quinta-feira, 8 de abril de 2021

ESPECIAL — A HISTÓRIA DA PERSEGUIÇÃO CONTRA A IGREJA

"De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos" (2 Coríntios 4:8,9).
O dia 08/04/2021 ficou marcado como um dia surpreendente para a Igreja Brasileira. Em  meio a todo o caos provocado pela pandemia do novo coronavírus em todos os segmentos da sociedade, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram em uma votação de 9 a 2, que os líderes religiosos não têm competência para manter os templos abertos à realização das atividades presenciais. 

Entenda a decisão do STF


O STF formou maioria nesta quinta-feira, 08, a favor do entendimento de que cabe aos governadores e prefeitos a escolha sobre a proibição de missas e cultos durante a pandemia de covid-19. 

Dos 11 ministros da Corte, nove defendem que as atividades religiosas poderão ser suspensas, a depender da definição dos governantes locais. 
  • Votaram a favor da possibilidade de restrições os ministros Gilmar Mendes, relator do caso, Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Cármen Lúcia, Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski e Luiz Fux. 
  • Contra, apenas Nunes Marques e Dias Toffoli. 
Com a maioria formada no plenário, o entendimento do STF é de que atividades religiosas podem ser restritas por governadores e prefeitos.

A decisão do plenário vai contra o posicionamento do ministro Nunes Marques, que, no último sábado, 3, liberou cerimônias religiosas, mesmo em estados que haviam decretado medida no sentido contrário, desde que tomadas precauções como distanciamento social, uso de máscaras e redução da capacidade de público em 25%.

Para muitos trata-se de uma perseguição religiosa contra a igreja, já que o Brasil garante constitucionalmente a liberdade de culto, assim como a inviolabilidade dos locais onde eles são realizados (Art. 5º — VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.). 

Por isso considerei relevante, enfocar no texto deste artigo especial, um resumo histórico sobre a perseguição contra a igreja, que foi alertada pelo próprio Senhor Jesus aos seus discípulos (Mateus 24:9, 10:22), vivida pela igreja primitiva (Atos 7:50-60; 8:1-4) e ratificada pelo apóstolo Paulo — que de perseguidor, passou a ser um perseguido — (2 Timóteo 3:10-12).

Um resumo da histórico da perseguição contra a igreja


Desde o triste dia em que Caim se levantou contra seu irmão e o matou, a perseguição tem se espalhado sobre a Terra. Do ponto de vista espiritual, os ataques são ainda anteriores aos eventos do Jardim do Éden, remontando ao tempo em que o orgulho de Satanás o fez desejar ser igual a Deus.

Nos dias de hoje, a batalha histórica entre o bem e o mal continua de maneira incessante e a injustiça se acumula, muitas vezes chocando qualquer observador da perseguição ao cristianismo.¹

Dezenove séculos de perseguição


Para antever nosso futuro, primeiro é necessário compreender nosso passado. A perseguição, como temos visto, nunca se afastou da igreja. Certamente, para os que viveram durante as primeiras ondas de perseguição que varreram a história eclesiástica, ser perseguido parecia fazer parte normal da vida cristã.

De fato, a perseguição tem acompanhado a história da igreja, mas ela vem e vai como o movimento das ondas do mar. Os períodos de "tolerância" foram conseguidos a duras penas, seguidos inevitavelmente por novos ataques, tanto por forças de fora da igreja ou, tragicamente, de dentro dela própria. Nós, no Ocidente, no início do terceiro milênio, temos desfrutado de um longo período de liberdade religiosa. A história, no entanto, nos ensina que não há garantia de que essa liberdade continue.

Perseguições sempre fizeram parte da vida da Igreja de Cristo e dos cristãos desde as origens do cristianismo. O próprio Jesus, perseguido, preso, torturado e condenado a morte injusta, advertiu a seus discípulos que também eles seriam perseguidos: 
"Se perseguiram a mim, também perseguirão a vós".
Dos 12 apóstolos que iniciaram a difusão do Evangelho, apenas João escapou do martírio.

Na atualidade, nenhum grupo religioso é tão perseguido como os cristãos, católicos e não católicos. São frequentes as notícias de atentados, com mortos e feridos, perpetrados contra pessoas, igrejas e instituições cristãs, por vezes até durante celebrações religiosas. 

O número de mártires do século 20 e do início do século 21 é maior que o de qualquer século precedente, até mesmo dos primeiros séculos do cristianismo, quando houve perseguições promovidas sistematicamente contra os cristãos por vários imperadores romanos.

Perseguição presente


No dia 6 de agosto de 2017, houve um massacre numa igreja em Uzubu, na Nigéria, com 11 mortos e 18 feridos. Embora a motivação do ataque não tenha ficado logo evidente, é certo que as vítimas foram cristãos católicos reunidos numa igreja para a missa dominical. O presidente da Nigéria, Muhammadu Uhari, condenou o ataque, qualificando-o de "indizível sacrilégio".

O grupo islâmico intolerante Boko Haram tem feito frequentes vítimas entre os cristãos, com muitos mortos e feridos, e também vem aterrorizando cristãos no vizinho Camarões. Na República Centro-Africana, há poucos dias um grupo terrorista invadiu um hospital da Cruz Vermelha e degolou, por vingança, cerca de 50 pessoas, em grande parte cristãs. 

No Egito, as vítimas da perseguição e do martírio são os cristãos coptas, que constituem cerca de 10% da população do país. No dia 26 de maio passado, um ônibus que transportava cristãos coptas para o Mosteiro de São Samuel, na região central do Egito, foi invadido por terroristas armados, que mataram 29 pessoas, inclusive crianças, e feriram outras 22. Pouco tempo antes, no Domingo de Ramos, duas igrejas coptas haviam sofrido ataques de jihadistas. Que encheram as igrejas com o sangue de 45 mortos e muitos feridos.

Continua emblemática a imagem difundida pela mídia de uma dezena de cristãos coptas ajoelhados numa praia da Líbia, mãos amarradas às costas e vestidos de amarelo, prontos para serem degolados por um militante do "Estado Islâmico". E não se podem esquecer os ataques e martírios sofridos pelos cristãos na Somália, no Iêmen, no Quênia, no Paquistão, na Índia e em outros países da África e da Ásia. Geralmente, nesses casos as comunidades cristãs são minorias que sofrem forte discriminação no meio de outros grupos religiosos, majoritários.

Até no Nepal, pacífico e acolhedor, um grupo de desconhecidos atacou a catedral católica da capital, Katmandu, dia 18 de abril passado. A pequena comunidade cristã local não passa de 1% da população do país, de imensa maioria hinduísta e budista. 

Desde 2009 templos católicos e protestantes vêm sofrendo ataques, com mortos e feridos, e os cristãos estão apreensivos quanto ao seu futuro no Nepal, que permitiu construir a primeira igreja católica apenas em 1991, depois da promulgação de nova Constituição, que permitiu a liberdade religiosa, mas manteve a restrição à difusão da fé cristã e à conversão de cidadãos ao cristianismo.

Quantas atrocidades sofridas pelos cristãos no Iraque e em partes da Síria pela ação do "Estado Islâmico"! Prisões e tortura, escravidão, espoliação dos bens materiais, exploração sexual, expulsão das casas e das cidades, profanação e destruição de igrejas, decapitações, humilhações sem fim…

Na China, a liberdade religiosa está longe de ser uma realidade. Além das expressas restrições a esse direito humano, também continuam as prisões e a repressão contra lideranças católicas.

A onda romana


Durante 300 anos, a igreja no Império Romano sofreu inúmeras ondas de perseguição e opressão, até o imperador Constantino decidir adotar o cristianismo como religião oficial no ano de 313 d.C.

