sexta-feira, 23 de julho de 2021

DISCOS QUE EU OUVI — 62: "BACK TO BLACK" — ESPECIAL: 10 ANOS DA MORTE DE AMY WINEHOUSE

Não cheguei a ser fã de Amy Winehouse. Vim a saber dela, mais pela curiosidade despertada por todo o alvoroço sobre seu nome. E, decerto Amy foi como um furacão. Chegou rápido e fazendo barulho, muito barulho, enfatize-se, excelente barulho no mundo da música internacional.

A primeira música dela que ouvi foi a icônica e autoconfessional 'Rehab'. Quando dei por mim, lá estava eu repetindo o clássico refrão:
"They tried to make me go to Rehab
[Tentaram me mandar pra reabilitação]
But I said no, no, no
[Mas eu disse não, não não ]
Yes I've been black but when I come back
[É, eu andei meio mal, mas quando eu voltar]
You'll know, know, know
[Vocês vão saber, saber, saber]
I ain't got the time
[Eu não tenho tempo]
And if my daddy thinks I'm fine
[E mesmo meu pai pensando que eu estou bem]
Just try to make me go to Rehab
[Ele tentou me mandar pra reabilitação]
But I won't go, go, go
[Mas eu não vou, vou, vou]"
A letra da reveladora canção é o desabafo de uma jovem terrivelmente perturbada pela dependência química, mas, mesmo assim, foi o grande sucesso na curta carreira de Amy. "Back to Black" é o segundo (e último!) álbum de estúdio da musa Amy Winehouse (☆1983/♱2011). Lançado em 2006, primeiramente na Irlanda e depois no Reino Unido, o sucessor de "Frank", é o disco clássico da artista contendo os hits mais famosos.

O furacão Amy Anyhouse


Foto: Vince Bucci / Getty Images for MTV / Getty Images

Amy Winehouse nasceu em 14 de setembro de 1983 em Londres. A música fez parte da sua infância em todos os momentos, pois muitos tios eram músicos profissionais de jazz, bem como a avó paterna, que se relacionava com um saxofonista de um clube de jazz. Outra referência veio diretamente do pai, Mitchell Winehouse, que era cantor amador e entoava nomes como Ella Fitzgerald e Frank Sinatra para a filha, o que aumentou ainda mais a sua paixão pela música.

Mais tarde, aos nove anos, foi incentivada pela avó a se matricular em uma escola de artes e passou a desenvolver o lado cantora. Depois, aprendeu guitarra com o irmão mais velho e também montou uma banda de rap. Na mesma época, Amy criou na escola a sua própria audição. Ao apresentar a música 'On the sunny side of the street', clássico imortalizado por Billie Holiday (☆1915/♱1959) , impressionou os avaliadores e ganhou uma bolsa de estudos. 

A partir dos 15 anos começou a compor as primeiras músicas e a se apresentar em clubes de jazz na capital da Inglaterra. Em seguida, começou a se apresentar com o grupo Bolsha Band e entrou para a National Youth Jazz Orchestra depois de um teste organizado pela diretora da escola de artes que tinha sido expulsa. 

Entrada na indústria musical


Após alguns contratos de representações artísticas e contínuas apresentações, Amy Winehouse fez a sua primeira audição em uma grande gravadora, a Universal Music. Foi convidada por Darcus Beeze, em 2002, a cantar para uma espécie de plateia de executivos e foi contratada pela Island Records, uma subsidiária da Universal no Reino Unido. 

Dessa forma, iniciou o processo de composição do primeiro disco, "Frank", lançado em 2003, quando tinha apenas 20 anos de idade. O álbum, que une hip hop, jazz, reggae e neo soul, estreou com sucesso modesto à época, mas continha canções como 'Amy, Amy, Amy', 'Stronger than me' e 'October Song'.

Depois do lançamento de "Frank", Amy passou por diversos períodos conturbados envolvendo álcool e drogas, além de transtornos alimentares. Ela, então, rompeu com a gravadora anterior e no meio da turbilhão que sua vida se transformou começou a trabalhar no segundo disco. 

"Back to Black" foi feito em cinco meses e mostra o lado mais reflexivo de Winehouse. Mais popular, o disco tem fortes influências do R&B e do Soul dos anos 1960, além do ska, reggae e ritmos caribenhos presentes também no primeiro CD. O single 'Rehab' foi responsável por lançar a artista internacionalmente. "Back to Black" disco foi o mais vendido no mundo em 2007, um ano após o lançamento. 

A conquista do mundo


O sucesso estrondoso de "Back to Black" levou Amy Winehouse para vários lugares do mundo, inclusive aqui no Brasil. Muito se deu pelo ecletismo que ela trazia nas composições, o que demonstrava domínio de diferentes gêneros, indo do contemporâneo ao mais antigo. Além disso, as letras transitavam pela ironia e o sarcasmo e o extremamente íntimo, particular e pessoal. Outro destaque fundamental, talvez o mais aclamado, é a voz da Amy. Por vezes rouca, mas sempre profunda e carregada, Amy Winehouse emitia o que queria ao cantar: poder, força, sentimentalismo, dor ou alegria.

Da ascensão ao declínio


No dia 23 de julho de 2011, Amy Winehouse foi encontrada morta pela polícia de Londres, no apartamento em que morava. O laudo apontou que a causa foi overdose, para cada 100ml de sangue havia 416mg de álcool.

Entre prêmios e polêmicas, Amy Winehouse ainda deixa uma lacuna. A próxima voz black de uma mulher branca está escondida. Além de ser uma grande cantora, compositora e intérprete, a Amy era uma personagem. Um ser humano que entrava muito forte nas emoções e conseguia transformar isso em música.
"Acho que não vou ficar famosa, o tipo de música que eu faço não tem essa dimensão. Se isso acontecesse, acho que eu enlouqueceria"
disse Amy Winehouse, em 2003. Após 10 anos da morte da artista, em 23 de julho de 2011, o talento da cantora é incontestável e ainda hoje é difícil enxergar uma sucessora. O musicólogo Ricardo Cravo Albin atesta: 
"Amy, mesmo morta, está viva".
A carreira de extremos a levou a dois Grammys, cachês de US$ 1 milhão e também a constrangimentos. Apesar disso, o lugar de Amy está vazio. 
"É preciso uma série de felizes coincidências para que surja alguém como a ela. Por ter morrido de forma tão triste e trágica, Amy virou uma lenda. Da mesma forma que aconteceu com Janis Joplin (☆1943/♱1970) e Kurt Cobain (☆1967/♱1994)"
esclarece o apresentador e crítico de música Guilherme Guedes.

Em resumo, Amy marcou a história da música mundial. Está na lista das 60 Maiores Cantoras-Compositoras de Todos os Tempos, elaborada pelo The Daily Telegraph, ocupando o décimo lugar. Além disso, no catálogo dos artistas mais importantes do mundo, feito pela revista Mojo, Personalidades Mais Influentes da Inglaterra e 100 Grandes Mulheres na Música. Agora vamos à

História do disco


O lançamento de "Frank" — o primeiro dos dois únicos álbuns na meteórica carreira da jovem cantora britânica —  colocou Amy Winehouse na rota do sucesso. Cantora desde os 14 anos, ela conseguiu um bom agente aos 19, que logo a colocou para gravar um disco. 

Bem nas vendas e nas críticas, algumas pessoas começaram a ficar de olho no talento dessa cantora inglesa nascida em Londres. De voz espetacular, ela tinha tudo para ser uma das grandes —  comparando até mesmo com as melhores, como Nina Simone, Aretha Franklin (☆1942/♱2018), Billie Holiday e outras.

A turnê do disco acabou, prêmios foram levados para casa e um novo trabalho começou a ser montado. Se o primeiro disco era uma levada mais jazz, o segundo seria diferente. Primeiro, Winehouse demonstrou um interesse em ouvir mais coisas do R&B dos anos 1960, principalmente dos grupos formados por garotas. Mitch Winehouse, pai de Amy, conta em seu livro sobre a filha como ela olhava admirada para a cantora Sharon Jones, do grupo Dap-Kings

O encontro que mudaria os rumos do disco foi quando Winehouse foi ao programa de Mark Ronson na East Village Radio. Ele tocou as demos de 'You Know I'm No Good' e 'Rehab', e ficou impressionado com o que viu. Amy esperava um cara mais novo, Ronson gostou da postura dela no estúdio ao refutar o que não gostava. Então, os trabalhos começaram em Nova York para o segundo disco de estúdio dela.

Ronson e Salaam Remi — o primeiro produziu seis músicas, o segundo ajudou em cinco — foram os responsáveis pela produção do disco. A intenção era criar um clima de soul e R&B usando como base a temática triste das canções escritas por Amy, então em fim de relacionamento. 

Era uma lista com canções muito duras, recheadas de sinceridade e vindas de alguém que realmente estava sentindo a perda. Algumas tentativas de mixagem e de refazer algumas coisas foram feitas, mas tudo fazia tão sentido sendo quase cru, que Ronson apenas acrescentou alguns metais, cordas e percussão em Londres — o grosso do trabalho foi feito nos Estados Unidos em menos de um mês. Até por isso, muita gente é creditada no trabalho.

Trazendo o soul e o R&B para a sonoridade de Amy, o disco apresenta ainda influências da música jamaicana, como o ska. As letras da cantora e compositora abordam problemas de relacionamento e uso de drogas começando com 'Rehab', que introduz o disco e terminando em 'Addicted', duas das músicas mais famosas da artista.

O álbum inteiro é destaque na sonoridade de Amy mesclando o jazz dançante das canções mais famosas como 'You Know I'm no Good e 'Back to Black' à melancolia de 'Me & Mr Jones', 'Love is a Losing Game' e 'Wake Up Alone'.

