Vestuário e aparência são comunicadores não-verbais poderosos não apenas de status sócio-econômico como também de valores morais. Inconscientemente ou não o vestuário revela um grupo de crenças sobre nós mesmos que queremos que o mundo creia.
A Bíblia também reconhece a importância do vestuário. Implicitamente, isto é indicado pelo simbolismo de vestuário modesto usado para representar a provisão divina de salvação ("vestes de salvação", Isaías 61:10; ver também 1 Pedro 5:5 e Apocalipse 3:18) e de veste imodesta para representar adultério espiritual e apostasia (Ezequiel 23:40-42; Jeremias 4:30; Ap 17:4-6). Explicitamente, isto é indicado pelas numerosas histórias, alegorias e admoestações concernentes a vestuário e adorno apropriados ou não.
A falta do equilíbrio
Se tem um assunto que há tempos dá pano pra mangas nos círculos evangélicos é o referente ao vestuário do crente. Em um extremo há os que defendem o uso das chamadas "vestes santas", que na verdade de santas não tem absolutamente nada e são mais uma forma da imposição da prática de costumes. O que esse grupo chama de "veste santa" é o uso de roupa social para os homens e mulheres - para estas, especificamente, em algumas vertentes evangélicas, o uso de saias ou vestidos na altura dos joelhos, não sendo aceito em absoluto o uso de calças. Só que se santidade se define por este estilo de vestuário os bancários, os executivos e os políticos estão no paraíso!
No outro extremo estão aqueles menos tradicionais, que se adequam mais às tendências e são flexíveis nas vestimentas, de acordo com sua cultura denominacional. Esses evangélicos são mais moderninhos e, por isso costumam errar na dose. Neste grupo tanto homens quanto mulheres são mais, digamos, despojados - em alguns casos, desleixados mesmo - e, por isso, os excessos em ambos os lados são evidentes. Nesta confusão toda, falta encontrar o que em toda situação é indispensável: equilíbrio e bom senso. Mas, quando o assunto é o vestuário, será que já houve o interesse para alguém saber como era o vestuário nos tempos bíblicos? Como veremos abaixo, no tempos bíblicos, a vestimenta tinha referências culturais muitas delas usadas como simbolismo espiritual.
O vestuário nos tempos bíblicos
O guarda-roupa do indivíduo que vivia nos tempos bíblicos era básico. Uma tanga (talvez) era usada por baixo da túnica, e também se usava alguma forma de cobertura para a cabeça. Calçados e casaco eram opcionais. As pequenas variações nesse padrão durante os dias bíblicos ficavam no terreno das cores, material e estilo, em vez de nas provisões básicas, pois roupas desse tipo se adaptavam melhor a um clima relativamente quente. Paulo usava a túnica presa na cintura por um cinto, como uma metáfora para o estilo de vida do povo escolhido de Deus (Colossenses 3:12), e todos compreendiam que ele falava do que era básico.
A roupa de baixo, quando usada, era uma tanga ou saiote. Pedro usava a tanga quando ficava "nu" ou "despido" no barco de pesca da família (João 21:7). Jesus foi crucificado usando apenas a tanga, porque os soldados já haviam removido sua túnica (19:23).
A Túnica
A túnica era a peça essencial, sendo feita de dois pedaços de material, costurado de forma que a costura ficasse horizontal, à altura da cintura. Quando eram tecidas litas no material do tear, elas caíam verticalmente no tecido acabado. A túnica era como um saco em muitos aspectos. Havia uma abertura em V para a cabeça, e cortes feitos nas duas laterais para os braços.
A túnica era geralmente vendida sem a abertura em V, para provar que era realmente nova. O material podia ser lã, linho ou até algodão, segundo as posses do usuário. As túnicas feitas de pano de saco ou pelo de cabra eram muito desconfortáveis por causarem irritação na pele. Só eram então usadas em épocas de luto ou arrependimento.
As túnicas masculinas eram quase sempre curtas e coloridas; as das mulheres chegavam aos tornozelos e eram azuis, com bordados no decote em "V", o que em alguns casos indicava a aldeia ou região do usuário. A túnica usada por Jesus deve ter sido da última moda, por não ter a costura central. Teares preparados para acomodar o comprimento total da túnica só foram inventados nos seus dias (veja Jo 19:23).
A túnica era presa à cintura por um cinto de couro ou tecido áspero. O cinto tinha às vezes uma abertura, para colocar um bolso onde guardar dinheiro ou outros pertences pessoais (Marcos 6:8). O cinto era também útil para enfiar armas ou ferramentas (1 Samuel 15:13). Quando os homens precisavam de liberdade para trabalhar ou correr, levantavam a barra da túnica e a prendiam no cinto, tendo assim maior liberdade de movimento.
Isso era chamado de "cingir os lombos", e a frase tornou-se uma metáfora para os preparativos. Pedro recomenda, por exemplo, discernimento claro, aconselhando os cristãos a cingirem o seu entendimento (1 Pd 1:13). As mulheres também levantavam a barra da túnica - no caso delas - para levarem coisas de um lugar para outro. Não eram usadas roupas de dormir no fim do dia; o cinto era afrouxado e a pessoa deitava-se com a sua túnica.
Roupas masculinas. Esquerda para direita: trabalhador com a túnica enrolada no cinto; homem usando manto de lã grossa sobre a túnica; homem rico com manto franjado e colorido.
O Manto
Quando o indivíduo era suficientemente rico para comprá-lo, ou quando o frio exigia, um manto (ou capa) era usado sobre a túnica. Os mantos eram feitos de duas formas. No campo, onde o calor era determinante, eles enrolavam material pesado de lã ao redor do corpo, costurando-o na altura dos ombros e abrindo fendas para a passagem dos braços.
O manto era a única forma de proteção para muitos, portanto, mesmo recebido como penhor de um empréstimo, ele tinha de ser devolvido ao dono antes do anoitecer para que pudesse agasalhar-se na friagem da noite (Êxodo 22:26,27). pela mesma razão um tribunal judeu jamais daria um manto como recompensa.
O outro tipo de manto era como um vestido frouxo com mangas largas. Quando feito de seda era um traje de gala, e o indivíduo rico jamais sairia de casa sem ele. os fariseus usavam franjas azuis na orla de seus mantos, a fim de que os outros vissem que eles guardavam a lei registrada em Números 15:38,39. Em vista de essa prática tender ao exibicionismo, ela foi condenada por Jesus (Mt 23:5). A mulher que sofria de hemorragia quis provavelmente tocar essa extremidade do manto de Jesus (9:20).
Calçados
Os pobres quase sempre andavam descalços, mas outros usavam sandálias simples. A sola era feita de um pedaço de couro de vaca cortado na forma do pé. Ela era ligada ao pé por uma tira comprida que passava através da sola, entre o dedo maior e o segundo dedo do pé, e era amarrada ao redor do tornozelo (Lucas 3:16). Um outro modelo prendia alças feitas ao redor da sola com uma tira, cruzando-as por sobre o pé. Chinelos eram também usados.
Sandália de couro do séc. I D.C., encontrada na fortaleza de massada.
Chapéus
A maioria dos homens parece ter usado uma cobertura no alto da cabeça: um pedaço de material dobrado em forma de tira com um dos lados virado para cima, de modo a dar uma aparência de turbante. As mulheres usavam um quadrado de material dobrado para proteger os olhos e que caía sobre o pescoço e ombros, como proteção completa contra o sol, o qual era mantido no lugar por um cordão trançado.
Um véu transparente era usado algumas vezes sobre a cabeça para que a mulher não mostrasse o rosto em público. Só o marido podia ver a face da esposa. Rebeca ocultou assim o rosto antes de casar-se com Isaque (Gênesis 24:65). Na cerimônia de casamento o véu era retirado do rosto da noiva e colocado no ombro do noivo, com a declaração:
Um véu transparente era usado algumas vezes sobre a cabeça para que a mulher não mostrasse o rosto em público. Só o marido podia ver a face da esposa. Rebeca ocultou assim o rosto antes de casar-se com Isaque (Gênesis 24:65). Na cerimônia de casamento o véu era retirado do rosto da noiva e colocado no ombro do noivo, com a declaração:
"O governo está sobre os seus ombros" (Is 9:6).
Limpeza das Roupas
As roupas eram lavadas, permitindo que a água limpa de um regato passasse pela trama do tecido removendo a sujeira; ou colocando as roupas molhadas sobre pedras chatas e esfregando a sujeira. Davi usou a ideia de lavar roupas como símbolo da ação necessária para limpar o seu pecado (Salmo 51:2). O sabão era feito de óleo de oliva ou um álcali vegetal.
Trajes de um casal rico. Note o manto dele como um vestido e as mangas largas; a mulher usa braceletes, pingente, brincos e tiara na cabeça.
Vestuário Básico
Bem poucos podiam adquirir roupas devido ao seu alto preço. Os pobres só tinham uma muda de roupa. Portanto era comum trocar uma pessoa por um par de sapatos (Amós 2:6), e foi praticamente revolucionário dizer ao povo que desse as túnicas de reserva como fez João Batista (Lc 3:11). É interessante ver que na sua codificação da lei no século I d.C., os judeus fizeram uma lista de roupas que podiam ser resgatadas de uma casa incendiada no sábado - interessante porque a lista indica o valor das roupas e menciona peças familiares na época. A lista está dividida em duas seções, para homens e mulheres (as crianças usavam versões menores das roupas dos adultos).
Muitos dos nomes das peças são gregos, mas os padrões básicos são exatamente os mesmos. As roupas tinham tamanha importância que rasgá-las em pedaços era um sinal de intenso sofrimento ou luto (Jó 1:20).
Ornamentação
Além das roupas, eles usavam muitos outros recursos, tais como maquiagem, enfeites e tratamento de cabelo. Esse aspecto era tão importante para as mulheres da época do Novo Testamento que as cristãs foram advertidas a se enfeitarem com um espírito manso e tranquilo (1 Pe 3:3,4). os cosméticos eram feitos com kohl (carbonato verde de cobre) ou com galena (sulfeto negro de chumbo - Ez 23:40).
Roupas e cosméticos das mulheres romanas são mostrados neste painel dedicado pelas serviçais e um serviço religioso.
Pente romano de marfim, inscrito com o nome de sua proprietária: Modestina.
Isaías descreve com detalhes a ornamentação usada em sua época (Is 3:18-21). Muitos dos brincos, braceletes e pingentes eram engastados com pedras preciosas, mas é extremamente difícil identificar a natureza exata das pedras nas linguagens antigas. Óleos eram usados como base para pigmentos que coloriam os dedos das mãos e dos pés.
Os cosméticos poderiam ser aplicados com os dedos ou com uma pequena espátula de madeira. os homens usavam frequentemente um anel no dedo ou uma corrente ao redor do pescoço, mas esses anéis serviam mais para selar do que como decoração. Nos dias do Antigo Testamento, o cabelo era um item importante, sendo raramente cortado.
Camponesa (em primeiro plano) - note as sandálias simples de couro - e uma mulher rica. Ambas têm a cabeça coberta.
Curiosidades
Roupas masculinas/Roupas femininas
Deuteronômio 22:5. Em vista da túnica ser tão básica, ela era idêntica para homens e mulheres, exceto que a do homem era geralmente mais curta (na altura do joelho) e a da mulher mais longa (na altura do tornozelo) e azul. A proibição de trocar as roupas teve sua origem no estímulo sexual que fazia parte da religião cananita.
O "casaco colorido de José"
Gn 37:3. José ganhou uma túnica feita de muitas peças. As peças adicionais eram provavelmente mangas compridas que atrapalhavam quando havia serviço a fazer. (Quando as mulheres usavam mangas longas e largas, elas as amarravam atrás do pescoço, para que os braços ficassem livres). Isso indicava que José não devia fazer trabalho pesado; ele era o herdeiro escolhido para governar a família.
O manto e a túnica
Mt 5:40; Lc 6:29. Jesus não entendera mal e não estava se contradizendo. No primeiro caso, Jesus falava sobre o tribunal que podia tirar a túnica, mas não a capa da pessoa. No segundo caso, um ladrão iria roubar primeiro a roupa de cima, que era valiosa.
Cobrindo a cabeça das mulheres
1 Coríntios 11:10. As mulheres andavam com a cabeça coberta e usavam véu fora de casa. Só as prostitutas mostravam a face e exibiam os cabelos para atrair os homens. Paulo diz então aos cristãos que se uma mulher não usar véu na igreja, deve ter a cabeça raspada; mas é melhor que cubra a cabeça. Isto nos ensina que mesmo quando os cristãos têm liberdade para a prática da sua fé, não devem contrariar os bons costumes.
A armadura de Deus
Efésios 6:10,11. Paulo se refere à roupa usada pelo soldado. Ele combina a profecia de Isaías sobre a armadura de Deus (Is 59:16,17) com o que sabe sobre o soldado romano. Por baixo da armadura do soldado estava uma vestimenta básica para "ficarem firmes", de modo que a armadura (casaco e saia de couro cobertos com placas de metal) pudesse ajustar-se por cima.
Os soldados romanos tinham sandálias pregadas com tachas grandes que firmavam seus pés no chão. Paulo usa a descrição para dizer que o diabo não poderá derrubar os cristãos se eles forem estritamente honestos, absolutamente justos em seus tratos e não se deixarem perturbar facilmente. Acrescente a isso uma salvação que os capacita a viver segundo o padrão de Deus, com acesso ao que Deus disse e confiança nEle, e o cristão estará bem protegido.
Os trajes do sacerdote
Êxodo 28. Os sacerdotes usavam uma roupa de linho sobre a parte de cima da túnica, talvez para mantê-la limpa, chamada estola (1 Sm 2:18,19). O sumo sacerdote usava roupas especiais, mas continuava seguindo a provisão básica. A túnica era azul, a estola ricamente bordada, e havia nesta uma espécie de bolsa incrustada de jóias contendo dois discos para determinar a vontade de Deus, ao serem lançadas sortes. A capa era branca. Ele usava um turbante especial na cabeça.
Conclusão
A Bíblia encara a aparência externa como um testemunho visível e silente de nossos valores morais. O vestuário é importante para os cristãos porque serve de moldura para revelar a imagem dAquele a Quem servem. Quando Jesus entra em nossa vida, Ele não cobre nossas manchas com pó cosmético ou com indumentárias. Em vez disto, Ele nos torna limpos inteiramente a partir do interior.
Esta renovação interior, consequentemente, reflete-se na aparência exterior. O vestuário não faz o cristão, mas cristãos relevam sua identidade por sua maneira de vestir e aparência. A Bíblia não prescreve um vestuário normativo, mas nos convida a seguir a simplicidade e ausência de pretensão do estilo de Jesus, mesmo em nossa indumentária e aparência.
[Fonte - Referência Bibliográfica: GOWER, Ralph; Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos, 1 ed, 2002, Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Rio de Janeiro.]
A Deus, o Pai, toda glória!
E nem 1% religioso.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário