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sábado, 19 de janeiro de 2019

DISCOS QUE EU OUVI - 48: "LIKE A PRAYER", MADONNA - ESPECIAL 30 ANOS

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Foi no dia 21 de março de 1989, há 30 anos, que Madonna lançava um de seus mais importantes trabalhos até então. Fruto de seu amadurecimento, "Like A Prayer" a trouxe envolvida em temas sobre religião, família e amor. Um álbum polêmico e premiado que resultou numa coleção de hits e com uma turnê que marcou a história da música pop. Celebre comigo essa data histórica!

Parece que foi ontem


Há 30 anos, Madonna lançou o álbum que não apenas é seu melhor até hoje - na minha opinião - como possivelmente o lançamento mais importante na história de uma artista mulher. Isso não significa que "Like A Prayer" seja o melhor álbum já criado por uma artista mulher, mas está perto disso. Depois de seis anos em que foi vista como uma frivolidade pop - como tantas que temos no cenário musical, tanto nacional, quanto internacional, hoje em dia -  e uma garota disco sem grande importância, finalmente em 1989 a maioria dos críticos de música passou a levar Madonna a sério. Mesmo assim, "Like A Prayer" merecia ainda mais que elogios surpreendentes da crítica. 

Se Madonna e misoginia não fossem praticamente sinônimos, "Like A Prayer" não apenas teria recebido vários Grammys em 1990 (quando nem sequer foi indicado em alguma categoria importante), como seria elogiadíssimo três décadas mais tarde pela composição e produção. Se um homem criasse o mesmo tipo de vocais que Madonna em "Like A Prayer", os críticos observariam que sua voz não é tecnicamente perfeita, mas nítida, melódica e carregada de emoção. Em se tratando de Madonna, que com certeza nunca conseguiu alcançar as mesmas notas que Aretha Franklin (✰1942/✞2018) ou Whitney Houston (✰1963/✞2012), simplesmente é mais fácil para as pessoas dizerem que "ela não sabe cantar". 

Quebrando tabus


Para as pessoas (especialmente pessoas da geração X) compreenderem a importância que "Like A Prayer" teve para a cultura e a música, elas precisam entender o ambiente repressor no qual o álbum de Madonna surgiu, em março de 1989. O final dos anos 1980 foi governado pela direita religiosa, para a qual a Aids era uma maldição decretada por Deus contra a comunidade gay. 

Mulheres que pusessem a boca no trombone ou usassem roupas ousadas eram descritas como putas, vagabundas, vadias, etc. A brutalidade policial contra afro-americanos ainda era amplamente aceita, sem muita reação. E namoros inter-raciais ainda eram vistos como um tabu. 

Levando tudo isso em conta, vamos analisar as razões por que o álbum "Like A Prayer" foi um marco tão importante. 

Após três discos muito bem sucedidos comercialmente, seguindo uma fórmula inventada pela própria Madonna de som dançante, pop chiclete e polêmicas dosadas com mudanças de visual que marcaram época, era de se esperar que o novo disco seguisse a mesma linha, mesmo que Madonna fosse taxada de superficial com suas músicas. 

Contudo, a vida pessoal de Madonna já não era mais a mesma. O ano de 1988 trouxe muitos questionamentos junto com a separação do seu primeiro marido, o ator Sean Penn: a proximidade dos 30 anos; a família; a morte de sua mãe, e, é claro, a religião católica, tão presente desde sua infância. Madonna já tinha conquistado o mundo, já tinha alcançado o sucesso que tanto batalhou mas acabara de sair de um casamento conturbado, com violência e exposição na mídia. Teve que aprender a lidar com a perda, algo que não era muito do seu costume. 

"Like A Prayer" é o primeiro álbum a mostrar a Madonna madura, que dizia algo com suas músicas. Letras melancólicas, mais profundas e trabalhadas, representaram situações e experiências vividas por Madonna. O disco veio como o primeiro trabalho verdadeiramente conceitual em sua obra musical e deu, pela primeira vez, credibilidade à carreira de Madonna. A transformação da sua vida pessoal passou a ser inspiração para sua arte. 

