Há trinta anos, um crime brutal parou o Brasil. A vítima, uma bela e jovem dançarina, teve sua promissora carreira como atriz interrompida a golpes de punhaladas por todo o corpo.
O assassinato de Daniella Perez foi um crime que chocou o Brasil, tendo, inclusive, repercussão internacional, haja vista que além de ter sido uma morte prematura dada a pouca idade da atriz à época, com apenas 22 anos — se viva estivesse, completaria 52 anos de idade —, que estava no auge de sua carreira, não havia motivo aparente para que seu colega de profissão a executasse de forma fria, violenta e brutal.
Um enredo tão macabro que nem mesmo sua mãe, Glória Perez, autora da novela "De Corpo e Alma", trama na qual ambos, vítima e assassino atuavam à época do crime, jamais poderia ter imaginado para o seu folhetim.
Por uma questão pessoal de bom senso, resolvi não postar neste artigo, a foto do corpo de Daniella — foto essa que, numa total manifestação de desrespeito, foi exaustivamente veiculada (eu diria até, explorada) pela impressa à época e que se encontra também disponível na internet, mas sim outras de como ela merece ser relembrada.
Também por questão pessoal, resolvi não postar as fotos dos respectivos assassinos. Acredito que essas criaturas já tiveram todas as promoções possíveis para suas vidas que ainda seguem seus cursos.
A VÍTIMA
Daniella Ferrante Perez Gazolla nasceu em 11 de agosto de 1970 no Rio de Janeiro. Por ser amante das artes, acabou se tornando bailarina e atriz, tendo como trabalhos na televisão o papel de Eduarda em "Kananga do Japão" (na extinta TV Manchete, em 1989), Clô em "Barriga de Aluguel" (Globo, 1990), Yara em "O Dono do Mundo" (idem, 1991) e por último, também na Globo, a sua mais marcante e que, fatalmente seria também sua última personagem, a carismática e espevitada Yasmim em "De Corpo e Alma" (1992).
No mesmo mês e ano, Dany — como era carinhosamente chamada por sua mãe, por seu marido e seus amigos — fez a encenação da Virgem Maria no Roberto Carlos Especial.
Ao participar de "Kananga do Japão", conheceu o ator Raul Gazolla, onde ambos se apaixonaram e em 1990 casaram.
Daniella faleceu em 28 de dezembro de 1992, aos 22 anos, vítima de assassinato, quando estava no auge de sua carreira.
"Pacto Brutal" —
O documentário
Lançada no último dia 21 de julho de 2022, a série documental "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" virou um dos assuntos mais comentados nos últimos dias — tantos por aqueles que, como eu (estava com 25 anos), se lembram como se fosse hoje desse caso, quanto por muitos daqueles que, por ainda não haverem nascido, ou só ouviram falar e mesmo nunca nem mesmo ouviram nada a respeito.
Uma semana após o lançamento, a produção original da HBO Max que investiga os acontecimentos trágicos envolvendo a filha da escritora Glória Perez virou a série original mais assistida da plataforma no Brasil, além de ter se tornado trending topics no Twitter.
Lembrando que essa informação leva em conta apenas a categoria programas de TV, já que o conteúdo mais assistido nas últimas semanas na plataforma de streaming é o filme "Homem-Aranha: Sem Volta para Casa".
O Caso Daniella Perez
O documentário mostra a relação de Daniella Perez com seus companheiros de profissão, incluindo seu marido na época dos fatos Raul Gazolla, Fábio Assunção, Maurício Mattar, Cláudia Raia e principalmente seu assassino, Guilherme de Pádua, parceiro de cena da atriz na novela "De Corpo e Alma" (1992-1993), escrita por sua mãe, Glória.
A série documental ainda mostra como Guilherme agiu no crime e como sua ex-esposa Paula Thomaz também participou do assassinato.
