quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

A CULTURA GOSPEL X A CULTURA DO CÉU





Penso que nosso caráter, existência e maneira de agir são realidades construídas, por acontecimentos múltiplos, ocorridos no contato com diversas pessoas em meio às situações favoráveis ou adversas de nosso cotidiano. Nessa interação, com o(a) outro(a) vamos assimilando muito do agir e pensar dele ou dela. Assim sendo, penso que muitas de nossas atitudes, na realidade não são originalmente nossas, mas são reproduções, daquilo que outros foram, fizeram e falaram. A este conceito chamo de teoria, ou filosofia dos três F.

O terceiro "F"


Aqui quero pegar o terceiro, desta minha ainda em construção filosofia dos três F: o falar. No ato de falar, emitimos palavras que muitas vezes possuem o poder de penetrarem, na alma de nossos ouvintes. Elas sejam boas ou ruins, verdadeiras ou falsas, possuem o poder de se aninharem no mais recôndito de quem as ouça. Palavras podem tanto libertar como aprisionar. Quem de nós pastores(as) nunca ouviu de alguém algo assim: 
“Pastor, aquelas palavras que fulano(a) me disse, causaram e ainda causam dor em mim, o que ele(a) disse, me faz sentir mais dor do que se ele(a) tivesse me dado um murro!” 
É a já conhecida máxima dos jargões evangélicos: “As palavras tem poder”. Então com carinho, oração e dedicação pastoral, ouvimos a pessoa, choramos, por e com ela, irmanando–nos na dor e na tristeza. O Espírito Santo age operando naquelas lembranças dolorosas, promovendo a restauração daquela, vida, família, ou amizade. 

Então vem sobre nós a sensação de dever cumprido quando alguém nos fala: 
“Pastor, eu agradeço a Deus, por aquilo que o senhor me falou, pois sua palavra entrou no meu coração, e me fez entender que minha vida tem sentido, que eu tenho valor e que sempre é possível recomeçar, que independente do que falem de mim, ou contra mim, Deus me ama…” 
Então, tentando evitar o “espírito de orgulho”, dizemos para a pessoa agradecida: 
“Glorifique a Deus irmão(ã), foi Ele quem falou contigo, eu não sou nada, sou só o canal, Ele é a fonte, as palavras foram águas fluidas dEle, importa que Ele cresça e eu diminua...” 
Mas, lá no fundo de nosso ser, naturalmente sentimo-nos felizes por termos sido “boca de Deus”, para abençoar alguém por meio de Palavras de vida. Muitas vezes, uma palavra ou uma frase dita, ou lida, poderá nos marcar por toda a vida. 


“A água entrou na arca!”


Me lembrando de meu tempo de novo convertido e como era a igreja naquela época, há pouco mais de duas décadas, é com lamento que profiro essa divagação: “A água entrou na arca!” Hoje, diante de muitas coisas estranhas que vejo na Igreja, não só na denominação em que congrego, mas na Igreja Cristã como um todo, volta sempre a minha mente tal frase: “A água entrou na arca!” 

A Igreja é chamada a influenciar o mundo (entenda-se aqui “mundo” como “sistema” [Romanos 12:21 João 2:15] e não como “comos” = “universo” [Salmo 24:1; João 3:16]), porém o que vemos em alguns casos é o oposto: a Igreja sendo influenciada pelo mundo. Advirto logo a quem ler este artigo, que não partilho das atitudes legalistas, “escapistas” e isolacionistas de muitos cristãos fundamentalistas, que consideram tudo fora da grei (rebanho) cristã, como sendo demoníaco, e por isso pecado. 

Creio que existem muitas coisas no mundo das artes, sem o rótulo evangélico/gospel, ou o imprimatur (permiss~~ao ou autorização eclesiástica) Católico Romano, as quais Deus na sua soberania, pode usar para louvor de sua glória. Creio que apesar de suas imperfeições, os não convertidos a Jesus Cristo, podem criar boas coisas na área das sete artes, a saber: na Música, na Dança, na Pintura, na Escultura, na Literatura, no Teatro e no Cinema, das quais nós cristãos podemos dispor sem prejuízo para nossa fé e testemunho ao mundo. 

Falta senso, equilíbrio e pesagem


Contudo, penso que existem coisas ocorrendo em setores da Igreja Cristã, que extrapolam os limites do bom senso, e mesmo da racionalidade, chegando às raias do ridículo e da falta de discernimento. Dentre as artes acima citadas, meu enfoque é a música, pois dentre as artes, ela é a que mais tem influenciado a Igreja, principalmente a Evangélica. 

Quando se pensa que se viu e se ouviu de tudo na mídia brasileira, logo se é surpreendido por mais uma novidade no campo da música, e que se torna o Top Hits do momento. Aliás, em matéria de música, no Brasil já faz um bom tempo que a coisa vai de mal a pior, isso tanto no chamado secular como no meio gospel, sendo este último seguimento influenciado pelo primeiro. 

Penso que tudo descambou mesmo, foi na década de 90, com as músicas do grupo Mamonas Assassinas, cujos integrantes tragicamente morreram num acidente de avião na Serra da Cantareira, em São Paulo, quando voltavam de um show em março de 1996. No cenário da música nacional, muitos grupos de pagode como o: Gera Samba (que logo depois virou o icônico É O Tchan!) faziam um sucesso estrondoso, sempre com músicas, letras e danças de forte apelo sensual. 

Nos programas de televisão, ritmos dançados na “boca da garrafa” por mulheres seminuas, eram cantados na boca do povão, dos pequerruchos ao mais desengonçado dos marmanjos. No embalo, velhos, jovens e até mesmo crianças, vestidas como as dançarinas do Tchan arriscavam um requebrado. No meio evangélico, no calor do movimento batalha espiritual, enquanto muitos crentes oravam tentando segurar e amarrar o diabo, o Gera Samba, com toda força da mídia, fazia shows por todo o Brasil, mandando: segurar e amarrar o “Tchan”, com coreografias que liberava a libido sexual de muitos dos que assistiam ao vivo, ou pela telinha. 

Mas o tempo passou, e muitos se perguntam: cadê o Tchan? O Tchan passou, assim como tudo passa, e hoje, uma de sua mais conhecida dançarina: Carla Perez se declara evangélica. Contudo, o novo milênio chegou. E como um furacão, 2000, entrou ao som de um rugido vindo do Bonde do Tigrão. Funqueiro(as) entraram em cena para mostrar que era chegada a hora e a vez do “batidão” no controverso ritmo (ou seria estilo, filosofia, cultura?) Funk. 

Com muita batida rítmica, letra pobre (estou sendo bem delicado aqui), e dançarinas seminuas, o Funk, explode, nas paradas de sucesso. O sucesso do tal Bonde do Tigrão é tanto, que ganha até um cover Gospel, por nome de Bonde do Ungidão(!!!!!!!!), que inspiradíssimo cantava: 
“...Quer mudar, quer mudar, Ungidão vai te ensinar, Eu vou passar óleo na mão / Vou sim meu irmão / Vou ungi você varão”… 
Enquanto a juventude não evangélica tentava preencher seu vazio existencial ao som de “Baba baby, baby, baba, baba...” da cantora Kelly Key, no meio gospel ao som do batidão Funk, Kelly Krente, tenta igualmente preencher o vazio espiritual de muitos jovens evangélicos, e atrair outros não evangélicos. No meio secular ainda iria piorar, pois eis que nas pradarias, surge uma galopante “Lacraia” montada na sua “Éguinha Pocotó”.

Depois de muito pocotó, pocotó, pocotó... a “Lacraia” montou em sua “eguinha” e partiram para o pasto do esquecimento. Já não se escutava o torturante “poçotó, pocotó, pocotó...”, mas, sim um igualmente irritante: Piririn, Piririn, Piririn, alguém ligou pra mim”. O som do “Piririm, Piririm, Piririm” era só para anunciar que “um tapinha não dói”. 

