"Prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina. Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina, mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si mestres conforme as suas próprias concupiscências" (2 Timóteo 4:2,3).
O avanço extraordinário das igrejas evangélicas trouxe profundas transformações políticas e sociais para o Brasil — de acordo com recentes pesquisas, em menos de dez anos, os fiéis podem se tornar o grupo religioso majoritário no país.
Mas será que há algo a se comemorar? Podemos chamar este fenômeno de crescimento ou de um mero enchimento, consequência do efeito de uma fermentação? É o que veremos no texto deste artigo, mais capítulo da minha série especial, Pronto, Falei!
A realidade em números
A configuração do ministério pastoral tem passado por profundas transformações nos últimos 20 anos, especialmente com a ampliação da influência das redes sociais. Há quem mencione que já não existem mais pastores como antigamente.
Por outro lado, certamente é possível notar aspectos positivos, especialmente o acesso a um amplo espaço de materiais para estudos para aqueles que desejam se aprofundar nos estudos da Palavra de Deus, da Teologia, da prática ministerial, bem como se manterem atualizados com notícias do cotidiano pelas redes sociais.
Um levantamento minucioso e inédito, feito com base em registros de novos CNPJs na Receita Federal, mostra que a proliferação dos locais de culto evangélico nunca foi tão grande no Brasil.
Entre 2010 e 2019, o número de novos templos praticamente dobrou em comparação com a década anterior, passando de 54 000 para mais de 100 000, segundo o estudo "Surgimento, trajetória e expansão das igrejas evanélicas no território brasileiro ao longo do último século", do pesquisador Victor Araújo, do Centro de Estudos da Metrópole. Em 2019, foram abertos em média dezessete locais de culto por dia.
Crentes acadêmicos
É notória também a ampliação de membros de igrejas com formação universitária. Há igrejas com bom número de profissionais liberais, executivos e microempresários que, certamente, são mais exigentes com relação ao atendimento, seja pelo púlpito, seja no âmbito do planejamento e gestão das atividades eclesiásticas.
Mas também que necessitam de suporte quanto à sua vida profissional, familiar e social, que é vivida nos outros seis dias da semana diante de um mundo cada dia mais complexo, instável, frágil e exigente, que coloca em risco a fé e os valores cristãos.
E a característica dos cultos? Está fiel ao seu objetivo?
¹ Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês.² Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12).
Vivemos dias em que o púlpito virou estúdio de selfies. O pregador não sobe mais ao altar para declarar: "Assim diz o Senhor", mas para exibir o bíceps, a calça skinny e o corte degradê, as etiquetas de grifes... o chamado deu lugar ao carisma, a santidade foi trocada por estética, a pregação virou performance, e o evangelho, uma vitrine de vaidades.
O apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, não pediu que ele se tornasse agradável ao público, mas fiel à Palavra,ele não disse "apareça", mas "pregue". Mas os pregadores modernos preferem malhar mais o corpo do que a alma, e passam mais tempo diante do espelho do que diante do altar, são mais fiéis à academia do que às Escrituras.
Então, com o crescimento das redes sociais e de sua influência no modo de vida de muita gente, tem sido possível observar o surgimento de pastores que agem mais como influencers do que como pastores e que olham para suas ovelhas mais como seguidores das redes sociais.
Estão mais interessados em ampliar a sua contabilidade de visualizadores e seus adoradores em seus perfis, pouco interessados em pastorear.
Esses pregadores-fisiculturistas servem um cristo estilizado (e elitizado), feito à imagem do seu marketing pessoal, usam roupas justas, camisas abertas até o terceiro botão e caminham pelo altar como quem desfila numa fashion week gospel, não estão preocupados com a glória de Deus, mas com o ângulo da câmera.
E o povo ama, a audiência cresce, os views aumentam, mas o céu se cala.