Mais que uma capa


A capa do disco já apresentava mudanças. Ao invés do rosto de Madonna, uma calça jeans surrada, suas mãos e bijuterias, além do perfume Patchouli (um ícone da época), que exalava na versão em vinil. 

O álbum resgata a Madonna dos anos 60/70 em termos de visual e, com memórias daquela época, faz um paralelo entre passado e presente. Nunca a material girl tinha sido tão autobiográfica. 

Esse amadurecimento se refletiu também no seu som que destoou mais do pop convencional, flertando com o rock, soul e funk. Ser gente grande nunca soou tão bem! 

Gosto mais da história por trás dessa capa do que da foto em si. Segundo biografias, Madonna estaria fazendo referência a um episódio de sua infância, onde uma tia sua teria ido visitar sua família vestida em calças jeans. Rapidamente a mãe de Madonna teria ido até uma estante e coberto uma imagem de Jesus para que ele não "visse" aquela cena, já que mulheres que usassem jeans eram mal vistas naquela época. Além dessa história, como eu já disse, o disco vinha "perfumado" com cheiro de incenso, o que transforma a capa de "Like A Prayer" numa verdadeira obra de arte.
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É importante lembrar que, diferentemente de outros trabalhos, a capa do álbum aparece apenas Madonna da cintura para baixo, vestindo calça jeans, na tentativa de provocar os mais tradicionais (calça não era uma boa peça de roupa para uma mulher). Além disso, Madonna cedeu um espaço do encarte para falar sobre a Aids. Ali, era colocado informações gerais sobre a doença (forma de transmissão, como preveni-la, etc.) justamente para tentar quebrar os tabus, enfrentar o preconceito com as vítimas da doença.

Vendagens


O Álbum chegou ao posto de nº 1 em mais de dez países, vendendo ao redor do mundo mais de 15 milhões de cópias, sendo 4,2 milhões somente nos EUA. Na França o disco chegou a incríveis 600 mil copias, se tornando 2x platina. O disco também fez muito sucesso na Alemanha com mais de 700 mil copias e 3x platina, assim como na Espanha com suas 4 platinas, mas foi no Brasil que as vendas surpreenderam: foram 2 certificações de platina, ou mais de 730 mil cópias do álbum vendidas em solo brasileiro. 

O surpreendente também foram as vendas de seus singles, 'Like A Prayer' tornou-se um dos singles de maior vendagem de sua carreira mundialmente, depois de levar mais de 4 milhões de pessoas a comprá-lo. Com exceção de 'Dear Jessie', lançado somente na Europa, todos os outros singles do álbum ultrapassaram a marca de 1 milhão de cópias. 

Divulgação


Em janeiro de 1989, Madonna assina um contrato milionário com a Pepsi para realização de um comercial de 2 minutos para a marca de refrigerantes com 'Like A Prayer' como música tema, e ainda patrocínio para a próxima turnê da cantora. Acordo melhor impossível, afinal a estrategista Madonna apareceria em diversos canais de televisão a todo tempo com a música principal do álbum como pano de fundo. 

Na transmissão do Grammy daquele ano, a Pepsi exibe um teaser para o comercial oficial que seria exibido no dia seguinte, 2 de março. Quando estreou, 250 milhões de pessoas ao redor do mundo assistiriam à grande produção. Ponto para Pepsi que associava sua marca a uma das cantoras de maior expressão. 

Mas a alegria da Pepsi durou pouco. O polêmico clipe de 'Like A Prayer' estreou dias depois e mostra Madonna com estigmas, beijando um santo negro e ainda dançando em um campo repleto de cruzes em chamas. Pessoas se sentiram ofendidas com tais imagens e ameaçaram boicote à Pepsi, que parecia apoiar tal investida de Madonna. Sendo assim, a empresa não teve escolha e cancelou a campanha, porém, tudo foi a favor de Madonna: ela já havia recebido mais de 5 milhões de dólares e estava em toda a mídia e tudo passou a ser o fio condutor de divulgação do álbum. 

