quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

ESTANTE DO LÉO — O SEGREDO DE BROCKBACK MOUNTAIN, DE ANNIE PROULX

Eu acabei de ler este livro, de onde foi feita a adaptação para o filme homônimo que se tornou um grande sucesso de público, crítica e ainda referência muitas pautas de pesquisas e debates, inclusive de nível acadêmico. Eu assisti ao longa primeiro e só agora, graças a um colega que me emprestou, é que pude ler o livro.

Por certo, também corri e fui rever o longa, para ver as diferenças entre o texto e o filme (elas sempre existem nas adaptações literárias para o cinema). Até que não são muitas e as que há não provocam nenhuma alteração ao contexto literário da magnifica obra da escritora americana Annie Proulx.

Sobre a autora


Escritora norte-americana, nascida a 22 de agosto de 1935, em Northwich, no estado do Connecticut, atingiu a consagração com o romance The Shipping News, editado em 1993, e com o qual ganhou o prémio Pulitzer de ficção.

E. Annie Proulx licenciou-se em Arte, na Universidade de Vermont, e aos 40 anos abandonou um doutoramento para se dedicar a uma carreira de jornalista freelancer.

Trabalhou em diversos jornais (chegou a lançar um pequeno jornal em Vermont) mas, como sentia algumas dificuldades financeiras para criar três filhos, em meados da década de 80 começou a escrever contos para semanários.

A maioria dos seus trabalhos de ficção eram publicados numa revista masculina de caça e pesca. O editor desta revista pretendia que Annie assinasse as histórias com um pseudónimo masculino mas ela recusou. Por fim, entenderam-se e ela passou a assinar E. Annie Proulx.

Um editor da revista Esquire acabou por ser o responsável, em 1987, pela edição do seu primeiro livro, uma compilação de contos intitulada "Heart Songs and Other Stories".

Em 1993, lançou o seu primeiro romance, "Postcards", com o qual viria a ganhar o Prémio Pen/Faulkner, tendo sido a primeira mulher a alcançar tal feito.

No ano seguinte, lançou o seu romance de consagração, "The Shipping News" (que foi editado com o mesmo nome em Portugal, em 2006), e graças ao qual recebeu o prémio Pulitzer de ficção, assim como o National Book Award, ambos dos Estados Unidos da América.
Este livro deu origem a um filme com o mesmo título, realizado em 2001 por Lasse Halström e com interpretações de Kevin Spacey e Julianne Moore.
Entretanto, em 1999, Proulx havia regressado aos contos com a publicação de uma nova coletânea de pequenas histórias intitulada Close Range. Entre os contos escolhidos figura "Brokeback Mountain", um texto original de 1997 que viria dar origem, em 2005, ao filme "O Segredo de Brokeback Mountain", de Ang Lee, com Heath Ledger (✰1979/✞2008) e Jake Gyllenhaal. Este filme foi um grande sucesso de crítica e bilheteira em todo mundo e esteve em destaque na noite dos Óscares de Hollywood.
3 de fevereiro de 2006 — Estreava no Brasil, o filme norte-americano do gênero Drama e Romance "O Segredo de Brokeback Montain". Dirigido por Ang Lee e estrelado por Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Anne Hathaway e Michelle Williams, o longa tornou-se atemporal e um dos grandes registros na história da sétima arte hollywoodiana. O êxito do filme, aliado ao de "The Shipping News", transformou E. Annie Proulx numa escritora reconhecida em todo o mundo.

Sobre o livro

Resumo da sinopse


Quando, em fins do século XIX, Lord Alfred Douglas (✰1870/✞1945) um poeta e tradutor inglês, famoso por ter sido amigo íntimo e amante de Oscar Wilde — ✰ 1854/✞1900, escritor irlandês, que foi preso por ser gay) afirmou, em seu poema "Dois Amores",
'Eu sou o Amor que não ousa dizer seu nome...'
não apenas trouxe ao discurso as relações entre homens, mas o fez no registro do elo amoroso.

Assim, tomou como referência a definição do apóstolo Paulo, na conhecida passagem registrada em sua epístola aos Romanos 1:21-27, sobre a sodomia como o pecado que não devia ser nomeado e a reverteu da esfera das práticas sexuais para a dos sentimentos.

Feito similar pode ser creditado ao filme de Ang Lee, cujo roteiro adapta e refina o belo conto de Annie Prouxl, originalmente publicado em 1997.

Ambos contam a seguinte história: Jack Twist e Ennie Del Mar são dois jovens que se conhecem no verão de 1963, após serem contratados para cuidar das ovelhas de Joe Aguirre (no filme, interpretado por Randy Quaid) em Brokeback Mountain.

Jack deseja ser cowboy e está trabalhando no local pelo segundo ano seguido, enquanto que Ennie pretende se casar com Alma (no filme, interpretada por Michelle Williams) tão logo o verão acabe.

Vivendo isolados por semanas, eles se tornam cada vez mais amigos e iniciam um relacionamento amoroso. Ao término do verão cada um segue sua vida, mas o período vivido naquele verão irá marcar suas vidas para sempre.

Análise terapêutica


Não é uma experiência comum a todas as pessoas constatar que seus sentimentos mesclam o desejo amoroso com o medo de ser rejeitado e perseguido. Um amor que não pode ser declarado e tem como lugar o segredo é vivenciado como contradição diante da sociedade.

É assim que o livro retoma o tema do amor proibido presente em melodramas, mas o enriquece por confrontar os sentimentos dos protagonistas não com restrições circunstanciais, mas com toda a ordem social que os rejeita.

A obrigação social de se relacionar com pessoas do sexo oposto, a heterossexualidade compulsória, enreda todos em suas teias.

Conclusão


Não é um "livro (nem um filme) gay", numa classificação em tom pejorativo, precisamos parar com essa mania medonha de ficar colocando tarjas e rótulos em tudo.

A obra requer mais reflexões do que lacração ideológica. Mostra como vivemos em uma sociedade estruturada no jogo do visível e do invisível, do dito e do silenciado, do plenamente vivido e do que é mantido em segredo.

Todos, sem exceção, são enredados no mesmo mecanismo social que constitui a experiência de vida dos dois protagonistas, Jack Twist (no filme, interpretado por Jake Gyllenhaal) e Ennis del Mar (no filme, interpretado por Heath Ledger).

A obrigação social da invisibilidade mantém atual o amor impossível expresso na metáfora clássica do "viver no armário". O livro é uma reflexão sobre a homofobia, sem os estereótipos que cristalizaram a imagem dos gays nas mentes do público.

Tanto no livro quanto no filme, a montanha é um lugar onde Jack e Ennis poderiam expressar em liberdade a reciprocidade do amor. Na sociedade, restavam-lhes o armário, por existir uma realidade minimante segura. 
Ao fim do contato com essa magnifica obra, vale a reflexão: afinal, somos meros leitores e ou espectadores ou estamos assumindo a nossa homofobia?

Ficha técnica

  • Número de páginas — 72

  • Idioma — Português

  • Editora — Intrínseca

  • Data da publicação — 1 janeiro 2006


Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.

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