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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

ESCRITO NAS ESTRELAS - ESPECIAL: BIBI FERREIRA

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O mundo das artes e da cultura ficou órfão e bem mais pobre no dia de hoje com a morte da diva Bibi Ferreira. Neste capítulo especial da série de artigos Escrito nas Estrelas, um resumo biográfico da vida e da carreira dessa artista plena e absoluta.

Nasce uma Estrela


Não foi apenas uma atriz que morreu com Bibi Ferreira. Morreu uma instituição, um prêmio, um monumento nacional, um marco inescapável no horizonte. Morreu até, se a gente for pensar bem, parte da história do teatro nacional. Afirmações exageradas, podem pensar alguns, mas elas são ainda pouco veementes para dar uma ideia da magnitude do papel de Bibi Ferreira nos palcos do Brasil. 

Atriz, cantora, compositora, produtora e diretora de teatro, Bibi morreu tranquila e serenamente em casa na tarde desta quarta-feira (13), aos 96 anos, no Rio, em consequência de uma parada cardíaca. Filha de um casal de artistas, ela atuou desde a infância até o ano passado, quando anunciou sua aposentadoria. 

Se Bibi Ferreira não tivesse conquistado a fama, o prestígio, o reconhecimento e a glória pelo seu trabalho como cantora e atriz, ela com certeza seria mencionada no Guinness Book, o livro dos recordes, como a artista com a mais longa carreira em toda a história do teatro em todos os tempos. 

Afinal, ela entrou no palco pela primeira vez aos vinte e quatro dias de vida substituindo uma boneca que havia sido roubada da produção do espetáculo na véspera. A peça era "Manhãs de Sol", de Oduvaldo Vianna. Em 2017, Bibi encerrou sua carreira profissional com o espetáculo "Bibi – Por Toda a Minha Vida". Em resumo: foram noventa e cinco anos atuando como boneca, bailarina, atriz, cantora, diretora e compositora nos teatros do Brasil e de Portugal.

Uma história, uma vida... um legado!


Filha do ator Procópio Ferreira (1898-1979) e da bailarina Aida Izquierdo (1904-1936), Abigail Izquierdo Ferreira participou do Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro até estrear profissionalmente na companhia de seu pai em 1941. Em 44 funda sua própria companhia, que teve no elenco alguns dos nomes mais destacados do teatro brasileiro, como Cacilda Becker (1921-1969), Maria Della Costa (1926-2015)e Henriette Morineau (1908-1990).

Criada desde criança nos palcos, é reconhecida por sua atuação e direção em musicais. Interpretou personagens como Joana, de "Gota d'Água", e Piaf, na peça homônima em homenagem à cantora francesa.

Entra pela primeira vez no palco aos 24 dias de nascida, substituindo uma boneca que desaparecera da contrarregragem. Aos três anos, estreia no Chile, na companhia Revista Espanhola Velasco, em que sua mãe, Aida Izquierdo, trabalha como corista. Participa de uma turnê por toda a América Latina, interpretando, ao final do espetáculo, um pot-pourri da própria Revista. Volta ao Brasil com pouco mais de quatro anos e, até os 14, participa de óperas e balés, integrando o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Trajetória


Estreia como atriz em 1941, com a Companhia Procópio Ferreira, na comédia La Locandiera, de Carlo Goldoni (1707-1793), no papel-protagonista de Mirandolina. No ano seguinte, viaja com o repertório da companhia para uma temporada na capital paulista, que se estende para o sul do país e interior de São Paulo em mais de 30 cidades. Em 1944, Bibi inaugura a Companhia de Comédias Bibi Ferreira, com o espetáculo Sétimo Céu, e contrata as atrizes Maria Della Costa, Cacilda Becker e a diretora Henriette Morineau. É um momento de transição, marcado por mudanças como a supressão do ponto e a convenção das cortinas no início e final de cada ato. 

Em 1946, vai para Londres estudar direção na Royal Academy of Dramatics Arts. Na Inglaterra, estuda e trabalha em cinema. Em 1947, estreia como diretora em "Divórcio", de Clemence Dane, em que também atua como filha do personagem interpretado pelo ator Procópio Ferreira. Em 1949 interpreta Carlos, protagonista de "O Noviço", de Martins Pena. Com sua companhia, viaja para o sul do país com um repertório de cinco espetáculos.

Na década de 1950, recebe o prêmio dos críticos do Rio de Janeiro pela direção de A Herdeira, de Henry James, 1952. Dá aulas de direção e interpretação no Teatro Duse e na Fundação Brasileira de Teatro (FBT). Contratada pela Companhia Dramática Nacional (CDN), dirige, em 1954, Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues (1912-1980). Nomeada diretora da Companhia de Comédia do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, revela peças brasileiras como A Casa Fechada e Sonho de Uma Noite de Luar, ambas de Roberto Gomes, em 1955. 

Simultaneamente a essas atividades, mantém a regularidade de suas produções e viagens pelo Brasil. Em 1956, depois de se apresentar em Recife, leva o repertório de sua companhia para Lisboa, atuando também nas apresentações de Deus lhe Pague, de Joracy Camargo, pela companhia de Procópio, em que ela dirige "O Avarento", de Molière, e "A Raposa e as Uvas", de Guilherme Figueiredo. Em Portugal, é contratada como atriz de teatro de revista. Sua interpretação da música 'Tic-Tac' – gravada no disco "Quando Bate Um Coração" – é considerada antológica pelo comediógrafo César de Oliveira. Retorna ao Brasil em 1960.

Nos anos de 1960, além de atuar em musicais de teatro e televisão, trabalha em teleteatro. Por sua atuação em "My Fair Lady", de Alan Jay Lerner e Frederich Lowe, na temporada paulista do espetáculo, em 1964, ao lado de Paulo Autran (1922-2007), Jaime Costa, Sérgio Viotti (1927-2009) e Elza Gomes (1910-1984), recebe o Prêmio Saci, em São Paulo. Em 1968, apresenta na TV Tupi o Programa Bibi ao Vivo, que durante dois anos leva à televisão os maiores nomes do teatro.

O musical Brasileiro, "Profissão: Esperança", de Paulo Pontes - com quem, inclusive, foi casada - (1940-1976), dirigido por Bibi, é um sucesso, tanto com Maria Bethânia e Ítalo Rossi (1931-2011), em 1970, quanto com Paulo Gracindo (1911-1995) e Clara Nunes (1942-1983), em 1974, quando bate recordes de público no Canecão. Em 1972, atua em "O Homem de La Mancha", traduzido por Paulo Pontes e Flávio Rangel, com versão das canções feitas por Chico Buarque e Ruy Guerra, que permanece em temporada, em diversas cidades, durante três anos. 

Em 1975, estréia em "Gota d'Água", de Chico Buarque e Paulo Pontes, sob a direção de Gianni Ratto (1916-2005), que permanece em cartaz até 1977 e recebe os prêmios Molière e Associação Paulista dos Críticos de Artes (APCA), pela interpretação de Joana. Em 1976, dirige Walmor Chagas (1930-2013), Marília Pêra (1943-2015), Marco Nanini e 50 artistas em "Deus lhe Pague", de Joracy Camargo (1898-1973).

Na década de 1980, a notoriedade de Bibi Ferreira faz com que receba os mais diferentes convites. Dirige de textos comerciais a peças de dramaturgia sofisticada, de musicais de grande porte a dramas intimistas. Assim, em 1980, ela dirige "Toalhas Quentes", de Marc Camoletti; em 1981, "Um Rubi no Umbigo", de Ferreira Gullar (1930-2016), e Calúnia, de Lillian Hellmann, além de "Gay Fantasy", revista com travestis que permanece um ano em cartaz no Teatro Alaska, Rio de Janeiro. 

Com sua produção e direção, estreia "O Melhor dos Pecados", de Sérgio Viotti, ainda em 1981, em que promove a volta aos palcos de Dulcina de Moraes (1908-1996), após vinte anos de ausência. Em 1983 volta aos palcos com "Piaf, A Vida de Uma Estrela da Canção", espetáculo de grande sucesso de público e crítica. Por sua atuação, recebe os prêmios Mambembe e Molière, em 1984, e, no ano seguinte, da Associação Paulista de Empresários Teatrais e Governador do Estado. 