Motivo torpe: ganância
Segundo as informações já divulgadas pela mídia e pela própria produção, o ator teria assassinado Daniella por acreditar que seu papel na novela de 1992 estava diminuindo.
Sinopse de "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez":
"Nos anos 90, Daniella Perez, uma das estrelas da novela de maior sucesso do Brasil é assassinada por seu companheiro de cena. Sua mãe se transformou em uma investigadora incansável e hoje compartilha os detalhes da sua saga pela justiça."
Vale destacar que a produção é dirigida por Tatiana Issa e Guto Barra e conta com a avaliação atual da IMDb 8,9/10. A série documental é dividida em cinco capítulos:
- 'A Noite que Nunca Acabou',
- 'Os Assassinos',
- 'Mãe Investigadora',
- 'De Onde Vieram?' e
- 'Justiça?'.
O lançamento dessa série documental, trouxe novamente à tona toda a sordidez que teve...
...O caso real
O Crime
- Todas essas informações, constam nos autos do processo do caso.
No dia 28 de dezembro de 1992, Daniella Perez, uma das protagonistas da novela "De Corpo e Alma" — a primeira escrita por sua mãe, Glória Perez, para o horário nobre —, exibida pela Rede Globo, no então horário tradicional das oito horas da noite, foi brutalmente assassinada por seu colega de trabalho e então par romântico na ficção, Guilherme de Pádua. O rapaz contou com o auxílio de sua esposa, Paula Thomaz, na execução do crime.
Após as gravações da trama, por volta das 21h, os artistas, Daniella e Guilherme, saíram juntos dos estúdios da Taicon — onde eram gravadas as tramas da emissora no Rio de Janeiro —, sendo abordados por fãs que lhes pediram foto.
Essa foi a última foto de Danny, tirada com fãs; poucas horas depois, ela seria assassinada |
No meio do trajeto, repentinamente, Guilherme parou no acostamento da via, esperando avistar o carro de Daniella Perez, haja vista que, supostamente, teria um assunto para tratar com ela.
Após alguns minutos de espera, identificou o carro de Daniella, percebendo que ela estava parando em um posto de gasolina para abastecer.
Nesse momento, Guilherme a trancou com seu carro, impossibilitando a atriz de sair com seu veículo, razão pela qual ambos desceram de seus automóveis.
Assim, reconhecendo que era seu colega de profissão, Daniella foi ao seu encontro para entender o que estava acontecendo, oportunidade na qual o ator se aproximou e desferiu um soco em seu rosto, que lhe causou um desmaio instantâneo.
Com a vítima desmaiada, Guilherme a deitou no banco de trás de seu carro e sua esposa, Paula, conduziu o veículo em direção a um matagal localizado na rua Cândido Portinari na Barra da Tijuca (RJ), ao passo que Guilherme a seguiu, rumo ao local combinado, dirigindo o carro de Daniella Perez.
Premeditação, violência e frieza
Ao estacionarem os carros, o casal levou Daniella, ainda desmaiada, para dentro do matagal e lá desferiram contra a jovem perfurações no pescoço (quatro), no peito (oito), pulmões (seis), além de perfurações em outros locais não vitais.
Em um primeiro momento, acreditava-se que a arma do crime teria sido uma tesoura, mas a autópsia constatou que o instrumento utilizado seria um objeto semelhante a um punhal.
Caso o casal tivesse usado tesoura na execução do crime ficaria com ferimentos em suas mãos, dada a posição que teriam que segurar, mas nenhum deles apresentou esse tipo de ferimento, razão pela qual a hipótese da arma do crime ter sido uma tesoura foi descartada.
Posteriormente à execução do crime, o casal parou em um posto de gasolina, pedindo que um dos frentistas lavasse bem o carro, com intuito de fazer desaparecer eventuais vestígios do ato criminoso.
Com o automóvel limpo, seguiram para casa. Ao chegarem, Paula decidiu descansar, pois estava grávida de quatro meses. Em contrapartida, Guilherme decidiu fazer uma caminhada por Copacabana, onde se acredita que ele tenha jogado a arma do crime no mar.
Repercussão e espetacularização midiática do crime
No dia seguinte, ainda acreditando se tratar de um latrocínio, a notícia de que a atriz Daniella Perez havia sido brutalmente assassinada tomava conta de toda a imprensa, e, para despistar qualquer suspeita, Guilherme compareceu ao funeral da atriz e consolou sua mãe, Glória Perez, seu marido, o ator Raul Gazolla e demais amigos presentes.
Ainda nesse dia, o casal confessou à polícia a autoria do crime. Isso porque, na noite anterior, o advogado Hugo da Silveira, ao avistar dois carros parados em um local ermo na Barra da Tijuca, anotou a placa de um dos carros, "OM 1115", e, ligou imediatamente para polícia, relatando a cena suspeita, razão pela qual dois policiais foram averiguar o que poderia estar acontecendo.
Ao chegarem, notaram que havia apenas um dos carros, o Escort de Daniella, abandonado, sem qualquer pessoa por perto. Desta feita, um dos policiais resolveu entrar no matagal, onde acabou tropeçando no corpo da atriz.
Em razão disso, no dia do velório, a polícia compareceu até os estúdios de gravação da novela, no intuito de achar algum carro Santana com a placa indicada. Entretanto, acharam um Santana de placa "LM 1115" de propriedade do ator Guilherme de Pádua, onde, no decorrer das investigações, fora descoberto que o ator alterou a placa do carro com fita isolante, ficando evidente a premeditação do crime.
O motivo do crime nunca fora descoberto ao certo, tendo em vista que primeiramente o ator afirmou que matou Daniella porque ela o assediava, mas essa versão — que inclusive foi também muito ventilada por revistas de fofoca, que inclusive não se cansaram de postar fotos dela com assassino em cenas românticas da novela — foi prontamente desmentida por colegas que acompanhavam a rotina dos dois.
Surgiu também teses do ciúme doentio que Paula tinha de Daniella com Guilherme, dado as cenas de amor que protagonizavam na novela, bem como de que o casal estava envolvido com magia negra. Tudo especulação.
Todavia, a tese que fora desenvolvida no julgamento foi a de que Guilherme estava irritado com o fato de seu personagem ter sido cortado de dois capítulos da novela e acreditava que Daniella poderia ter influenciado nessa decisão de sua mãe (escritora da novela).
O JULGAMENTO
Guilherme e Paula foram acusados de homicídio qualificado pelo motivo torpe e por terem utilizado recurso que dificultasse a defesa da vítima.
O procedimento adotado foi do Tribunal do Júri, haja vista que qualquer tese de homicídio culposo fora descartada, dada a premeditação do crime.
- Em 15 de janeiro de 1997, Guilherme de Pádua foi condenado a dezenove anos de reclusão, dos quais já havia cumprido quatro. Apesar de recorrer da sentença, sua pena foi mantida.
- O julgamento de Paula Thomaz aconteceu em 16 de maio de 1997, sendo condenada em dezoito anos e seis meses de reclusão pela coautoria no assassinato de Daniella. Apesar de sua pena-base ter sido a mesma de Guilherme, houve redução de seis meses pelo fato da ré constar com menos de 21 anos na data do fato.
Se o crime fosse cometido hoje, por sua hediondez e primariedade dos réus, o regime inicialmente fechado não seria obrigatório, mas quero pensar que seria uma unanimidade entre os juízes, dada a gravidade e as circunstâncias que permearam o crime.
Portanto, pode-se dizer que a luta de Glória Perez não foi em vão, pois endureceu significativamente o regime aplicável ao homicídio qualificado (apesar de hoje não ser mais obrigatório, nem nos crimes hediondos, que o regime seja inicialmente fechado).