Os primeiros dias de sofrimento foram esporádicos e localizados, mas, depois do incêndio de Roma no ano 64 d.C., o imperador Nero (37/68) fez dos cristãos o bode expiatório para a tragédia, e a opressão se espalhou. 

Aqueles que professavam o cristianismo eram torturados e queimados. Era o começo da perseguição por todo o Império, que acabou por alcançar a igreja em todos os cantos. Como consequência, grande parte do Novo Testamento foi escrito na prisão.

No século 2, o autor anônimo da Carta a Diogneto² mostrava a perseguição como parte integral da experiência cristã. Ele escreveu, referindo-se aos cristãos, que eles 
"amam a todos, mas são perseguidos por todos. São desconhecidos e condenados, recebem a pena de morte e ganham a vida".

A igreja primitiva teve um rápido crescimento e sofreu repetidos períodos de perseguição. 
"Se o rio Tigre chega às paredes, se o rio Nilo não cobre os campos, se o céu não se move ou se a terra o faz, se há fome, se há praga, o brado é rápido: 'Os cristãos aos leões!'"
escreveu Tertuliano (160/220 d.C.)³ a respeito dos cristãos, pois eram apontados como culpados por tudo o que acontecia de errado no Império Romano.

Em 250 d.C., durante a mais violenta perseguição que a igreja já enfrentara, o imperador determinou que todos os cidadãos fizessem sacrifícios aos deuses romanos. Eram entregues certificados aos que obedeciam; os que não o faziam, eram presos ou executados.

Já em 303 d.C., o imperador romano Diocleciano ordenou a destruição de todas as igrejas, o confisco dos livros cristãos, a demissão de todos os cristãos do exército e do governo e a prisão do clero. Durante esse mesmo período, Eusébio relatou casos de muitas cidades cristãs que foram arrasadas na Ásia Menor. Essa é considerada a última e "Grande Perseguição", talvez a mais sangrenta aos cristãos no Império Romano.

Não só a perseguição era considerada um elemento comum da vida cristã, como também aqueles que davam suas vidas por amor a Cristo eram tidos em alta estima. Finalmente, a liberdade foi obtida pelo derramamento do sangue dos mártires. Constantino reverteu o quadro, colocando a igreja no centro do Império.

Uma paz incerta reinou no período que se seguiu. Durante quase 200 anos, a ordem do dia era constituída de certa tolerância, pelo menos dentro das fronteiras da "civilização". Os fiéis missionários que se atreveram a levar o evangelho às tribos bárbaras fora do mundo "civilizado" — isto é, fora do Império Romano —, os principais povos germânicos, como os hunos, vândalos, visigodos, ostrogodos, francos, lombardos e anglo-saxões, continuaram a enfrentar perseguições.

A viagem ao novo milênio


No fim do século passado, o comunismo russo entrou em colapso e o Muro de Berlim caiu. Muitos dos antigos desafios da Igreja Perseguida foram conquistados e muitos de seus objetivos impossíveis, alcançados. Mas agora, de longe, o nosso maior desafio está à frente de nós: o islamismo.

Hoje em dia, o islamismo é a religião que cresce mais rapidamente do que qualquer outra em diferentes partes do mundo, inclusive nos Estados Unidos.

Segundo o Irmão André, há uma explicação para isso, pois há muito o que admirar no islã: parte de seu sucesso é o apoio oferecido à comunidade, que afirma ser a resposta para os problemas econômicos e sociais; o islã promove uma vida saudável, com comunidades livres de drogas e álcool e centradas na oração, o que segura pais e chefes de família em casa. 

O Irmão André, fundador da organização Portas Abertas, alerta que dos milhões de muçulmanos em todo o mundo, a grande maioria não é de terroristas, mas é pacífica, com homens e mulheres focando em famílias trabalhadoras.

