quarta-feira, 22 de julho de 2020

PERSONAGENS BÍBLICOS — NICODEMOS

"Havia um fariseu chamado Nicodemos, uma autoridade entre os judeus. Ele veio a Jesus, à noite, e disse: 'Mestre, sabemos que ensinas da parte de Deus, pois ninguém pode realizar os sinais milagrosos que estás fazendo, se Deus não estiver com ele'" (João 3:1,2).
Atendendo a pedidos de leitores e seguidores do Conexão Geral (demorei, mas atendi), volto com a série de artigos especiais Personagens Bíblicos. Para este retorno, apresento uma breve biografia de um personagem sempre muito lembrado por inúmeros pregadores em seus sermões, Nicodemos, um personagem citado no Novo Testamento, no Evangelho Segundo João, e que sempre desperta o interesse das pessoas acerca de sua história principalmente pelo episódio em que ele se encontra com Jesus. 

A seguir, conheceremos um pouco mais sobre quem foi Nicodemos, e em quais passagens bíblicas ele é mencionado. Fariseu e autoridade entre o povo judeu, Nicodemos interessava-se pelos ensinamentos de Jesus, o acompanhou em sua vida, tanto que ajudou a sepultá-lO, porém não há registro na Bíblia de sua conversão.

Quem foi Nicodemos?


Em João 3:1,2, Nicodemos é chamado de chefe dos Hoi Iudaioi (os judeus). Embora não possamos saber ao certo, é provável que Nicodemos era um membro do Sinédrio, o conselho governante judaico cuja autoridade limitada foi sancionada pelo governo romano. É óbvio que Nicodemos tinha uma ligação difícil com o Hoi Iudaioi. Por um lado, ele era uma parte deste emaranhado, por outro ele tinha medo e se sentia incomodado com isso. Como tal, muitas vezes ele sentia que não era um deles. 

A palavra grega utilizada para descrever a posição de Nicodemos é archon, que significa "governador", termo muito usado como uma espécie de título para os integrantes do Sinédrio. Em algumas traduções o termo também é traduzido como "líder dos judeus".

Nicodemos provavelmente vivia um conflito pessoal: embora ensinado sobre os grandes feitos dos antigos profetas, que eram até então a única referência espiritual para os judeus, ele sentia falta tanto em sua vida, quanto nas de seus mestres, da manifestação do poder de Deus. Nicodemos era como uma árvore frondosa, porém, sem nenhum fruto.

Por exemplo, vemos que Nicodemos foi ter com Jesus de noite, e em João 7:50,52 lemos que, quando ele questionou seu próprio companheiro Hoi Iudaioi sobre a prisão de Jesus, ele foi questionado por fidelidade : 
"Nicodemos, que tinha estado com Ele antes, e que era um deles, disse -lhes: 'Será que a nossa Torá pode julgar um homem, sem primeiro ouvi-lo e ter conhecimento do que faz?' Eles responderam: 'você é da Galiléia também?'"
A aparência final que Nicodemos toma, desta vez com Josephus de Arimothea (transliterado no português para José de Arimatéia), pode ser encontrada em João 19:38-40 
"Depois destas coisas, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, embora oculto por medo do Hoi Iudaioi, pediram a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus e Pilatos lhe deu permissão. 
Então ele veio e levou embora o seu corpo. Nicodemos também, que no início tinha estado com Jesus de noite, veio trazendo uma mistura de mirra e aloés, cerca de £ 75 em peso. Então eles levaram o corpo de Jesus e o envolveram em panos de linho com as especiarias, como é o costume no enterro dos Hoi Iudaioi.

"Conquistador do povo"


Nicodemos em grego, a língua em que este Evangelho foi escrito, significa "conquistador do povo". A explicação por seu nome ser de origem grega, se dá pelo fato de que, a partir do período dos governantes macabeus, tornou-se comum uma mistura de nomes gregos entre os hebreus.

