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domingo, 16 de outubro de 2022

DIRETO AO PONTO — O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

Quando eu me converti, lá pelos idos de 1992 (e lá se vão 30 anos...), a realidade da igreja evangélica, ainda que já não fosse o ideal, era bem mais atraente que hoje em dia.

A importância de se manter as tradições


O profeta Zacarias advertiu os exilados, vindo do cativeiro Babilônico, para que não fossem como os antigos (antepassados), que se recusaram a ouvir aos profetas anteriores. Os antigos não obedeceram aos limites estabelecidos pelos pais — Moisés.

Quando Salomão escreve 
"Não removas os marcos antigos que puseram teus pais" (Provérbios 22:28), 
está se referindo às "pequenas pedras semelhantes a pilares usadas como demarcador de terras que mostrava um limite onde não se poderia ultrapassar. Na Linguagem de Hoje (NTLH) o texto fica mais claro: 
"Não mude de lugar os marcos de divisa de terras que os seus antepassados colocaram".
Há duas aplicações para este versículo. A primeira é literal:
  • aqueles que possuem terras, terrenos, campos, fazendas, não devem mudar de lugar a "cerca", ou seja, o marco de localização, de definição da divisão das terras com o propósito de ganhar um pedacinho a mais enganando o seu próximo. 
A segunda aplicação é figurada: 
  • aplica-se aos princípios morais, ou seja, os pais geralmente são mais conservadores e colocam limites mais severos, porém os filhos têm a tendência de serem mais liberais permitindo uma decadência de princípios e valores morais.
Esse texto nos ensina a prática da integridade (íntegro; inteireza moral, retidão,), a prática do respeito (consideração; obediência) e a prática da justiça (poder de decidir sobre os direitos de cada um, de premiar e de punir). 

O versículo não está ensinando que todas as tradições dos antepassados devem ser mantidas intactas, apesar de sabermos o valor de nossa herança histórica.

O teólogo Erwin Lutzer lembra: 
"Todos somos propensos a universalizar nossas próprias convicções pessoais; queremos tornar absoluto o que deveria ser relativo". 
Não podemos valorizar a forma em lugar da essência; não podemos transformar preceitos (regra, norma) em princípios (código de boa conduta pelos quais alguém governa a sua vida e as suas ações); não podemos tornar absoluto aquilo que é relativo; não podemos transformar tradições em doutrinas; não podemos desprezar a interpretação bíblica em nome de justificativas injustificáveis. Quando fazemos isso, prejudicamos a nós mesmos e a comunidade cristã!

Num tempo em que grande número de denominações evangélicas está se enveredando por caminhos dúbios precisamos colocar em pauta reflexões sobre a relevância da manutenção dos marcos que foram postos pelos nossos pais; marcos que fundamentam os valores e os princípios bíblicos da Igreja do Senhor Jesus Cristo.

É inegável que vivemos uma época de grande instabilidade da igreja evangélica quanto a sua fidelidade aos marcos sobre os quais foi estabelecida. São muitas as novidades que surgem, a cada dia, e rapidamente são disseminadas entre as igrejas.

Mudamos a forma de culto, a expressão do nosso louvor, a maneira de orar, o comportamento reverente na congregação, a fidelidade às doutrinas e aos bons costumes, nem tanto com vistas a alcançar e agradar o Deus adorado, mas, muito mais, com o propósito de proporcionar melhor ambiente e satisfação aos participantes daquele ato. 

Não poucas vezes este recurso, este modismo, ganha força nas igrejas que se justificam pelos resultados numéricos obtidos, ou ainda pela aprovação dos novos adeptos.

Entretanto, Deus impôs limite a todas as coisas na criação: ao mar, ao sol, à terra, à lua, aos animais e também ao homem. Limites são condições que não devem ser violadas ou ultrapassadas, pois quando assim acontecem consequências se instalam e males nos sobrevêm.

Bons tempos...


Como novo convertido, eu ficava impressionado com o momento em que o pastor subia no púlpito para pregar. Porque minutos antes todos cantavam juntos, liam a Bíblia em uníssono e de repente: silêncio absoluto. 

O pastor se encaminhava lentamente para o pulpito e o silêncio das pessoas fazia com que fosse possível ouvir os passos do pregador subindo os degraus. A atmosfera mudava e eu olhava para o rosto das pessoas e todos estavam com os olhos fitos no púlpito esperando para ouvir o que o pregador tinha para dizer. 

Tive a sorte, ou melhor, a bênção,  de ouvir bons pregadores, com mensagens evangelísticas, cristocêntricas e que sempre faziam bem mais do que simplesmente emocionar: causavam impacto, confrontavam, levavam à reflexão, geravam temor, aumentando a sede e a fome pelo Senhor.

Eram homens preocupados em ler, explicar a Bíblia e mais do que isso, aplicar os ensinamentos antigos ao tempo presente, à vida dos homens e mulheres no tempo presente — contextualizando tudo, porém, com fidelidade à hermenêutica e à exegese. 

Quem mudou, a igreja ou nós?


Intuitivamente eu entendia que aquele era o momento mais importante do culto. Quando eu mesmo fui ao seminário estudar percebi que havia outras tradições cristãs diferentes da minha que entendiam a eucaristia como o centro do culto e seu momento mais importante. 

A reforma protestante deslocou a ênfase do culto da eucaristia para o sermão. Reformadores acreditavam que de um lado o sentido da eucaristia como era realizado estava errado e que sua celebração cotidiana acaba tirando seu caráter sacral e especial. 

Optaram por celebrações mensais da eucaristia o que acabou por criar cultos com uma liturgia, a da palavra e não às duas liturgias: da palavra e do sacramento, na maior parte do tempo. 

Isso aconteceu também porque a reforma protestante tinha uma característica muito marcante, a saber, a preocupação com a leitura e explicação da Bíblia na língua do povo o que parece uma coisa simples mas não era. 

As missas eram em latim antes da reforma e óbvio muita gente que presenciava uma missa entrava e saia sem entender nada do que se passava. Os protestantes tinham essa preocupação de ensinar, de trazer a Bíblia e seu entendimento para a vida das pessoas comuns. Daí tanta ênfase no sermão. 

É compreensível portanto essa mudança embora eu pense que não deveria haver culto dominical sem as duas liturgias — a eucaristía, ou melhor, a celebração da Ceia do Senhor, momento ímpar, singular e emblemático, mais uma ministração expositiva das Escrituras. 

A reforma protestante fez os próprios católicos romanos depois de um tempo, mudarem a estrutura das missas, abolir o latim e as missas ganharam a estrutura que têm hoje. 

A tradição protestante por vezes é até criticada por transformar seus cultos em salas de aula tal é a ênfase e a centralidade da pregação no culto dominical. A reforma queria que as pessoas ouvissem em suas próprias línguas a Bíblia e um sermão que as ensinasse a Palavra de Deus. 

Os protestantes sempre tiveram a preocupação de formar bem seus ministros, homens que conhecessem não só a teologia mas a filosofia e demais áreas do conhecimento humano para que pudessem melhor comunicar as maravilhas de Deus.

Reformados? 


Por isso na tradição protestante o púlpito é tão importante quanto a mesa da ceia, e tão sagrado quanto. Quando hoje vejo pastores evangélicos tranformando igrejas em comitês eleitorais, púlpitos em palanques políticos e fazendo teologia para apoiar projetos políticos com ares de teocracia eu fico extremamente triste (não que a politização dos fiéis não seja importante, por certo é, mas, transformar o púlpito em parlatório político é extrapolar todos os limites do aceitável). 

Isso sem contar outros tantos que transformaram o ambiente da igreja tal e qual uma casa de espetáculos, onde celebridades gospel e profissionais do pulpíto (os tais coaches e suas famigeradas mensagens motivacionais de auto ajuda — com exacerbadas doses de positivismo, triunfalismo e prosperidade —, massageando egos e relativizando princípios que são absolutos em sua essência) fazendo as apresentações pirotécnicas de suas medonhas performances.

Conclusão

É, parece que a reforma fracassou. Eu não via isso no meu tempo de novo convertido e não sou tão velho assim. Do alto dos meus 55 anos acredito que a igreja evangélica vive seu pior momento de costas para a reforma protestante que a criou.

Se quisermos deixar como herança uma Igreja saudável para nossas crianças, juniores, adolescentes e jovens, devemos permanecer vigilantes e lutar contra as sutis investidas que o mundo pós-moderno tem infligido contra o verdadeiro evangelho.

O apóstolo Paulo, na sua oração em favor dos Colossenses faz a seguinte declaração: 
"…oro para que transbordeis de pleno conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual, a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus" (1:9,10).
Portanto, é nosso dever nos desviarmos de qualquer abordagem oportunista deste século.

Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
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E nem 1% religioso.

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