versão original de Bardot apenas foi lançada em 1986.
Conclusão
Enfim, "Je T'Aime... Moi Non Plus" foi proibida porque ela faz a menção ao ato sexual, reforçando o tabu que àquela época permeava o assunto, mas sem falar nenhum palavrão, ela simplesmente usa os verbos em francês que significam ir e voltar — eu vou e eu venho.
A letra sozinha da música não vai te dizer muita coisa, pode dar a entender o vai e volta de um relacionamento, mas na verdade quando você escuta a música com a letra aí entende por que ela foi censurada, há gemidos, eles sussurram o tempo todo na música em uma clara referência ao ato sexual.
Enfim, tudo isso faz de "Je T'Aime... Moi No Plus", sem dúvida, merecedora de ser considerada uma canção, eterna canção.
Versão com Brigitte Bardot
A letra
"- Je t'aime je t'aimeOh oui je t'aime- Moi non plus- Oh mon amour- Comme la vague irrésolueJe vais, je vais et je viensEntre tes reinsJe vais et je viensEntre tes reinsEt je me retiens- Je t'aime je t'aimeOh oui je t'aime- Moi non plus- Oh mon amourTu es la vague, moi l'île nueTu vas, tu vas et tu viensEntre mes reinsTu vas et tu viensEntre mes reinsEt je te rejoins- Je t'aime je t'aimeOh oui je t'aime- Moi non plus- Oh mon amour- L'amour physique est sans issueJe vais je vais et je viensEntre tes reinsJe vais et je viensJe me retiens- Non ! maintenant viens..."
A tradução
Versão com Jane Birkin, a mais conhecida e, sem dúvida, a melhor
"- Eu amo você... Eu também nãoEu amo você, eu amo você- Oh, sim, eu te amo- Eu também não- Ah, meu amorcomo a onda não resolvidoeu vou, eu vou e eu venhoEntre seus rinsvou e venhoEntre seus rinsE eu me lembro- Eu amo você, eu amo vocêOh, sim, eu te amo- Eu também não- Ah, meu amorVocê é a onda, me ilha nuaVocê vai, você vai e você vemEntre meus rinsVocê vai e você vemEntre meus rinsE eu vou acompanhá-lo- Eu amo você, eu amo vocêOh, sim, eu te amo- Eu também não- Ah, meu amorO amor físico é um beco sem saídaeu vá eu vou e venhoEntre seus rinsvou e venhoeu me lembroNão! Agora é só"
[Fonte: Como Surgiu a Canção, por Júnior Solid; HiSour Arte Cultura Exposição; Estadão]
Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blogue https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário