- O texto deste artigo foi inspirado por um triste episódio ocorrido na noite do dia 02/06/2022, em uma vila localizada na região do Barreiro, aqui em Belo Horizonte, quando um jovem cristão de apenas 18 anos, foi assassinado a tiros, vitimado por balas perdidas, em um tiroteio no conflito entre gangues do tráfico de drogas.
"Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.
Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança.
E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu" (Romanos 5:1-5).
O sofrimento tem sido tema de reflexão há muito tempo, e não é a toa que as diferentes culturas e povos tentaram e tentam entender o que este significa através da religião, seja para apaziguá-lo, amenizá-lo, acabá-lo ou vivê-lo.
Isto acontece porque o sofrimento é uma experiência comum aos seres humanos, comum e limite porque parece mexer com as fibras mais profundas da nossa vida.
Este é o campo da religião, da nossa capacidade e sede de transcendência, por isto o espaço religioso nos dará as chaves para entender o sofrimento.
O sofrimento do justo Jó
No âmago da mensagem do livro de Jó, acha-se a sabedoria que responde à questão a respeito de como Deus se envolve no problema do sofrimento humano.
Em cada geração, surgem protestos, dizendo:
"Se Deus é bom, não deveria haver dor, sofrimento e morte neste mundo".
Essa uma pergunta feita não só pelos céticos, pelos incrédulos, mas, também por muitos dos que se dizem cristãos.
Com este protesto contra as coisas ruins que acontecem a pessoas boas, tem havido tentativas de criar um meio de calcular o sofrimento, pelo qual se pressupõe que o limite da aflição de uma pessoa é diretamente proporcional ao grau de culpa que ela possui ou pecados que comete.
No livro de Jó, o personagem é descrito como um homem justo; de fato, o mais justo que havia em toda a terra.
Mas Satanás afirma que esse homem é justo somente porque recebe bênçãos de Deus.
Deus o cercou e o abençoou acima de todos os mortais; e, como resultado disso, Satanás acusa Jó de servir a Deus somente por causa da generosa compensação que recebe de seu Criador.
Da parte do Maligno, surge o desafio para que Deus remova a proteção e veja que Jó começará a amaldiçoá-lO.
À medida que a história se desenrola, os sofrimentos de Jó aumentam rapidamente, de mal a pior. Seus sofrimentos se tornam tão intensos, que ele se vê assentado em cinzas, amaldiçoando o dia de seu nascimento e clamando com dores incessantes.
O seu sofrimento é tão profundo, que até sua esposa o aconselha a amaldiçoar a Deus, para que morresse e ficasse livre de sua agonia. Na continuação da história, desdobram-se os conselhos que os amigos de Jó lhe deram — Elifaz, Bildade e Zofar.
O testemunho deles mostra quão vazia e superficial era a sua lealdade a Jó e quão presunçosos eles eram em presumir que o sofrimento indescritível de Jó tinha de fundamentar-se numa degeneração radical do seu caráter.
Eliú fez discursos que traziam consigo alguns elementos da sabedoria bíblica.
Todavia, a sabedoria final encontrada neste livro não provém dos amigos de Jó, nem de Eliú, e sim do próprio Deus.
Quando Jó exige uma resposta de Deus, Este lhe responde com esta repreensão (Jó 38.2,3).
O que resulta desta repreensão é o mais vigoroso questionamento já feito pelo Criador a um ser humano.
A princípio, pode parecer que Deus estava pressionando Jó, visto que Ele diz:
"Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra?" (v. 4).
Deus levanta uma pergunta após outra e, com suas perguntas, reitera a inferioridade e subordinação de Jó. Deus continua a fazer perguntas a respeito da habilidade de Jó em fazer coisas que lhe eram impossíveis, mas que Ele podia fazer.
Por último, Jó confessa que isso era maravilhoso demais. Ele disse:
"Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza" (42:5,6).
Neste drama, é digno observar que Deus não fala diretamente a Jó. Ele não diz:
"Jó, a razão por que você está sofrendo é esta ou aquela".
Pelo contrário, no mistério deste profundo sofrimento, Deus responde a Jó revelando-se a Si mesmo.
Esta é a sabedoria que responde à questão do sofrimento — a resposta não é por que tenho de sofrer deste modo particular, nesta época e circunstância específicas, e sim em que repousa a minha esperança em meio ao sofrimento.
A resposta a essa questão provém claramente da sabedoria do livro de Jó: o temor do Senhor, o respeito e a reverência diante de Deus, é o princípio da sabedoria.
Quando estamos desnorteados e confusos por coisas que não entendemos neste mundo, não devemos buscar respostas específicas para questões específicas, e sim buscar conhecer a Deus em sua santidade, em sua justiça e em sua misericórdia.
Esta é a sabedoria de Deus que se acha no livro de Jó.
O justo e o conflito da realidade do sofrimento
Acaso não procuramos a Deus quando morre um ser querido, quando sofremos na solidão, quando fazemos sofrer?
No âmbito cristão o sofrimento está presente já nas origens da nossa fé, quando o povo de Israel é libertado do Egito e Moisés exclama que Deus viu o sofrimento do povo (Deuteronômio 26:5-10).
Encontramo-lo também no contexto profético, por exemplo, em Isaías (Isaías 53) com a figura do Servo sofredor que trará a paz à Terra.
Porém, é o livro de Jó que parece ser mesmo o melhor para nos ajudar a entender o tema do sofrimento do justo.
Jó, considerado justo perante os olhos de Deus, nos coloca frente à pergunta: o que faz ele justo?
Durante toda a narrativa do livro três elementos são importantes, os diálogos de Jó consigo mesmo, os diálogos com Deus e com aqueles que querem fazer mal a Jó.
Daí dizemos que o sofrimento sempre nos colocará frente às três questões mais importantes da vida do ser humano: os outros, nós mesmos e Deus.
Estes elementos não têm uma ordem cronológica ou de importância, acontecem simultaneamente.
Quando sentimos que sofremos, normalmente isso tem a ver com alguém que nos faz sofrer ou com a falta ou morte de alguém que nos faz sofrer também.
Perguntamo-nos pelo sentido das coisas e de fazer ou não o que fazemos, se vale a pena ou não, e recorremos a Deus com perguntas, dor, inquietações e muitas vezes com vontade de decisões.
Até aqui a história de Jó nos ajuda a delimitar o que acontece com o sofrimento, mas como cristãos só Jesus pode nos falar mais plenamente destes três elementos no contexto da justiça, ainda mais nestes dias em que o acompanhamos na semana do seu maior sofrimento e glória.
Minhas considerações finais
Jesus, é justo (1 João 2:29) pela relação que teve com Deus, seu pai, e pela relação que teve com os outros, de ajuda, disposição, serviço, bondade, amor e justiça.
Mas ainda assim falta saber: o que fez dEle um justo? Às vezes nos deparamos com a experiência de sofrer por fazer o bem ou de ver alguém sofrer quando sempre fez o bem.
Isto nos parece injusto. Contudo, a reflexão verdadeiramente cristã começa não pelas obras que fazemos pelo próximo, senão pela experiência de quem que faz as pessoas justas?
Aqui o ponto central da justiça e do sofrimento: foi Deus que fez Jesus justo, pela fé (2 Coríntios 5) e que nos faz a nós mesmos também justos pela fé.
Só Deus nos faz justos, não é ele que nos faz sofrer, mas é Ele que nos dá a fé para sobrelevar os sofrimentos, é ele quem nos justifica na esperança da fé.
Todo aquele que vive uma vida de fé em Jesus começará a se parecer cada vez mais com ele e se ele foi perseguido e sofreu da forma como o acompanharemos esta semana, nós também partilharemos com ele esse destino (Jo 15:18).
Nós também somos chamados a carregar nossas cruzes e sofrimentos pela maneira como vivemos, como tentamos viver nossa fé: fazendo o bem, servindo e amando.
Tudo isto não pode menos do que trazer consigo a taxa de sofrimento que toda fé supõe.
Contudo, um sofrimento que como o de Jesus não acabou na cruz, senão que continuou até a ressurreição.
A glória da fé supõe sempre a cruz e elas se entendem sempre juntas.
Não estamos chamados a sofrer por sofrer, mas a ressuscitar com Cristo (Rm 6:8) numa vida de fé como a dEle.
Conclusão
Por tanto, para que o sofrimento seja frutífero e não nos deixe paralisados na tristeza e no desespero dos nossos Getsêmani, Ele precisa ter um sentido e um sentido desde as origens da nossa fé, passando pelos profetas, Jó, Jesus até as nossas comunidades cristãs onde perseveramos fazendo o bem, ajudando a construir o Reino de Deus com nossa contribuição.
Isto supõe nos encontrarmos com nós mesmos, com os outros e com Deus na fé e perseverar nela. Nesse sentido esta semana teremos uma boa oportunidade de acompanhar nossos sofrimentos, Jesus que acompanhará mais de perto os nossos e nós acompanhando o de Jesus para chegarmos a exclamar como Paulo, na passagem com a qual faço a abertura deste artigo.
[Fonte: Dom Total, por Ramón Eduardo Lara Mogollón — pesquisador, tradudor e professor, graduado em Filosofia e Pedagogia pela Universidad Católica Andrés Bello (Venezuela) e em Teologia pela FAJE; Ministério Fiel, por R. C. Sproul — pastor da igreja St. Andrews Chapel, na Flórida, professor e palestrante em seminários e conferências, autor de mais de sessenta livros, vários deles publicados em português, e editor geral da Reformation Study Bible]
A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
Apesar da flexibilização no uso da máscara, onde o uso do acessório já não é mais obrigatório nos ambientes abertos em muitas regiões da Federação, o bom senso e a concientização individual, ainda é uma premissa para a segurança e a proteção coletiva.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. Não confunda avanço na vacinação e flexibilização com o fim da pandemia.
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