Um leitor da Bíblia em sua tradução Inglesa deve reimaginar como uma pessoa que fala grego koiné teria ouvido esses textos. Conquistador de pessoas (Nicodemos) teve consistentemente medo dos Hoi Iudaioi, algo que , naturalmente, não soava bem, e, portanto, nunca foi destinado a ser. 

Qual sua importância entre os judeus?


Nicodemos era um mestre em Israel, um estudante profissional, intérprete e doutor da Lei, ocupando uma posição muito proeminente. Para entendermos um pouco melhor a posição de Nicodemos precisamos ter uma noção básica do que era o Sinédrio. De forma bem resumida, o Sinédrio era um tipo de Corte Suprema dos judeus que se reunia em Jerusalém. No tempo de Jesus, a jurisdição do Sinédrio era tanto civil quanto, de certa maneira, criminal.

Muito provavelmente, Nicodemos foi um homem de grandes posses (Jo 3:1,10; 19:39). Não se sabe praticamente nada sobre sua vida pessoal além do que é relatado no Evangelho de João. Alguns estudiosos tentam identificá-lo com um homem rico e generoso chamado Naqdimon Ben Gorion, mencionado no Talmude, um dos livros básicos do judaísmo. Entretanto, tal identificação é incerta.

Como membro de um menos potente (partido dos fariseus contra o dos saduceus), Nicodemos era uma minoria dentro da minoria. É interessante que todos os casos conhecidos de perseguições contra Jesus e contra as pessoas de Jerusalém crentes em Jesus, especialmente seus líderes, "foram extinguidas quando o reinante sumo sacerdote era um daqueles que pertenciam à poderosa família dos saduceus de Anás". Observe:

Análise do contexto histórico


Caifás, genro de Anás condenou Jesus e Estevão. Tiago, filho de Zebedeu, foi executado e Pedro preso por Agripa I, enquanto Matias, filho de Anás, foi, provavelmente, um sacerdote. Em Atos 12:3 lemos que o rei estava motivado para ganhar o favor com "os judeus" , a fim de "aplacar o sumo sacerdote Mathias e sua família", já que algum tempo atrás Agripa tinha humilhado a família de Anás por depor Teófilo, irmão de Matias. 

Outro filho de Anás, Ananus II, James colocou à morte aproveitando do Imperador Romano antes da nomeação do próximo líder do Império. O quadro acima revela que somos justificados para falar de um caso de vingança contra "os seguidores de um homem cujo movimento Caifás (como um membro da família sacerdotal Anás) esperava, mas não conseguiu erradicar".

Nicodemos na Bíblia


Como já falamos, Nicodemos é citado apenas no Evangelho de João. A menção mais conhecida sobre ele é que descreve seu encontro com Jesus à noite (Jo 3:1-21). Depois, Nicodemos é citado novamente em 7:50-52, onde, na ocasião, se mostra protestando contra os sacerdotes e fariseus que haviam tentado prender Jesus.

Por último, Nicodemos é citado no episódio do sepultamento de Jesus, onde ele ajudou outro membro do Sinédrio, José de Arimatéia, na preparação do corpo (Jo 19:38-42). O relato nos diz que Nicodemos levou uma grande quantidade de especiarias, cerca de cem libras em peso (algo em torno de trinta quilos), para a unção do corpo de Jesus.

O célebre encontro entre Nicodemos e Jesus


A partir daqui, vamos nos ater especificamente à passagem que conhecemos, dando mais detalhes para análise e entendimento. O encontro entre Nicodemos e Jesus é descrito no capítulo 3 do Evangelho de João. Jesus estava em Jerusalém, durante a Festa da Páscoa, e muitas pessoas, ao verem os sinais que Ele fazia, creram no Seu nome, isto é, aceitaram-no como um mestre divino, apesar disso não implicar que tais pessoas possuíam a fé salvadora, de modo que compreendessem plenamente quem Jesus é (Jo 2:25). Esse entendimento fica claro na própria conversa entre Jesus e Nicodemos.

