Escrevo este artigo atendendo ao pedido do seguidor e colaborador do blog, Erickson Hernandez Constantino, 27 anos, um brasileiro de Colatina, ES, residente na cidade de Aveiro, em Portugal (a identidade dele é dada com o devido consentimento). Devo confessar que falar sobre este assunto para mim é um grande desafio já que não sou espectador — POR MOTIVO ESPECÍFICO E PESSOAL DE OPÇÃO, FRISE-SE — do tal programa, tendo assistido única e exclusivamente à primeira edição, isso há mais de 20 anos atrás.
Entretanto, como não costumo negar a um pedido de meus amados seguidores, que me dão o privilégio em colaborarem comigo nesse meu cantinho e uma das razões para qual eu ainda o mantenho, eis, então, meu posicionamento despretensioso, mas sincero, não especificamente sobre essa edição atual do "Big Brother Brasil", mas, sobre o contexto geral do formato desse chamado reality show — e seus "clones" correlatos — que, ao que parece, está longe de sair da grade da principal emissora de TV aberta do Brasil.
Entretanto, como não costumo negar a um pedido de meus amados seguidores, que me dão o privilégio em colaborarem comigo nesse meu cantinho e uma das razões para qual eu ainda o mantenho, eis, então, meu posicionamento despretensioso, mas sincero, não especificamente sobre essa edição atual do "Big Brother Brasil", mas, sobre o contexto geral do formato desse chamado reality show — e seus "clones" correlatos — que, ao que parece, está longe de sair da grade da principal emissora de TV aberta do Brasil.
Confirma-se a "profecia" de Orwell
É difícil encontrar um brasileiro que não conheça o "Big Brother Brasil". Mesmo que a pessoa não assista ao programa, o reality show continua sendo tão popular que há sites de notícias dedicados somente a ele, matérias escritas diariamente e opiniões divergentes sobre a qualidade do programa.
Goste ou não, o "Big Brother" faz, de alguma forma, parte da programação televisiva brasileira, tanto que este ano chegou à sua vigésima segunda edição. Mas mesmo depois de tantos anos, muitos não sabem ou não leram o livro "1984", de George Orwell, que inspirou o reality show.
Embora eu já tenha escrito um artigo aqui no blog especificamente sobre este magnífico livro (➫ aqui), vou dar aqui, a título de contextualização, um resuminho, um spoiler, para quem ainda não teve a oportunidade em lê-lo.
A primeira edição do programa aconteceu em 1999, quando o executivo John de Mol teve a ideia de criar um reality show onde pessoas comuns seriam selecionadas para conviver dentro de uma casa completamente vigiada e sem nenhum contato com o mundo externo.
E é justamente num cenário como este embora muito mais drástico, que começa a história de "1984". Somos introduzidos ao mundo da Oceania através de Winston, um funcionário público que começa a questionar seu trabalho, o sistema em que vive e o papel das pessoas nele.
A Oceania é uma sociedade totalitária governada pelo "Grande Irmão" ou "Big Brother", uma figura de bigodes, líder do partido, que se materializa apenas nas câmeras que vigiam os cidadãos 24 por dia, até mesmo dentro de suas casas.
O "Grande Irmão" nunca erra. O trabalho de Winston é destruir todas as evidências de que ele esteve errado em algum assunto. Explicando melhor: Winston trabalha no Ministério da Verdade, onde sua função é "corrigir" tudo o que foi publicado na imprensa, livros ou qualquer lugar sobre todos os assuntos.
Ou seja, diariamente, Winston "muda o passado". Se o Grande Irmão disse ontem que o preço do café era x, mas no dia seguinte o preço passou a ser y, o trabalho de Winston é colocar nos jornais e registros anteriores que o preço do café sempre foi y.
Com este exercício diário, os cidadãos da Oceania perdem aos poucos sua identidade. Não conseguem lembrar-se de nenhum detalhe do passado e não têm parâmetros para contestar a sua situação atual.
Em certo ponto, eles esquecem até mesmo que podem contestar. Winston, no entanto, ainda pode lembrar-se de elementos de sua vida anterior que não condizem com sua realidade atual e com o que é dito do passado.
