Até aqui, fizemos análises sobre os heróis da Marvel. A partir deste capítulo da série especial de artigos Freud e Os Super-Heróis, vamos focar nos heróis da DC Comics.
Semelhantes na forma, distintos na essência
Bem, tem gente que não sabe: a DC é a casa de Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Aquaman, Lanterna Verde, Liga da Justiça, etc. Já a Marvel tem como principais personagens Homem-Aranha, Capitão América, Homem de Ferro, Thor, Capitã Marvel, Vingadores, entre outros.
Resumidamente, a DC são “deuses querendo ser heróis”, enquanto a Marvel são “heróis querendo ser deuses”.
Para os milhões de fãs da DC e da Marvel, fica bastante fácil identificar quais são os heróis, os tipos de histórias, as locações, principais temas, enfim, todos os detalhes que fazem parte de cada editora.
Mas, aos olhos de grande parte da audiência que, como eu, não acompanha assim tão de perto cada empresa, pode ser difícil compreender as grande diferenças entre cada uma — até porque, embora sejam bem distintas, elas também tem muito em comum.
Bom, entendido isso, vamos analisar os traços psicanáliticos da primeira personagem da DC: a amazona Mulher Maravilha.
Suas caracterícas
A Mulher Maravilha se tornou um grande ícone da cultura pop. Tanto que a personagem em seus filmes mais recentes conversou a respeito de temas relevantes para o público atual.
Por isso, hoje nós faremos uma análise baseada no segundo filme da heroína, da própria personagem e do contexto no mundo real.
Enredo
Atenção: para compreenção do texto, é impossível não dar spoiles.
Em Mulher Maravilha 1984 nós acompanhamos Diana Prince (Gal Gadot) que, embora superpoderosa, não está imune à dor da perda.
Tudo porque a heroína continua de luto por Steve Trevor (Chris Pine), a sua primeira paixão que se sacrificou décadas atrás.
Enquanto Diana lida com essa perda, ela continua a salvar, de forma anônima, os inocentes que precisam de ajuda.
Entretanto, Diana encontra um artefato místico bastante poderoso quando enfrenta um grupo de assaltantes em um shopping. Por causa do poder dessa pedra mágica, Diana presencia o nascimento de dois novos super vilões. Além disso, Steve Trevor, quem ela acreditava ter morrido, retorna para a sua vida.
À medida que o filme avança, nós presenciamos os personagens divididos entre o desejo, a verdade e suas consequências. Afinal, Diana queria o seu amado de volta e conseguiu.
Porém, o seu desejo lhe custou a sua própria força. Quanto aos vilões, eles ganham poder ao passo que vão perdendo os seus lados humanos.
Mulher Maravilha 1984: um filme sobre esperança e a dualidade da vida
No segundo filme Mulher Maravilha nós percebemos que se trata de uma história sobre esperança e dualidade.
Assim que as pessoas descobrem o poder da pedra mística, em geral, elas são tomadas pela ganância.
Caso elas soubessem dos custos, é provável que pensassem duas vezes a respeito do que desejavam.
Além disso, o filme humaniza a protagonista, de modo a explorar as suas emoções e intenções. Mesmo que ela seja filha de um deus, Diana jamais conseguiu lidar com o vazio deixado pela perda de Steve. Assim como muitos telespectadores, Diana precisa do seu próprio tempo para superar o luto.
A princípio, Diana é um grande simbolismo para a redenção, visto que ela tenta incapacitar as pessoas em vez de matá-las. Mesmo que as pessoas sejam corrompidas por suas fantasias inocentes, Diana se mantém fiel a quem ela é. Tanto ela quanto outros personagens fazem o público enxergar o que a humanidade pode ter de bom.
A vida comum da Mulher Maravilha
Nós vemos nesse segundo filme que Diana Prince se sente solitária e incapaz de seguir com a sua vida.
Enquanto ela trabalha em um museu, divide o seu tempo salvando pessoas como a Mulher Maravilha.
Mesmo que a personagem viva entre a civilização há quase 70 anos, sente a nostalgia e saudade de quem já partiu.
Para as pessoas que assistiram ao primeiro filme a protagonista é bastante ingênua em relação ao mundo da guerra.
Ainda que ela viva há quase sete décadas na civilização, é importante destacar que não absorveu o cinismo das pessoas. Embora ela não seja tão ingênua quanto antes, a Mulher Maravilha ainda tem esperanças na humanidade, observando-a com amor.
O simbolismo da esperança
A Mulher Maravilha foi criada em 1941 por William Moulton Marston (✰1893/✞1947) como oposição aos heróis da época.
Segundo Moulton, heróis super violentos eram a pauta daqueles tempos e serviam de mau exemplo por valorizar a força bruta.
Com o intuito de ressignificar esse cenário, William Moulton pensou em uma heroína:
- Altruísta;
- amorosa;
- benevolente;
- empática.
Assim, surge a Mulher Maravilha que mesmo tão forte quanto outros heróis violentos, tem valores. Mesmo que ela possa usar armas ou golpes mortais, sempre prefere desabilitar os adversários e reabilitá-los.
A pedra misteriosa
Dessa forma, o público pode perceber que cada personagem têm muito o que ganhar e perder na trama.
Por exemplo, Diana reencontrar o seu amor, Maxwell ser respeitado e Barbara não ser mais menosprezada.
Com a ajuda do poder desse artefato nós percebemos até aonde esses personagens podem ir. Ainda que sejam heróis ou vilões, as possibilidades que o cristal místico oferece os faz confrontar suas atitudes.
Somente na conclusão, quando eles renunciam ou aceitam as consequências do desejo, descobrimos quem eles são de verdade.
Embora o filme seja exagerado e colorido, alguns personagens são consumistas e individualistas em muitos momentos. De acordo com a própria diretora, Patty Jeknkins, os anos 1980 representam o pior e o melhor da humanidade, mas eles ainda podem buscar pela redenção.
Considerações sobre Mulher Maravilha
Gal Gadol, como a Mulher Maravilha — Reprodução de divulgação |
Apesar do tom de fantasia, os personagens têm motivações sólidas e, entre erros e acertos, são humanos.
Mesmo que tenha perdas importantes, a protagonista não perdeu a esperança de que as coisas possam melhorar.
Nós podemos tomar essa mensagem para muitas situações das nossas vidas.
A psicanálise do luto
O luto é uma experiência de profunda dor que praticamente todos, em algum momento da vida, estão sujeitos.
A psicanálise oferece ferramentas valiosas para compreender e trabalhar essa vivência, ajudando na elaboração simbólica e na reconstrução da vida após a perda.
Sigmund Freud (✰1856/✞1939), em Luto e Melancolia (1917), definiu o luto como um “trabalho psíquico”, uma tarefa do aparelho psíquico para lidar com a ausência. Esse trabalho envolve não apenas a perda de pessoas amadas, mas também de ideias, projetos ou identificações que desempenham papéis significativos na vida do sujeito.
O luto é um processo ativo, que demanda a recomposição simbólica daquilo que foi perdido e a criação de novas posições subjetivas. Freud descreveu três tarefas principais no trabalho de luto:
- Reconhecer a realidade da perda — Este é o primeiro desafio: aceitar que aquilo ou aquele que se foi não está mais presente. A negação inicial é comum, mas, aos poucos, a ausência precisa ser simbolizada para que a elaboração avance.
- Reorganizar a relação com o perdido — O sujeito passa a identificar traços simbólicos do que foi perdido, reconstruindo memórias e significados. Este é o momento de “comparar e contar” as lembranças, ajustando a relação com o objeto ausente.
- Criar algo novo a partir da experiência de perda — No encerramento do luto, a terapia psicanálitica sugere que o sujeito integre simbolicamente o que foi perdido, permitindo o surgimento de uma nova posição subjetiva e, muitas vezes, de traços criativos.
A psicanálise não tem como objetivo “curar” o luto, mas possibilitar que ele se transforme. O trabalho clínico envolve a construção de um novo significado para a perda, permitindo que o sujeito mova-se do sofrimento paralisante para uma posição mais integrada e criativa.
O luto, afinal, não é apenas sobre o que foi perdido, mas também sobre o que se pode construir a partir dessa experiência. Com seu olhar profundo e acolhedor, a psicanálise auxilia o sujeito a encontrar novas formas de significação, renovando a vida diante da ausência.
Conclusão
Depois dessa análise do filme Mulher Maravilha 1984, com base na Psicanálise, apredemos o desenvolvimento do potencial interno por meio de um autoconhecimento bem trabalhado.
Dessa forma, a terapia o ajudará a analisar melhor as situações do cotidiano e permitir uma mudança satisfatória na sua vida.
[Fonte: Psicologia Clínica]
Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
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E nem 1% religioso.

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