O espetáculo, que faz muitas viagens, permanece seis anos em cartaz e, em quatro anos, atinge um milhão de espectadores, incluindo uma temporada em Portugal, com atores portugueses no elenco. Em São Paulo, o crítico Sábato Magaldi escreve, no Jornal da Tarde, sobre seu desempenho: 
"A voz poderosa, a interpretação sensível, a pronúncia francesa perfeita só poderiam pertencer à própria Piaf. E fica patente, de imediato, que tamanhos dotes devem ser creditados à nossa atriz. Outra grande qualidade da linha escolhida: em nenhum momento Bibi pretende imitar Piaf, confundir a sua voz com a dela. 
[...] Bibi se fixa menos na cantora temperamental [...] para valorizar de preferência a mulher desesperada, de destino solitário e profunda humanidade, de que não está ausente até a brincadeira moleque. Naquele ser desprotegido, arruinado pela droga, tudo se desculpa, porque se purifica na essência de uma canção maravilhosa. Piaf é, de todos os pontos de vista, a criação maior da carreira de Bibi, feita de tantas iluminações".
No Rio de Janeiro, Macksen Luiz não é menos arrebatado pela interpretação da atriz: 
"A platéia é, virtualmente, dominada pelo magnetismo de Bibi Ferreira, que ocupa o palco como se estivesse se apropriando do que sempre lhe pertenceu. Mas essa força teatral não se pode atribuir apenas a um talento brilhante, mas a uma preparação técnica como poucos atores brasileiros têm possibilidade de acumular".
Nos anos 1990, Bibi Ferreira revive seus maiores sucessos remontando Brasileiro, Profissão: Esperança e fazendo um espetáculo em que canta canções e conta histórias de Piaf. Em "Bibi in Concert", comemora 50 anos de carreira e, depois de anos de temporada, faz o "Bibi in Concert 2". Em 1996, recebe o Prêmio Sharp de Teatro, encena Roque Santeiro, de Dias Gomes (1922-1999), em versão musical, e dirige pela primeira vez uma ópera – Carmen, de Georges Bizet, 1999.

Sem parar no tempo


Algo fascinante em Bibi Ferreira era a agilidade mental, a verve, a inteligência, a rapidez de raciocínio com que ela respondia a todas as perguntas quando entrevistada, mesmo já com bastante idade. Ela se lembrava de absolutamente tudo sobre todos os assuntos nos mínimos detalhes. Era uma experiência inesquecível para qualquer jornalista. 

Conclusão


Ela é um dos pilares do teatro moderno brasileiro. A carreira da Bibi conta a trajetória do nosso teatro, de todas as suas transformações. Ela era completa, cantava, dançava, fazia drama, comédia, e ela acompanhou também todas as mudanças que tivemos.
"Levei uma vida muito simples, muito correta. Estar a postos nas minhas obrigações parece corriqueiro e simples, mas é verdadeiro: você deve ter respeito por seu trabalho. É isso que me conservou Bibi Ferreira. Meu respeito a tudo que rodeia minha carreira e minha vida"
 – declarou, em uma entrevista em 2015.

Finalmente, para quem queira vê-la ao vivo e a cores, eu sugiro a entrevista que ela fez com Jô Soares em que ela diz entre outras coisas: 
"Eu dediquei minha vida de uma maneira muito séria. Eu levo a minha carreira de forma muito séria, não brinco em serviço. E quando me perguntam a quem devo o meu nome, eu digo, meu nome é cre-di-bi-li-da-de. Eu venho fazendo uma carreira, me entregando sempre à arte de uma maneira austera. Porque eu levo a sério qualquer entrevista, qualquer peça em que atuo". 
Esta era Bibi Ferreira.
Entrevista completa de Bibi Ferreira ao programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido em 13/10/2014. Vale mais que a pena ver.

A Deus, o Pai, toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade. 
         E nem 1% religioso.

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