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sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

CONTÉM SPOILERS — "O SILÊNCIO DOS INOCENTES", UM CLÁSSICO DO THRILLER DE SUSPENSE, SOB ANÁLISE PSICANALÍTICA

         
"O Silêncio dos Inocentes" (disponível no Prime Vídeo e para locação via Apple e Google) é um dos meus filmes preferidos. Fui vê-lo em seu lançamento, em uma sala de cinema, do extinto Cine Palladium — que era localizado na rua Rio de Janeiro, com avenida Augusto de Lima, hoje transformado em centro cultural, o Sesc Palladium, que não só deixa saudades nos casais apaixonados como também entre aqueles que, como eu, exigem conforto e qualidade de projeção, o que falta nesses cubículos enfiados dentro dos shoppings —, depois ainda fiz a locação da fita de VHS e ainda tive a oportunidade de revê-lo em DVD.

Este é sem dúvida alguma, uma referência quando o assunto é thriller de terror psicológico desde seu lançamento, em 1991. O filme foi ganhando fama no boca a boca ao ir para os cinemas e terminou arrebatando as cinco principais estatuetas no Oscar:
  • Melhor Filme, 
  • Melhor Diretor, 
  • Melhor Ator, 
  • Melhor Atriz e 
  • Melhor Roteiro Adaptado. 
Nunca um filme que flerta com o universo do horror foi tão premiado. Muito merecidamente, diga-se de passagem.
Pois é, agora, com um conhecimento mais específico das temáticas freudianas e lacanianas, eu revi ontem a este maravilhoso longa e decidi, então, escrever este texto, mais um capítulo da minha série especial de artigos, Contém Spoilers, sobre os filmes que eu já assisti.

É bom porque


Desde então, sempre que um serial killer ganha as telonas ou inspira uma série, "O Silêncio dos Inocentes" acaba sendo citado, seja para o bem ou para o mal.

Se algum vilão exibe grande astúcia e facilidade para entrar na mente de seu adversário, a figura do psiquiatra canibal Hannibal Lecter, magistralmente interpretado pelo excelente ator Antony Hopkins é lembrada.

Jodie Foster tem de conviver com a maldição de nunca mais ter feito uma interpretação tão genial quanto a de Clarice Starling. Quando manda bem, como em "O Quarto do Pânico" (2002), certos elogios vão na linha
"um grande trabalho, que chega perto do que ela alcançou em 'O Silêncio dos Inocentes'..."
E o que esse longa-metragem tem que o coloca em tantas listas de melhores de todos os tempos, tanto em eleições sem recorte por gênero quanto em rankings de veículos especializados em terror e suspense (aí é sempre top 5, no mínimo)? Aqui vão cinco escolhas que garantem "O Silêncio dos Inocentes" no panteão de grandes obras da sétima arte.

  • Protagonistas magistrais

É curioso pensar que os papéis principais de "O Silêncio dos Inocentes" poderiam ter ficado com outros atores. Jodie Foster e Anthony Hopkins não foram as primeiras escolhas de Jonathan Demme.

O diretor gostaria de ter contado com Michelle Pfeiffer no papel de Clarice Starling, pois havia ficado impressionado ao trabalhar com a atriz em seu filme anterior, "De Caso com a Máfia".

Mas o roteiro sombrio assustou a loira. Demme então tentou Meg Ryan, que ficou ainda mais apavorada ao ler o script. Laura Dern também chegou a ser cogitada, mas Jodie Foster pulou na frente ao fazer chegar aos produtores a notícia de que tinha adorado o livro original e a personagem Clarice.

Já Hannibal Lecter foi ofertado a Sean Connery, que não quis se meter numa história tão perturbadora. Hopkins foi lembrado por ter brilhado em "O Homem Elefante" (1980) uma década antes.

Ao ler as primeiras páginas do roteiro, o galês avisou seu empresário que aquele era um dos melhores papeis que já tinha sido oferecido a ele. E sua interação com Jodie, separados pelo vidro da prisão de segurança máxima, é a força motriz do filme, com momentos de arrepiar todos os pelos do corpo.

  • Um diretor multitalentos

Demme não tinha experiência com thrillers do tipo quando procurado para assumi-lo. Ainda por cima ficou sabendo que aquela vaga tinha sido reservada para o ator Gene Hackman, que faria sua estreia como diretor — também foi sondado para fazer o guru de Clarice no FBI, Jack Crawford, mas sua filha ordenou que o pai se afastasse daquele projeto sinistro.