Ele era uma dessas pessoas que ficaram maravilhadas com as obras que Jesus realizava, e, então, encontrou-se com Ele à noite. Não se sabe exatamente o porquê da visita ter sido à noite. A interpretação mais conhecida é a de que Nicodemos teve medo de se expor, escolhendo então a noite como uma forma de encontro mais discreto.

Outros, também defendem que a escolha dessa ocasião pode significar que Nicodemos demonstrava respeito por Jesus, e evitou incomodá-lo durante o dia. Esse entendimento se baseia no reconhecimento de Nicodemos por Jesus como sendo um Rabi, ou seja, um mestre, e na época as pessoas evitavam distrair um Rabi durante o dia, devido suas muitas ocupações.

"Nascer de novo"(?)


Embora Nicodemos não tenha feito uma pergunta no início da conversa, o que levou Nicodemos a procurar Jesus foi sua dúvida acerca de como ele poderia entrar no reino de Deus. Isso parece claro na afirmação de Jesus acerca da necessidade de se nascer de novo (Jo 3:3). A expressão "nascer de novo", conforme o original no hebraico, também pode ser interpretado como "nascer de cima" ou "nascer do alto", e o desenvolvimento da conversa com Nicodemos mostra que é possível que Jesus tenha, propositalmente, utilizada o termo de forma ambígua.

Nicodemos interpretou as palavras de Jesus de forma exclusivamente literal, sedo incapaz de entender as metáforas espirituais empregadas por Ele na conversa. Porém, Jesus deixou claro de que não se tratava de algo físico, que não possui qualquer relevância no reino dos céus.

De forma simbólica, podemos ver em Nicodemos representação de qualquer pessoa que vive nas trevas deste mundo e encontra a luz. Em sua breve conversa com Nicodemos, Jesus falou acerca da regeneração e novo nascimento, e revelou o infinito amor de Deus na concepção do plano da redenção.

No versículo 21 do capítulo 3, vemos como a conversa entre Nicodemos e Jesus termina. Jesus concluiu ensinando que aqueles que praticam a verdade aproximam-se da luz, para que se torne evidente que suas obras foram feitas em Deus. Mesmo de forma implícita, podemos perceber um gracioso convite feito a Nicodemos nas palavras de Jesus, para que este fosse para a luz.

Nascer de novo é ser regenerado como o apóstolo Paulo diz em Tito 3:5 
"Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo." 
Jesus mostra para Nicodemos que esta regeneração não acontece por:
  • Ser religioso. 
  • Ostentar títulos. 
  • Por conhecer as Escrituras. 
  • Por ser simpatizante de Jesus. 
  • Por saber sobre Jesus. 
Hoje sabemos (e certamente Nicodemos também soube) que esse "nascer de novo" consiste em se olhar o sacrifício da cruz e reconhecer que aquele ato nos trouxe a salvação.

Nicodemos foi um cristão?

A suposta, mas, não biblicamente comprovada conversão


Após a última referência sobre Nicodemos na Bíblia (Jo 19:39,40), nada mais se sabe de concreto sobre ele. Muitas histórias são contadas, mas nenhuma possui provas realmente confiáveis. Em uma obra apócrifa sobre a paixão e ressurreição de Cristo chamada de Evangelho de Nicodemos, são feitas algumas referências sobre sua pessoa.

Em relação a pergunta acerca da conversão de Nicodemos ao cristianismo, o Novo Testamento não nos responde nada sobre isso, porém, considerando seu comportamento em todas as referências sobre ele no Evangelho de João, é possível que ele tenha se tornado um cristão.

Algumas tradições cristãs afirmam que Nicodemos posteriormente se tornou um cristão e foi batizado por Pedro e João. Sua conversão teria resultado em muitas perseguições nas mãos dos judeus, tendo sido excluído de suas funções no Sinédrio e, por fim, acabando expulso de Jerusalém. Segundo algumas lendas, ele ainda teria sofrido martírio. 
  • Porém, vale lembrar (e enfatizar) novamente que tais relatos carecem de maiores provas que lhes atestem. De concreto mesmo sobre Nicodemos, só o que está registrados nas Escrituras Sagradas.

