quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

DIRETO AO PONTO — CRISE MINISTERIAL, QUEM NUNCA TEVE?

  • Este artigo foi escrito com base nos esboços das mensagens que eu ministrei na congregação onde sirvo, em cultos realizados no domingo, 5/12 e na terça-feira, 7/12/2021. 

"Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus" (Mateus 5:16).
Inicio aqui, mais uma série especial de artigos, na qual irei propor reflexões sobre pontos que nos são inerentes a todos em algum momento de nossas vidas. Obviamente não tenho a pretensão de fazer julgamentos sobre as vidas alheias e muito menos ainda de ser ser a voz autisonante e definitiva sobre absolutamente nada (vou deixar essa "perfomance artística" para muitos outros com mais capacidade do que eu e, convenhamos, a lista desses tais — pelo menos é o que acreditam — é enorme...), mas, tão somente te levar a refletir sobre os temas que serão abordados. 

Se eu conseguir fazer com que ao menos um de meus leitores reflitam, já considerarei a obtenção de êxito em meu propósito. Para abrir a série, vou falar, com base em minhas próprias experiências, acerca de um desafio que afirmo sem medo de errar, TODOS nós já enfrentamos (e, decerto ainda poderemos voltar a enfrentar) um dia: a crise ministerial.

Tenho um chamado, e agora?


Todo cristão, em algum momento da vida, já deve ter se perguntado: 
"Deus tem um propósito para minha vida? Ele tem um plano específico para eu realizar? Qual a vontade de Deus para mim? Qual é o meu chamado?"
Afinal, é a Bíblia mesmo quem nos alerta:
"Portanto, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor" (Efésios 5:17, NVI).
A ideia de ter um chamado de Deus é algo muito comum nas igrejas evangélicas, mas poucas pessoas entendem o real significado desse termo utilizado. O sentido primordial é: o chamado de Deus é o plano que Ele tem para cada um, o propósito principal da sua caminhada com Ele, a vocação que Ele colocou em você.

Quando falamos sobre o chamado de Deus, separamos aquele que é deixado para todos os cristãos e também aquele individual para cada pessoa. Precisamos levar em conta que, como Igreja, somos corpo de Cristo e cada membro do corpo não pode desempenhar a mesma função, se não de nada adianta (Romanos 12:4,5; 1 Coríntios 12:27).

Um precisa ser as pernas para andar, outros a boca para falar, outros as mãos para tocar… Deus nos criou de forma distinta para, um dia, sermos um corpo perfeito para a glória dEle. Ah, e não adianta tentar montar um Frankstein!

Quem eu sou, para onde eu vou?


Talvez ainda agora estejamos nos indagando sobre isso. Ou quem sabe ainda não temos a convicção que gostaríamos de ter. Nesse caso, podemos nos sentir inseguros, indecisos ou desorientados quanto ao nosso futuro como cristãos.

Em resumo, o propósito de Deus, revelado nas Escrituras Sagradas, é que sejamos 
"...conformes à imagem de seu Filho..." (Rm 8:29), 
em outras palavras, que sejamos como Cristo nessa Terra. 

Além disso, a Bíblia também afirma que fomos criados para o louvor da glória de Deus (Ef 1:11). Sabemos que o pecado atrapalhou isso logo após a Criação do homem, mas Cristo veio justamente resgatar o propósito original de Deus e dar condições para que isso fosse restaurado na vida dos que creem.

Assim, o objetivo principal da nossa existência é continuamente render glórias e louvor a Deus, vivendo sempre para adorá-lO (Salmo 29:2). Até aqui estamos indo bem. Creio que todos concordamos com essa definição do nosso propósito de vida como cristãos.

Porém, se pararmos nessa parte, podemos desenvolver um comportamento passivo, ou infrutífero, ou até mesmo egoísta em relação às demais pessoas ao nosso redor. 

"Uma vez salvo, quero viver somente para adorar a Deus".

 
Sem percebermos, essa ideia pode se alojar em nossa mente e nos tornar inativos.

Muitos monges, nos primeiros séculos da história da igreja, fizeram essa opção e se isolaram da humanidade e seus problemas. A Reforma Protestante no século XVI recolocou o cristão no centro da sociedade a fim de ter ações práticas e transformadoras, conforme a vontade divina.

Lutero (escrevi artigo sobre ele ➫ aqui), em seu livro "Comércio e Usura" (1524), procurou desfazer a ideia do trabalho como algo degradante e dar a ele uma dimensão espiritual e digna. Nosso trabalho, como vocação, tem a missão de prover os recursos para nossa família, servir ao próximo e abençoar a Terra.

Fomos alcançados pela graça de Deus a fim de sermos recriados em Jesus e ganharmos uma nova identidade. Mas também fomos salvos para as boas obras (Ef 2:10). O "ser" vem antes do "fazer". Mas o "fazer" precisa seguir ao "ser" (Tiago 2:17).

Nesse ponto podemos voltar à questão: 
"Mas o que eu devo fazer? Como descobrir o meu chamado e vocação?"
Vamos então falar um pouco sobre isso.

Discernindo "vocação" e "chamado"


Antes de tudo é preciso dizer que essas duas expressões: vocação e chamado, por vezes, se misturam. A palavra "vocação" se origina do verbo latino "vocare" e significa "chamar ou chamamento". Assim, o significado delas é tão próximo que em alguns momentos elas se interseccionam. Podemos ver isso no versículo abaixo:
"Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados" (Efésios 4:1, R.A.).
Porém, para esse nosso estudo, vamos separar um pouco as duas palavras para facilitar nosso entendimento e aplicação. Vamos considerar o termo "vocação" como o nosso chamado natural; e o termo "chamado" como a nossa vocação espiritual. Confundi mais agora? Vou tentar explicar melhor.
  • Vocação
Nossa vocação tem a ver com aquilo que nós somos, nossos gostos, inclinações, talentos e habilidades inatas. Trata daquilo que naturalmente amamos fazer, fazemos bem e ainda traz realização e prazer. É o que nossa vontade e competência nos leva a praticar. É uma capacidade específica que nos inspira.

Normalmente é a nossa vocação que vai nos levar a fazer uma escolha acadêmica e profissional. Além disso, podemos ter vários outros tipos de vocação, como por exemplo uma vocação para a área esportiva, ação social, artes em geral, comunicação interpessoal etc., que não tenham necessariamente relação com uma carreira profissional.

Para ajudar as pessoas a identificar melhor suas vocações naturais é que foram criados os chamados teste vocacionais, aplicados por profissionais ou instituições a partir do perfil psicológico e personalidade de cada pessoa.
  • Chamado
Nosso chamado, agora do ponto de vista espiritual, tem a ver com aquilo que Deus nos convida a realizar em benefício da Igreja e das pessoas que Ele deseja alcançar. Fala do modo, lugar e tempo em que nós fazemos o que temos de fazer. Obedecemos à voz e à vontade de Deus para nós.

Um chamado leva em conta os dons e talentos espirituais dados por Deus. E aqui, isso tanto pode coincidir com nossa vocação natural como pode nos levar a uma nova prática que nunca imaginamos para nós. 

Se em nossa vocação natural somos inspirados pelas nossas características pessoais pré-existentes, em nosso chamado somos comissionados do alto, pelo Espírito Santo, e capacitados por Ele para essa obra.

Esse chamado tem duas dimensões, a primeira é a mesma para todos, e a outra é específica para cada um. Vejamos isso melhor:

1) Chamado comissional (de Deus para todo o seu povo) — É o mesmo para todos os cristãos, em todas as épocas e em todos os lugares. Perceba que esse chamado não é apenas para pastores ou líderes em tempo integral. Mas é para todos quantos são feitos filhos de Deus.
"Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos" (Mt 28:19,20).
2) Chamado ministerial (de Deus para uma pessoa específica) — É único e individualizado para cada cristão, num tempo e lugar determinados, baseado no seu dom. E ninguém receberá todos os dons, mas também ninguém ficará sem pelo menos um dom. E esse dom aponta para seu chamado ministerial.
"Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas" (1 Pedro 4:10).
Agora que ficou um pouco mais claro a diferença de vocação e chamado vamos ver alguns passos práticos que podemos dar a fim de identificar nosso chamado pessoal, dirimindo assim, se não todas, ao menos algumas das dúvidas que alimentam a crise ministerial.

Comece se informando a respeito dos dons que a Bíblia lista em várias passagens como Romanos 12:6-8; 1 Coríntios 12:8-10, 28; Efésios 4:11 e 1 Pedro 4:9-11. O objetivo aqui é saber para poder identificar.

Depois, como diz C. Peter Wagner (☆1930/✞2016) em seu livro "Descubra seus dons espirituais" (Abba, 2012, 326 páginas) uma boa dica é envolver-se com todas as áreas de serviço na igreja que você puder. Isso o ajudará a enxergar possíveis dons que você tem e os que definitivamente você não tem. 
  • Detalhe: nem todos os dons te levarão ao lugar sempre almejado pela maioria esmagadora: o púlpito e/ou altar!
Em seguida, avalie sua atuação e os resultados (os frutos). Examine-se e desenvolva uma autocrítica saudável. Converse com seus líderes e mentores. Peça que eles o ajudem nessa tarefa de aferir seu chamado ministerial.

Por fim, e não menos importante, ore sobre isso. Permita que o Espírito Santo sonde seu coração e suas motivações; e se disponha a obedecê-lo, seja qual for a orientação e o chamado que Ele conferir a você.

A última pergunta que vamos considerar nesse texto é 

"Onde devo exercer meu chamado espiritual?"

Seria apenas no contexto da igreja local, suas reuniões públicas e encontros ministeriais? Definitivamente não. Nosso chamado deve ser vivenciado em todo o tempo e todo lugar, seja em casa, no trabalho, na sociedade ou na igreja; amando e servindo todas as pessoas à nossa volta, para a glória de Deus Pai.
Como identificar se estou recebendo o chamado de Deus?

Como dissemos, há o chamado de Deus individual, em que cada pessoa tem seu dom e sua vocação para o crescimento do Reino, e o chamado geral, em que o primeiro passo é se relacionar intimamente com Deus e, o segundo, é levar sua palavra para toda criatura.

Todos recebemos um chamado! Todos nós somos chamados para um relacionamento próximo do Pai e cada um possui objetivos atrelados ao plano eterno de Deus para a humanidade.

Deus nos dá a liberdade para fazermos escolhas e para decidirmos seguir ou não a Jesus, mas isso não faz com que deixemos de ser seres espirituais que anseiam pela eternidade. Nós sentimos falta de um complemento antes de nos relacionarmos de maneira real com Cristo.

O chamado de Deus é sempre prático: buscá-lo de todo o coração e fazer a sua vontade, essa é nossa maior vocação. Através do chamado geral realizado, depois de ter um relacionamento próximo com Deus, seguindo seus princípios em amor, você, aos poucos, encontra o seu chamado individual. Esse chamado pode se assumir em algum ministério, ir para algum lugar ou cuidar de alguma vida.

Para identificar se você recebeu o seu chamado, fique atento ao que Deus tem colocado sob sua responsabilidade, seja o cuidado de uma célula (pequeno grupo), o dom da música ou a facilidade de falar sobre Cristo.

Caso você ainda não tenha um, talvez Ele esteja te preparando ou você só não percebeu o que Ele já deixou em suas mãos. Aproxime-se mais de Deus, ore, pergunte a Ele o que Ele reservou para você!

Conclusão

Quero cumprir o chamado: e agora?


Cumprir o chamado de Deus é uma decisão maravilhosa e muito importante na vida de qualquer cristão. Não se trata apenas de fazer o que Ele diz, mas, sim, de entregar sua vida a favor do Reino. É abrir mão dos seus planejamentos para aceitar o plano de Deus que é maior e mais perfeito que os seus.

E você precisa entender que toda a luta vivida te moldará, todas as crises que o desafiam para a realização do seu chamado, assim como os maiores exemplos de homens de fé que a Bíblia traz, que passaram por dificuldades e situações sofridas para moldar seu caráter e se preparem para o que Deus tinha para eles. 

Por exemplo, Moisés, que livrou o povo do Egito, Davi, que foi um rei que seguia o coração de Deus, e até o próprio Jesus, que foi humilhado e levado para morrer na cruz.

Nossa luta não é contra pessoas, mas contra o espiritual, seres que habitam nesse mundo e querem afastar o máximo possível os humanos da Graça e o amor de Deus (Ef 6:12). Nós devemos estar preparados para enfrentar as batalhas tanto carnais como espirituais.

Por isso, quanto maior a luta que você enfrenta, maior é a sua capacitação para o chamado que Deus te reservou e maior é a chance de você não se abalar com as circunstâncias que o inimigo vai colocar a sua porta.

E o último e mais importante ponto para cumprir o chamado, é entender que você não deve cumpri-lo por medo do inferno ou pela religiosidade humana e, sim, pelo amor por Deus, que nos amou primeiro e derramou graça sobre nós, a compaixão pela humanidade e o entendimento de que você é tão pecador(a) quanto qualquer outro(a), mas o Pai te chamou e te transformou em filho(a) (Ef 2:1-10).


A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. Não confuda avanço na vacinação e flexibilização com o fim da pandemia

Um comentário:

  1. Amem glorifica a Deus por sua sabedoria meu amado pastor e entendi claramente obrigado por mi abrir os olhos

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