Com esta angústia o consumindo, Winston arrisca-se em um ato criminoso: começa a escrever um diário. Sim, na Oceania, eternamente vigiada pelo Grande Irmão, pensar e refletir são "crimes do pensamento". A nova língua que está sendo desenvolvida nesta sociedade quer eliminar conceitos que possam dar brecha para contradição. O sexo e o amor são proibidos. Ter desejos é proibido.
O título do livro, "1984", inclusive, vem da incerteza de Winston: Em que ano estavam? Baseado em cálculos imprecisos e lembranças escassas de sua infância, Winston deduz que estão no ano de 1984. Mas não tem como ter certeza, porque qualquer registro disto já foi destruído ou "corrigido".
Mas é claro que Winston não era a única pessoa insatisfeita na Oceania. Nem a única que queria fazer alguma coisa para mudar, mesmo sentindo-se impotente frente ao "Grande Irmão". É ai que Winston conhece a personagem Julia. Militante do partido, exemplar na suas obrigações, Julia é uma rebelde em segredo.
Com ela, Winston descobre os prazeres do sexo e de desobedecer as regras do partido. Com Julia, ele descobre que não é o único na Oceania que odeia o Grande Irmão. E este é apenas um pequeno trecho do que é "1984".
Com linguagem simples e prosa dinâmica, George Orwell trata neste livro de temas complexos de uma forma muito clara. Em algumas partes, seus dizeres são como uma navalha. Ele descreve situações e "grandes verdades" como se qualquer pessoa pudesse fazer o mesmo, tamanha é a precisão com que ilumina os "podres e angústias" humanas. O livro foi publicado em 1949 e já é considerado um clássico da literatura universal.
Mesmo sete décadas depois de sua publicação, "1984" continua sendo uma leitura atual, precisa e afiada (como uma navalha). Mais atual ainda quando pensamos que todos os anos há uma tentativa de reproduzir a sociedade descrita no livro em vários países, todos sob os olhos vigilantes do "Big Brother".
De "1984" para o "BBB"
Freud explica?
O programa televisivo "Big Brother Brasil (BBB)" é conhecido por proporcionar o aumento da visibilidade da maioria de seus participantes.
Quem entra na "casa mais vigiada do país" – slogan como é conhecido o local onde os integrantes de cada edição permanecem confinados durante cerca de 3 meses –, costuma ver o número de seguidores e fãs aumentar significativamente nas redes sociais.
Como tem acontecido já há duas longevas décadas, a 22ª edição do tal "BBB" já está no ar e o público consumidor desse programa já está preparado para os apelidos criativos dos casais, a alternância de amor e ódio por determinados participantes e, claro, ouvir sobre o reality em casa, no trabalho, na faculdade, na feira, na fila do banco, na fila do pão... e até na igreja!
Medindo as doses
Entretanto, se você faz parte do grupo dos que odeiam o programa – e não se cansam de exaltar sua opinião contrária –, entenda que tal atitude não lhe torna uma pessoa melhor.
Pelo contrário. De acordo com os especialistas em psicologia comportamental, alardear todo ano a sua indignação com a atração só mostra uma coisa: você se identifica com ela de alguma forma.
Eles dizem que quem se importa em denegrir os assuntos relacionados ao "BBB", certamente, vê em algum dos personagens – sim, pois, fala sério, você não acredita que haja mesmo um resquício sequer de realidade naquilo é mostrado ali – da edição algo que reconhece em si mesmo e não suporta ver exposto.
Afinal, traições entre amigos e casais, inveja, tudo isso provoca autoconhecimento e é o que as pessoas não querem.
Ainda de acordo com os especialistas em seus ensaios sobre psicologia cognitiva comportamental, alguns indivíduos têm a sensação de que, ao emitir um parecer ofensivo sobre algo, são superiores.
É como se ao falar mal eu negasse pertencer àquilo. Mas, afinal, se não diz nada para você, não deve perturbar e, portanto, é só mudar de canal e seguir a vida – aliás, não dá pra entender o porquê de que muitos simplesmente não fazem isso.
