Se nas últimas três décadas, você não estava fora do planeta, se você não era surdo, ou não estava hibernando, certamente escutou essa música que é o tema de mais um capítulo da minha série especial de artigos "Canções Eternas Canções".
Acho que até os índios enfiados nos cafundós da Amazônia identificam o bandolim desse hit que catapultou o R.E.M., uma banda alternativa, para o sucesso em nível mundial.
Acho que até os índios enfiados nos cafundós da Amazônia identificam o bandolim desse hit que catapultou o R.E.M., uma banda alternativa, para o sucesso em nível mundial.
Para quem viveu a década de 90, mais precisamente no ano de 1991, que foi o seu lançamento, em qualquer idade, 'Losing My Religion' não foi uma música simplesmente. Ela foi, sem dúvida, uma das músicas mais tocadas nas rádios de toda a década.
Foi um evento, verdadeiramente. Rompendo as barreiras das canções amorosas, fugindo do lugar-comum do enaltecimento da pessoa amada, ou das repetições de juras de um amor eterno.
Presente no álbum "Out Of Time", sétimo da discografia do R.E.M, 'Losing My Religion' é a música mais popular da banda, tendo sido presença frequente nas paradas de sucesso dos anos 90.
Ela também rompeu a bolha do movimento grunge — cujo florescimento eclodiu principalmente entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990, tendo sua popularidade atingiu o pico no início e meados dos anos 1990, antes de começar a decair gradualmente — enfrentando o sucesso remanescente das músicas de bandas como Nirvana e Pearl Jam.
Não, não se trata de uma música sobre religião
Apesar da forte temática religiosa, tanto no título quanto no videoclipe, a música 'Losing My Religion' ("Perdendo Minha Fé", em tradução livre), de acordo com declaração do vocalista e lider da banda, Michael Stipe, tem um significado que passa bem longe de qualquer tipo de prática espiritual — ou até mesmo de um relacionamento real.
O título 'Losing My Religion' se refere a uma expressão bastante comum nos Estados Unidos, mais precisamente no Sul do país e insinua que a pessoa chegou no limite, perdeu a fé e está cansada.
Sabe quando alguém meio que gastou toda a energia, acaba perdendo o equilíbrio e dá um baita piti? É mais ou menos isso.
Portanto, a música não fala sobre fé de forma literal, e sim retrata um personagem que parece estar no seu limite e um tanto decepcionado por conta de um amor não correspondido.
O próprio Stipe, chegou a declarar ainda que queria escrever uma música sobre amor não correspondido e obsessão.
Na época, o vocalista comparou 'Losing My Religion' com o sucesso do The Police, 'Every Breath You Take' — que também já foi tema desta série, confira ➫ aqui —, dizendo que se trata de uma canção pop clássica e obsessiva.
"Eu sempre senti que os melhores tipos de música são aqueles onde qualquer um pode ouvi-la, colocam-se nela e dizem: ‘Sim, sou eu‘",
declarou Stipe.
Ninguém duvida que o R.E.M alcançou o seu objetivo quando lançou 'Losing My Religion', isso porque a música tocava de forma obsessiva nos anos 90 e ainda continua presente em uma playlist de rock. Afinal, clássicos são clássicos, né?
Sobre o sucesso
'Losing My Religion' tornou-se o maior hit do R.E.M. nos Estados Unidos. A música ficou durante 21 semanas na Billboard Hot 100. Conquistou o 19º lugar nas paradas do Reino Unido, e o 16º e 11º lugares nas paradas do Canadá e da Austrália, respectivamente.
O álbum "Out Of Time" e a canção 'Losing My Religion' fizeram um sucesso que ia além das expectativas da banda. Em 1992, o R.E.M. foi indicado a sete prêmios Grammy, sendo que boa parte das indicações que a banda recebeu naquele ano foi pela canção 'Losing My Religion'.
O álbum "Out Of Time" e a canção 'Losing My Religion' fizeram um sucesso que ia além das expectativas da banda. Em 1992, o R.E.M. foi indicado a sete prêmios Grammy, sendo que boa parte das indicações que a banda recebeu naquele ano foi pela canção 'Losing My Religion'.
Na cerimônia, a banda acabou levando dois prêmios por ela. Em 2004, a canção ficou em 169º lugar na lista das 500 melhores canções de todos os tempos da revista Rolling Stone. Talvez devesse ter ficado em primeiro. Merecer, merecia, pois a música é de fato muito boa.
O fato é que, goste ou não da música, todo mundo reconhece os acordes iniciais. Vamos conhecer agora um pouca da história da banda.
Rapid Eye Movement
R.E.M., crédito: divulgação |
O nome da banda Michael encontrou em um dicionário quando se deparou com o termo R.E.M, que significa "Rapid Eye Movement" e se refere ao movimento que os olhos fazem durante os sonhos.
Na época, o guitarrista Peter Buck trabalhava em uma loja de discos da cidade e Michael Stipe frequentava o local. Acabaram se conhecendo, tinham os mesmos gostos musicais e admiravam artistas como Patti Smith, Television e Velvet Underground.
Uma amiga em comum dos dois, Kathleen O’Brien, apresentou Mike Mills e Bill Berry, que já costumavam tocar juntos desde a época da escola. Os quatro passaram a compor, sem muita pretensão, sem determinar um nome para a banda e assim ficou por alguns meses.
Costumavam ensaiar em uma igreja desativada da cidade, local em que realizaram o primeiro show para comemorar o aniversário de Kathleen O’Brien. Depois da apresentação, marcada por músicas dos anos 60 e 70, passaram a fazer shows nos barzinhos de Athens.
O R.E.M. ganhou reconhecimento fazendo muitos shows numa época que o circuito alternativo não era muito frequentado e eles conseguiriam uma boa legião de fãs. Arrisco até a dizer que o R.E.M. fez uma ponte entre o pós-punk e rock alternativo.
O primeiro sucesso, e pézinho no mainstream, veio com deliciosa 'The One I Love' (do album "Document" de 1987). O album seguinte "Green" (1988) também é muito bom.
O som do R.E.M. é bem marcante, do tipo que você facilmente identifica como sendo deles e não só pelo vocal do Michael Stipe. Não é a toa que algumas bandas que vieram depois beberam na fonte do R.E.M.
O primeiro disco, "Murmur", foi gravado em 1983 e consagrou a banda como destaque no rock alternativo. Mas, foi mesmo com "Out Of Time", lançado em 1991 e "Automatic For The People", de 1992 que a notoriedade da banda aumentou ainda mais.
A fama veio mesmo com 'Losing My Religion', uma música de quase 5 minutos, sem refrão e com um bandolim. Alguns fãs mais radicais do rock alternativo, depois do sucesso de 'Losing My Religion' em todos os lugares (rádio, MTV, boteco da esquina e até em velórios...), deixaram de curtir a banda só porque achavam que tinha virado mainstream, mas isso não abalou a banda. R.E.M., assim como Pearl Jam e algumas outras bandas, tem fãs que acompanham a banda religiosamente (sim, eu fiz esse trocadilho).
Apesar do sucesso indiscutível, o R.E.M encerrou as atividades em 2011, apresentando aos fãs um comunicado oficial que fala sobre a gratidão e orgulho da trajetória conquistada. R.E.M. é um banda que ocupa um espaço considerável em minhas playlists.
Há outras músicas da banda que gosto muito e que também fizeram sucesso (não tanto quanto 'Losing My Religion', claro) como a divertida "Shine Happy People" (dueto com a Kate Pierson, do The B52's — o clipe dessa canção, aliás, é tão divertido quanto ela), as melancólicas 'Drive' e 'Everibody Hurts', a já citada 'The One I Love' e 'Imitation Of Life'.
Há outras músicas da banda que gosto muito e que também fizeram sucesso (não tanto quanto 'Losing My Religion', claro) como a divertida "Shine Happy People" (dueto com a Kate Pierson, do The B52's — o clipe dessa canção, aliás, é tão divertido quanto ela), as melancólicas 'Drive' e 'Everibody Hurts', a já citada 'The One I Love' e 'Imitation Of Life'.
Ah sim, a letra...
Vamos analisar.
"Oh, life is biggerIt's bigger than youAnd you are not meThe lengths that I will go toThe distance in you eyesOh, no I've said too muchI set it up...
Então... ele está apaixonado e acha (quase com certeza) que não é correspondido. Começa a música com um fato: "a vida é maior do que você", ou seja, tentando se convencer que não é o fim do mundo se não for correspondido.
Acontece que ele emenda: "...e você não é eu...", e essa ordem dos fatos é importante porque indica que ele sabe que não estão na mesma página.
Aí ele diz que faria qualquer coisa por essa pessoa, mas vê a distância nos olhos dela (a falta de interesse). "Falei demais!...", armou uma situação que agora não tem como escapar.
...That's me in the cornerThat's me in the spot lightLosing my religionTrying to keep up with youAnd I don't know if I can do itOh, no I've said too muchI haven't said enough...
"...Sou eu ali no canto escondido ou sob a luz do holofote..." Como já dito, 'Losing My Religion' é uma expressão comum no sul dos EUA que significa: cheguei no limite, perdi a compostura, perdi a fé, deixei de acreditar, estou com raiva.
O sul dos EUA é onde tem uma área conhecida como Bible Belt e claro que expressões religiosas devem pipocar por lá para se referirem a tudo. Pode ser também que ele está perdendo fé na situação que, obviamente, não vai acabar como ele quer.
Aí ele repete: "Falei demais!" e emenda "Mas não falei o bastante". Ele está tentando deixar uma dica, mas parece que não esta sendo eficiente.
...I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you singI think I thought I saw you try...
Aqui é ele tentando decifrar o que a outra pessoa está pensando, ou o que ele acha que ela está querendo dizer. Por isso nada é afirmativo, é tudo achismo: "acho escutei você rir, acho que escutei você cantar". E a máxima da dupla dúvida: "acho que achei que vi você tentar."
Amigo, está tudo na sua cabeça.
...Every whisperEvery waking hourI'm choosing my confessionsTrying to keep an eye on youLike a hurt, lost and blinded foolOh, no I've said too muchI've set it up...
Cada sussurro e a cada hora que está acordado ele está escolhendo a dedo o que vai confessar para a pessoa amada. Como bom stalker, está de olho nela, e ao mesmo tempo se sente um idiota perdido, cego e machucado. "...Ih, falei demais!", mas meio que colocou as cartas na mesa.
...Consider thisConsider thisThe hint of a centuryConsider thisThe slipThat brought me to my kneesFailedWhat if all these fantasiesCome flailing aroundNow I've said too much...
E no momento #ficadica: "Pensa bem, considere essa a indireta (direta) do século. Tudo isso que eu disse me deixou de joelhos, fracassado. E se todas essa fantasias estão agitando tudo na minha cabeça?" Agora ele falou demais mesmo.
That's me in the spot light...That's me in the corner
Losing my religion
Trying to keep up with you
And I don't know if I can do it
Oh, no I've said too much
I haven't said enough
I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you singI think I thought I saw you try
Ele dizendo: "Estou aqui, olha para mim, estou no limite da razão, tentando te dizer algo importante..." mas parece que a pessoa amada ou não entende a dica, ou entende muito bem e está fazendo cara de paisagem.
...But that was just a dreamTry, cry, why, tryThat was just a dreamJust a dream...
E no fim, tentando disfarçar, ele conclui que foi só um sonho (amigo, eu disse que estava tudo na sua cabeça). Para que tentar, chorar, etc. Só um sonho. Acorda que a fila anda.
Tradução
"Perdendo Minha Religião [Fé]"
'A vida é maiorÉ maior do que vocêE você não é euOs extremos que eu irei atéA distância em seus olhosOh, não, eu falei demaisEu puxei o assuntoAquele sou eu no cantoAquele sou eu no centro das atençõesPerdendo minha religiãoTentando me manter com vocêE eu não sei se eu consigo fazer issoOh, não, eu falei demaisEu não disse o suficienteEu achei que ouvi você rindoEu achei que ouvi você cantarEu acho que pensei ter visto você tentarCada sussurroDe cada hora de vigíliaEstou escolhendo minhas confissõesTentando ficar de olho em vocêComo um bobo magoado, perdido e cegoOh, não, eu falei demaisEu puxei o assuntoConsidere istoConsidere istoA dica do séculoConsidere istoO deslize que me deixouDe joelhos no chãoO que aconteceria se todas essas fantasiasSe tornassem realidade?Agora eu falei demaisEu achei que ouvi você rindoEu achei que ouvi você cantarEu acho que pensei ter visto você tentarMas aquilo foi apenas um sonhoAquilo foi apenas um sonhoAquele sou eu no cantoAquele sou eu no centro das atençõesPerdendo minha religiãoTentando me manter com vocêE eu não sei se eu consigo fazer issoOh, não, eu falei demaisEu não disse o suficienteEu achei que ouvi você rindoEu achei que ouvi você cantarEu acho que pensei ter visto você tentarMas aquilo foi apenas um sonhoTente... Chore... Por quê?... Tente...Aquilo foi apenas um sonho, apenas um sonhoApenas um sonho, um sonho'
Conclusão
O video é um clássico. Tem elementos religiosos (tem santo, tem anjo sarado, tem hindu, tem leite derramado, tem Michael Stipe fazendo a dança da chuva...) que até podem dar a idéia que é uma música sobre religião, mas é tudo idéia da cabeça do diretor Tarsem Singh junto com pitacos do Michel Stipe, apenas para uma estética conceitual. Nada mais que isso. Afinal, a linguagem dos vidoclipes precisavam ser bem intrigantes e criativas para atender aos padrões da época, quando a MTV estava ainda no auge.
O Tarsem Singh é um diretor indiano (por isso uma vibe bollywood no video) que trabalha muito bem o conceito visual (já histórias nem tanto). Nas telonas, ele dirigiu: "A Cela" e "Mirror Mirror" (o da Branca de Neve com a Julia Roberts). Eu gosto muito desse video, inclusive de todo o nonsense conceitual.
Enfim, 'Losing My Religion' é um clássico. Ponto! Por isso está aqui na minha série especial. Então, Vamos bater palmas e dançar, mas, por favor, nada de perder a fé, heim?
- O blogue CONEXÃO GERAL presa pelo respeito à lei de direitos autorais (L9610. Lei nº 9.610, de 19/02/1998), creditando ao final de cada texto postado, todas as fontes citadas e/ou os originais usados como referências, assim como seus respectivos autores.

E nem 1% religioso.

Nenhum comentário:
Postar um comentário