Demme abraçou a missão com entusiasmo e o êxito conquistado ajudou a projetar sua carreira, que já tinha realizações impressionantes, caso do concert movie Stop Making Sense, que capturou a performática banda Talking Heads ao vivo e que no ano que vem completa quatro décadas de seu lançamento.

Depois, ele dirigiu "Philadelphia" (1993), que foi um arrasa-quarteirão e se tornou o grande filme a tratar temas como AIDS e homofobia. O diretor morreu em 2017, em decorrência de um câncer no esôfago, aos 73 anos.

  • A audácia do tema

Fazer um filme sobre um assassino em série nunca é algo trivial. Ainda mais se esse assassino é alguém que se entende como mulher trans, mas foi rejeitado nos hospitais em que buscou fazer a transição por conta de seu comportamento violento.

É claro que o movimento LGBTQIAP+ não ficou nada satisfeito quando o filme começou sua ascensão nas salas de cinema e passou a colecionar prêmios. Representantes do movimento feminista também chiaram.

Em vez de celebração pela personagem de Jodie Foster se destacar num universo masculino de investigadores de alto nível, sobraram críticas pelo fato de ser uma obra em que mulheres têm suas peles arrancadas com brutalidade.

E é bem provável que se "O Silêncio dos Inocentes" fosse rodado hoje, haveria gritaria também do movimento negro. Afinal, o único preto com fala é um carcereiro que cuida da ala de Hannibal Lecter, e que pouca importância tem na história.

  • Elenco secundário e pontas espertas

O filme também deve muito aos atores coadjuvantes envolvidos no projeto. O sólido Scott Glenn ficou com aquele papel de chefe e mentor de Clarice oferecido a Gene Hackman, o do ponderado Jack Crawford. 

E Ted Levine fez o assassino Jame Gumb, o Buffalo Bill, com extrema categoria. A cena em que ele dança "Goodbye Horses", canção de Q Lazzarus, e se maquia no espelho é especialmente incômoda. Dois cineastas icônicos fazem pequenas pontas em "O Silêncio dos Inocentes": George Romero, o cara que basicamente definiu como os zumbis seriam vistos no cinema, e Roger Corman, o papa dos filmes independentes, cults e de baixo orçamento. Também há um papel de comandante da SWAT dado ao cantor Chris Isaak, conhecido pelo hit "Wicked Game".

  • As várias leituras possíveis

Um dos trunfos do streaming da Brasil Paralelo é oferecer conteúdos extras quando um filme como esse entra em sua plataforma. Dessa vez, um vídeo de 43 minutos foi produzido para ampliar a experiência de ver ou rever "O Silêncio dos Inocentes". 

Ele basicamente é um resumo do ensaio de 100 páginas que Olavo de Carvalho (✩1947/✞2022) escreveu sobre a película. Ávido entusiasta de todos os elementos em cena, ele relaciona Hannibal com a figura do diabo, Buffalo Bill como um demônio menor, Clarice como a heroína que luta contra as trevas sem se utilizar de mentiras, e Jack Crawford como o mago, o cérebro que guia sua subordinada pela jornada. 

E vários outros artigos e livros foram publicados debatendo aspectos desse sucesso de crítica e bilheteria. Quem deseja ir além tem diversas fontes para explorar o fascínio que o filme desperta, até mesmo sua continuação, rodada em 2001, prequelas (2002 e 2007) e séries de TV ("Hannibal e Clarice"), ainda que esses produtos estejam muitos degraus abaixo.

Hannibal e Clarice no meu divã


Muito além de apenas uma narrativa de suspense e terror, "O Silêncio dos Inocentes" convida o espectador a refletir sobre a natureza humana e suas infinitas peculiaridades, apresentando personagens com perfis psicológicos complexos e bem trabalhados. 

Acompanhamos a dura trajetória de Clarice Starling, a tímida, mas forte e determinada detetive do FBI, durante o desenrolar do caso Buffalo Bill. 

Seus encontros com o psiquiatra e temido assassino em série Hannibal Lecter não só a tocam profundamente como contribuem para o próprio processo de investigação criminal.