Neste caso, nos parece que hoje se confunde a caracterização do que de fato é ser ovelha com a figura do ser "seguidor" nas redes sociais e o ser pastor com ser influencer.
Isso é possível notar ao crescer no meio evangélico a prática de se contabilizar o número de seguidores nas redes sociais e o quanto a pessoa influencia e captura mais seguidores.
Essa contabilidade tem se tornado um referencial para a valorização de ministérios, de funcionalidade e até priorização de investimentos.
Em termos gerais, o influencer atrai seguidores por meio de postagens, reels, vídeos, que chamam a atenção e são compatíveis com percepções, desejos e intenções de seus seguidores.
Há aí uma atração por identificação e não necessariamente por novos desafios que ultrapassem a linha da zona de conforto do seguidor, diferente do pastoreio, em que, muitas vezes, o pastor precisará exercer uma atenção admoestativa para com sua ovelha, para que busque alterar uma conduta, uma estratégia de vida que está sendo incompatível com algum princípio bíblico de vida e precise sair de sua zona de conforto.
Ser "influencer" implica em buscar "agradar" seus seguidores para conseguir mais seguidores, aumentar sua contabilidade de visualizações e viralizar suas mensagens, vídeos e tudo o que puder postar.
Necessariamente, o "pastor-influencer" — essenciamente diferente do pastor influente — não precisa ter vida modelo a ser "copiada".
Ser pastor implica em vida exemplar e atuação compatível com os ideais do Evangelho, também buscar investir em melhores condições de vida das ovelhas, mesmo que isso implique em indicar caminhos que possam ser diferentes de suas preferências, suas identificações, que passam a ser avaliadas à luz também dos ideais e valores bíblicos.
Um "pastor-influencer" tem suas próprias métricas, referenciais, é autocentrado, autorreferenciado, tendo como alvo conquistar mais e mais seguidores, buscando postar mensagens que possam atrair a identificação com eles.
Um pastor, por sua vez, tem como referencial a Cristo, como o apóstolo Paulo mencionou:
"Sede meus imita dores, como eu sou de Cristo" (1 Coríntios 11:1)
e também orientou seu discípulo Timóteo:
"… O que de minha parte você ouviu por meio de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a pessoas fiéis e também idôneas para instruir a outras" (2 Tm 2:2).
O pastoreio fomenta seguidores que miram em Jesus e nas Escrituras como seus ideais. O pastor é apenas um intermediário, uma "ferramenta", "recurso" do maior Mestre, para que Sua vida seja "impressa" na vida da ovelha, para que seja também seguidora do Mestre.
Conclusão
É errado, então, ter seguidores nas redes sociais? Não necessariamente. Mas não há como confundir o fato de ser pastor, ser ovelha, com esse cenário de "influencers", seguidores, "likes" e visualizações.
Vamos lembrar do desafio de John Stott (☆1921/✞2011):
"Não devemos perguntar: 'O que há de errado com o mundo?' Esse diagnóstico já foi dado. Em vez disso, devemos perguntar: 'O que aconteceu com o sal e a luz?'"
Enquanto isso, a verdadeira pregação a que confronta, que quebra, que transforma está em falta, ninguém quer mais ouvir sobre arrependimento, inferno, cruz ou renúncia.
O evangelho virou placebo para o cancer moral, anestesia emocional, e os "mestres conforme suas concupiscências" estão em alta, como Paulo profetizou.
O púlpito não foi feito para mostrar músculos, mas marcas de Cristo (Gálatas 6:17).
O pregador não foi chamado para ser modelo de Instagram ou de Tik Tok, mas embaixador do Reino,quem foi vocacionado por Deus não se curva à estética do mundo nem às exigências do algoritmo.
[Fonte: Veja (original); Adiberj, original por Pr. Lourenço Stelio Rega é eticista e Especialista em Bioética pelo Albert Einstein Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa (Hospital Albert Einstein) – Extraído do OJB.]
Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.

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E nem 1% religioso.

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