"Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo" (1 João 2:15,16 — grifo acrescentado).
Três coisas que marcam a sociedade atual: sexo, cartão de crédito e drogas. De certa forma, o consumismo é semelhante à Hidra da antiga mitologia; ele é uma serpente com muitas cabeças. Contudo, temos de vencer os desafios que o consumismo colocou diante de nós, como cristãos, peregrinos inseridos nesta nossa sociedade de consumo.
Qual a origem da "Black Friday"
Se existem datas "tipicamente" americanas que foram importadas para o Brasil sem muito êxito elas são o Thanksgiving Day (Dia de Ações de Graças) e o Black Friday (Sexta Negra). Digo isto porque as aspirações brasileiras em torno destas datas não chegam perto da realização dos seus criadores. Porém, como fui questionado sobre ambas as datas, gostaria de refletir sobre o antagonismo que percebo entre elas, principalmente no contexto cristão protestante.
O "Black Friday" é a expressão americana para descontos no varejo. Para mim, nada tem a ver com doutrinas espiritualistas afro-brasileiras, como li recentemente na internet. O "Black Friday" é puro merchandising, é marketing, é a sexta-feira da quarta semana de novembro em todos os anos.
Com o crescimento do e-commerce, ou seja, o comércio virtual, que foi mais potencializado com a pandemia, o "Black Friday" brasileiro cresceu com um número cada vez mais crescentes de lojas virtuais, cada uma anunciando ofertas que podem chegar a 75%.
Datas próximas, propósitos antagônicos
Grandemente celebrado nos Estados Unidos e Canadá, o "Thanksgiving Day" ou o Dia de Ação de Graças é um feriado cristão em gratidão a Deus pelos acontecimentos durante o ano. A história do costume permeia o século XVII, com a imigração de puritanos (protestantes ingleses) para o Novo Mundo.
O "Mayflower" levava a bordo muitas famílias que fugiam da perseguição religiosa em busca de liberdade. Os protestantes das 13 colônias fundadas, apesar das adversidades, mantiveram sua fé em Deus; e o Senhor os abençoou. No outono de 1621, tiveram uma colheita tão abençoada quanto abundante.
Emocionados e sinceramente agradecidos, reuniram os melhores frutos, e convidaram os índios, para juntos celebrarem uma grande festa de louvor e gratidão a Deus. Nascia o "Thanksgiving Day".
No Brasil, inspirados pelo dia norte-americano, desde o Presidente Dutra (✩1883/✞1974) e a Lei 781, passando pelo Marechal Castelo Branco (1966 [✩1897/✞1967]), o Dia Nacional de Ação de Graças está instituído na quarta quinta-feira de novembro em todos os anos, apesar de uma intensidade diferente.
Definido os termos, reflito: as datas de ambos acontecimentos são próximas, sendo que uma precede a outra; uma fala de consumo, a outra de produção; uma denota desconto a outra profusão; uma estabelece a compra exagerada e a outra a simplicidade da gratidão. Calma! Não sou contra nem uma, nem outra... Só reflito no antagonismo destas realidades. A oposição de idéias é clara.
Definição de consumismo
"Consumismo é aquela promessa de felicidade oferecida pelos bens materiais e serviços que se capitaliza no prazer de escolha de cada consumidor" (BENTON, 2002, p. 15).
Consumismo cristão: "Em sua essência, consumismo é 'eu-ismo' — chamando-nos a exaltar a nós mesmos como árbitros de todas as nossas questões" (MacARTHUR, 2009, p. 176).
MacArthur diz ainda que, diariamente, somos levados a escolher tudo, desde nossas roupas ao café, de modo a satisfazer aos nossos desejos pessoais. Nossas preferências e desejos recebem prioridade máxima, o que a Bíblia chama de concupiscência.
Como resultado, começamos a acreditar no mito de que o mundo gira ao nosso redor e daquilo que desejamos. Isso torna o ato de comprar agradável. Sentimo-nos poderosos quando entramos num shopping com um cartão de crédito nas mãos. Entretanto, quando essa atitude contamina a nossa vida espiritual e o que desejamos de uma igreja, estamos encrencados.
O consumismo é o "evangelho" atual
O consumismo é o evangelho atual que é oferecido pelo secularismo ao mundo. Chamamos o consumismo de evangelho secular porque ele finge conter as boas-novas de grande alegria para as pessoas — bem, pelo menos para as prósperas. Ele faz uma promessa de felicidade por meio da aquisição de bens materiais e atividades que se concentra, principalmente, no prazer que as pessoas sentem quando põem em prática a escolha pessoal.
As pessoas sempre gostaram de adquirir bens e sempre houve uma tendência de se viver para o mundo material em vez de se viver para Deus. Se temos "bens" suficientes, nos sentimos seguros e até autossuficientes. Todavia nem mesmo o rico insensato na parábola de Jesus em Lucas 12 teve a infinidade de opções com a qual nos deparamos em nossa sociedade sobre onde podemos gastar o nosso dinheiro.
Gostamos deste poder de compra e escolha. Possuir é ter poder. No entanto, há muita coisa além disso que está em questão. Com o crescimento populacional e uma vez que o número de pessoas se dirigindo para os grandes centros urbanos aumenta, a vida torna-se cada vez mais anônima.
A comunidade dos bairros, onde todos se conheciam e se aceitavam, já é coisa do passado. As pessoas já não se reconhecem como antes. Nesta sociedade anônima, a escolha pessoal de roupas, música ou cardápio, etc. é uma forma de autoafirmação. É uma forma de se expressar.
Esta ênfase na escolha pessoal e na afirmação de "quem eu sou" adapta-se perfeitamente à mentalidade pós-moderna contemporânea do subjetivismo, onde a única verdade é a "sua verdade".
Materialismo e egoísmo, irmãos siameses na luta contra a Fé
Como cristãos, podemos ver que o materialismo e o egoísmo são formas de idolatria. Entretanto, é preciso cuidado para não irmos além do normal. Pensar que o mundo material é, por natureza, mau é uma forma de heresia gnóstica que vemos ser condenada pela Bíblia (1 Timóteo 4:3-5).
O mundo material não é mau em si mesmo. Deus criou o mundo e se fez carne, assumindo a forma humana em Jesus Cristo (1 Tm 3:16). Além disso, a última etapa de nossa redenção inclui a ressurreição do corpo e a renovação do universo material (Romanos 8:22-25).
O mundo material não é mau em si mesmo. Deus criou o mundo e se fez carne, assumindo a forma humana em Jesus Cristo (1 Tm 3:16). Além disso, a última etapa de nossa redenção inclui a ressurreição do corpo e a renovação do universo material (Romanos 8:22-25).
Contudo, embora não devamos ultrapassar o normal nem condenar a criação física de Deus contra o materialismo e o consumismo, cremos, como cristãos, que só podemos utilizar o mundo material adequadamente uma vez que ele nos leva a agradecer a Deus e a direcionar a nossa vida para uma adoração sincera do Criador (1 Tm 4:4). Isto não acontece de forma natural com os pecadores.
AS CAUSAS DO CONSUMISMO
A questão cultural. Existem elementos culturais que alimentam o consumismo. Tais elementos incluem o humanismo, o existencialismo filosófico, o materialismo e o hedonismo.
- a) O humanismo afirma que os seres humanos são os seres mais elevados, o que é uma forma de ateísmo. O humanismo torna legítimos os desejos egoístas de nosso coração, dando-lhes credibilidade.
- b) O existencialismo argumenta que a essência é a chave para toda a existência. Na prática, isso significa que a experiência pessoal, o sentimento e a satisfação são o cerne da vida. O existencialismo dá liberdade para que os desejos de nosso coração se expressem totalmente e sem restrições.
