quarta-feira, 21 de junho de 2017

O SACRIFÍCIO DE ISAQUE, UMA LIÇÃO ETERNA DE FÉ E OBEDIÊNCIA

Eu tenho uma história especial com essa passagem da Bíblia. É que ela foi o tema da minha primeira ministração. Foi em um culto que era chamado "Tarde da Bênção". Me lembro que quando a irmã Rosângela - que já dorme no Senhor - que era líder da equipe de intercessão da qual eu fazia parte e que também era a responsável pelo culto realizado todas as sextas feiras na extinta Igreja Batista do Barreiro, me disse que naquela semana seria eu a ministrar a Palavra, fui tomado de um temor muito comum aos novos convertidos e que, graças a Deus, eu nunca perdi. 

Me lembro de todo o preparo que fiz: jejuei, fui para o monte orar, orei de madrugada... Afinal, seria a primeira vez que eu iria pregar em um culto público. E eu tinha apenas poucos meses de convertido. O Senhor honrou e a ministração foi uma bênção.

E lá se vão mais de duas décadas, mas ainda me lembro do quanto eu suei frio ao ter de encarar um púlpito, igreja cheia. Todos olhando para mim. Voz trêmula. Ainda sem os conhecimentos de oratória, de hermenêutica, de exegese, mas com um desejo incontrolável de fazer a obra de Deus e um amor insuportável por Ele. Depois de tanto tempo, inúmeras ministrações, amadurecimento espiritual, mais conhecimento teológico, mais segurança, mais experiências com Deus... Eis que me veio novamente à mente a lembrança daquele dia glorioso - uma sexta-feira, dia 25 de outubro de 1996 - e a mensagem que compartilhei com a igreja ali reunida.

Gênesis 22

 
Temos aqui o relato de uma das maiores provas da fé de Abraão. Esta parte das Escrituras é muito rica em doutrina e aplicação prática.

  • 1) Abraão é provado – versículos 1,2

Que choque Abraão recebeu quando Deus falou com ele aqui. Ele deveria oferecer Isaque, o filho da promessa, como uma oferta de holocausto. Isto deveria ter parecido totalmente contrário ao caráter de Deus. Não eram os pagãos que faziam tais coisas? Deus não estaria destruindo os seus próprios planos de formar a nação de Israel e por meio dela trazer o Salvador? Que prova isto deve ter sido para a fé de Abraão. Nada parecia fazer sentido.

Vamos considerar várias coisas a respeito das provações que Deus permite ao Seu povo:

a. Deus não tenta ninguém a pecar [Tiago 1:13].

b. Deus prova o Seu povo para testar a realidade da fé deles [Mateus 13:18-23].

c. Satanás provoca estas provas muitas vezes [Jó 1:6-12; Lucas 22:31].

d. As provações são usadas para amadurecer os santos [Tg 1:3,4].

e. Deus prova os santos para dar a eles a oportunidade de glorificá-lO por suas ações durante este período.

f. Deus dá forças aos verdadeiros santos para vencerem as provações [Lc 22:31,32; 1 Coríntios 10:13].

g. Estas provações são de grande valor para o povo de Deus [1 Pedro 1:7].

  • 2. Obedecendo sem questionar – versículos 3-5

A fé verdadeira agi na Palavra de Deus mesmo quando nada parece ser racional. No dia seguinte Abraão partiu para cumprir a vontade de Deus. Em nenhum momento Abraão questionou as ordens de Deus. Como Abraão reconciliou a ordem de Deus com a Sua antiga promessa? Em Hebreus 11:17-19, aprendemos que Abraão acreditou que Deus iria ressuscitar Isaque da morte. Isto também é visto no versículo 5, onde Abraão diz a seus servos que ele e Isaque iriam retornar. A obediência de Abraão foi estritamente um ato de fé.

  • 3. Isaque, uma figura de Cristo - versículos 6-14

Todo o Velho Testamento aponta para Cristo. Em muitas maneiras Isaque retrata o Salvador:

a. Isaque foi gerado de forma miraculosa.

b. Isaque, como Cristo, foi o centro dos planos de seu pai.

c. A morte de Isaque seria um grande sacrifício para Abraão, assim como Deus demonstrou Seu grande amor quando deu Seu Filho [João 3:16; Romanos 8:32].

d. Isaque foi oferecido por seu pai, como Cristo foi também.

e. O Senhor Jesus carregou Sua cruz, assim como Isaque carregou a lenha.

f. Isaque, como mancebo, poderia ter resistido ao seu pai. Nisto ele foi uma figura da disposição de Cristo em Se submeter aos planos do Pai [Isaías 53:7; Lc 22:42; Filipenses 2:5-11].

g. O livramento de Isaque é uma figura da ressurreição [Hb 11:19].

  • 4. A justificação da fé de Abraão - versículos 6-14

Aqueles que ensinam a salvação pelas obras, têm feito mau uso da passagem de Tiago 2:20-23, a fim de provar sua doutrina. Veja agora a interpretação correta:

a. Em Gênesis 15:5,6, temos o relato de como Abraão foi salvo pela fé. Ele foi justificado de todos os seus pecados e recebeu o dom da justiça que lhe foi imputada [Rm 4:1-5]. Gênesis 15 nos dá o primeiro exemplo da salvação pela graça. Abraão é o nosso "Pai" porque ele é o primeiro exemplo de salvação através da fé em Cristo. Todos que vão para o céu deverão ser salvos desta maneira.

b. Em Gênesis 22, Abraão justificou sua afirmação de ser um crente pela obediência a Deus. Tiago 2:20-23 não ensina salvação pelas obras, mas salvação pela fé que produz as boas obras. Qualquer fé que não se manifeste a si mesmo como sendo obediente a Deus, não é uma fé que verdadeiramente salva, mas uma fé morta.

  • 5. Abraão agrada a Deus – versículos 6-14

Pela fé Abraão obedeceu e agradou a Deus [Hb 11:2, 6, 17-19]. Muitos pagãos ofereceram seus filhos a falsos deuses movidos pelo medo ou por uma esperança egoísta. A fé movida pelo amor faz com que nossas ações sejam aceitas diante de Deus [Gálatas 5:6].

  • 6. Na salvação, Deus é o provedor - versículos 6-8; 13,14

Que revelação da graça nós temos aqui. A salvação não é comprada ou merecida, mas concedida por Deus. Na providência de Deus um carneiro foi fornecido para morrer no lugar de Isaque. Deus provou Abraão, mas Ele mesmo providenciou o sacrifício. O lugar foi então chamado de Jeová-Jire, que significa "Jeová proverá". 

Deus deu Seu Filho para morrer em nosso lugar. Um outro título de "Jeová" é Jeová Tsidkenu, que significa "Jeová é a Nossa Justiça" [Jeremias 23:6]. Deus o Pai, como Jeová, deu o Seu Filho para morrer pelos nossos pecados e se tornar a nossa justiça [2 Coríntios 5:21]. Como Jesus é também Jeová, podemos ver que Jeová provê e ao mesmo tempo é a nossa justiça.

O final do versículo 14 parece ser um provérbio que surgiu a partir deste evento. Ele significa, em essência, que naquele lugar foi visto ou demonstrado que Deus proverá.

  • 7. Uma lição para os cristãos - versículos 6-14

Há muito que aprender desta narrativa. Nós vemos que Deus deve ser o primeiro em nossa vida [Mt 10:37]. Muitas vezes Ele nos prova pedindo aquilo que é mais precioso para nós [19:21]. Nós vemos que somente pela fé é que podemos obedecer a Deus. A razão sozinha nunca é suficiente. 

E finalmente, nós vemos que nunca perdemos por confiar em Deus. Muitas vezes Deus nos dá de volta aquilo que Ele exigiu de nós. Deus não queria o sacrifício físico de Isaque, mas o espiritual. Deus permitiu a Abraão ficar com Isaque, após ele ter provado que estava disposto a entregá-lo.


Conclusão

  • 8. A aliança de Deus confirmada - versículos 15-20
Eis o Cordeiro

Se Deus nos pode pôr à prova, não devemos fazer o mesmo. Nós já provamos que Ele é bom (Salmo 34:8; 1 Pe 2:3).
O povo de Israel no deserto seguiu por este desvio, endurecendo o coração diante da palavra do Senhor, que sobre este episódio mandou escrever: 
"Vossos pais me tentaram, me provaram e viram a minha obra. [Por isto], durante 40 anos estive irritado com aquela geração e disse: É um povo que erra de coração e não conhece os meus caminhos; por isso jurei na minha ira: Eles não entrarão no meu descanso" [Salmo 95:8-11].
A única prova que podemos fazer com Deus é experimentar as promessas da Sua palavra, como a de que abre as janelas do céu e derrama bênção sobre aqueles que são lhe são fiéis (Malaquias 3:10).

Não podemos pôr Deus à prova, já que Ele já nos deu o Seu Isaque (Jesus Filho), para que pudéssemos ser salvos. Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Logo muito mais, sendo agora justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida (Rm 5:8-10).

A pergunta de Isaque ecoa na história da humanidade:
"Onde está o cordeiro?"
Abraão só pôde responder: "Deus proverá". Agora, no entanto, a resposta é outra. Jesus Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1:29). Nós somos Isaque, não o Isaque de Abraão, mas o Isaque de Deus. Deus proveu um Cordeiro para morrer em nosso lugar, para que, como Isaque, pudéssemos descer de Moriá. Ele ficou lá, para que não precisássemos ficar.
Então, o Cordeiro pergunta:
"Quem aceita o meu sacrifício?"
Deus quer "reinar sem nenhum rival em nosso coração". Isto acontece quando "vamos onde o Espírito de Deus quer nos levar", isto é, "ao perfeito relacionamento com o Pai". Isto acontece quando O colocamos acima de todas as coisas. Isto é amar a Deus de modo completo, "com toda a nossa força e com toda a nossa alma, mente, espírito e coração".

A Deus toda glória.
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