A dificuldade em relação ao islamismo, segundo o Irmão André, está no segmento extremista do islã, com a demanda de seus líderes por obediência total. Nesse ponto, o islamismo tem muito em comum com o comunismo. Nas repúblicas da Ásia Central — que faziam parte da antiga União Soviética —, Turcomenistão, Uzbequistão, Cazaquistão, Tadjiquistão, Quirguistão, formas fundamentalistas do islã estão lutando pelo controle sobre a sociedade.

No Afeganistão, elas já dominam. O efeito sobre a vida das pessoas dessas ditaduras teológicas que reivindicam o corpo, a alma e o espírito do indivíduo é o mesmo que no comunismo. Por isso, à medida que os fundamentalistas ganham poder, imediatamente começam a atacar os cristãos. O totalitarismo é mais completo se combinado à religião.

O século 20: Comunismo e Nacionalismo


Cem anos de relativa paz acabaram de repente para a igreja nos primórdios do século 20. Apesar da alegação de alguns, não há certeza de que esse tenha sido o século em que os cristãos mais sofreram perseguições, mas dois fatores foram responsáveis pela grande onda de perseguição que ocorreu nele.

O primeiro foi o nascimento de uma nova doutrina ateísta — o comunismo — parecida com o cristianismo e o islamismo em sua visão de alcançar o mundo. Desde a Revolução Bolchevista de São Petersburgo, em 1917, a igreja foi a primeira a ser perseguida onde quer que o comunismo fincasse o pé. A rapidez de suas conquistas e o grau de opressão da igreja tornou sua violência comparável à atuação dos exércitos árabes do século 7.

Durante os 70 anos em que viveram sob a influência de Moscou — e ainda hoje em países "comunistas" como a China, a Coreia do Norte, o Vietnã e Cuba —, os cristãos têm sofrido discriminação, tortura, violência, prisão e assassinato por causa de sua fé.

O segundo fator foi o novo "nacionalismo" e o fim dos impérios coloniais a partir do término da Segunda Guerra Mundial. Quando as nações se libertaram da opressão colonial, colocaram uma nova ênfase em sua cultura e religião originais. As nações recém-libertas primeiro se voltaram para o marxismo como modelo econômico, o que provou ser um terrível erro. 

O imenso fracasso do socialismo em dar-lhes o crescimento econômico e a independência pela qual ansiavam e de que precisavam foi, por sua vez, campo propício para o surgimento do extremismo religioso. O cristianismo era visto como uma importação do Ocidente, e as igrejas implantadas pelos missionários eram consideradas herança indesejável do colonialismo.

Conclusão


Toda forma de perseguição religiosa é contrária aos direitos humanos e fere a dignidade da pessoa, pois a atinge no que há de mais sagrado e dignificante: sua liberdade de consciência e a fé religiosa. 

Os cristãos sabem que sua fé e suas convicções religiosas podem acarretar discriminação, repressão, perseguição e até martírio. Mesmo assim, essas práticas são altamente injustas e causam imenso sofrimento, que lhes deveria ser poupado, pois são cidadãos como os demais e os Estados deveriam protegê-los, assegurando-lhes os direitos básicos e o respeito à sua dignidade e integridade.

[Fonte: Portas Abertas ¹ Este texto é parte do livro Resistência cristã, de Johan Companjen, São Paulo, Missão Portas Abertas, 2002. ² A Carta de Diogneto foi escrita por volta do ano 120 d.C. Trata-se do testemunho escrito por um cristão anônimo respondendo à indagação de Diogneto, pagão culto, desejoso de saber mais sobre a nova religião que se espalhava com tanta rapidez pelas províncias do Império Romano. Esse texto é considerado a "joia da literatura cristã primitiva". ³ Tertuliano de Cartago nasceu por volta do ano 150 d.C. e é considerado um dos pais da igreja. Acesso em: 12 dez. 2016 [N.E.]. Exame]

A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade. 
E nem 1% religioso. 
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.

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