- c) O materialismo apregoa que a derradeira realidade é a matéria. Assim, a nossa escolha, como consumidores, é soberana.
- d) Hedonismo: Filosofia de vida que considera o prazer como o bem supremo.
Questões carnais. Ignorância espiritual, quando se esquece a prioridade de Deus. Veja Romanos 11:36 — "Pois dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele seja a glória para sempre! Amém" e Colossenses 1:18 — "Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia (proeminência)".
Por essa razão, muitos crentes entendem que frequentar uma igreja é opcional, que não existe mais a necessidade de se tornar membro de uma igreja local e que a autoridade da igreja não é mais importante. O orgulho espiritual está presente quando os crentes acham que os seus desejos são mais importantes do que a vontade de Deus.
A apatia espiritual leva a uma total indiferença para com a glória de Deus. Essa falta de paixão pela grandeza de Deus impede o crente de vencer atitudes egoístas.
A MÍDIA — PROFETISA DO CONSUMISMO
Marshall McLuhan (✩1911/✞1980) foi o grande mestre da sociologia dos anos de 1960. Ele dizia que
"o meio é a mensagem".
Em outras palavras, o meio pelo qual nos é comunicada a mensagem já é uma mensagem em si.
Podemos entender isto simplesmente pensando no discurso como um meio de comunicação. Nossas palavras formam a mensagem, mas a nossa entonação é o meio pelo qual a mensagem é transmitida. Todos nós sabemos que podemos mudar completamente o significado de um conjunto de palavras faladas simplesmente alterando a entonação na qual elas são expressas.
Desta mesma forma, a mídia, que hoje ocupa grande parte da vida diária do mundo desenvolvido, tem mensagens em si só pelo fato de ser o que é. Além do conteúdo de um site segmentado, há idéias que a própria mídia transmite. Podemos resumir algumas das mensagens mais importantes da seguinte forma:
- A mídia é visual — sua mensagem é:
"O que você vê é o que é verdade",
implicando que a realidade material é tudo que existe.
- A mídia é instantânea — ela capta nossa atenção. A única coisa que importa é o agora. Se estamos assistindo a um programa, nossa capacidade de reflexão interior está temporariamente paralisada.
- A mídia é distante — embora vejamos as coisas na televisão, as coisas que vemos não podem nos atingir diretamente. As pessoas podem morrer de fome ou ir para os ares, mas isso não acontece conosco. Isto ofusca nossa sensibilidade moral.
- A mídia é entretenimento — ela enche nossos olhos de coisas prazerosas. Agradar o espectador é a coisa mais importante. A idéia de que a vida tem a ver com prazer nos é sutilmente comunicada.
- A mídia pode ser opcional — ela oferece uma diversidade de programas e canais que podem ser assistidos, coloca um controle remoto em nossas mãos e, na verdade, diz:
"É você quem escolhe".
Podemos ver que a mídia, em suas diversas plataformas, leva as mensagens básicas do consumismo. É materialista no sentido em que nos diz que a realidade consiste no que vemos. Ela nos diz que divertir-se agora, e não preocupar-se com os princípios morais, é a coisa mais importante da vida. Auxilia a satisfazer a ideia de que a escolha pessoal vem antes de qualquer coisa.
Todos os dias, então, as pessoas são evangelizadas pelo consumismo. Mesmo desconsiderando as propagandas, a televisão prega para as pessoas, da forma mais divertida e fascinante, as doutrinas básicas do consumismo. Tanto ricos quanto pobres se alimentam deste evangelho, que a cada dia entra direto em suas casas.
COMO O CONSUMISMO AFETA O INDIVÍDUO
Quais são suas prioridades?
À medida que esta mensagem do consumismo se espalha por todo o mundo, pessoas são atingidas por ela. Ela molda o modo de pensar e tomar decisões das pessoas. Os ideais do consumismo determinam as prioridades na vida da maioria das pessoas. Veja algumas formas pelas quais os indivíduos são afetados.