Na minha modesta opinião de leigo dos meandros jurídicos, esse seria exatamente o caso do crime brutal cometido contra Daniella Perez, em que nenhum Juiz em sã consciência (embora tenha um velho ditado gaudério que diz que "de bolsa de mulher, barriga de grávida, cabeça de Juiz e pata de cavalo pode sair qualquer coisa") dispensaria Guilherme e Paula do regime inicialmente fechado.
Vida que segue... a deles, claro!
Ambos já cumpriram suas penas e estão em liberdade. Os dois, após uma troca de acusações ainda durante o julgamento do caso, acabaram se separando.
Guilherme, hoje, casado já pela terceira vez, mora aqui em Belo Horizonte, onde é um dos pastores na Igreja Batista da Lagoinha.
Paula se casou em 2001 com o advogado Sérgio Rodrigues Peixoto e mudou o nome para Paula Nogueira Peixoto. Os dois estão juntos até hoje e são pais de dois filhos. Felipe, hoje com 30 anos, o herdeiro dela com Guilherme de Pádua, foi adotado pelo padrasto e não teve contato com o pai ex-ator.
Ela se formou em Direito e atualmente tem a ficha criminal limpa. Reclusa da vida midiática, ao contrário do ex-marido que mantém contas em redes sociais, Paula chegou a recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) para tentar impedir de ser associada ao crime na imprensa e censurar uma reportagem da revista IstoÉ, em 2013.
Conclusão
Mãe-heroína
Antes do caso Daniella Perez, o homicídio qualificado não era considerado crime hediondo, e, portanto, o tratamento dado ao autor desse delito não seria tão rígido como o previsto na Lei 8.072/90.
Em razão disso, a escritora Glória Perez, mãe de Daniella, liderou um movimento que defendia a inclusão do homicídio qualificado no rol dos crimes hediondos, conseguindo, em 1994, 1,3 milhão de assinaturas para aprovação de um projeto de lei (PL) nesse sentido.
Após todo o trâmite estabelecido pela Constituição Federal, o PL chegou às mãos do então Presidente da República, Itamar Franco (✰1930/✞︎2011), o qual sancionou a Lei 8.930/94, que incluía o homicídio qualificado no rol dos crimes hediondos.
Importante frisar que tal modificação não pode interferir no cumprimento de pena de Guilherme de Pádua e Paula Thomaz, por se tratar, como dizem os juristas, de novatio legis in pejus (Um fenômeno jurídico ligado à lei penal no tempo. A expressão em latim refere-se a uma lei mais nova e mais grave do que a anterior.), não podendo, portanto, retroagir.
Termino esse texto com duas frases da Glória Perez que me marcaram muito ao longo do documentário:
"Não há vitória possível quando se perde um filho dessa maneira. Nada é vitória mais"
e
"Eles não param de matar a Dany. Todos os dias",
Como já dito acima, como se não bastasse todo o horror real do caso, falando sobre as versões mirabolantes dos criminosos, a imprensa sensacionalista (que, se valendo de fotos da novela, em que os personagens Yasmin e Bira tinham um affair, por vezes insinuava um relacionamento extraconjugal entre Daniella Perez e Guilherme de Pádua), e até mesmo as (inusitadas e frequentes) invasões e tentativas de invasão cometidas pela população no túmulo de Daniella, cujo corpo teve de ser trocado de local por duas vezes (pois o túmulo, pasmem, volta e meia era aberto, segundo Glória Perez, por curiosos querendo ver o corpo da vítima).
Por fim, cito uma outra frase marcante, dita pela saudosa e veterana atriz Beatriz Segall (✰1926/✞︎2018), que também participou da novela "De Corpo e Alma", no papel da socialite Estela:
"Eu tive o privilégio de ter a idade dela. Ela não terá o de ter a minha."
[Fonte: Canal Ciências Criminais, original por Lana Weruska Silva Castro — Pós-graduanda em Ciências Criminais — livremente adaptado por Leonardo S. Silva]
Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário