Crédito da imagem: Getty Image
Estou prestes a completar 54 anos de idade... Nosso Deus! A impressão que eu tenho é que após os 50, os anos parecem passar mais rápido. Se isso é verdade ou não, eu não sei, mas, devo confessar que me assusto um pouco. Não há como fugir do óbvio: ESTOU ENVELHECENDO!
Todos envelhecemos. Todos os dias. Quando você acabar de ler este texto será um pouco mais velho do que ao começar. E, paradoxalmente, embora esta seja a melhor das possibilidades (pense em qual é a única alternativa a se tornar mais velho), a passagem do tempo e ultrapassar certas décadas e cifras simbólicas sempre causaram temores e inquietação para todos nós. Existem realmente as crises da idade ou são uma invenção do marketing?
A realidade da vida vs. a utopia da sociedade
A velhice ainda é um tabu. No aspecto comercial, não faltam propagandas que insultam a inteligência do espectador oferecendo "medicamentos" inúteis — os placebos —, sem base médica, que prometem vigor físico e sexual ou acabar com doenças "milagrosamente" e retardar os males do envelhecimento. E tome imagens de idosos superativos, correndo, sorrindo, dançando — só falta voarem.
O perceber-se envelhecer, constatar o decair das próprias forças e a consequente aproximação da morte sempre foi um problema para o ser humano de todos os tempos. Algumas culturas e civilizações lidaram com esta questão de maneira mais tranquila, outras menos.
O envelhecimento, de acordo com a cultura judaico-cristã
Partindo do pressuposto que lemos o texto bíblico desde o lugar da fé cristã e da teologia, cremos deixar esclarecido qual é o viés da nossa reflexão. Trata-se aqui não tanto de procurar descrições dos processos psicológicos e biológicos que caracterizam o processo de envelhecimento e sua experiência. Mas sim de procurar destacar algumas implicações éticas e religiosas decorrentes deste processo que o povo bíblico trouxe à luz incorporou ao seu patrimônio de fé no Deus de Israel.
1. A idade entendida como etapa da vida ou como idade madura, maturidade
São os dois sentidos em que o termo quase sempre aparece no Antigo Testamento. Tal como os outros povos da antiguidade, também o judaísmo professa um grande respeito aos anciãos:
"Levantem-se na presença dos idosos, honrem os anciãos, temam o seu Deus. Eu sou o Senhor." (Levíticos 19:32).
A razão desse respeito é que o velho é mediação para o temor que se deve ter ao próprio Deus. Além disso, é consenso em Israel que os velhos possuem a sabedoria e a prudência (Jó 15:10; Eclesiastes 6:3s).
Por isso não é estranho que sempre hajam desempenhado no meio do povo uma função de direção e aconselhamento. As cãs do velho, que são o sinal patente de sua idade avançada, não devem ser motivo de riso, mas de respeito, pois são um distintivo de honra. Assim diz o Livro dos Provérbios:
"A força é o adorno dos jovens, os cabelos brancos são a honra dos velhos" (20:29).
No Novo Testamento, aparece claro que o homem não tem nenhum poder ou influência sobre sua idade física, já que ela é um dom do criador (Mateus 6:27). Diante do tempo que passa, portanto, e faz sentir seus efeitos sobre o corpo, a mente e a potência, o homem é chamado a crescer em maturidade, em virtudes, em graça e sabedoria até atingir a estatura (que em grego é designada pelo mesmo termo que "idade") do próprio Cristo (conforme Efésios 4:13). O apóstolo Paulo resume magistralmente esse processo paradoxal que deve ser o do cristão, ou seja, daquele que vive da vida nova "em Cristo".
Ao mesmo tempo que constata a caducidade física, a decadência corpórea, exorta os cristãos de Corinto a investir no crescimento de seu "homem interior", entendido aí como a vida espiritual de cada indivíduo ao mesmo tempo que do corpo de Cristo.
Vale a pena transcrever suas palavras cheias de Espírito:
"Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.
Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente;
não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas" (2 Co 4:16-18).
O que Paulo quer descrever aqui é a expressão da mutação que se opera no ser humano ordinário como consequência da ação criadora da presença do Senhor. A velhice e o envelhecimento, portanto, segundo Paulo, não devem ser problemas para o cristão, que em Cristo é uma nova criatura e sobre quem a caducidade do tempo "kronos" não tem mais poder, já que este entrou numa nova ordem.