Nossa visão de mundo. As pessoas são levadas a definir suas prioridades levando em consideração apenas esta vida. Assuntos sobre a eternidade e a espiritualidade de cada indivíduo não são tão importantes para as pessoas quando elas são massacradas pelas propagandas materialistas do consumismo.
- Nossos Valores
Muitos dos valores visíveis da cultura de consumo explicitamente descartam virtudes cristãs. Sabemos que entre o frutos do Espírito está o domínio próprio (Gálatas 5:22,23). No entanto, a marca distintiva da sociedade do cartão de crédito diz:
"Por que esperar? Compre o que você quer agora!"
Mais uma vez, negar-se a si mesmo faz parte do discipulado do cristão.
- Nossos objetivos
O teólogo David Wells mostrou recentemente que, enquanto havia uma preocupação em desenvolver o caráter humano nos séculos passados, a nossa sociedade se preocupa em desenvolver a personalidade.
Qual é a diferença? O caráter é uma disposição interior de amar o que é bom, sendo que o "bom" é definido em termos absolutos pela natureza e pela vontade de Deus. Agora, as pessoas estão muito mais atraídas pela idéia de sentir-se bem consigo mesmas e se tornar personalidades "interessantes", "modernas" ou "divertidas". O foco não está mais na vida interior, mas na vida exterior.
- Nossa identidade
Vivemos em uma sociedade em que a identidade é vista como algo muito variável. De certo modo, podemos escolher a nossa identidade. Tudo o que devemos fazer é comprar os símbolos certos de status. Contudo, isto significa que a identidade pessoal está sendo desvalorizada.
Não passa de uma imagem. Consequentemente, as pessoas hoje têm dificuldade em saber quem realmente são. Além disso, uma vez que a identidade é algo flexível, não há qualquer relação entre o que afirmamos ser e o comportamento moral que se espera de nós. Isso deturpa o discipulado cristão sério.
COMO O CONSUMISMO AFETA A IGREJA
A cultura de consumo não apenas modela nosso modo de pensar e agir como indivíduos, mas também, uma vez que a igreja é formada por indivíduos, começará a influenciar a igreja, se seus membros forem influenciados. Desta forma, em vez de a Palavra de Deus reger a igreja, as doutrinas do consumismo é que começam a fazê-lo. Eis aqui algumas áreas onde isto pode acontecer.
- Nossa mensagem
O evangelho descrito na Bíblia é a mensagem que a igreja deve levar ao mundo. Este evangelho, fundamentalmente, constitui as boas-novas pertinentes ao perdão dos pecados diante de um Deus santo, por meio do Senhor Jesus Cristo e de sua cruz.
Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores (1 Tm 1:15). Esta mensagem compreende a estrutura dos princípios morais centrados em Deus para o mundo e define o que é "bom" em termos de moral.
A cultura do consumismo desenvolveu-se em uma sociedade incrédula/secular que abandonou as categorias da moral absoluta. Há, conseqüentemente, uma grande pressão sobre os pastores para que mudem a mensagem da igreja, reformulando-a de acordo com os termos centrados no homem. É uma mensagem que encara o homem como uma vítima, em vez de um agente do pecado que precisa arrepender-se.
Por fim, esta é a mentalidade na qual o próprio Deus é visto como um item de consumo, que é arrancado do armário quando nos sentimos feridos ou necessitados e guardado novamente quando não mais precisamos dele.
- Nossa comunidade
O consumismo é muito individualista. Tudo gira em torno da aquisição de coisas. Possuir bens é ter poder como indivíduo. O consumismo também se refere às nossas escolhas pessoais. Concentra-se no "eu". Em contrapartida, Deus nos convida para que deixemos o isolamento do individualismo e façamos parte de sua família, a igreja.
Ele quer que participemos e nos envolvamos com outras pessoas. Ele quer que exercitemos nossos dons para o bem de todos (1 Coríntios 12:5). Aqui, mais uma vez, a atitude básica do consumismo está em conflito com a vontade revelada de Deus.
- Nosso compromisso
O consumismo desenvolve-se na escolha pessoal e, portanto, em um mundo consumista onde a idéia de "manter suas opções em aberto" torna-se uma virtude. Entretanto, quando deixamos que nossas opções em aberto se tornem um estado constante da mente, o compromisso e a perseverança inevitavelmente morrem. Deixar nossas opções em aberto é o mesmo que ficar sempre em cima do muro.
Quando esta postura atinge os cristãos, as igrejas são usadas como um tipo de supermercado espiritual, para onde corremos para satisfazer nossas necessidades pessoais, mas é só nisso que estamos interessados. Estamos lá para receber, e não para oferecer.
Muitas vezes, quando as coisas ficam difíceis na igreja, as pessoas desistem e vão "procurar satisfazer suas necessidades" em outro lugar. Esta não é a visão da igreja que encontramos no Novo Testamento. É óbvio que precisamos optar por uma igreja, mas, feito isto, devemos permanecer nela e nos envolver em amor com a família de Deus.
- Nossa adoração
A característica distintiva de nossa sociedade de consumo é determinada pela televisão e pela preocupação pós-moderna com a imagem e não com o conteúdo. Juntas, estas são influências poderosas que levam até os cristãos a se preocuparem mais com a aparência das coisas do que com o que elas realmente são. Em particular, é fácil para os cristãos ver a igreja como parte de um palco de teatro do que um lugar de verdadeiro compromisso com Deus.
POR QUE O CONSUMISMO É UMA DECEPÇÃO
Há apenas um evangelho verdadeiro. São as boas-novas do Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo, que morreu para que fôssemos perdoados e tivéssemos vida eterna. Embora não haja nada errado com os bens materiais em si, aproximar-se deles tendo como motivação o consumismo é uma mentira idolátrica. As nações estão sendo enganadas.
Enganar as pessoas
O consumismo reduz a quase nada a importância de Deus, dos valores morais, dos desejos puros e da busca do caráter espiritual. Ele enfatiza que a felicidade pessoal é a única coisa que importa na vida. E Bíblia, por sua vez, deve ser relegada ao último plano na lista de itens que devem moldar a nossa vida.
Contudo, somos seres morais, feitos à imagem de Deus, quer reconheçamos isto ou não. Por isso, não podemos ficar em paz com nós mesmos ignorando esta área de nossa vida. Não podemos ter paz suplantando a consciência ou ignorando Deus.
Coisas materiais, ainda que boas, não podem satisfazer a nossa alma. Há um vazio espiritual no coração de homens e mulheres sem Deus que nenhum bem ou riqueza pode preencher. O rei Salomão nos adverte quando escreve:
"Todas as coisas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem se enchem os ouvidos de ouvir" (Eclesiastes 1:8).
Jesus disse:
"Não só de pão viverá o homem" (Mt 4:4).
Mas o consumismo engana o mundo indo além disto. O consumismo faz com que as pessoas se concentrem no aqui e no agora e se esqueçam de Deus e da eternidade. As palavras de Jesus ainda são verdadeiras:
"Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" (Marcos 8:36).
Uma sociedade que engana
O estilo de vida consumista e as indústrias que o sustentam acabam com os recursos da terra de forma alarmante. Estamos vivendo no paraíso dos tolos se pensamos que a terra poderá suportar para sempre este estilo de vida tecnologicamente avançado, descartável e centrado no prazer. O consumismo ostensivo não é uma forma sustentável de vida para o mundo.
AS MARCAS DO CONSUMISMO CRISTÃO
- Egoísmo
A aprovação divina é trocada pelo o que agrada ao consumidor. O primeiro capítulo do livro do profeta Ageu ilustra muito essa verdade. Os judeus exilados haviam retornado da Babilônia em 536 a.C. e iniciado a reconstrução do templo sob a liderança de Zorobabel (Esdras 6:1-22). Depois de dois anos de trabalho, eles pararam. Por que? Foram distraídos na construção de suas próprias casas e se esqueceram da casa de Deus (Ageu 1:9).
O que aconteceu? Os judeus haviam se tornado senhores de si mesmos. Da mesma forma, exalamos a nós mesmos quando buscamos nossos desejos e não os de Deus.
O consumismo cristão coloca Deus abaixo de nossas preferências. Coloca a nossa vontade acima dos seus desígnios. Steven Charnock (✩1628/✞1680) diz:
"Quando acreditamos que devemos ser satisfeitos, em vez de crermos que Deus deve ser glorificado, nós o colocamos abaixo de nós mesmos, como se Deus tivesse sido feito para nós, e não como se tivéssemos sido feitos para ele.
Não há blasfêmia maior do que usar a Deus como nosso servo; e não há pior lugar para isso do que no templo da adoração, onde fazemos a adoração a Deus centralizar-se em nós mesmos, e não nele" (MacArthur, 2009, p. 180, 181).
Como o egoísmo se expressa na igreja atual?
O consumidor procura o que pode receber da igreja em vez do que pode oferecer a Deus. Expressões como
"receber cem vezes nesta vida", "tomar posse de...", "restitui o que é meu", "chegou a minha vez".
Ao focar suas necessidades, o consumidor cristão perde de vista o centro da adoração, que é Deus.
Como resultado, segundo o apologeta Michael Horton ,
"nossos cultos geralmente são celebrações de nós mesmos, mais do que celebrações de Deus. Nunca antes, nem mesmo na igreja medieval, os cristãos foram tão obsessivos consigo mesmos. Auto-stima, auto-confiança, auto-isto e auto-aquilo tem substituído a discussão sobre os atributos de Deus."
Ironiamente, isso tem criado o oposto do que tenciona. Sem o conhecimento de Deus, em cuja imagem fomos criados, e sem a graça que nos transformou em filhos de Deus, o narcisismo, ou amor próprio, desenvolve-se em depressão (MacARTHUR, 2009, p. 181).
Pragmatismo modelado no eu
Os crentes modelados no eu servem a Deus conforme julgam mais adequados. Esse consumismo apresenta uma atitude que procura servir a Deus nos termos e sabedoria do próprio eu. Seus representantes não são motivados pela glória de Deus; tampouco se preocupam em honrar os mandamentos de Deus.
O nosso louvor deve ser como os sacrifícios do Antigo Testamento — tinham de ser perfeitos (Levíticos 22:20; Ml 1:11) e sem mancha (Êxodo 12:5; 29:1).
Uma característica do pragmático centralizado no eu é a falta de adoração fervorosa. A genuína adoração é uma expressão da grandeza de Deus, com todo o coração.
Cuidado com o dá-me, dá-me, dá-me… Buscar a mão e não a face de Deus.
As caracteríticas do individualismo absorto no eu
- Quem tem essa atitude busca independência e solidão.
- A autoridade da igreja é desconsiderada.
- A responsabilidade individual é evitada.
- A participação pessoal e desvalorizada.
- A pessoa pode até freqüentar uma igreja, mas foge de qualquer ligação formal ou comprometimento com a mesma.
Aqui, entra a figura de Narciso
Esse tipo de consumidor rejeita todo conselho espiritual do corpo de Cristo. Ele acha que não precisa dos demais. Ele pega somente aquilo que quer. Entretanto, tal postura não é bíblica. Provérbios 18.1 diz que quem se isola busca interesses egoístas e se rebela contra a verdadeira sabedoria.
Os seres humanos não foram criados para viverem isolados mas, em comunidades. O Novo Testamento ilustra a igreja como um corpo com muitos membros, uma vinha com muitos alhos, um rebanho com muitas ovelhas e um prédio com muitas pedras. Veja Atos 2:42 e Hebreus 10:25.
Consumir e servir não combinam. Essa é uma das dificuldades do consumismo. Aquele que age como rei no mercado não vai gostar de se colocar como servo no ministério. Mas, é para isso que somos chamados (Mc 9:35).
COMO COMBATER O CONSUMISMO
Coloque-se debaixo do exame da Palavra de Deus. É preciso desconfiar de nossas inclinações e examinar a nós mesmos (2 Co 13:5). Veja ainda Hebreus 4:12. Arranque o egoísmo de sua vida. Submeta-se às expectativas de Deus. Viva para adorar. Viva para servir.
Considerações finais
Muitos crentes falham em distinguir entre necessidade, desejo e cobiça ou ganância. De fato, a Escritura afirma que Deus supre as necessidades de seus filhos, conforme Mateus 6:25-33. Deus pode também cumprir o desejo do coração de seus filhos, se tal desejo estiver consonância com a vontade dEle (Salmo 37:4).
Porém, não há qualquer garantia nas Escrituras de que Deus vai cumprir todos os desejos do coração. Quanto à cobiça, a única promessa que a Escritura tem é de crucificá-la (Gl 5:24). Jesus reduziu a necessidade humana a três elementos: comer, beber e vestir (Mt 6:25). Paulo a reduziu a dois elementos: comer e vestir (1 Tm 6:8).
- Cultos na horizontal.
- Os cantores e seus cachês.
- As profecias e revelações são todas para agradar os clientes.
- Auto-ajuda. Acredite em você, acredite nos seus sonhos.
- Músicas do tipo "Agora é só vitória".
- Competição. As igrejas funcionam sob um clima de competição. O dinheiro nunca é suficiente para manter o estilo de vida de seus líderes e expandir o ministério. É nesse momento que muitos se tornam especialistas em destruir a reputação dos outros, principalmente quando percebem que o dinheiro está correndo na direção oposta.
CONCLUSÃO
Diante das decepções da sociedade de consumo, o apóstolo Paulo faz com que nos voltemos para Deus (1 Tm. 6:9,10). O estilo de vida do cristão deve ser caracterizado por caminhos melhores que levem a coisas melhores.
"De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento" (6:6).
Este foi o conselho sábio de Deus para seus filhos do século 1° da era cristã. Ainda é o conselho sábio de Deus para nós hoje.
Gostaria apenas que os leitores refletissem sobre os perigos do consumismo desenfreado (ênfase), tão proeminente que é celebrado após o Dia de Ação de Graças. Marketing perigoso. Reflitam sobre a insignificância da comemoração de gratidão em nosso país cristão... Omissão perigosa.
Enfim, a grande verdade é que, para muitos (incluindo cristãos protestantes) o sincero Thanksgiving Day é seu Black Friday bem sucedido. Neste ponto, não há antagonismo, é mero consumismo.
- Aplicação
Faça uma lista com os gastos que você pretende ter durante esta semana. Agora, elimine tudo o que for supérfluo. Não compre o que não é necessário. Descubra como pode aproveitar com sabedoria o dinheiro que você economizou. Que tal investir em educaçã, saúde e, principalmente, no Reino de Deus?
[Fonte: Revista Nossa Fé — ISMOS DE NOSSOS DIAS: Ideias atuais à luz da Bíblia (Adaptada de "Cristãos em uma sociedade de consumo", de J. Benton) —, via Ultimato; Bibliografia: BENTON, John. Cristãos em uma sociedade de consumo. São Paulo. Cultura Cristã. 2002. MacARTHUR, John. Ouro de tolo? – Discernindo a verdade em uma época de erro. São José dos Campos, SP. Editora Fiel. 2009. WHITE, John. Dinheiro não é Deus: Então, por que a Igreja o adora? São Paulo. A.B.U. Editora. 1996.]
- Já abordei este tema ➫ aqui.
A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. Não confuda avanço na vacinação e flexibilização com o fim da pandemia
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