Nicodemos foi mais um dos tantos religiosos em busca de Salvação


Os fariseus eram mestres na interpretação das tradições orais e dos rabinos. Os fariseus exerciam grandes influência sobre as massas camponesas. 

Flávio Josefo observou que guando o povo judeu enfrentava uma decisão importante, eles se apoiavam na opinião dos fariseus do que à do rei ou à do sumo sacerdote, estes fariseus conquistaram muitos cargos públicos por esta razão e passaram a ser um partido religioso mas também político em Israel. Mas quais eram as convicções destes fariseus?

Em primeiro lugar, além da Torah aceitaram como igualmente inspirado toda a tradição orais e dos rabinos. Em segundo eles não acreditavam em livre arbítrio e acreditavam em anjos e demônios.

Nicodemos foi, portanto, um destes fariseus, membro do supremo tribunal judaico, um homem de autoridade em Israel. Homem respeitado, influente, um mestre, mas em seu coração faltava a verdadeira alegria. Assim como Zaqueu também era um homem rico, que poderia ter tudo o que o dinheiro pudesse pagar, mas vai ver Jesus por que sabe que lhe falta a verdadeira alegria (Lucas 19). 

Ensinamentos práticos


Estes dois casos nos ensinam que todo ser humano tem um vazio em seu coração que só pode ser preenchido pelo próprio Jesus. Tanto Nicodemos quanto Zaqueu, tiveram uma iniciativa correta de ir até a presença de Jesus para O conhecer, ouvir Seus ensinamentos e serem transformados pela maravilhosa graça dEle.

No versículo 2 do nosso texto básico vemos Jesus e Nicodemos iniciando um diálogo, mas o que me chama a atenção são as palavras de Nicodemos com relação a Jesus. 
"...cremos que vem da parte de Deus, por que ninguém faz os sinais que você faz se Deus não estiver com ele." 
O que Nicodemos está dizendo é que os milagres de Jesus testificavam a Sua mensagem.

Nicodemos e a sua identificação conosco


Na vida cristã é muito comum nos identificarmos com alguns personagens bíblicos. Alguns se acham parecidos com o apóstolo Pedro, sua energia, espontaneidade, vigor e respostas sempre prontas. Outros encontram semelhanças com João o discípulo amado, tranquilo, prudente e sempre presente. Algumas são como Marta, mulheres que querem ver a cozinha trabalhando, a mesa farta e o jantar servido na hora certa. Algumas se descobrem Maria, reflexiva, compreensiva, cheia de fé e desejo de estar aos pés de Cristo (...).

Às vezes somos iguais a ele, cheios de conhecimento em tantas áreas diferentes e desconhecemos o caminho espiritual. Somos a geração da informação da comunicação em massa e nos sentimos tão isolados e solitários. Uma riqueza enorme de informações e uma pobreza de significado existencial.

Conclusão


Assim como Nicodemos, entramos no silêncio da noite com nossas orações repletas de pedidos e dúvidas diante de Cristo. No decorrer de nossa jornada muitas vezes pensamos além do que os outros em circunstâncias diversas, e descobrimos a ótica de Cristo nos eventos. 

O que realmente deve marcar nossa vida é o fim da dúvida na certeza litúrgica de que Jesus Cristo é o nosso Rei. Não existe evidência da conversão ou não de Nicodemos, mas para nós que cremos em Jesus Cristo que morreu e ressuscitou em nosso lugar existe a certeza de que todas as nossas dúvidas devem ser respondidas pela Palavra de Deus. Que o Espírito Santo nos guie nesta jornada.

[Fonte: Estilo Adoração, por Daniel Conegero — escritor, professor de teologia e pregador da Palavra de Deus, formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Projeto Gospel]

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