A polêmica com o clipe funcionou tão bem para Madonna que o álbum, na terceira semana após o seu lançamento, já era o primeiro colocado do Hot100 da Billboard, lugar onde permaneceu por mais de um mês. 

Prêmios


Até hoje "Like A Prayer" é visto como um dos melhores álbuns já lançados por Madonna e rendeu 4 novas estatuetas no MTV VMA's de 1989. 

O clipe de 'Express Yourself' faturou os prêmios de melhor direção, melhor direção de arte e melhor fotografia. Madonna se apresentou na premiação cantando essa canção. 

Podemos dizer que o polêmico vídeo de 'Like a Prayer' até não ter caído nas graças do Todo Poderoso, mas que caiu na graça do público é fato, afinal, apesar de não ter levado nada da crítica especializada, foi o vencedor na categoria "Escolha da Audiência", o qual Madonna recebeu agradecendo a Pepsi pela polêmica. Na mesma edição, ela também foi eleita "Artista da Década". 

O álbum ainda garantiu a Madonna o prêmio de melhor cantora no "Internacional Music Awards". 

Turnê


Com o álbum, Madonna criou uma turnê mundial chamada "Blond Ambition Tour" e que, além de se tornar uma referência para as artistas posteriores pela inovação de dividir o show em blocos, causou grandes confusões. 

Madonna arquitetou um espetáculo com muitas coreografias trabalhadas, repertório coerente com as propostas do show, faturamento de bilheteria altíssimo. Ademais, nessa turnê o Papa João II pediu boicote aos shows na Itália por Madonna simular a masturbação durante a apresentação de 'Like A Virgin', e por em seguida, encenar um exorcismo em 'Like A Prayer'. No Canadá, Madonna enfrentou a polícia quando foi ameaçada de prisão caso não alterasse algumas partes do show.

Faixa a Faixa


Variando bastante entre lentas e pop dançante, as faixas são:

*Like A Prayer* 


Faixa-título do álbum, gerou uma grande polêmica,  a MTV lançou o videoclipe oficial da música, que mostra Madonna beijando um santo negro, estigmas e dançando entre cruzes pegando fogo. Imediatamente causou revolta na Igreja Católica. 

Pena pra eles... pois o single vendeu mais de 4 milhões de cópias, foi a música mais executada do ano e Madonna eleita a artista da década...
  • A canção 'Like A Prayer' 
Mesmo que você não esteja convencido de que o vídeo 'Like A Prayer' é uma obra-prima artística, a canção se destaca por seu valor. A Rolling Stone e a Billboard já a descreveram como uma das melhores canções pop de todos os tempos, e a canção virou um clássico spiritual, mesmo entre quem não é fã de Madonna.

'Like A Prayer' foi um dos destaques do Live 8 em 2005 e também do concerto Hope for Haiti, em 2010. Ela foi uma das atrações principais do show Super Bowl Halftime de Madonna em 2012. Qualquer apresentação ao vivo da canção tem a garantia de levar a plateia ao êxtase.
  • *Express Yourself*
Música dançante e contagiante, a letra fala da valorização da auto-estima da mulher, foi o 2º single do disco e muito bem sucedido, cujo videoclipe contou com uma mega produção, num orçamento de 2 milhões de dólares, sendo o vídeo mais caro da década de 80. Inspirado no filme "Metrópolis", sugere a inversão dos papéis entre homens e mulheres e a coreografia de Madonna na fábrica foi uma inspiração nos passos de Michael Jackson (✰1958/✞2009).
Música de parceria com o Prince, é a primeira vez em que Madonna canta e fala em francês. O single não foi comercializado e considerado por muitos como o dueto "que não deu certo", mas Madonna nega, alegando que é uma música maravilhosa. 
O ritmo dessa faixa é agitado embora a letra retrate um momento muito difícil vivido por Madonna, o seu divórcio com o ator Sean Penn, com que fora casada durante quatro anos num relacionamento conturbado, entre brigas, ofensas e até agressões físicas. 
  • *Promise To Try*
Canção lenta e melancólica onde Madonna fala sobre sua mãe, que faleceu quando ela tinha apenas seis anos de idade e a luta para ser forte e continuar mesmo com essa perda enorme.
  • *Cherish*
Excelente música que Madonna não pensou duas vezes para lançá-la como single, pois é simples, meiga e empolgante. Outro desejo pessoal de Madonna que está expresso na letra, a vontade de encontrar o verdadeiro amor e cultiva-lo para que ele dure para sempre. O vídeo é uma verdadeira obra-prima, filmado em preto e branco, nos mostra uma praia onde o mar está cheio de "sereios", um deles, o "garotinho-sereio" brinca quase o vídeo inteiro com Madonna, que esbanja sensualidade ao desfilar pela areia.
  • *Dear Jessie*
Essa faixa foi composta para homenagear Jessie, filha do produtor Patrick Leonard, nos levando a uma viagem nos contos de fada e foi lançada como single somente na Europa, obtendo um sucesso considerável por lá. O vídeo clipe, raríssimo, foi filmado em desenho animado, com a "fadinha Madonna" realizando todos os sonhos da garotinha Jessie. 
  • *Oh Father*
Outro momento bem íntimo da cantora é essa canção forte sobre o relacionamento com seu pai, Tony Ciccone, que criou seus filhos de maneira rígida e autoritária. Na verdade a letra é um desabafo, onde Madonna expõe que um dia poderá olhar para o passado ela seja capaz de entender que a forma que seu pai agiu não foi para magoá-la e talvez para protegê-la, pois não é fácil para um pai de família perder a figura feminina dentro de casa e com isso não soube como agir na criação dos filhos. Por sua linguagem pesada e melancólica e um videoclipe autobiográfico (a perda da mãe, um pai ausente e um marido violento), o single acabou não fazendo sucesso. 
Animação total por aqui com uma influência de hip-hop, falando sobre o verdadeiro valor da família, que sempre deixam as portas abertas pra qualquer necessidade que possa surgir. Embora não foi filmado um videoclipe para divulgação, o single foi muito bem sucedido nos Estados Unidos, só o ritmo e alto astral conseguiram segurar o tranco. 
  • *Spanish Eyes*
Belíssima lenta que arrepia só de pensar na melodia. Com um vocal bem trabalhado e influência espanhola, somente foi lançada em rádios da Espanha e América do Sul e muito executada até os dias de hoje em rádios brasileiras, onde fez um estrondoso sucesso. A letra é triste, fala sobre a dor de uma perda, fazendo todos nos identificarmos, pois quem nunca vivenciou algo parecido? 
Também co-produzida pelo Prince, a última faixa do disco é uma versão de 'Like a Prayer' tocada ao contrário e seus versos dizem sobre arrependimento e evitar as tentações do mal. É também uma crítica sobre a famigerada teoria da conspiração muito divulgada na época, que dizia que as músicas tocadas ao contrário traziam supostas mensagens subliminares de invocações do mal.

Conclusão 


É incrível perceber que um álbum lançado no final da década de 80 permanece sendo elogiado, atual, necessário, relevante. Madonna, de certa maneira, foi revolucionária com o lançamento desse disco e ainda hoje, após mais de 30 anos de carreira, não pensa em largar a luta pelos direitos civis, deixar de ser a artista inovadora que sempre foi. 

"Like A Prayer" é um álbum memorável, único, e que sempre estará no coração dos fãs e admiradores. Com músicas repletas de intimidade podemos dizer que Madonna fez uma pequena biografia onde há remorso, luto, decepções, medo, enfim. Definitivamente, "Like A Prayer" mostrou que música e arte andam de mãos dadas e que Madonna tem total capacidade de compor, de fazer com que as pessoas reflitam: sobre violência, sobre amor, AIDS, religião, etc.

Com novos visuais nos videoclipes, músicas bem trabalhadas e uma pitada de polêmicas, o disco atingiu o primeiro lugar em mais de 30 países, alcançando sucesso absoluto de público e crítica. Nota 10!!!

A Deus, o Pai, toda glória. 
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       E nem 1% religioso.

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