Examine-se, pois, a si mesmo
Em vez de tentar convencer o outro de que o programa é ruim, questione o motivo de se sentir tão incomodado com o que acontece lá.
Vejo que a internet e suas tais redes sociais dão mais espaço para o depósito de "lixos" pessoais e a manifestação do lado narcisista.
As pessoas gostam de mostrar que são intelectuais e, por isso, precisam opinar – algumas delas com textões recheados de palavras rebuscadas, das quais, muitas vezes, o próprio escritor desconhece completamente o significado – e deixar claro que não se deixam influenciar pela massa, já que o "BBB" é popular.
Esses indivíduos não pensam no outro ao ofender, apenas em si mesmos.
O "BBB" simplesmente não é digno da minha preocupação
Com uma mudança apenas em seu elenco, o enredo em todas as edições do "BBB" é sempre o mesmo: sexualidade de algum participante sendo questionada em rede nacional. O resultado? Sua permanência – compulsória – ou saída (tudo dependerá do termômetro de aceitação ou repúdio do personagem escolhido: o público! – do programa.
Dependendo de como se comporta esse termômetro, o personagem se torna o mocinho ou vilão da trama, podendo mesmo ser, então, como dizem, "cancelado" (que, neste contexto, significa ser expulso).
E essa construção do cancelamento ou de expulsão não começou ontem. Ela começou lá atrás, quando a emissora chamou a atenção pelo o seu engajamento na diversidade dentro da casa do "BBB".
Só que, baseado nos comentários que invadem a internet como uma nuvem de gafanhotos em uma plantação, as edições desse programa têm demonstrado como a manutenção dessas discriminações (crimes) adoece a todos aqueles considerados a classe minoritária da sociedade.
Tanto nós, negros e não negros; como a luta secular pela manutenção de espaços de poder faz com que corpos que não reflitam, minimamente, os padrões eurocentrados sejam compelidos a se retirar da vida em sociedade; como, por exemplo, somos o país mais inseguro para a população LGBTQIA+ viver no mundo.
Estamos adoecidos, atentos à televisão, sem conseguir enxergar nossa própria face.
Julgamos e condenamos comportamentos, sem pensarmos na subjetividade de cada um – entendendo-a como o espaço íntimo de cada ser, aquele lugar onde opiniões são formadas, com base no que nos é dito/imposto – e como, a partir disso, nos relacionamos com o mundo externo.
Conclusão
Em ruínas, ainda somos incapazes de reconhecer que em nossa sociedade a tolerância de uma pessoa é construída através de mimetismos – adaptações físicas e comportamentais que somos obrigados a fazer para que possa transitar pelos espaços aos quais estamos predominantemente inseridos, em consonância com seu nicho social.
O que quer dizer que, ainda que uma pessoa venha a se tornar reconhecida, inerte, assisti a mais um episódio de bifobia, onde, por exemplo, a orientação sexual de alguém é confortavelmente questionada.
Ao apagar dos holofotes midiáticos, ou seja, ao término de mais uma temporada do reality, adoecidos, seguidos e seguidores são retirados de cena, voltando novamente para o limbo do ostracismo existencial.
Enquanto isso, a história e atuação de movimentos ditos sociais que há muito dizem lutar pelos direitos humanos dessas pessoas é colocada em xeque, como se ali estivessem militantes da causa.
Desconsiderando a origem típica de um reality show, a discussão de temas importantíssimos para construção de um avanço social entra nos lares brasileiros completamente distorcida e não fundamentada.
A cada edição do "BBB", o país que orgulha-se em ser conhecido mundialmente por sua diversidade, fazendo disso seu lobby político e ideológico, escancara a todos, invariavelmente, que não sabe conviver com ela.
Demonstra que a inclusão da diversidade não será realizada sem que seja compreendida de forma interseccional – analisando gênero, raça e classe como elementos de uma só equação – e realizada do micro para o macro, do espaço privado de cada um para os espaços públicos.
Enfim vejo com tudo isso que na verdade, estamos doentes e adoecendo uns aos outros há anos. Precisamos agir e isso no nada fácil e desafiador cenário da vida real.
[Fonte: Olhar Conceito, por Stéfanie Medeiros]
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.