Capa do LP — reprodução da internet |
Que as trilhas sonoras nacional e internacional de "Dancin' Days" estão entre as mais marcantes de todos os tempos, não há dúvida. Quando a moda das discotecas se alastrou pelo Brasil, impulsionada pelo sucesso da novela, não houve quem a segurasse. Foi breve, porém intensa. E tamanha intensidade não coube dentro de uma trilha sonora só.
Arquivo pessoal |
Nesse capítulo da minha série especial de artigos Teletema, vou focar, especificamente, na sensacional trilha sonora internacional da novela do saudoso Gilberto Braga (✩1945/✞2021), então estreando no horário nobre, que suas sequências envolventes, nos lados 1 e 2 do LP, conseguia com facilidade transportar para nossas vitrolas, o clima enfervecente das frenéticas discotecas. Bora viajar comigo?
Sobre a novela
Quando estreou em julho de 1978, a novela "Dancin’ Days" teve a missão de manter os números elevados do Ibope às oito da noite, (re)conquistados com louvor por sua antecessora "O Astro", da sempre infalível Janete Clair (✰1925/✞1983).
A ordem da cúpula global era dar continuidade às temáticas folhetinescas que haviam se perdido com a experiência inovadora (porém, fracassada em termos de audiência) de Lauro César Muniz na "metanovela" de vanguarda, a esquecida "Espelho Mágico", exibida um ano antes e que ainda assombrava os corredores da Vênus Platinada.
Foi nesse cenário que Gilberto Braga ascendeu ao horário nobre, quebrando a ordem de revezamento Janete-Lauro. Depois de se afirmar às 18 horas com duas adaptações que se tornaram grandes sucessos populares — "Escrava Isaura" (1976) e "Dona Xepa" (1977) — e nutrido pelos mandamentos de sua mestra maior Janete Clair, "La Braga" estreava com estilo, aos 33 anos, como autor solo no mais cobiçado horário da TV brasileira.
O título da novela surgiu a partir do olhar artístico-mercadológico visionário da dupla Boni / Daniel Filho, prováveis frequentadores da nova casa noturna de Nelson Motta, que se instalara primeiramente num shopping center, localizado na Gávea, tradicional bairro residencial da zona sul carioca. Frenetic Dancing Days abriu as portas no dia 5 de agosto de 1976, dois anos antes de "vender" a sua marca (e o seu "décor") para a novela.
Sobre o disco — 1
"Dancin' Days — Internacional" atingiu a incrível marca de 1 milhão de cópias comercializadas quando foi lançada em 1978, graças ao sucesso da trama de Gilberto Braga e à "febre disco" que contaminava o Brasil e o mundo.
O cenário social e cultural de uma época
O boom de popularidade da disco music se deu entre 1976 e 1979, mas as raízes do estilo remontam ao início da década nos Estados Unidos, em meio a um panorama econômico e político adverso.
O estado de guerra prolongado no Vietnã causava um mal-estar generalizado e a crise do petróleo piorava as condições de vida da população. Pra complicar, o fim dos Beatles e a morte de alguns ícones da geração flower power (Jimi Hendrix [✩1942/✞1970], Janis Joplin [✩1943/✞1970] e Jim Morrison [✩1943/✞1971]) amplificaram em muito a sensação de desencanto, tipo "o sonho acabou".
Desta maneira, a música disco nasceu afinada com uma certa tendência ao escapismo, mas também em transe com o corpo "liberado" pela revolução sexual e com a cuca bem nutrida pelo espírito "paz e amor" dos anos 60. E funcionou, principalmente, como a trilha sonora da emancipação para os gays e negros norte-americanos, incansáveis na luta por respeito e igualdade de direitos numa sociedade em visível transformação, mas ainda longe do ideal.
O estado de guerra prolongado no Vietnã causava um mal-estar generalizado e a crise do petróleo piorava as condições de vida da população. Pra complicar, o fim dos Beatles e a morte de alguns ícones da geração flower power (Jimi Hendrix [✩1942/✞1970], Janis Joplin [✩1943/✞1970] e Jim Morrison [✩1943/✞1971]) amplificaram em muito a sensação de desencanto, tipo "o sonho acabou".
Desta maneira, a música disco nasceu afinada com uma certa tendência ao escapismo, mas também em transe com o corpo "liberado" pela revolução sexual e com a cuca bem nutrida pelo espírito "paz e amor" dos anos 60. E funcionou, principalmente, como a trilha sonora da emancipação para os gays e negros norte-americanos, incansáveis na luta por respeito e igualdade de direitos numa sociedade em visível transformação, mas ainda longe do ideal.
Ao mesmo tempo, o rock perdia aquela aura mais dançante e psicodélica, optando por trilhar um caminho conceitual que resultaria na sua fase progressiva. Gêneros latinos e do rhythm and blues tomaram a dianteira nas pistas dos clubes do underground novaiorquino, impulsionados pela enorme presença dos negros e dos imigrantes (principalmente hispânicos e italianos).
E os DJs não se contentavam mais em "servir" as músicas para o público e sim em propor "viagens" carregadas de sentido e narrativa. Nestes clubes "sem alvará de funcionamento" e com um público majoritariamente gay, um novo verbo saiu do forno: mixar.
E os DJs não se contentavam mais em "servir" as músicas para o público e sim em propor "viagens" carregadas de sentido e narrativa. Nestes clubes "sem alvará de funcionamento" e com um público majoritariamente gay, um novo verbo saiu do forno: mixar.
Tudo parecia diferente, da forma como as pessoas se relacionavam à maneira como passaram a consumir e experimentar a música. Uma combinação explosiva de novos grooves e beats anunciava uma revolução espiritual nas pistas, que se transformavam em santuários hedonistas carregados de um erotismo transgressor e convulsivo, território expurgado de preconceitos e diferenças, onde o denominador comum era a música, apenas a música.
Sobre o disco — 2
contracapa do LP — reprodução da internet |
Em alguns casos, os direitos eram caros, em função da popularidade deste ou daquele artista, além de outros motivos contratuais. Foi assim que as brasileiras do grupo vocal Harmony Cats, que faziam muito sucesso na época, tiveram de se virar com um divertido medley de sucessos dos Bee Gees, que abre o Lado A da trilha internacional de "Dancin' Days".
Mas outros nomes bem populares como o Village People (com o hino gay, a mega dançante 'Macho Man'), Boney M. (com a "bíblica" 'Rivers of Babylon'), Linda Clifford (com a deliciosa 'Gypsy Lady') e Santa Esmeralda (com a envolvente 'The Wages of Sin') garantiram as suas faixas originais no disco.
Assim como os franceses do grupo Voyage, com a instrumental 'Scotch Machine', uma colagem meio cafona que mistura gaita de fole escocesa com alusões ao universo country, mas que não deixa de ser uma música gostosa.
Aliás, já se observa aqui um sintoma do pastiche que afastaria cada vez mais a música disco de suas origens negras e um indício da influência que o Eurodisco teria na popularização de um gênero que se mostrava inesgotável nas suas combinações e referências.
Alguns nomes desconhecidos merecem destaque: Gary Criss e a sua reverência dançante e cheia de suingue para a cidade maravilhosa na faixa 'Rio de Janeiro', um clássico vintage da gravadora Sal Soul. E a dupla de produtores canadenses Willi Morrison e Ian Guenther, que formaram o duo Grand Tour.
A faixa 'The Grand Tour' é uma joia rara da gravadora alternativa Butterfly e um deleite disco chique e harmonioso. Mas a minha faixa favorita dessa trilha está lá no final, fechando o Lado B. Muito prazer Dee D. Jackson e sua antológica e deliciosa 'Automatic Lover'!
Conclusão
Mesmo para quem não assistiu a novela — não é o meu caso, que além da exibição original em 1978, também assisti à sua reexibição em 2014, no canal Viva —, essa trilha sonora é atemporal e sem dúvidas uma das melhores do gênero já lançada pela Som Livre, o braço fonográfico do Grupo Globo. É óbvio que vai levar meu seleto selo de
- Lado A
- 'Dancin' Days Medley ('Night Fever', 'Stayin' Alive', 'You Should Be Dancin'', 'Nights On Broadway', 'Jive Talking', 'Lonely Days, Lonely Nights', 'If I Can't Have You', 'Every Night Fever')' — Harmony Cats
- 'Three Times a Lady' — Commodores
- 'Scotch Machine' — Voyage
- 'The Wages Of Sin' — Santa Esmeralda
- 'You Light up My Life' — Debby Boone
- 'The Grand Tour' — Grand Tour
- 'I Loved You' — Freddy Cole
- Lado B
- 'Macho Man' — Village People
- 'Follow You, Follow Me' — Genesis
- 'Gipsy Lady' — Linda Clifford
- 'Blue Street' — Blood, Sweat and Tears
- 'Rio de Janeiro' — Gary Criss
- 'Rivers Of Babylon' — Boney M.
- 'Automatic Lover' — Dee D. Jackson
[Fonte: Memória Globo; Teledramaturgia, original por Nilson Xavier, acessado em 14 de dezembro de 2024; Na Trilha das Novelas, originais acessados em 14 de dezembro de 2024]
Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
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