quinta-feira, 10 de março de 2022

GRAMOFONE — "DOUBLE FANTASY", JOHN LENNON & YOKO ONO

Não, eu não sou fã do John Lennon! Nunca fui! Nem antes ou depois de sua carreira solo. Mas, não tem como dizer que o seu último disco, mesmo não sendo uma obra prima, deixou sim sua marca na música, por isso é que vou falar dele aqui em mais um capítulo da série especial de artigos "Gramofone".

Foi no fatídico dia oito de dezembro de 1980 que o mundo recebia a triste notícia do assassinato de um importante gênio da música e, para alguns, um excelente ser humano (quanto a isso, há controvérsias...). John Lennon foi pacifista, formador de opinião, empático e ativista político.

O adeus sonoro foi ao lado da companheira. Uma fantasia em dupla.


No último álbum, John conta com Yoko para cantar o recomeço do amor, o sentimento pelo filho Sean, o casamento — suas armadilhas e eternas dificuldades (os 'Mind Games'! — Detalhe: essa música, não é uma das faixas do disco) —, o mundo e suas "rodas", entre tantas outras belezas e tristezas. Uma partilha de letras, canções e sentimentos.

Um disco maduro, franco, positivo. Nele, há um John doce e sereno, consciente de suas escolhas, mirando o futuro. Sem messianismo, proselitismo ou qualquer outro "ismo". Há, acima de tudo, a felicidade de uma pessoa e dos que estão à sua volta, após 5 anos de reclusão do mundo "público".

Pouco mais de 20 dias depois, John se foi...


E as críticas negativas iniciais sobre "Double Fantasy" — a central, de que era uma idealização do relacionamento de John e Yoko — simplesmente desapareceram.

Nós nunca saberemos se uma reabilitação crítica teria naturalmente ocorrido depois que as pessoas superassem o choque inicial: em primeiro lugar, pelo fato de metade do álbum de retorno de Lennon, após uma ausência de cinco anos, ter sido composta de cortes pela mulher, Yoko Ono, e, em segundo lugar, pela evidente falta de interesse de John em viver de acordo com a sua imagem anterior, de revolucionário rock'n'roll cínico.

Mas tudo isso sem antes dar muitas cabeçadas e pisadas na bola, machucando muitos e se machucando ainda mais. Porém em várias oportunidades de sua vida mostrou resiliência e evolução para uma pessoa melhor, se desculpando por suas presepadas, corrigindo seus pontos de vista preconceituosos, e também passando a valorizar cada vez mais as coisas realmente importantes como o amor, a compaixão, a empatia e o controle do ego (a meu ver, um ponto ainda mais difícil e desafiador de lidar quando você é macho e se transforma ainda jovem num popstar rico) com tanta bajulação, facilidades e dinheiro que, facilmente em um mundo machista faz a personalidade egocêntrica se desenvolver a passos largos.

Tenho certeza que muito desta evolução aconteceu graças a sua união com seu amor verdadeiro Yoko Ono que tanto o influenciou.

Influência sim, por que não?


Quantas vezes escutamos que Yoko influenciou John? Muitas né! Óbvio! Mas infelizmente escutamos muito mais por aí a versão contaminada pela cultura do machismo onde as influências eram negativas. Aquela velha história que crescemos escutando de que a mulher esta lá por ser oportunista e interesseira, que depois que consegue o quer fica palpiteira e dominadora, e logo causadora de atritos e a diluidora do grupo de amigos leais, ou tudo isso junto ao mesmo tempo e muito mais blábláblá. E também aquela muito ruim (e espero que cada vez mais antiquada) de que 
"Por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher" 
ao invés do assertivo 
"Ao lado".

As influências de Yoko a John e vice-versa fluíram naturalmente e também de forma não intencional. Isso só acontece com pessoas que se amam de verdade e se permitem entregar-se inteiramente a este amor. 

Passaram a dividir tudo e a se apoiarem sempre. Basta uma pesquisada rápida sobre John e Yoko na internet para encontrar material vasto e muito emocionante sobre a vida deles em vários aspectos. Este disco sobre o qual falo aqui nos mostra exatamente isto!

Cumplicidade além do musical


Convido você a escutar com atenção "Double Fantasy", álbum finalizado em novembro de 1980 para notar o quão incrível, importante e atual soa mesmo quatro décadas depois de seu lançamento. E também para reforçar o igual crédito e peso a Yoko Ono na realização desta obra. 

Notarás que vou falar um pouco mais das músicas dela, porque as do John já foram muito resenhadas e são realmente maravilhosas. Isso porque na época, mesmo o disco se mostrando totalmente equilibrado entre o casal, infelizmente boa parte do sucesso nas vendas foi devido ao falecimento no mês seguinte do "ex-Beatle" como era mais frequentemente citado e não necessariamente porque a maioria das pessoas notou que se tratava de uma obra artística rica e genuína, um registro e prova de amor verdadeiro e principalmente um exemplo de igualdade entre os gêneros .

Genialidade, dedicação e influências estavam presentes em ambos. A simbiose entre Yoko e John era plena! Mas muitas vezes, como já acontecia desde o final dos Beatles, sobravam elogios a ele e críticas a ela. Após um merecido e energizante período de alguns anos para total dedicação ao filhote recém-nascido
'Beautiful Boy (Darling Boy)' Sean, às tarefas domésticas e ao núcleo familiar em si o casal volta a estúdio despejando uma mistura encantadora da energia deste período com a energia de todas as suas vivências e influências absorvidas anteriormente da cena musical, pistas de dança e arte contemporânea de Nova York do final da década de 70. 

Para ajudar na concepção desta parte eles convidaram o amigo Jack Douglas, um produtor experiente que além de já ter trabalhado em obras anteriores do casal, havia produzido para a gigante Patti Smith, New York Dolls, Aerosmith entre outros, o que ajuda nitidamente John e Yoko extrair e passear lindamente nas pegadas mais New Wave e pirações das músicas 'Give Me Something' e a 'Kiss Kiss Kiss' com a doida e criativa sobreposição de vozes da Yoko e cadenciada por um grudento arranjo de guitarra e tecladinho que pra mim lembra até um pouco B'52s , fundidas com o modernismo da artista.

A super dançante 'Every Man Has a Woman Who Loves Him', que foi a música que me fez prestar uma maior atenção no disco todo. A música pega a pista de surpresa e faz dançar muito! Ela tem groove suave, harmonia gostosa de voz, e é levemente dub no baixo, um pouco de bom humor nas passagens e uma letra que eu acho linda demais! 

Direta e profunda ao mesmo tempo! Principalmente na parte: 
"…If he finds in this lifetime (...Se ele a encontrar nesta vida) 
He will know when he presses his ear to her breast (Ele saberá quando encostar a orelha no peito dela)...
If she finds him in this life time (Se ela o encontrar nesta vida)"
She will know when she looks into his eyes (Ela saberá quando olhar em seus olhos)…" 
nos dando uma forte esperança de encontrar quem nos ame de verdade e nos fazendo pensar na espiritualidade, porque se não encontrar nesta passagem por esta vida, basta não perder a esperança e acreditar na imortalidade da nossa alma. Ela também nos lembra, gostosamente, Talking Heads e Tom Tom Club.

Temos a excelente 'Cleanup Time' de John, que surgiu após uma conversa telefônica com Jack Douglas onde eles conversaram sobre os anos 70 e a hora de começar a limpeza dos hábitos com álcool e drogas. 

Nas canções mais sentimentais e profundas o diálogo entre as duas músicas 'I'm Losing You' e 'I'm Moving On' onde a intenção foi ligá-las ritmicamente. Ensina que nem tudo são somente alegrias narrando um momento difícil entre os dois quando Yoko deu aquele tempo (e também um belo gelo) em John cobrando-o a maturidade necessária para que relacionamento continuasse.

John sentiu forte. Mostrou isso em canções como 'Woman' e outras provas e declarações de amor sublimes entre eles e para o filho Sean que tocam facilmente nossos corações. 

Conclusão


No entanto, há de ser dito que grande parte do mundo tem uma impressão errada do conteúdo do álbum. É um registro muito, muito mais duro do que o entendido por aqueles que só ouviram '(Just Like) Starting Over', 'Beautiful Boy (Darling Boy)', 'Watching The Wheels' e 'Woman' — os hits radiofônicos. 

O pesado bombardeio disse que os cortes (todas canções de Lennon) criaram uma impressão entre aqueles que não possuem o álbum de um trabalho sonífero e desleixado, em que John deixou sua felicidade doméstica sobrepujar seus conhecidos dons descritivos e analíticos. Esta impressão faria com que vários não o comprassem — e os impediu de apreender alguma sonoridade nem sequer insinuada nas canções. A exemplo das nuances do casamento.

Por fim ressalto a influência da música tradicional japonesa estilo Enka na forma de Yoko de cantar, com aquelas variações de entonação da voz que eu acho lindas e até estranhas, este estilo acredito que talvez tenha causado certa repulsa a quem não buscou a fundo este entendimento ou para aquele que é fã radical dos Beatles e só quer enxergar e prestar atenção na arte de Lennon.

Espero ter te instigado a mergulhar a fundo neste álbum maravilhoso e na vida deste casal que foi puro amor (e, claro, muitas polêmicas). E se tiver a oportunidade de escutar na íntegra 'Double Fantasy' original em vinil da Geffen Records, com encarte na mão, acompanhando as letras e a ordem das músicas, digo que a experiência se tornará ainda mais forte e enriquecedora!

[Fonte: Music Non Stop, por Captain Wander]
A Deus toda glória.

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E nem 1% religioso.
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