O "kairos" que não passa e tem a irradiação e a luz do próprio Cristo Ressuscitado que já não morre e vive para sempre. A unidade de medida da idade, portanto, para o cristão, passa por outros critérios que não os que levam o envelhecimento a ser temido como conduzindo à idade indesejada.
2. No Antigo Testamento ainda se percebe uma visão positiva da velhice como bênção, plenitude e cumprimento cheio e fecundo dos objetivos da vida
Isto é verdade sobretudo da velhice do justo, ou seja, daquele homem que viveu segundo o coração e o sonho de Deus. De Abraão, diz-se que
"Morreu em boa velhice, em idade bem avançada, e foi reunido aos seus antepassados" (Gênesis 25:8);
Jó, justo provado pela mão do Senhor, já em meio aos sofrimentos que sobre ele se abatem, e
"apresentando sua causa diante de Deus" (5:8),
recebe d'Este a promessa:
"Você irá para a sepultura em pleno vigor, como um feixe recolhido no devido tempo" (5:26).
Os salmos estão cheios de súplicas e ao mesmo tempo promessas de Deus em relação à velhice dos justos. O velho que sente suas forças declinarem suplica:
"Não me rejeites na minha velhice; não me abandones quando se vão as minhas forças... Agora também, quando estou velho e de cabelos brancos, não me desampares, ó Deus, até que tenha anunciado a tua força a esta geração, e o teu poder a todos os vindouros" (Sl 71:9; 18).
E Deus promete, cheio de generosidade:
"Os justos, porém, florescerão como a palmeira; como o cedro do Líbano crescerão altaneiros. Plantados na casa do Eterno, florescerão nos átrios do nosso Deus.
Mesmo na velhice, cheios de seiva e viço produzirão frutos para proclamar que reto é o Eterno. Ele é a minha Rocha, que não dá lugar à injustiça" (92:13-16);
"Ele é o que perdoa todas as tuas iniquidades, que sara todas as tuas enfermidades, que redime a tua vida da perdição; que te coroa de benignidade e de misericórdia" (103:3,4).
E na fidelidade do Seu amor por Israel, Deus afirma:
"Até vossa velhice serei o mesmo, até vossos cabelos brancos, sou eu que vos sustentarei..." (Isaías 46:4).
Para Israel, portanto, Deus não está submetido ao desgaste físico do homem na sua velhice. O tempo não tem domínio sobre ele, pois Ele é Senhor também do tempo, e ao justo faz participar da sua vida que não morre, cumula a velhice de frutos e transforma a idade avançada na mais tenra juventude.
3. O que vem sendo dito da velhice humana na Bíblia encontra uma "nuance" especialmente delicada no caso da mulher
Se a velhice é dramática tica para o homem, na mulher ela se agrega a um elemento mais de extrema seriedade para o auto-respeito desta mulher como pessoa e sua integração na sociedade e na comunidade.
A mulher velha não é mais capaz de conceber, ou seja, não pode mais dar filhos ao povo e assim tornar concreta e real sua pertença ao povo eleito e sentir-se e experimentar-se abençoada por Deus. Quando no seu percurso vital, a experiência da maternidade já aconteceu, essa mulher já encontra sua vida justificada.
Cheia e rodeada pelos frutos do seu ventre, pode agora viver dignamente a esterilidade de sua idade e condição, tendo cumprido com sua missão. No entanto, a Bíblia nos relata o caso de algumas mulheres que viveram o imenso drama de não gerarem filhos e se perceberem numa idade onde já não poderiam jamais gerá-los.
Sara, mulher de Abraão era idosa, avançada em anos e não havia gerado filhos para Abraão. Eis, porém que o Senhor interfere em meio a sua velhice e a desorganiza com a promessa da vinda inesperada de uma criança, o filho da promessa.
Sara estava na porta da tenda quando Deus falou com Abraão e lhe disse
"...eis que Sara tua mulher ter um filho" (Gn 18:10).
Sara, realista a respeito das coisas e de si própria, conhecia a decadência de seu corpo e era madura a respeito de suas impossibilidades. Sua reação foi prorromper num riso incrédulo, dizendo para si mesma:
"Assim, pois, riu-se Sara consigo, dizendo: 'Terei ainda deleite depois de haver envelhecido, sendo também o meu senhor já velho?'" (18:12).
Deus ouve o riso de Sara e questiona sua incredulidade e a questão por ela colocada. E demonstra que não há nada demasiado prodigioso para Aquele que é o Senhor da vida e conhece os segredos de todas as gerações. Fecundando o ventre velho e estéril de Sara, mostra seu senhorio ali onde avida, humanamente, seria impossível.
Nasce Isaque, cujo nome é um jogo de palavras com o riso incrédulo de Sara. Isaque, cuja significação precisa é: "Que Deus ria, sorria, seja benévolo". Sobremaneira benévolo é esse Deus que faz Abraão reencontrar sua potência viril aos cem anos de idade e Sara reconhecer o prazer de fazer amor e gerar um filho aos noventa anos.
A Bíblia conhece e fala sobre outros casos de mulheres velhas e estéreis que dão à luz. É o caso de Ana, mãe de Samuel, cuja oração é ouvida pelo Senhor que lhe dá um filho, o qual ela consagra para sempre ao Deus que eliminou a maldição de sua esterilidade (1 Samuel 1:2 ; 2:21).
E igualmente o caso da mulher de Manoá, a quem o anjo do Senhor aparece e anuncia que da sua esterilidade será concebido um filho, que será consagrado a Deus e salvará Israel da mão dos filisteus. Seu nome será Sansão, que significa "sol" na derivação do termo hebraico (Juízes 13:2; 16:31).
No Novo Testamento o caso prototípico da velhice fecundada pelo Senhor é o de Isabel, prima de Maria, mãe de Jesus. Diz o evangelho de Lucas que Zacarias e Isabel já estavam velhos e avançados em idade e não tinham filhos.
Eis senão quando o anjo do Senhor aparece a Zacarias e lhe diz que sua mulher, Isabel teria um filho a quem seria dado o nome de João, que significa: "o Senhor faz graça". Os sinais que acompanhariam o nascimento do menino seriam de alegria e coisas boas para muitos. Pois ele seria cheio do Espírito Santo desde o seio de sua mãe, antes mesmo do seu nascimento, trazendo muitos dos filhos de Israel de volta ao seu Deus.
E é assim que da velhice envergonhada de Isabel e Zacarias nasce o grande João Batista, precursor do Messias, maior dos profetas, que não temia dizer a verdade a reis e sabia reconhecer Aquele que era maior do que ele e de quem não era digno de desatar a correia das sandá lias.
A exclamação alegre e agradecida de Isabel, a nós reportada pelo evangelista Lucas dá bem a medida da luz que foi na idade avançada dessa mulher marcada pela esterilidade a chegada desse vida nova e abençoada:
"Eis o que fez por mim o Senhor no tempo em que ele lançou os olhos sobre mim para pôr fim ao que fazia minha vergonha diante dos homens" (Lc 1:25).
4. O Deus da Bíblia não parece medir-se por critérios cronológicos
Para Ele, portanto, a velhice não é o tempo onde a vida se recolhe e não pode mais brilhar, deixar sinais e dar frutos visíveis e maduros. Mas, pelo contrário, Ele parece comprazer-se em gerar e fazer brotar os líderes de seu povo dos ventres considerados extintos das mulheres velhas e estéreis.
Segundo o Deus da Bíblia, velhice não é impedimento para nada, sequer para nascer. É a grande revelação que espanta o incrédulo doutor da Lei Nicodemos, que vai encontrar Jesus no meio da noite para perguntar-lhe sobre as coisas de Deus (João 3:3,4).
Nicodemos talvez tenha custado a entender que haviam chegado os tempos messiânicos, aqueles pelos quais o povo esperava há tanto tempo e que iam tornar todas as coisas novas. Nesses tempos , que Deus finalmente inaugurara com a chegada de Jesus de Nazaré está acontecendo o que os profetas tinham anunciado (Zacarias 8:4; Joel 2:28).
Seja chegando em paz a uma idade avançada porque não haverá mais dor nem luto nem morte prematura sobre a terra; seja sendo tomados de "frenesis" e entusiasmos que os fazem sonhar e delirar. Os velhos são tão centrais nos tempos messiânicos como os jovens.
5. A velhice, portanto, dentro da visão da Bíblia e da teologia cristã, não é equiparada e comparada ao apagar da vida, da beleza e do amor
Não significa o fim das potencialidades e término das perspectivas de prazer, de alegria e de fecundidade. Pelo contrário, se em Cristo e em seu Espírito, todos são nova criatura, é de se esperar ver muitas vezes Deus escolhendo velhos e velhas para neles fazer acontecer uma fecundidade muito mais patente que nos jovens, para a partir deles fazer ressoar no mundo revelações muito mais espantosas e revoluciona rias que a partir daqueles que se encontram no vigor da mocidade.
