sábado, 17 de novembro de 2018

PASTORES DEPRIMIDOS? UAI, PODE?!

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Quando o assunto é depressão, por mais que o tema receba muitos holofotes nestes dias, no meio cristão este é um assunto ainda permeado por muitas crendices bizarras, dúvidas, ignorâncias e, obviamente, muito preconceito. Sempre que ficamos sabendo que algum crente está enfrentando os problemas oriundos da depressão, não raramente escutamos aqueles comentários cruéis e insensíveis do tipo:

- É falta de Deus no coração. 
- Isso é coisa de quem "não tem fé". 
- Isso "é demônio"! 
E quando a pessoa deprimida em questão é um(a) pastor(a) e/ou alguma pessoa que exerça qualquer tipo de liderança ou atividade religiosa então, aí é que o negócio fica feio, pois, para muitos, tais pessoas são "super heróis da fé", fazem parte da "liga da justiça divina". 

No entanto, estes comentários são de seres que eles sim se sentem superiores aos outros. Que não conseguem ter empatia com quem sofre. Com quem não suportou mais tanta dor. E agora, amigos juízes de Facebook, integrantes da magistratura das redes sociais, me digam, os inúmeros pastores que sofrem de depressão - muitos ao ponto de chegarem ao extremo de tirarem a própria vida (pesquisas recentes dão conta do aumento no número de pastores que comentem suicídio) - não têm Deus no coração? Será mesmo? 

Não. Claro que não. Não acredito nisso. Eles têm sim Deus. Lutam por seus fiéis. Muitos carregam os desafios ministeriais nos ombros. Mas sofrem escondidos. Um sofrimento tão grande que sangra a alma. Que esfola a vida. Que torna tudo sem gosto. Sem graça. Insuportável continuar. Pensar em ir em frente. Quando encontram a caverna da depressão, por mais úmida, com odor de mofo e escura que seja, assim como fez o grande e tão aclamado (principalmente entre os pentecostais) profeta Elias (1 Reis 19), se abrigam nela e, ainda que sem o menor conforto, dela não desejam sair.

Depressão: o próximo alvo pode ser você


A depressão atinge fracos e fortes. Os que acreditam em Deus e os ateus. Todos somos alvos da sua seta macabra. Evangélicos, espíritas, católicos, umbandistas. E todas as religiões que eu possa ter aqui esquecido. Ser cristão não significa estar imune às doenças, mas em tempos difíceis é possível evitar depressão profunda. É importante trabalhar as causas da depressão e não apenas os sintomas dela. É vital para o cristão trabalhar sua vida em Deus e não nas emoções.

Depressão só dá em quem está vivo. Todos nós estamos sujeitos a passar por ela. Ninguém está livre. Pode ser pastor ou ovelha. Rico ou pobre. Da cor que for. Ter nascido nesse continente ou em outro. Ela não liga. Todos lhe interessam. Todos, o tempo todo são seu alvo em potencial. Não se iluda. Nesse exato momento a depressão está com uma seta apontada para sua alma e vê nela um possível alvo a ser acertado.

Por que? Porque somos feitos de carne, ossos, dores e traumas. Somos feitos de quedas e lutas. De conquistas e perdas. Tanto nos alegramos com a vitória, quanto podemos sucumbir na mesma proporção pelos dessabores da derrota, da frustração. E tem horas que dói além da conta. Mais do que a gente consegue suportar. Não porque a gente é fraco. Não é. Mas porque a gente pode estar doente. Isso faz a diferença.

Interessante e importante observar que nem mesmo o grande e aclamado apóstolo Paulo (principalmente entre os teólogos) não se viu imune à depressão. Veja o que ele escreveu:

"Porque, mesmo quando chegamos à macedônia, a nossa carne não teve repouso algum; antes em tudo fomos atribulados: por fora combates, temores por dentro. Mas Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a vinda de Tito" (2 Coríntios 7:5,6 - grifo meu).
Ora, que "temores por dentro" são estes dos quais o apóstolo relata? Pessoas saudáveis conseguem sofrer e superar. Sofrem. Dão a volta por cima. Vão meio mancando, mas vão. Pessoas depressivas não conseguem. Toda a vida vai sendo contaminada pela depressão.

Dormem demais ou de menos. Comem demais ou de menos. Até tomar banho começa a ficar difícil. Sair de casa então? Nem pensar. Tudo é muito custoso. A depressão é como areia movediça. A gente vai afundando. Assustado, disfarça. Tenta lutar sozinho. Quanto mais luta, mais fica preso. Mais afunda. E mais [se] esconde.

Depressão "é possessão demoníaca"?


NÃO, NÃO, NÃO E MIL VEZES NÃO!!! A depressão é a doença mais julgada do mundo. A mais apontada como defeito. Fraqueza. Relaxamento. Ingratidão. A mais desrespeitada de todas. A que tem mais dedo apontado. A que recebe mais ofensas e agressões.

A sociedade nos cobra perfeição. Somos obrigados a mostrar sucessos e vitórias o tempo todo (como se isso fosse algo possível). A ser feliz. O tempo todo. Não há essa felicidade o tempo todo. A gente cai. Erra. Sofre. Em silêncio para não ser julgado e ficar pior ainda.

É esse silêncio que mata. A solidão. A dor de se sentir errado. Incompetente. Incompreendido. Fraco. Covarde. De não ter com quem contar. Não poder falar o que sente come a alma por dentro.

Novamente recorro à fala do apóstolo Paulo:
"Mas Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a vinda de Tito" (2 Co 7:6, grifo meu).
Paulo se sentiu consolado com a presença do seu discípulo, o jovem pastor Tito. Isso mostra o quanto pessoas queridas são importantes e fundamentais para ajudar a quem se encontra em meio ao deserto da depressão. A Bíblia não dá detalhes sobre o que teria feito Tito para consolar Paulo e sua comitiva, mas, certo é que algo de muito importante ele fez.

Fico triste com cada morte por depressão. Mais ainda com os julgamentos insensíveis de quem nada compreende. Com os falsos justos. Com os pseudos santos e falsos espirituais. Com os donos da verdade. Com os juízes platonistas de redes sociais e suas sentenças cabais sem quaisquer jurisprudência. Com os falsos ícones dos púlpitos e suas encenações de resistência inviolável. 

"Help, I need somebody
Help, not just anybody
Help, you know I need someone, help!"


Esse é o refrão de um dos clássicos hits da icônica banda inglesa The Beatles, "Help", cuja tradução literal é
"Socorro, eu preciso de alguém 
Socorro, mas não qualquer pessoa 
Socorro, você sabe que eu preciso de alguém, socorro!"
E esse refrão define bem o que clama alma de um depressivo. Padres, pastores deprimidos. O que isso quer nos dizer? Que podemos, sim, deprimir. Sem ser fracos. Sem ser ingratos a Deus ou à vida. Porque ninguém deprime porque quer. Adoecer não é escolha. Apenas acontece.

Acredito que Deus é amor, pois assim a Bíblia o define (João 4:8). Que jamais iria querer o sofrimento de alguém. E que já deve ter recebido e posto no colo esses pastores sofridos.

O que eu me pergunto é o que será que Deus quer nos mostrar? Esses suicídios podem ser uma forma de nos dizer que não é bem assim como a gente imagina? Que a depressão não é falta dEle no coração? Que é apenas uma doença triste e que precisa ser entendida e respeitada?

Lembre-se que Deus escreve certo por linhas certas. Quem sabe esses suicídios não podem servir para abrir nossos olhos? Amolecer nossos corações? Ampliar nosso entendimento curto e amargo dessa doença horrorosa?

As pessoas escondem o suicídio. Têm medo de falar a respeito. Vergonha de admitir quando aconteceu na família delas. O suicídio se esconde num silêncio sabido e cortante. Mas está por aqui. Nos ronda. Acontece. É real. Mais frequente do que a gente imagina.

Quem deve cuidar do deprimido: um neurologista, um psicólogo ou um psiquiatra?


Em nossos dias, tem sido muito enfatizado o tratamento com medicamentos específicos, os chamados antidepressivos. Eles agem no nível das sinapses do sistema nervoso central, ativando a ação dos neurotransmissores (serotonina e noradrenalina, principalmente). 

Os resultados do uso dessas substâncias têm sido animadores. Entretanto, deve-se lembrar que a depressão é uma experiência vivencial profunda, das mais perturbadoras para o ser humano. Como tal, ela implica sempre numa reconsideração existencial, que leva a reavaliação de atividades, compromissos, relacionamentos, valores e crenças. 

Sabe-se mesmo que a sua superação está relacionada à elaboração do significado que a experiência passa a ter na história de vida pessoal. Assim sendo, é indispensável que se propicie espaços terapêuticos em que a expressão dos sentimentos seja valorizada e estimulada, com vistas à sua adequada integração. 

Vê-se, portanto, que há ações que podem ser providas por diferentes fontes que atuem, preferencialmente, de forma coordenada e convergente. Algumas competências são específicas dos profissionais da saúde, como o ato de diagnosticar, medicar, exercer a psicoterapia, orientar sobre atitudes e riscos. 

Outras medidas de suporte podem ser supridas por familiares e amigos habilidosos, especialmente aqueles que já passaram por experiência semelhante, bem como por pastores e conselheiros capacitados. Papel destacado pode ocupar a igreja, desde que seja uma comunidade de acolhimento e estímulo aos que sofrem e às suas famílias.

É preciso falar a respeito. Mostrar que há saída. Incentivar a pedir ajuda. Espere por milagres sempre. Mas levante para buscar ajuda.

Está lá na Bíblia. Só olhar. Todos os milagres que Jesus fazia, ele  contava com a ajuda de alguém. Alguém trazia a água para transformar em vinho. Um pão e um peixe. O homem era Deus. Precisava disso? Claro que não.

Então por que fazia? Para mostrar que o milagre passa pela ação. Pela ajuda. Pela parceria. Pela busca de soluções. Essa é a lição. Quer um milagre para sua depressão? Ótimo. ore, então. E vá procurar uma terapia. Um psicólogo. Um psiquiatra.

Aí você se ofende com a minha indicação e grita agressivo:
- Eu não sou louco!
Não. Não é. Senão você não iria. Seria levado à força. Psiquiatras e psicólogos não são para loucos. São para quem sofre.

Tem horas na vida que o sofrimento é tão intenso que impossibilita a vida. A gente paralisa. Desnorteado, não sabe mais o que fazer. Que rumo tomar. O psiquiatra entra nessa hora. Ele medica afetos para diminuir a intensidade. Para você conseguir levar a vida até essa fase passar.

O psicólogo é quem vai, junto com você, entender o que está acontecendo. Os motivos de você estar passando por tudo isso. A razão de você não conseguir abrir mão de mágoas velhas e seguir em frente. O porquê de você não se dar valor.

Em casos de depressão, essa dupla psicólogo/psiquiatra bate um bolão. Eles podem salvar vidas. Eles podem ser o milagre que você ora pedindo que aconteça. Não tenha vergonha. Procure ajuda. O preconceito sim, esse mata.

Conclusão


Quando me perguntam se fé cura, digo que ela é suficiente para manter o ânimo. A depressão pode ser chamada de doença das emoções e cerca de uma em 20 pessoas são afetadas por essa doença que provoca distúrbio de humor caracterizado por vários graus de tristeza, solidão, desespero, insegurança ou culpa.

Não há na Bíblia menção a depressão propriamente dita, mas há características de pessoas depressivas. A Bíblia não menciona a palavra depressão embora descreve pessoas que poderiam se chamar de depressivos. Um exemplo bíblico de depressão foi o caso de Jonas, o próprio Elias que pediu a morte, Jeremias em Lamentações, Davi em muitos de seus Salmos cita situações de completa angústia. 

A doença pode resultar das seguintes questões: rejeição, abusos, estresse, raiva, fatores biológicos. E existem atividades que ajudam a combater a depressão como não ficar sozinho, procurar ajuda dos outros. A música pode elevar o espírito, como fez com Saul, quando Davi tocou a harpa. Leia firmemente a Palavra de Deus e descanse, confie nEle e em todos quantos, ao exemplo de Tito, Ele enviar para te consolar.
  • Há quem interessar possa, escrevi mais sobre esse tema: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui, E, com certeza ainda voltarei a abordar esse assunto.
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.

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