sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

SOBRE A POLÊMICA VAZIA COM A FALA DA MINISTRA DAMARES ALVES

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As redes sociais crescem e hoje há gerações que ocupam com elas muito mais tempo do que lendo ou assistindo televisão e têm aí a sua principal fonte de informação e de entretenimento. Este fenômeno faz com que aumente cada vez mais o número das polêmicas disseminadas, ou melhor, compartilhadas, nessas plataformas digitais. Os fiscais do famigerado e enfadonho politicamente correto ficam cerceando tudo o que se faz ou que se diga, à espreita para lançar na rede mais uma polêmica.


As novas formas de comunicação


Os alinhamentos e a edição das mídias tradicionais são, cada vez mais, feitos fora das redações, em milhões de computadores ligados em rede e têm o "like" como unidade de medida. 

Este fenômeno tornou-se objeto de estudo de comunicação. Os pesquisadores tem atribuído à utilização das novas plataformas eletrônicas de comunicação de massas ao crescimento quase incontrolável dos números de polêmicas, algumas vazias, ou seja, sem sentido ou conteúdo algum. 

O mundo não para e se há área que se desloca a uma velocidade maior é precisamente a da comunicação eletrônica. 

Não por acaso Jair Bolsonaro fez do Twitter sua principal plataforma da bem sucedida campanha eleitoral que o levou à vitória nas últimas eleições. O então candidato nem precisou participar de nenhum dos tradicionais debates e hoje está lá, na presidência da república do Brasil, a exemplo do que aconteceu com o presidente Donald Trump, nos EUA. 

Mas se a comunicação ignora a utilização sistemática estudada e profissional das redes sociais, o fato é que estas não ignoram seus quase inestimáveis números de usuários. 

A recente polêmica com a fala da ministra mostra como a comunicação em massa mudou na última década. 

Mudou a velocidade de circulação da informação, que se tornou vertiginosa. Hoje ninguém espera pelo telejornal das 20h:00 e muito menos pelo jornal de amanhã para saber o que se disse hoje uma celebridade, um político ou um governante nem tem de esperar pelas 24 horas seguintes para saber como reagiu o público. Muitos assuntos nascem, vivem e morrem entre as 9 da manhã e as 9 da noite do mesmo dia e outros se arrastam por dias e até semanas. 

Mudaram também os protagonistas. Há duas décadas só algumas dezenas de privilegiados tinham voz pública. Eram os políticos, acadêmicos, jornalistas e comentadores com acesso às mídias, que iam à televisão, falavam na rádio ou escreviam nos jornais. 

A comunicação era só de lá para cá e para o cidadão anônimo com vontade de intervir no espaço público era uma vitória ver publicada uma carta ou e-mail enviado à assessoria de algum órgão da imprensa.

A internet e as redes sociais democratizaram a comunicação e a intervenção no espaço público. A elite perdeu essa exclusividade e isso é um bem em si mesmo. Tem aspectos negativos? Claro que tem. O "efeito de manada", o seguimento acéfalo da corrente, é o mais óbvio. Mas é um custo da democracia que se tem que pagar.

Com a mudança de protagonistas está mudando também a mediação da comunicação. O papel de "gate keeper" – os que decidem o que é e o que não é notícia -, então inteiramente entregue aos jornalistas, vai sendo diluído pela generalidade do cidadão comum. 

A quantidade de notícias que aparecem nas televisões, rádios ou jornais cujo "lead" é "Está causando grande polêmica nas redes sociais…" é o espelho mais perfeito dessa deslocação do centro de gravidade. 

A notícia já não é o fato em si mas sim o "boom" que ele causa junto do público, confirmado pelo número de "likes", "lives", "curtidas" comentários ou compartilhamentos feitos nas redes sociais. 

A verdadeira popularização da informação está aqui. A importância desproporcional de temas inúteis, que não são mais do que boatos, fake news ou notícias tiradas de seu contexto atropela os que são realmente importantes. 

É a vitória do interesse do público sobre o interesse público. E se o jogo está sendo invertido é por demissão de uma das funções mais nobres dos jornalistas: a seleção criteriosa entre os milhares de assuntos que todos os dias podem ser notícia. 

Menino e menina pode usar a cor da roupa que quiser?


Sem dúvida esse fenômeno explica o recente episódio envolvendo a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, quando fez uso da metáfora "menino usa azul, menina usa rosa", que é semanticamente cabível ao contexto do tema que estava em pauta e vai em consonância com os conceitos explicitamente defendidos por ela e pelo novo plano de governo: o combate à doutrinação da ideologia de gênero - há que se explicar que, ideologia de gênero, absolutamente nada tem a ver com homossexualidade, pois esta é diversidade sexual.

Foi só o vídeo - editado, como sempre - da ministra cair na rede e lá vieram as polêmicas e a ministra, então, se tornou réu no malfadado tribunal das redes sociais. 

Mas, será que os juízes plantonistas das redes sociais, sempre tão enfáticos, vorazes e céleres em seus julgamentos sabem o que significa uma metáfora? 

O que é Metáfora


Metáfora é uma figura de linguagem onde se usa uma palavra ou uma expressão em um sentido que não é muito comum, revelando uma relação de semelhança entre dois termos. 

A metáfora é um termo que no latim, "meta" significa "algo" e "phora" significa "sem sentido". Esta palavra foi trazida do grego onde metaphorá significa "mudança" e "transposição". 

Metáfora é a comparação de palavras em que um termo substitui outro. É uma comparação abreviada em que o verbo não está expresso, mas subentendido. Por exemplo, dizer "o meu amigo é um touro, levou o móvel pesado sozinho". Obviamente que ele não é um touro nem se parece fisicamente com o animal, mas está tão forte que faz lembrar um touro. Neste exemplo, existe a comparação da força do animal e do indivíduo. 

Ou seja, esta figura de linguagem corresponde na substituição de um termo por outro através de uma relação de analogia. É importante referir que para que a analogia possa ocorrer, devem existir elementos semânticos semelhantes entre os dois termos em questão. 

A metáfora nossa de cada dia nos dai hoje


A metáfora é uma ferramenta linguística muito utilizada no dia-a-dia, sendo importantíssima na comunicação humana. Seria praticamente impossível falar e pensar sem recorrer à metáfora. Uma pesquisa recente demonstra que durante uma conversa o ser humano usa em média 4 metáforas por minuto. Muitas vezes as pessoas não querem ou não conseguem expressar o que realmente sentem. Então falam frases por metáforas onde seu significado fica subentendido.

Metáfora é quando uma palavra está sendo empregada fora de seu sentido concreto, real, literal. Trata-se de uma comparação implícita, subentendida no texto. Se caracteriza por comparar sem que sejam empregados termos comparativos.

Outros exemplos de Metáforas


  • "Esta questão é apenas a 'ponta do iceberg'" (Quer dizer que a questão é pequena diante de outras.).
  • "Ela é uma 'formiga' para doces" (Quer dizer que ela adora doces como se fosse formiga.).


Presente na poesia e na música


Tomemos como exemplo os versos do belíssimo poema de Vinícius de Morais- 'A Rosa de Hiroshima'. 'A Rosa de Hiroshima' é um poema escrito pelo cantor e compositor Vinícius de Moraes. O poema recebeu esse nome como um protesto sobre as explosões de bombas atômicas ocorridas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial.

Criado em 1946, o poema foi primeiro publicado no livro "Antologia Poética". Mais tarde, em 1973, os versos foram musicados e ganharam corpo na voz do grupo Secos e Molhados. 

Conheça abaixo o poema completo, o significado dos versos e pormenores sobre a publicação. 

"A Rosa de Hiroshima"


A "rosa de Hiroshima" que originou o pema
Pensem nas crianças 
Mudas telepáticas 
Pensem nas meninas 
Cegas inexatas 
Pensem nas mulheres 
Rotas alteradas 
Pensem nas feridas 
Como rosas cálidas 
Mas oh não se esqueçam 
Da rosa da rosa 
Da rosa de Hiroshima 
A rosa hereditária 
A rosa radioativa 
Estúpida e inválida 
A rosa com cirrose 
A antirrosa atômica 
Sem cor sem perfume 
Sem rosa sem nada.

Significado de A Rosa de Hiroshima

Ilustração que contextualiza a metáfora

O poema de Vinicius de Moraes foi criado a partir da tragédia da bomba atômica ocorrida no final da Segunda Guerra Mundial, no Japão.

O ano era 1945 e o golpe de misericórdia dado pelos Estados Unidos - o envio de bombas atômicas com proporções inimagináveis - afetou de modo dramático a região.

Para além dos civis assassinados na ocasião, cerca de 120 mil pessoas sobreviveram ao estouro da bomba de Hiroshima com cicatrizes permanentes.

'A Rosa de Hiroshima' tornou-se um grande protesto, primeiro em forma de poema e mais tarde em forma de música. Os versos abordam as consequências da guerra, o desastre que as bombas atômicas - apelidadas pelos norte-americanos de Fat Man e Little Boy - fizeram em Hiroshima e Nagasaki.

Vinicius de Moraes atuou durante muitos anos como diplomata a serviço do Governo Brasileiro, também por esse motivo esteve muito interessado nos conflitos internacionais. Vejamos com atenção os quatro primeiros versos do poema:
"Pensem nas crianças 
Mudas telepáticas 
Pensem nas meninas 
Cegas inexatas..."
O início do poema mostra os efeitos da radioatividade nas vítimas civis que foram atingidas. As crianças, alheias ao conflito de duas grandes nações, tornaram-se no verso de Vinicius de Moraes mudas telepáticas. As meninas cegas inexatas parecem fazer menção às consequências da radioatividade nas gerações futuras.

Os versos a seguir tratam das migrações feitas após a queda da bomba. As cidades atingidas, ambientalmente e economicamente devastadas, precisaram ser evacuadas devido ao alto risco de contaminação:
"...Pensem nas mulheres 
Rotas alteradas..."
É só no nono, no décimo e no décimo primeiro verso que a causa de todo o mal é revelada: 
"...Mas oh não se esqueçam 
Da rosa da rosa 
Da rosa de Hiroshima..."
A bomba é comparada com uma rosa porque quando explodiu, resultou na imagem de uma rosa a desabrochar. Uma rosa normalmente está relacionada com a beleza, no entanto, a rosa de Hiroshima remete para as horríveis consequências deixadas pela guerra.

Logo a seguir vemos a imagem da rosa se contrapor com o rastro que é deixado pela bomba. "A rosa hereditária / A rosa radioativa" exibem o contraste entre a flor, o auge de um vegetal crescido em um ambiente saudável, e a destruição causada pelo homem.

O poema de Vinicius de Moraes fala das gerações afetadas pela guerra e pelo rastro de sofrimento e desespero deixado nas gerações posteriores. "A rosa com cirrose" faz referência à doença, ao fumo, uma antirrosa sem qualquer beleza, "sem cor sem perfume".

Sobre a publicação do poema


'A Rosa de Hiroshima' foi publicada na "Antologia poética", lançada pela editora A Noite, no Rio de Janeiro, durante o ano de 1954. Nessa época, Vinicius de Moraes trabalhava como diplomata na França.

O livro foi organizado pelo próprio autor com o objetivo de reunir 21 anos de publicações. Amigos ilustres, como Manuel Bandeira, ajudaram a organizar a edição. Rubem Braga assinou a orelha da primeira edição.
Vídeo da música "A Rosa de Hiroshima", do grupo Secos & Molhados

O poema de Vinicius de Moraes foi adaptado para música. A canção foi lançada em 1973 no disco de estreia do grupo Secos e Molhados. A sua composição melódica é da autoria de Gerson Conrad, integrante do referido conjunto, cuja formação inicial também incluía João Ricardo e Ney Matogrosso.

A música, que é uma parceria entre Gerson Conrad e Vinícius de Moraes, foi imortalizada pela voz de Ney Matogrosso e lançada durante a Ditadura no Brasil.

'A Rosa de Hiroshima' acabou sendo uma das canções mais escutadas nas rádios brasileiras em 1973 e a revista Rolling Stone brasileira a classificou em 69º lugar entre as 100 Maiores Músicas Brasileiras.

Conclusão 


Em resumo, a metáfora nada mais é do que a substituição, na expressão escrita ou oral, de um termo por outro baseada numa relação de analogia (que significa semelhança de sentido entre dois termos). 

Esta é uma conclusão que serve para justificar uma outra consideração que afirma ser praticamente impossível nos comunicarmos sem o emprego de metáforas (aliás, propositalmente, usei e abusei do uso desse recurso linguístico na composição do texto desse artigo). Recorrendo a alguns exemplos e observações podemos concordar. 

Metáfora é quando uma palavra está sendo empregada fora de seu sentido concreto, real, literal. Trata-se de uma comparação implícita, subentendida no texto. Se caracteriza por comparar sem que sejam empregados termos comparativos.

Isto posto, qual crime a ministra Damares cometeu? Nenhum! Logo, dentro do bojo contextual do entendimento da fala da ilustre ministra, sim "menino veste azul e menina veste rosa". Por isso eu dou a ela minha absolvição. 

A Deus toda glória!
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      E nem 1% religioso.

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