Faixa a Faixa


Inspirada em uma conversa com o pai sobre ir à habilitação, 01) 'Rehab' é o grande single do disco e uma das canções mais populares do século 21.

Mark Ronson perguntou a Amy sobre o assunto e ela respondeu com que viria a ser o refrão, respondida pela batida tão conhecida. Eles voltaram ao estúdio para cantora desenvolver a letra, finalizada e gravada em menos de três horas.  


Um soul de primeira grandeza, a faixa abre "Back to Black" de maneira sublime. É impossível parar de ouvi-la depois que começa. Indo do soul para o blues, 02) 'You Know I'm No Good' geralmente encerrava as apresentações por ter uma longa suíte instrumental na parte final. A letra é extremamente autobiográfica, então é possível ter uma ideia do que a cantora estava passando naquele momento. 

A curta 03) 'Me & Mr Jones' é a volta ao jazz, uma Amy Winehouse certeira tendo ao lado uma banda ótima, que consegue criar todo o clima para a canção. Contrastando com as anteriores, 04) 'Just Friends' tem uma base reggae em cima de outra letra bem pessoal 
"When will we get the time to be just friends
[Quando teremos tempo para sermos apenas amigos] 
It's never safe for us not even in the evening
[Nunca é seguro para nós, nem mesmo à noite]
'Cos I've been drinking
[Porque eu tenho bebido]
Not in the morning where your shit words
[Não de manhã, onde suas palavras de merda]
It's always dangerous when everybody's sleepin
[É sempre perigoso quando todos estão dormindo]
And I've been thinking/Can we be alone?
[E estive pensando: Podemos ficar sozinhos?]
Can we be alone?
[Podemos ficar sozinhos]". 
Tem algo muito especial em 05) 'Back to Black'. Para qualquer um que passou por algum rompimento traumático, a letra pega de jeito. Se você não passou por isso, é difícil não se colocar no lugar da pessoa e olhar o que aconteceu. Porque não é só uma música, é a vida de uma pessoa destrinchada para quem quiser ouvir. E ela nem está mais aqui, o que dá ainda mais peso para essa melodia triste, a levada soul digna de muitas cantoras históricas e uma banda sublime.

Depois de uma paulada, uma balada também paulada: 06) 'Love Is a Losing Game' é muito triste. O mérito aqui é ser quase crua, então é possível sentir Amy a cantando do fundo do coração. 

Os instrumentos de sopro dão o tom de 07) 'Tears Dry on Their Own', agora o romance acaba com o sol se pondo — na letra mais poética do disco. Mais uma letra triste, mais um bom andamento da banda: 08) 'Wake Up Alone' tem um ar soul clássico e moderno ao mesmo tempo, ela é dessas que merece um pouco mais de atenção. 

09) 'Some Unholy War' traz uma sensação de improviso maior do que as outras, já 10) 'He Can Only Hold Her' recoloca o jazz no caminho e, por fim, 11) 'Addicte' fala de drogas, mas poderia ser sobre o ex-namorado. 

Amy Winehouse conseguiu entregar um disco espetacular, hoje eternizado como um dos grandes trabalhos feitos na primeira década do século 21. 

Conclusão


Lançado em 30 de outubro de 2006, "Back to Black" atingiu a terceira colocação da parada do Reino Unido e o sétimo posto nos Estados Unidos. Na medida em que o sucesso da cantora foi aumentando, as vendas também cresceram muito, principalmente ao longo de 2007 — sendo o segundo disco mais vendido da história no século 21 na Inglaterra, atrás apenas de "21", de Adele. 

No ano seguinte, ela foi a primeira cantora a conseguir colocar uma versão deluxe de um álbum no top-20 britânico. "Back to Black" é sem dúvida um dos clássicos na discografia do século 21. O Segundo e último disco lançado por Amy Winehouse, mostrou todo talento da cantora e a colocou entre as grandes de todos os tempos.

Ficha técnica:

Tracklist:
  1. Rehab (3:34)
  2. You Know I'm No Good (4:17)
  3. Me & Mr Jones (2:33)
  4. Just Friends (3:13)
  5. Back to Black (Winehouse / Mark Ronson)
  6. Love Is a Losing Game (2:35)
  7. Tears Dry on Their Own (Winehouse / Nickolas Ashford / Valerie Simpson) (3:06)
  8. Wake Up Alone (Winehouse / Paul O'Duffy) (3:42)
  9. Some Unholy War (2:22) 
  10. He Can Only Hold Her (Winehouse / Richard Poindexter / Robert Poindexter) (2:46)
  11. Addicted (2:45)
  • Todas as músicas foram compostas por Amy Winehouse, exceto as marcadas.
  • Gravadora: Island
  • Produção: Mark Ronson, Salaam Remi
  • Duração: 34min56s

A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
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