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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

A ESPERANÇA CRISTÃ NO ABSURDO REALIZÁVEL DA RESSURREIÇÃO

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A esperança cristã é muito superior à capacidade humana de sonhar com um mundo melhor. Estamos em período de final/virada de ano. É comum nessa época, que façamos nossos balanços (falei sobre isso em outro artigo) e que também renovemos ou criemos outras expectativas para o novo ano. Em muitos círculos religiosos, é comum que se façam listas relacionando o que se espera alcançar no ano que nasce. As tais listas, são então levadas às celebrações dos cultos e apresentadas nos altares dos respectivos deuses.

Mas, na quase totalidade das vezes, ninguém consegue atingir todos os objetivos relacionados. O problema está no fato de que muitas dessas expectativas transcendem os limites do razoável e revelam verdadeiras utopias. O que é uma utopia? Qual sua diferença com a esperança? Há uma linha tênue, imperceptível entre o entendimento desses dois conceitos. Mas o fato é que essa linha existe e, identificá-la é fundamental para que possamos pautar nossas expectativas no âmbito da razoabilidade.

Diferença entre utopia e esperança


  • Utopia - substantivo: vem a ser o que se imagina como sendo perfeito, ideal, porem imaginário não se sabendo ao certo se é possível alcançar ou realizar, é almejado mas apenas quimérico.
  • Esperança - verbo ou substantivo: 1) Sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que se deseja, confiança em coisa boa, fé. 2) A segunda das três virtudes teologais, ao lado da fé, e do amor (representada pela âncora).
Como a fé cristã não se baseia em algo que se vê, mas sim em algo que se espera, o cristão tem como um de seus tantos desafios o de não se curvar às incertezas utópicas. Há uns versos de Eduardo Galeano (☆1940/✟2015), jornalista e escritor uruguaio que explicam muito bem isso e mostram os limites da utopia:
"Para que serve a Utopia? Ela está diante do horizonte Me aproximo dois passos E ela se afasta dois passos. Caminho dez passos E o horizonte corre Dez passos mais à frente. Por muito que eu caminhe Nunca a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para caminhar."
Com o exercício da utopia fica-se apenas com os sonhos. É bom sonhar com aquilo que 
"...olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou..." (1 Coríntios 2:9). 
Mas o exercício da esperança é incomparavelmente melhor. 

No bojo da utopia encontramos "imaginação" fértil e otimista. No bojo da esperança encontramos "certeza" fértil e otimista. Enquanto a utopia se distancia cada vez que nos aproximamos dela, a esperança não foge e cada vez estamos mais perto dela. 

Sob a ótica da utopia, a frase "um outro mundo 'talvez seja possível'" está correta. Sob a ótica da esperança cristã, a declaração está errada. Com o óculo da esperança fundamentada na pessoa de Jesus Cristo, não haveria margem para a dúvida. Então diríamos "um outro mundo 'é possível'". A incômoda palavra "talvez" cairia por terra definitivamente. 

Há benefícios na utopia?


Para o cristão, sim. Afinal,
"...sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Romanos 8:28).
A utopia precisa se transformar em esperança. Ela até pode ser um degrau para se chegar à esperança. A caminhada do sonho é bem mais curta que a caminhada da certeza. A utopia produz uma alegria forçada, mas não enganosa, pois todos conhecem sua natureza: ela não promete nada. Comporta-se como um comprimido para afugentar a dor e não a doença. Já a esperança produz uma alegria gerada pela fé, que abraça algo que de fato virá a seu tempo. 

O compromisso com a esperança e não com a utopia usa termos mais absolutos. Não diz "sociedade menos injusta" nem se contenta com o pouco. Mas garante que a justiça fará habitação na nova ordem, nos "...novos céus e nova terra" (2 Pedro 3:13). 

A ponta inicial da corda da esperança foi colocada nas mãos dos homens quando a harmonia do gênero humano e da natureza com o Criador foi quebrada (Gênesis 3:15). A outra ponta está na consumação do século, no fim da história, na plenitude da salvação. Nossa caminhada não é indefinida nem eterna, como se nada acontecesse em algum ponto do enredo, como se a glória por vir não estivesse na agenda de Deus. 

Quem usa a corda que liga o paraíso perdido ao paraíso recuperado como guia de corrimão não precisa da utopia. Ele está absolutamente certo de que o pecado, a injustiça e a morte ("os céus e a terra que agora existem") serão realmente banidos para dar lugar àquilo que "olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou" ("novos céus e nova terra"). Graças à soberania e ao amor de Deus, que nos enviou Jesus Cristo para remover o pecado do mundo (João 1:29) e fazer novas todas as coisas (Apocalipse 21:5).

A verdadeira esperança do cristão


Qual é o sentido da esperança cristã? É com essa pergunta que se deve procurar entender o significado escatológico que a "crença na ressurreição do crucificado" (páscoa cristã) proporciona à "teologia da história". Ao invés de cíclica, a perspectiva histórica para abordar a esperança deve ser linear e finalizadora (teleológica). Deste modo, a "realidade vivida" (cosmo-antropológica), em sua globalidade, ganha um sentido transcendente. A esperança cristã emerge como uma negação à tendência materializante de uma concepção cosmológica pessimista que tende limitar a transcendentalidade da vida aos ditames de um tempo pensado cronologicamente (início, meio e fim). O mundo da vida se nomotiza (ganha sentido) por meio dela (esperança cristã).

Assim, os acontecimentos perdem seu casuísmo, e seus movimentos passam a compor um enredo providente no qual "passado e futuro" se unem em importância e sentido histórico. O presente deixa de ser compreendido apenas como um "simples instante vivido", pois nele, uma "inteligência teleológica" sagra, cada evento histórico, a um conjunto maior de simbolismo escatológico, através do qual cada indivíduo, atento aos seus movimentos, passa a entender que "o vazio ou a morte" não deve ser afirmado como a "finalidade da vida". A "razão histórica" ganha o poder sobre os fatos concretos da vida, e aos indivíduos é assegurada a garantia de que todo acontecimento que se dá na esfera do presente não se perde no absurdo dos eventos históricos contraditórios.

Desta forma, a sincronia de cada etapa histórica vem, não da "ausência de contradições" (as quais se encontram amalgamadas no contexto do mundo da vida), mas como afirmação do "triunfo da Providência" (Hegel), mesmo quando ou apesar da permanência delas (contradições) no processo da vida humana na história. Ao dizer "eu sou a ressurreição e a vida", Jesus de Nazaré possibilitou ao ser humano um olhar desdramatizado para um futuro, sem a chancela do medo; olhar que interpreta "o presente sem pânico". Por essa razão, o cenário ontológico, em que se percebe a história acontecer, passa a ser então a habitação da vida, e não a perpetuação eco-antropológica do caos. Se a morte fosse uma realidade invencível, insuperável ou a palavra final sobre tudo, então, sim, a ressurreição, compreendida como fato histórico com a capacidade de reorientar o "telos" da própria história deixaria de ter qualquer relevância antropológica, bem como qualquer poder diretivo sobre os eventos que transcorrem no mundo da vida humana.

A esperança cristã entende que a morte, como possibilidade do devir histórico, foi vencida não só pela "negação do negativo", mas também pela supressão do "medo ontológico". Esse é o sentido ontológico do "εγω ειμι η ζωη" ('eu sou a vida'). Quem existe possuído pela crença de que o ser humano não precisa caminhar mais no mundo dominado pela "ansiedade da vacuidade" (Tillich), percorre cada etapa da vida munido da confiança irredutível de que somente Deus é "senhor do futuro" (Pannenberg). Deste modo, a esperança que se reclama no horizonte discursivo da fé cristã (Evangelho) não anula o fato da contradição ontológica (morte ou sofrimento) que se viceja no palco da história. No entanto, uma inversão acontece: a vida passa a ser uma promessa de auto superação para história cheia de contradições. Da precariedade do "ser-aí" num mundo caótico nasce uma luz candente e inapagável, que grita por uma "justiça ontológica", a qual sentencia à vida um processo de morte-sofrimento do qual não se esperava mais nenhum sentido redentivo.

Conclusão


Da possibilidade insuperável do "não-ser", como acreditavam Heidegger e Sartre, configura-se, então, um outro cenário de confiança da fé: "a vida vai triunfar sobre a morte" (razão da esperança). Disto se deduz eventos psíquicos acontecendo e invertendo uma lógica de previsão pessimista do futuro: a certeza não será sempre vencida pela dúvida, nem a confiança pelo medo, nem a saúde pela doença, ou a alegria pelo choro intermitente. Viver em paz, mesmo num mundo feito de guerras ou por guerras, deve ser encarado como uma oferta irrecusável da esperança que, ao invés de anular a contradição ontológica, vislumbra sua metamorfose acontecendo lentamente, num percurso histórico-antropológico em que os eventos fáticos nem sempre devem ser entendidos a partir da "lógica da aparência". Não! 

A esperança fundada a partir do fato da ressurreição do crucificado não mascara a "negativa dos eventos", mas atribui a eles um sentido outro, abscôndito, transcendente, supra histórico, em cujo percurso cronológico/kairológico a vida passa a ser "o destino da morte", e não o contrário (tese anti-freudiana e anti-heideggeriana). Esse é o sentido da páscoa cristã. Esse é significado da sua esperança.

A Deus toda glória.





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