"O Silêncio dos Inocentes" é, sem dúvidas, um prato cheio para o estudo da psicologia. Repleto de nuances que trabalham a complexidade da psique humana, o filme aborda aspectos como os traços psicóticos da personalidade de serial killer, o reflexo dos traumas de infância no desenvolvimento e suas consequências na vida adulta, e questões para além do campo psicológico, como o machismo no ambiente de trabalho. 

Indo ainda mais além do que já foi citado, há presente no filme algo ainda mais delicado e complexo de se debruçar sobre: a relação entre Hannibal e Clarice.

O primeiro contato entre a detetive e o psiquiatra dá-se quando ainda há um grande distanciamento entre os dois, expresso não só pela cela que separa Hannibal da jovem, como também pela própria história, personalidade e universo de ambos. 

Os encontros, para Clarice, possuíam um único e claro objetivo: colher informações sobre o caso Buffalo Bill. Para Hannibal, a presença da detetive significava uma rotina já vivenciada por ele inúmeras vezes antes, repleta de interrogatórios, questionários e entrevistas. 

As percepções individuais de cada um dos polos envolvidos na relação, no caso, Hannibal e Clarice, refletem a história de vida de cada um, ou seja, seus modos de existir, o ser-no-mundo.

Para a fenomenologia existencial, o ser-no-mundo reflete a maneira de existir de cada ser humano, baseada em suas vivências e percepções (TEIXEIRA, 1997). As formas de existir estão atreladas a três tipos de relações: o homem com o meio que o cerca, o homem com o outro e o homem consigo mesmo. 

Trazendo para o contexto do filme, Clarice e Hannibal, com a soma de suas vivências individuais e suas vivências sociais com seus respectivos meios, se encontram na dimensão da relação eu-outro, construindo assim um vínculo inicial que se desenrolará ao longo da trama.

Conforme Teixeira (1997), o ser-no-mundo torna-se patológico quando as relações do indivíduo são infrutíferas no âmbito pessoal, ou seja, quando o ser é incapaz de adentrar seu mundo interno e estabelecer conexões saudáveis consigo mesmo. 

Partindo desse ponto, o indivíduo também seria incapaz de manter boas relações nas outras esferas (eu-outro e eu-meio). Essa dinâmica é observada em Hannibal, cujas atitudes e vivências no mundo foram conduzidas de modo a trazer sofrimento ao outro e satisfazer o próprio desejo.

A incapacidade do indivíduo de tecer uma reflexão sobre as próprias atitudes ao relacionar-se consigo mesmo levaria à incapacidade desse mesmo indivíduo de se relacionar com o meio e com outras pessoas. 

Dessa forma, o primeiro encontro entre os dois personagens é permeado pelo fenômeno patológico de Hannibal, que se manifesta na relação através de comentários irônicos, sarcásticos e até mesmo ameaças contra a detetive. Essa dinâmica de relação pouco a pouco sofre alterações. 

De encontro a encontro, Clarice e Hannibal fortalecem o vínculo e passam a enxergar além dos rótulos de detetive e assassino para enxergarem a essência de cada um, o ser-no-mundo como ele é. Para isso, um elemento mostra-se indispensável.

De acordo com Silva (2013), o diálogo é a base para que a relação eu-outro seja construída e se desenvolva de maneira saudável. Sem a presença de uma relação dialógica, a dimensão eu-outro é ineficaz e não gera frutos. 

Como observado no filme, os diálogos entre Hannibal e Clarice, apesar de serem poucos e acontecerem em curtos períodos de tempo, servem como uma ponte entre o muro que os separa. 

A aproximação entre os dois personagens atinge o ápice quando o psiquiatra pede que a jovem conte sobre sua infância e seus traumas — dessa maneira, o rótulo "detetive" é substituído pela pessoa Clarice, e o foco da relação acontece no encontro entre duas pessoas, muito além do significado social da existência de ambos.

Conclusão


Sem dúvidas, há uma complexidade de relações intra e interpessoais que são trabalhadas em "O Silêncio dos Inocentes", e são inúmeras as possibilidades de interpretação dos personagens e eventos da trama. A aproximação de Hannibal e Clarice, inusitada pela diferença de valores e preceitos de cada um, convida o espectador a refletir.

O filme evidencia que, por mais diferentes que sejam os indivíduos, um encontro é possível – e a relação sempre terá como resultado um produto capaz de tocar a essência de cada sujeito que esteja em interação. Ser-no-mundo é individual e intrapessoal. 

Ser-com é um convite para o encontro, para o estabelecimento de relações interpessoais. E as duas maneiras de existir se completam para formar um produto que é dotado de possibilidades: o ser humano, com seus fenômenos e complexidades, capaz de transformar e de ser transformado.

O filme teve uma cópia praticamente escondida lançada pela Criterion, com 30 minutos a mais. Gerou também "Hannibal" (de Ridley Scoth, 2001) como sequência, e "Dragão Vermelho" (de Brett Hatter, 2002), prequel ambientada após a captura de Lecter. 

Uma série de TV também foi produzida, mas nenhum dos exemplares citados se aproximou da representatividade que o filme de 1991 teve, tamanho sucesso deste expoente clássico da condição frágil e também destrutiva do ser humano. Obviamente vai receber meu seleto carimbo de

Ficha técnica

  • Título original: "The Silence of the Lambs"
  • Direção: Jonathan Demme
  • Elenco: Jodie Foster, Anthony Hopkins, Ted Levine, Scott Glenn
  • País: EUA
  • Ano: 1991
  • Gênero: Suspense; Terror
[Fonte: Gazeta do Povo, original por josé Flávio Júnior; (En)Cena, original por Breno Leonardo. Referências Bibliográficas: FEIJOO, Ana Maria; MATTAR, Cristine Monteiro. A Fenomenologia como Método de Investigação nas Filosofias da Existência e na Psicologia. Psicologia: Teoria e Pesquisa; Out-Dez 2014, Vol. 30, n. 4, pg. 441-447. SILVA, Edna Maria. O ser na relação com o outro. Revista de Psicologia, Edição I. pg. 123-124, 2013. TEIXEIRA, José A. Carvalho. Introdução às abordagens fenomenológica e existencial em psicopatologia (II): as abordagens existenciais. Análise Psicológica, 2 (XV). pg 195-205. 1997.]

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Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blogue https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
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E nem 1% religioso.

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

OS "HERÓIS DESCONHECIDOS DA BÍBLIA" — ANANIAS, O HOMEM QUE OROU PARA OFICIALIZAÇÃO DE SAULO DE TARSO AO MINISTÉRIO APOSTÓLICO

"E Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo" (Atos 9:17).
Atendendo aos pedidos dos meus fiéis leitores e seguidores do blogue Conexão Geral, retomo à série especial de artigos com as biografias de alguns homens e mulheres que tiveram participações fundamentais nas histórias de personagens importantes, entretanto, não são muito lembrados pela maioria dos expoentes da Bíblia.

Tive que voltar a pesquisar para retornar à série e neste capítulo vou enfocar a história de "herói solitário", que mesmo tendo tido uma importante participação na história do grande herói Paulo, não recebe a merecida e devida atenção. Falo de Ananias, o homem com imposição de mãos, para inserção e oficialização de Saulo de Tarso ao exercício do ministério apostólico.

A História que ninguém conta

Damos muita atenção à conversão de Saulo de Tarso, mas damos pouca consideração para aquele que o ajudou a obedecer a Cristo, cujo nome é Ananias. Talvez pelo fato do livro de Atos não dar muita atenção a Ananias, é compreensível que nós também não demos. 
Afinal, foi Saulo que o Senhor queria converter, e foi Saulo que Deus pretendia que pregasse aos gentios. Apesar disto, há muitas boas lições a serem aprendidas deste personagem mais obscuro. Primeiro, vamos aprender alguns fatos a respeito de Ananias.
Ao ler Atos dos Apóstolos encontramos vários personagens com histórias inspiradoras. Por isso, entre tantas narrativas, escolhemos conhecer quem foi Ananias na Bíblia, isto é, quem era o homem que orou por Paulo?

A Bíblia menciona diversos personagens com esse nome. Dentre estes, os mais conhecidos são dos dois homens citados no livro de Atos dos Apóstolos:
  • Ananias, marido de Safira (5:1-11);
  • Ananias, o sumo sacerdote (22:5; 23:2);
e o nosso personagem desse texto,

  • Ananias, o homem que orou por Saulo/Paulo.

Apesar de a Bíblia não fornecer quase nenhum detalhe sobre a biografia de Ananias, o apóstolo Paulo, dando testemunho dos eventos envolvidos em sua conversão, descreve-o como um homem 
"piedoso conforme e Lei, tendo bom testemunho de todos os judeus" 
que moravam em Damasco (22:12-16).

O nome Ananias é a forma grega do hebraico Hananiah, que significa “Javé tem sido gracioso”. No Antigo Testamento esse nome aparece em sua forma hebraica, enquanto que no Novo Testamento ele aparece em sua forma grega.

Embora esse servo de Deus apareça poucas vezes na Bíblia, sua fé e coragem em momentos cruciais deixam um legado para nós. Vamos conhecer a atitude de um homem que demonstrou obediência a Deus, cuidado e compaixão pelos outros e uma confiança inabalável em Seu poder.

Com essa passagem rápida sobre a vida de Ananias e sua fé, podemos receber coragem para enfrentar a nossa própria jornada de fé e receber inspiração para seguir o exemplo dele.

Quem foi Ananias na Bíblia?


A Bíblia não mostra tudo sobre a vida de Ananias, sabemos apenas de acordo com Atos 9:10 que ele vivia na cidade de Damasco.

Além disso, as informações que chegaram até nossos tempos, é de que 
"era temente a Deus, segundo a Lei, e tinha bom testemunho de todos os judeus que ali habitavam" (22:12).
Todavia, conhecemos a sua atuação na igreja primitiva quando Paulo se converteu ao cristianismo. Ananias entra para a história do evangelho a partir da oração do batismo de Paulo de Tarso (9:17-19).

Segundo o relato bíblico, Ananias era um discípulo em Damasco e teve uma visão de Jesus, que lhe disse para ir a uma determinada casa em Damasco e orar por um homem chamado Saulo, que estava cego e havia tido uma visão de Jesus.

Inicialmente, Ananias ficou relutante em ir, pois ouviu falar o quanto Saulo estava perseguindo os cristãos. Mas Jesus lhe garantiu que Saulo havia se convertido e que faria dele um instrumento para levar o evangelho aos gentios. (22:3-11; 26:9-18).

Mesmo temeroso, ele foi à casa de Judas, onde Saulo estava hospedado, e orou por ele, impondo-lhe as mãos, e Saulo recuperou a visão.

Ananias também batizou Saulo, que posteriormente mudou seu nome para Paulo e se tornou um dos maiores apóstolos do cristianismo, pregando o evangelho em todo o mundo conhecido na época (9:10-19; 22:12-16)

Qual era o contexto histórico neste período


Esses fatos se deram na primeira metade do primeiro século d.C., quando os romanos governavam a região da Judeia e da Galileia. Na época, os líderes religiosos do povo judeu eram os fariseus e os saduceus, que mantinham uma aliança precária com o governo romano.

O cristianismo, portanto, estava apenas começando a se espalhar na região e muitos judeus e líderes religiosos viam os seguidores de Jesus como uma ameaça ao judaísmo tradicional e à ordem social.

E Saulo, antes de sua conversão, era um fariseu que perseguia os cristãos com a autoridade do sumo sacerdote em Jerusalém. A conversão de Saulo ao cristianismo, seguido pela pregação do evangelho aos gentios, foi um evento significativo na história do cristianismo primitivo.

Por meio de seus escritos e viagens missionárias, Paulo se tornou um dos líderes mais influentes do movimento cristão e suas cartas formam uma parte significativa do Novo Testamento da Bíblia.

O que podemos aprender quando entendemos quem foi de Ananias?


Há algumas lições que podemos aprender com a história de Ananias na Bíblia, por exemplo:
  • Obediência a Deus

Ananias foi obediente ao chamado de Deus, mesmo quando isso o levou a fazer algo que parecia arriscado e desconfortável. Ainda assim, ele escolheu confiar no Senhor e obedecer à Sua vontade.
Coragem

Ele também demonstrou coragem quando se dispôs a ir à casa de um homem que foi um perseguidor dos cristãos que muitos tinham medo dele na comunidade cristã. Ele estava disposto a enfrentar o risco de morrer por causa da sua fé.

  • Cuidado e compaixão

Saulo ficou cego no caminho de Damasco após a visão que teve de Jesus. E Ananias demonstrou cuidado e compaixão ao orar por ele. Mesmo que ainda estivesse com receio de tudo não passar de uma armadilha, Ananias creu em Deus e impôs as mãos sobre ele para orar.

  • Importância da oração

Essa história destaca a importância da oração e da intervenção divina em nossas vidas. Foi através da oração de Ananias que Saulo recuperou a visão e se tornou um seguidor de Jesus.

Conclusão


Uma observação final: Nunca foi dada a Ananias uma anotação especial pelos escritores por seu papel corajoso. Jesus jamais disse, 
"Quando o evangelho for pregado, Ananias será lembrado". 
De fato, depois do seu papel na conversão de Saulo, nunca mais ouvimos falar dele. 

Na verdade, isto não é incomum. Deus não tem superheróis a quem se dá tarefas extraordinárias enquanto os outros menos conhecidos não tem um papel significante no seu reino. 

O que dá significado a qualquer um de nós é que Deus nos conhece, e que Ele nos salvou pela sua graça. Uma vez que somos salvos, simplesmente nos juntamos à multidão de outros servos que se entregaram para fazer a vontade do Mestre. 

O discipulado não é sobre proeminência nem glória. Há muitos Ananias no reino de Deus — os homens e mulheres que terão a oportunidade de glorificar a Deus na época e no lugar em que eles existem. 

Usemos estas oportunidades, não com um sentimento de orgulho ou ambição vã, mas com a atitude que o Senhor nos ensinou: 
"Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: 'Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer'" (Lucas 17:10).
[Fonte: Biblioteca do Pregador, original por Josiane Silva; Estudos Bíblicos, original por Mike Bozeman]

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sábado, 25 de janeiro de 2025

DIRETO AO PONTO — A IMPORTÂNCIA DO LEGADO CRISTÃO

“Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo” (Colossenses 3:23,24). 
Infelizmente, temos a terrível tendência de esquecer facilmente os bons feitos das pessoas por nós. Só damos um pouco de importância, quando elas estão conosco. O ser humano tem uma enorme facilidade em guardar na memória aquilo que foi ruim, esquecendo e/ou ignorando aquilo que de fato é relevante, indo, frontalmente, contra o que nos ensina a Bíblia:
"Quero trazer à memória o que me pode dar esperança..." (Lamentações 3:21).
Pensando nessa triste, porém frequente realidade, me veio a inspiração para o texto desse artigo, mais um capítulo da minha série especial Direto ao Ponto.

Falando sobre o legado


O legado cristão é um conceito profundo e multifacetado que abrange a herança espiritual, moral e cultural deixada por Jesus Cristo e seus seguidores ao longo dos séculos. 

Essa herança não se limita apenas a doutrinas e ensinamentos, mas também se estende a práticas, tradições e valores que moldaram a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. 
O legado cristão é, portanto, um conjunto de princípios e ensinamentos que orientam a vida dos cristãos, influenciando suas decisões, comportamentos e interações sociais. 
A compreensão do que é legado cristão envolve a análise de como esses ensinamentos foram transmitidos através das gerações e como eles continuam a impactar a sociedade contemporânea.

Mas afinal… qual a diferença entre legado e herança?


Geralmente os pais se orgulham de poder deixar para seus filhos patrimônio ou estabilidade financeira, o que chamamos de herança, que tem como característica bens materiais, dinheiro, etc…

Já o legado é um conjunto de princípios que os pais deixam aos seus filhos que vão nortear o seu comportamento ao longo da vida. 

Legado, portanto, é algo intangível, que não se acumula e não se mensura por meio de dinheiro, quantidade de hectares, ou qualquer outro bem material.
Eu e a saudosa pastora Lucinha
Eu, particulamente sou eternamente grato ao muito que aprendi com as saudosas pastoras Rosângela e Lucinha, ambas que já dormem no SENHOR e que tiveram, respectivamente, participações importantíssimas na minha trajetória  cristã, desde o meu novo nascimento em Cristo, fato divisor da minha história, há exatas três décadas. São registros que estão indelevelmente impressos em minha memória.
A Palavra de DEUS diz no Salmo 112:1,2 que 
"bem-aventurado o homem que teme ao SENHOR e tem prazer nos Seus Mandamentos. A sua descendência será poderosa na terra; será abençoada a geração dos justos".

Entendendo a importância do legado


O propósito deste artigo é reafirmar que a nossa geração de pais e avós tem o compromisso de deixar um LEGADO de FÉ e ESPERANÇA para as próximas gerações, a geração de nossos filhos e netos!

Ouvi recentemente de um educador dizer: se não valorizarmos os professores do Ensino Fundamental, o Brasil não terá o desenvolvimento que esperamos na próxima geração. Se começarmos a melhorar o preparo dos professores agora e pagarmos melhores salários, começaremos a colher os resultados daqui a 20 anos!

Contextualizando para o Reino de Deus: se os pais não fizerem seu papel de principais educadores e se não valorizarmos os professores de nossas crianças hoje na Igreja, não teremos uma Igreja firmada nos princípios e valores do Evangelho de Jesus Cristo. O futuro de fé e esperança de nossos filhos e netos começou ontem quando nasceram e continua hoje.

Tudo o que fazemos pela formação do caráter de nossos filhos e, particularizando, das crianças da Igreja, deve ser feito com amor, dedicação, de todo o coração, com competência e propósito de marcar sua personalidade com um legado de fé e esperança em Deus, como se estivéssemos fazendo para o próprio Deus.

Nosso Pai celestial não deixou herança ou legado patrimonial ou material — embora seja isso o que busque grande parte dos atuais cristãos —, mas nos deixou legado moral, ético, de humildade, de fé e esperança em Deus.

Há vários aspectos de LEGADO que devemos deixar:

  • 1. Legado Moral

Todos nós deixaremos rastro da passagem pela terra na memória dos familiares, parentes e amigos, bom ou mau. Os mais importantes são o legado moral, afetivo e espiritual que vamos deixar.

O rei Jeorão (Israel) morreu e ninguém lamentou a sua morte — 2 Crônicas 21:20: 
"... Morreu sem que ninguém o lamentasse..."
disse se sobre ele as Escrituras. Na tradução ARA diz: 
"...E se foi sem deixar de si saudades!"
É precioso o legado que recebemos de valores que vão influenciar nosso caráter na conduta com as pessoas, no relacionamento familiar, nas amizades, nos negócios, na profissão, na honestidade para com as leis, etc.;

De fato, é o que salta aos olhos ou se destaca em primeiro lugar ao observarmos uma pessoa, seja criança, jovem ou adulto: a sua conduta ética e moral!

Esse é o legado principal que queremos deixar para nossos filhos e netos. Não adianta nada dizer que é crente em Jesus se for pessoa desonesta que sua conduta moral não condiz com sua fé.

  • 2. Legado cultural

É muito triste o povo que não dá valor à sua própria cultura e à sua História. É como uma pessoa que não tem memória, que não se lembra de nada, que não dá valor ao seu passado de lutas e conquistas. 

O respeito aos dois principais símbolos da Pátria — o Hino Nacional e a Bandeira brasileira — aos valores culturais, a valorização da língua-mãe, o Português, a exaltação de sua beleza, os feitos de nossa história não podem ficar esquecidos, relegados, abandonados. Precisam ser valorizados pela Família, Igreja, Escola e Sociedade através de cada um de nós. Não pode ser só em desfiles militares!

Em muitos encontros e eventos do círculo evangélico, dá-se uma enorme ênfase aos símbolos da cultura de Israel, não há nada de errado nisso, porém a mesma importância deve ser dada ao nosso momento cívico-espiritual, cantando juntos, se possível for, o Hino Nacional brasileiro, realizando com solenidade e respeito o hasteamento da Bandeira brasileira ladeada e fazermos a oração de intercessão pela Família, pela Igreja e pela Pátria: é a reafirmação do legado cultural que precisamos deixar!

  • 3. Legado espiritual

É infeliz a pessoa que não tem fé. Não tendo fé, não tem esperança. Não tendo esperança, perde-se a visão do futuro.

A Bíblia diz que somos HERDEIROS de Deus em Cristo Jesus. Como filhos de Deus, recebemos o legado espiritual — Romanos 8:16,17 diz: 
"O próprio Espírito Santo testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus. Se somos filhos, então somos herdeiros; herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo, se de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória".
Cristo nos deixou o LEGADO: 
  • (a) de amor — Jesus ao jovem rico: "'Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento' e 'Ame o seu próximo como a si mesmo'" - Lucas 10:27
  • (b) de fé — Jesus disse a Jairo: "Não tenha medo; tão-somente creia, e ela será curada"
  • (c) de esperança — Jeremias 17:7: "Feliz é o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor"; João 11:23: Jesus disse para Marta: “Teu irmão há de ressuscitar!”; depois v.25 e 26: "Disse-lhe Jesus: 'Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá e todo que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto?'”.
Tudo na vida é passageiro, é efêmero e, como disse Salomão, tudo é vaidade. Somos seres espirituais e eternos. O espírito não morre; é eterno. A vida com Deus não termina aqui com a morte física. O legado como exemplo ficará na memória dos que convivem conosco;

Temos vida eterna se como herdeiros de Deus em Cristo Jesus. A aceitação do sacrifício de Jesus Cristo é a garantia de nosso legado espiritual nos céus.

  • 4. Legado patrimonial

Quando se fala em herança ou legado, pensa-se na herança patrimonial ou material. O que deixar para os herdeiros, os filhos? Sem dúvida, é importante ter-se esta preocupação como amparo à descendência, mas não pode ser a mais importante. 

Herança patrimonial ou material pode se acabar, se esvair, ser dilapidada, ser extinta se o herdeiro não cuidar bem dela, ou não a preservar. Tudo o que se construiu em bens materiais pode se acabar em pouco tempo.

  • 5. Legado de amor

O exemplo de amor e harmonia do casal de pais e entre pais e filhos é o legado que não tem preço que se pague. Prezamos os valores da família baseados na Palavra de Deus, a Bíblia: a legítima união entre um homem e uma mulher pelo casamento, os laços de afeto, de respeito, de mutualidade, de solidariedade, de cumplicidade, de amor entre o casal e que refletem nos filhos como um legado.
O mundo precisa de amor! A Igreja precisa ser vista e conhecida como o povo que se ama, como exemplo de amor ao mundo perdido.
A maior carência do homem não é de alimento nem de bens materiais, mas de amor. Amor solidário, amor ágape, amor nobre suprem o alimento e os bens materiais. A pessoa que ama proverá o alimento para os seus filhos e sua descendência e para o próximo.

  • 6. Legado de esperança de um futuro melhor

O que você espera de seu futuro? O que Você projeta para o futuro de seus filhos? Há um legado de esperança embutida nesse futuro, ou você vive se queixando de tudo e de todos? Jesus disse que "o mundo jaz no maligno". Por isso Jesus orou pelos seus discípulos — entre os quais nós nos incluímos — Jo 17:15: 
"Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno".;
Nossa esperança no futuro melhor está unicamente em Deus e na Pessoa de Seu Filho, Jesus — 16:33:
“Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo”.
e:
"Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também" (14:1-3).
Os governantes passam e nós podemos nos decepcionar com eles, mas a Palavra do Senhor permanece para sempre! É em Deus que devemos confiar! Por isso, nosso alvo deve ser em deixar para nossos filhos, netos e bisnetos um legado moral, cultural, espiritual, de amor, fé e esperança.

Conclusão


Concluindo, leitores, para muitos, podemos ser chamados de "caretas" e ultrapassados, mas é nesta filosofia bíblica de vida que cremos viver, nos pautamos e queremos deixar como legado aos nossos filhos: um legado moral, cultural, de amor, espiritual de fé e esperança num futuro melhor com Deus!

Por fim, o legado cristão é uma chamada à ação. Os ensinamentos de Jesus não são apenas para serem estudados, mas também para serem vividos. O chamado para fazer discípulos, servir aos necessitados e viver de acordo com os princípios do Reino de Deus é uma responsabilidade que cada cristão carrega. 

Essa ação não apenas reflete o que é legado cristão, mas também é uma forma de perpetuar essa herança para as futuras gerações, assegurando que os valores e ensinamentos de Cristo continuem a ressoar e a impactar o mundo.

Se esta palavra falou ao seu coração, ore no sentido de reafirmar seu compromisso com Deus de deixar um LEGADO de FÉ e ESPERANÇA para a geração de seus filhos e netos! 

Que Deus nos abençoe como Igreja para deixarmos um legado de fé e esperança para nossos filhos e sua descendência!

[Fonte: IEVY, original por Pr. Ageo Silva; Ministério Cristão Alfa e Ômega; Livro "O Absoluto Frágil: ou por que Vale a Pena Lutar Pelo Legado Cristão?", Slavoj Žižek, 160 páginas, Editora Boitempo Editorial, 2015]

Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
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