quarta-feira, 21 de junho de 2017

LIVROS QUE EU LI ESPECIAL - 178° DE MACHADO DE ASSIS: "MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS"

Quando a aclamada atriz Viola Davis - a vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2017, por sua participação no filme "Um Limite Entre Nós" -, protagonista de "How To Get Away With Murder" – uma das maiores séries da atualidade – ganhou em 2015 o Emmy de melhor atriz ela deu o seguinte discurso: 
"Na minha mente, eu vejo uma linha. E sobre essa linha que eu vejo campos verdes e flores lindas e belas mulheres brancas com seus braços esticados para fora sobre essa linha. Mas eu não consigo chegar lá, não sei porque. Eu não consigo superar essa linha. Isso era Harriet Tubman em 1800. 
E deixe-me dizer uma coisa, a única coisa que separa as mulheres de cor de qualquer outra pessoa é oportunidade. Você não pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem. Então aqui está para todos os escritores, o pessoal maravilhoso (…) que redefiniu o que significa ser bonito, ser sexy, ser uma mulher protagonista, ser negra".
A luta dos negros ainda não acabou. A realidade brasileira é muito diferente da realidade norte-americana, assim como, é claro, é diferente da realidade de vários países ao redor do mundo.

A cultura escravista e os resquícios da segregação racial continuam enraizados em nossa sociedade e, por mais que muitas pessoas se neguem a enxergar, viver o preconceito e a extrema diferença de oportunidades é a realidade dos negros até hoje. Infelizmente, até 1967 os negros nos Estados Unidos não podiam sequer votar, e suas casas eram queimadas em várias cidades enquanto a policia, muitas vezes fechava os olhos ou inclusive participava dos crimes de ódio. 

Felizmente, muito foi feito ao longo da história. Há menos de cinquenta anos, os negros sequer tinham direitos civis em vários lugares do planeta. Esse terror foi real há pouquíssimo tempo e é ingênuo pensar que não há traços disso na nossa cultura atual. Porém, como dito anteriormente, muito foi feito pelo direito dos negros ao longo da história. Principalmente nas últimas décadas, como a criação do Dia da Consciência Negra, comemorado no Brasil anualmente em 20 de novembro. 


Machado de Assis, um negro notável


Até hoje, muitos não sabem que um dos maiores escritores brasileiros era negro. Machado de Assis nunca fez universidade, o que é uma clara representação da situação dos negros no Brasil. Durante a época da Proclamação da República, transitou entre vários gêneros literários e foi assíduo comentador da situação política brasileira. Fundou – ao lado de colegas escritores – e foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras. Releia algumas de suas obras sobre a ótica de terem sido escritas por um negro e você vai perceber a sutileza e delicadeza das críticas traçadas por Machado de Assis.

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839 na cidade do Rio de Janeiro. Neto de escravos alforriados, foi criado em uma família pobre e não pode frequentar regularmente a escola. Porém, devido a seu enorme interesse por literatura, conseguiu se instruir por conta própria. Entre os seis e os quatorze anos, Machado de Assis perdeu sua irmã, a mãe e o pai.

Aos 16 anos, Machado conseguiu um emprego como aprendiz em uma tipografia, vindo a publicar seus primeiros versos no jornal "A Marmota". Em 1860 passou a colaborar para o "Diário do Rio de Janeiro" e é dessa década que datam quase todas suas comédias teatrais e Crisálidas, um livro de poemas.

Em 1869 Machado de Assis casou-se com Carolina Augusta Xavier de Novais sem o consentimento da família da moça, devido à má fama que Machado carregava. Porém, este casamento mudou sua vida, uma vez que Carolina lhe apresentou à literatura portuguesa e inglesa. Mais amadurecido literariamente, Machado publica na década de 1870 uma série de romances, tais como "A mão e a luva" (1874) e "Helena" (1876), vindo a obter reconhecimento do público e da crítica. Ainda na década de 1870, Machado iniciou sua carreira burocrática e em 1892 já ocupava o cargo de diretor geral do Ministério da Aviação. Através de sua carreira no serviço público, Machado de Assis conseguiu sua estabilidade financeira.

A obra literária de Machado era marcadamente romântica, mas na década de 1880 ela sofre uma grande mudança estilística e temática, vindo a inaugurar o Realismo no Brasil com a publicação de "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881). A partir de então a ironia, o pessimismo, o espírito crítico e uma profunda reflexão sobre a sociedade brasileira se tornarão as principais características de suas obras. Em 1897, Machado funda a Academia Brasileira de Letras, sendo seu primeiro presidente e ocupando a Cadeira Nº 23.

Em 1904, Machado perde a esposa após um casamento de 35 anos. A morte de Carolina abalou profundamente o escritor, que passou a ficar isolado em casa e sua saúde foi piorando. Dessa época datam seus últimos romances: "Esaú" (1904) e "Jacó Memorial de Aires" (1908). Machado morreu em sua casa no Rio de Janeiro no dia 29 de setembro de 1908. Seu enterro foi acompanhado por uma multidão e foi decretado luto oficial no Rio de Janeiro.

Seus principais romances são: "Ressurreição" (1872), "A mão e a luva" (1874), *"Helena" (1876), *"Iaiá Garcia" (1878), *"Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881), *"Quincas Borba" (1891), *"Dom Casmurro" (1899), *"Esaú e Jacó" (1904) e "Memorial de Aires" (1908). Além dessas obras, Machado de Assis possui uma extensa bibliografia que abrange poemas, contos e peças teatrais.
  • *Todos esses eu já li.

Do século XIX aos dias atuais – Mesmos problemas e sem soluções


O livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas" foi um romance realista escrito por Machado de Assis em 1880, a princípio foi publicado em folhetim, mas no ano seguinte foi publicado como livro com 160 capítulos. Ele retrata a história de uma forma diferente, Brás Cubas narra sua vida partindo da morte, seu enterro, seu leito de morte, até chegar a sua infância quando a narrativa passa a seguir uma forma linear que é interrompida por seus comentários. 

Como o autor narra sua morte em primeira pessoa passa a ser intitulado como defunto-autor. Esta obra do realismo pode ser caracterizada como única, pois nenhum outro escritor teve a mesma ideia de retratar uma obra contando sua vida partindo da morte, assim podemos dizer que é uma história totalmente ao contrário.

A história começa com uma dedicatória 
"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas memórias póstumas", 
um tanto quanto inusitada, não? Para resenhar esta obra e se fazer possível compreender é melhor contar do princípio: 

Brás Cubas era um garoto rico e mimado que fazia todos os tipos de travessuras era uma criança sem limites, por isso ganhou dos escravos o apelido de ‘menino diabo’. Quando estava com dezessete anos apaixonou-se por Marcela, uma prostituta de luxo que quase acabou com a fortuna da família, ele mesmo dizia que este amor durou quinze meses e onze contos de réis.

Para se esquecer de Marcela, seu pai manda-o para a Europa para estudar direito a fim de se tornar Bacharel em Coimbra, foi um período muito triste longe de seu amor, algum tempo depois teve de regressar ao Rio de Janeiro por conta da morte de sua mãe. Depois disso passa a namorar Eugênia que era coxa de nascença, filha de Dona Eusébia uma amiga pobre da família, mas não dura muito tempo. 

Como seu pai deseja que ele ingresse na política força o relacionamento entre Brás e Virgília que é filha do conselheiro Dutra, pois ele apadrinharia o futuro genro. Um típico relacionamento por interesse, mas, no entanto acaba se apaixonando pela moça que foi seu segundo amor mais duradouro. Porém Virgília resolve se casar com Lobo Neves que também se interessava em entrar na carreira política.

Com a morte do pai de Brás Cubas acorreu um conflito entre ele e sua irmã Sabrina que era casada com Cotrim. Mesmo casada com Lobo Neves, ao reencontrar Brás apaixona-se por ele e tornam-se amantes assim Virgília engravida, mas o bebê morre antes de nascer. As traições não são típicas dos dias atuais elas vêem desde o século XIX acompanhadas de mentiras e confusões. 

Como o romance dos dois precisava ser escondido, Brás Cubas convence Dona Plácida, que é empregada de Virgília, a aceitar que o casal apaixonado se encontre em sua casa as escondidas, o que lhe custou cinco conto de réis. Os interesseiros também já existem há muito tempo, pode ser que Machado de Assis tivesse escrito este livro pensando dois séculos mais tarde.

Nesta parte da história o protagonista se encontra com Quincas Borba (personagem de um romance também escrito por Machado de Assis logo após este). A partir daí nosso protagonista resolve ingressar se vez na política torna-se então deputado, porém Lobo Neves é nomeado presidente de uma província do norte e tem que sair da cidade levando sua esposa junto, o que foi muito triste para Brás ter que se separar de seu grande amor. 

Para tentar ajudar seu irmão, Sabrina consegue uma noiva para ele, a Nhã-Loló que é sobrinha de Cotrim de apenas dezenove anos de idade, mas a moça morre de febre amarela e definitivamente Brás fica solteiro. Este homem parece ter nascido para ficar sozinho depois de quatro casos amorosos nenhum deu certo é melhor continuar só, mas parece que tem algo errado para que um homem não se case no final do século XIX, uma época que todos intitulavam como uma "época mais séria".

Para seguir a vida em frente Brás Cubas tentar virar ministro de estado, mas não consegue, então funda um jornal. Neste tempo depois de vários anos Virgília que já está velha e sem a beleza de antes pede a seu ex-amante que ampare a Dona Pláscida que morre logo em seguida. Além disso, percebe ele que Quincas Borba passa a dar sinais de loucura. 

Nesta parte da história começa uma seqüência de funerais, pois falecem Marcela, Quincas Borba e o marido de Virgília, Lobo Neves. Para tentar ser reconhecido por algo de importante nosso defunto-autor faz uma última tentativa, o "Emplasto Brás Cubas" que acreditava que tiraria toda a melancolia da humanidade curando todos os tipos de doenças, mas ironicamente quando foi às ruas para resolver sobre seu mais novo projeto, saiu na chuva, pegou pneumonia e morreu aos 64 anos de idade. 

Virgília acompanhada do filho que teve com Lobo Neves vai visitá-lo em seu leito de morte e após delirar muito morre cercado de alguns familiares. Uma morte triste, pois passou a vida querendo ser reconhecido por algo, devido a isso ficou sozinho e morreu sem conseguir seus objetivos.

No final da história depois que conta sua morte, o autor volta a contar a história ao contrário falando apenas dos pontos negativos de sua vida:
"Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Pláscida, nem a demência de Quincas Borba. 
Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra e consequentemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa do meu final, não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."
Uma triste declaração ao seu leito de morte. Como conclusão pode-se dizer também que Machado de Assis escreveu este romance realista com muita sutileza nos fazendo crer que sua visão estava à frente se seu tempo, porque como já foi dito muitos problemas existem até hoje como as traições, interesses pelo dinheiro, entre outros. Assim este livro escrito de forma irônica é um dos mais importantes da literatura brasileira.

A Deus toda glória.
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