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sábado, 30 de maio de 2015

[É]VENTO

Hoje, enquanto fazia minha caminhada eu pensava. Muitos irmãos comentam que suas igrejas são movidas por eventos e que dizem aos seus pastores que evento é como vento, vem e some. Isso me acende uma forte preocupação e acaba dando como resultado esse artigo.


Ao longo destas mais de duas décadas de vida cristã tenho percebido que muitas igrejas acabam mesmo sendo movidas por eventos. Aliás, até que não é difícil gerenciar (não seria pastorear) uma igreja assim, dou a dica para você: basta fazer uma reunião antes de findar o ano com todos os líderes da igreja, elaborar um calendário repleto de atividades semana após semana. A você caberá cobrar antecipadamente ao responsável que tome providências para que a atividade programada seja cumprida. Seja rigoroso, exigente. Tire fotos e divulgue nas redes sociais, faça relatórios, coloque tudo no site da igreja e mostre que o "circo" está em movimento. A caravana circense passa, os cães ladram e nada acontece. Só há o bramidos dos cães. Se alguém ficar doente no meio do caminho é só falar que a pessoa tem de dar um jeito e se sacrificar para o "reino" pois o show não pode parar. O pior é os pastores que não se deixam levar pela onda dos eventos, acabam sendo chamados de retrógrados, "religiosos" e sem visão!

Um dado curioso é que, em geral, as denominações históricas no Brasil foram organizadas por missionários norte-americanos. Vamos lembrar que uma das ideologias impulsoras da cultura norte-americana é o pragmatismo, que focaliza a ação, a utilidade. Creio que temos aqui as raízes históricas que podem ter nos induzido a reduzir o Cristianismo a atividades eclesiásticas, de modo que ser cristão significa simples e meramente trabalhar na igreja. Isso pode ter passado para as outras denominações que surgiram ao longo da história da igreja no Brasil.

Nesse sentido o pastor da igreja passa a ser gerente de calendário em vez de pastorear, cuidar do rebanho. O afeto, tão caro ao espírito do pastoreio, é substituído pelo poder, pelo comando, de modo que quando o pastor está chegando perto de alguém logo se pode pensar "Lá vem o sermão (sinônimo de bronca, de cobrança)!"

Será preciso recuperar o lado relacional, convivencial, terapêutico, piedoso e amigo do pastoreio. Infelizmente ao longo do tempo confundiu-se o dom pastoral com a função da gestão eclesiástica e muitos pastores acabam tendo de investir tempo nisso, pouco sobrando para o cuidado das vidas e não apenas da utilidade de cada ovelha para o trabalho eclesiástico.

Igreja é muito mais do que evento, é uma comunidade terapêutica, provedora de acolhimento, de comunhão, compartilhamento, de socorro, de serviço, de testemunho, de aprendizagem, de disciplina também. É um ambiente fértil para o desenvolvimento da vida em adoração e glorificação a Deus, o resto é vento.

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