As palavras do Cristo Ressuscitado a Pedro no final do Evangelho de João podem resumir e abrir perspectivas atuais para todos nós a partir destas reflexões sobre a velhice. Após perguntar a Pedro por três vezes se o amava e ouvir por três vezes a resposta positiva do apóstolo, Jesus Cristo lhe diz estas misteriosas palavras:
"Digo a verdade: 'Quando você era mais jovem, vestia-se e ia para onde queria; mas, quando for velho, estenderá as mãos e outra pessoa o vestirá e o levará para onde você não deseja ir'" (Jo 21:18).
É claro que há idosos que mantêm a prática de exercícios físicos em dia em casa ou nas academias, cuidam da saúde correndo, nadando, pedalando, o que é importantíssimo e recomendável. Mas daí a comprar a ideia de que podem ser os mesmos de quando tinham 20 anos há uma diferença enorme (Sl 90:10).
Claro que se exercitar e se alimentar para ter qualidade de vida é possível para muitos (de preferência com acompanhamento médico e de um bom profissional de educação física) e manter a cabeça ativa também. Se alinhar ao bom uso da tecnologia, idem. Ser velho pode não ser uma maravilha completa como vendem por aí, mas ninguém disse que não pode ser bom e que não tem suas vantagens.
A velhice traz maturidade, mas ela depende que o homem a cultive ao longo da vida para colher seus frutos a seu tempo. Mais velho, um homem tende a ser mais sensato (ou deveria) e a priorizar o que é de fato importante.
No entanto a sociedade costuma fazer o homem adiar o ato de pensar na velhice e, com isso, ele não se estrutura para ela. Ele relaxa na atenção à saúde, o que acelera ou agrava os efeitos ruins da idade; não se prepara psicologicamente para a diminuição do interesse e da potência sexual e se sente frustrado; sofre com saudade de quem foi um dia e não vive o presente.
Outra tentação do homem mais velho é deixar de se cuidar de vez e se sentir inútil. Ele descuida da saúde e começa a ter vícios, deixa de se vestir bem ou de acordo com a idade, destrata a esposa e os filhos por achar que seu papel de chefe de família não é mais o mesmo — um grave erro. As condições mudam, mas seu papel não.
É possível ter qualidade de vida na velhice, mas abrindo os olhos para as limitações que a idade traz e administrando-as, e, desde a juventude, cuidando da saúde, das finanças, do casamento e da Fé, para que, quando ela chegar, haja estrutura em todas essas áreas.
Contudo, se há algo em que o homem pode se manter sempre renovado, é na Fé. Se ela amadureceu com ele, ele continua ativo, produtivo espiritualmente, sendo usado por Deus, visto como um exemplo da boa velhice e transmissor da Fé à posteridade.
Em Salmos 71.18 está escrito:
"Agora também, quando estou velho e de cabelos brancos, não me desampares, ó Deus, até que eu tenha anunciado a Tua força a esta geração, e o Teu poder a todos os vindouros."
Conclusão
Ou seja, recusarem-se a desempenhar o papel subalterno e desprezado que a sociedade moderna, em sua mentalidade utilitária e imediatista, preparou e previu para eles.
Talvez o segredo de começarem a acontecer coisas surpreendentes e maravilhosas com aqueles para quem a vida parece estar no seu declínio se encontre na capacidade que eles e elas tiverem de deixar-se conduzir por outro, por esse.
Outro que a revelação bíblica nos diz que é capaz de subverter todas as categorias, fazendo os velhos terem sonhos e renascerem quando parecem estar no momento de morrer.
Esse que se compraz em confundir os prazos e expectativas dos homens e suscita líderes e libertadores para seu povo dos ventres velhos e estéreis de mulheres que a sociedade já havia condenado à perpétua esterilidade é capaz de fazer também homens e mulheres, hoje como sempre, gemerem de prazer e voltarem a conhecer o gozo.
E compreenderem enfim que foram feitos, definitivamente, para a vida e não para a morte. Vida em plenitude e vida que não se acaba.
Enfim, muitos não aprendem a ser velhos porque, sem a sabedoria de quem tem o Espírito Santo, não aprenderam antes a ser homens. Feliz velhice, seja bem-vindo à melhor idade!
[Fonte: Folha Universal]
A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário