A Bíblia Sagrada já nos adverte que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (1 Timóteo 6:6-10). Mas, no texto deste artigo, mais um capítulo da nossa série especial Papo de Psicanalista, vamos ver o que nos diz a psicanálise sobre essa questão.
O dinheiro no divã
Depois que o prêmio Nobel de Economia foi dado a um estudioso (Daniel Kahneman em 2002) que relaciona finanças com processos psicológicos, as pessoas começaram a prestar mais atenção no ser humano do que nos números quando o assunto é dinheiro.
Na psicanálise, o dinheiro está ligado ao desejo inconsciente, à necessidade de controle (como o controle das fezes na infância), e à ilusão de satisfação total e autonomia que ele pode oferecer.
O dinheiro permite ao sujeito realizar fantasias de onipotência e suprir a sensação de falta, funcionando como um elo entre o indivíduo e o mundo, que o financeiramente o torna capaz de ser "outra pessoa" e experimentar certas vivências.
Segundo a psicanálise, o amor excessivo ao dinheiro, ou a avareza, está profundamente ligado a questões inconscientes que remetem à fase anal do desenvolvimento infantil e à neurose obsessiva.
O dinheiro é um objeto simbólico que pode representar poder, controle, afeto e a tentativa de preencher um vazio existencial, gerando consequências psíquicas complexas.
Entender o ser humano e o porquê de suas atitudes financeiras se tornou o objeto de desejo das pessoas que trabalham com finanças e investimentos. Mas isto não é tarefa fácil, pois não é possível saber do sujeito, simplesmente, através de testes racionais.
Não é possível querer olhar o sujeito como um objeto de apreensão total, como se fosse um robô altamente manipulável e que responde a comandos por simples ato de vontade.
Há fatores que influenciam o comportamento financeiro que estão além da racionalidade.
Para a psicanálise, algo do desejo inconsciente se revela na relação com o dinheiro, bem como atua na sua constituição subjetiva.
Sem saber, a pessoa se enlaça em problemas financeiros que estão mais ligados a conflitos internos e à questão de “quem sou eu” do que por falta de fazer contas ou analisar gastos e investimentos.
A realização do consumo satisfaz um modo de ser – ser alguém pela soma de objetos ou pela posição idealizada.
O dinheiro como símbolo e desejo
- Representação simbólica
O dinheiro é mais do que um objeto, ele carrega um significado simbólico profundo, representando a possibilidade de satisfação, reconhecimento e poder.
- Conexão com o desejo
A busca por dinheiro, para o psicanalista, não é só por um objeto, mas por algo que responde ao desejo do sujeito e ao seu anseio por realizar algo que está em falta.
Dinheiro, controle e a ilusão de poder
- Fase anal — Freud ligou o dinheiro à fase anal, na qual o controle das fezes gera no bebê uma sensação de domínio. Adultos, ao buscar dinheiro, recriam a ilusão de controle sobre o ambiente e sobre si mesmos.
- Onipotência narcísica — O dinheiro dá a ilusão de que tudo pode ser suprido, de que a falta pode ser eliminada. Essa onipotência desejada, porém, é uma fantasia que a realidade pode desfazê-la.
Dinheiro, gozo e o desejo de ser mais
- Desejo de gozo — O dinheiro é um objeto que condensa desejo e gozo, dando a ilusão de satisfação total, que é algo que a psicanálise entende ser impossível.
- Transformação do sujeito — O dinheiro permite a quem o possui ser "mais" do que pode ser. Ele habilita a realização de desejos e experiências que, sem ele, não seriam possíveis, como viajar, ter conforto e acesso a bens e serviços.
Por outro lado, podemos entender, em algumas pessoas, que a necessidade de endividamento está ligada à uma dívida inconsciente, no sentido de “devo ao Outro”, onde este Outro está para além da personificação, pois só existe na relação do sujeito com ele mesmo.
A maneira como o brasileiro lida com o dinheiro diz muito sobre a forma como olha para si mesmo e como se relaciona com o mundo.
Os problemas relacionados ao dinheiro são, atualmente, questões trazidas para o divã como fundadores de outros conflitos e desordens.
Quando há imaturidade em lidar com perdas financeiras ou com problemas de administração de dinheiro, o sujeito se sente impotente diante de si mesmo e nas relações com os outros.
As consequências do amor ao dinheiro na psicanálise
Questões como conflitos de relacionamento, patologias emocionais e até problemas sexuais podem ter suas origens nas finanças, ou mesmo levar a pessoa a dificuldades de lidar com o dinheiro.
O apego doentio ao dinheiro pode levar a uma série de consequências negativas para a saúde psíquica do indivíduo.
- Isolamento social — A fixação no dinheiro pode fazer com que a pessoa se torne autossuficiente e distante dos outros, dificultando a construção de vínculos afetivos saudáveis. A relação com o dinheiro se sobrepõe às relações humanas.
- Insatisfação crônica — A busca incessante por mais dinheiro, como uma tentativa de preencher um vazio, pode levar a um estado de insatisfação constante. A pessoa nunca se sente satisfeita, independentemente do quanto acumule.
- Comportamentos antiéticos — Para sustentar a busca por dinheiro, o indivíduo pode se envolver em práticas antiéticas, que reforçam sua patologia e prejudicam os outros.
- Sofrimento psíquico — A questão do dinheiro pode se tornar uma fonte de sofrimento psíquico, com a pessoa acreditando que sua falta de dinheiro é a razão para não ser amada, quando na verdade o problema reside em dificuldades nos relacionamentos.
- Transferência e aversão à perda — O amor ao dinheiro pode manifestar-se em uma aversão irracional a perdas, que é um dos vieses comportamentais que podem ser entendidos a partir de uma ótica psicanalítica, envolvendo a questão da perda, do gozo e da libido.
- Neuroses sociais — O dinheiro pode se tornar um produtor de "neuroses sociais profundas", afetando as relações com as pessoas e com as coisas, como se viu no Brasil em períodos de hiperinflação, por exemplo.
Conclusão
A importância de se trabalhar a questão do dinheiro na análise
Para a psicanálise, o dinheiro não é apenas uma questão financeira. É um objeto pulsional e simbólico que manifesta desejos e questões inconscientes.
A forma como o paciente lida com o pagamento, por exemplo, pode trazer à tona questões importantes para a análise, que o analista deve escutar não como uma mera transação, mas como uma formação do inconsciente, como um ato falho ou um lapso.
Portanto, àqueles que estudam e trabalham com finanças deverá restar o desejo de saber mais sobre quem é o sujeito que está diante de si.
Aquele que continuar focando seu trabalho nos números e não se importar com os aspectos emocionais e psicológicos de clientes, funcionários e outros, não sobreviverá num mercado onde saber lidar com aspectos mais humanos e profundos são emergentes.
Contudo, sabemos que não há mágica e cada profissional, no seu campo de atuação deverá buscar o máximo de conhecimento para satisfazer à demanda de “entender o outro como a si mesmo”.
Superar o amor excessivo ao dinheiro implica lidar com a perda e remanejar a libido investida nesse objeto, permitindo que o sujeito construa relações mais saudáveis e satisfatórias consigo mesmo e com os outros.
[Fonte: Elizandra Souza | Psicanalista]
Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.

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