Mas, segundo, noticias veiculadas no portal Uol, o Hit doeu nos ouvidos, mexendo com o brio de algumas mulheres, da ONG Themis, que se sentindo ofendidas, entraram com uma ação na justiça, e obtiveram ganho de causa contra a música “Tapinha Não Dói”. A atitude da ONG doeu no bolso da empresa Furacão 2000 Produções Artísticas, que, na época, prometeu recorrer da decisão judicial, para não ter que desembolsar 500 mil reais. 

Em seguida, tais mulheres tiveram que lutar também, para provar que mulher e só mulher, e não mulher jaca, tampouco mulher melancia, melão, filé... Talvez você esteja se perguntando o que isso tem a ver com a Igreja? Respondo-lhe, não teria nada, se a igreja, ou seguimentos dela, não estivessem sendo influenciado por tais situações do meio secular. 


Pingando os is


Um dia destes fiquei surpreso, ao passar por um grupo de jovens que ouviam música em um aparelho de som portátil. Notei que as meninas estavam dançando, e pela batida da música e o jeito que elas dançavam, percebi que era Funk. Até ai nenhuma novidade, pois o Funk atualmente lidera as paradas de sucesso e faz de seus divulgadores milionários - alguns com repercussão internacional, como é caso de Anitta e Nego do Borel, cujo hit “Você Partiu Meu Coração”, foi incluída no ranking da Billboard Top 100 -, tendo saído das favelas e penetrado nas boates da classe média. 

E, o Top Hit do momento do batidão Funk, era a “Dança do Créu”. Aliás, parecia ser a dança do Creu que os jovens ouviam, mas, ao prestar atenção na letra da música, vi que não era o insólito “Créu”, mas algo ainda pior! Uma versão Gospel intitulada: “Dança do Céu”, e os ouvintes e dançarinos eram jovens evangélicos! Refeito do susto fui para casa, e resolvi procurar na Internet algo sobre o assunto. Não demorou muito, me deparei com um vídeo da música na versão gospel, a qual vinha fazendo grande sucesso em alguns encontros evangélicos, tendo sido um dos vídeos mais acessados do YouTube (Tá duvidando? Eu provo. Clique aqui se tiver coragem - e estômago.). 

E os horrores continuam a cada nova estação, a cada novo modismo, a cada novo hit de verão. Recentemente fizeram a versão gospel do desgraçado hit que foi sucesso absoluto em 2017, “Despacito” (se você foi lá conferir a “Dança do Céu” e sobreviveu, você é forte, então clique ➫ aqui e assista “Vem Pra Cristo”).


Conclusão


A conclusão que cheguei, é que muitos no tal meio (e/ou cultura) gospel brasileiro, estão aumentando o furo por onde a “água tem entrado na igreja”. E uma água suja, podre, fétida, pois cada vez mais, já não se escreve músicas, por meio da inspiração do Alto, com base em uma reflexão teológica, fruto de uma vida de reverência com e diante de Deus, e com intenção de louvá-lO.

Pelo contrário, muitas são escritas às pressas, parodiando os hits do momento, da música secular, com intenção de obter lucro explorando o filão composto por trinta milhões ou mais de evangélicos. Alguém pode argumentar, mas e o hino “Castelo Forte”, de Lutero que foi baseado em uma música secular de seu tempo? Bom o ritmo pode até ter sido, mas penso que “Castelo Forte” se aproxima mais do salmo 46, e que naquela época, como até décadas atrás, mesmo no meio secular existia boas músicas, as quais infelizmente hoje estão cada vez mais raras. 

Diante da “Dança do Céu”, versão gospel da insípida “Dança do Créu” e de outros devaneios desse famigerado mercado musical gospel, reformulo que minha frase: não é a “água que entrou na arca” (igreja), mas sim o “fogo entrou na arca”, não o fogo do Espírito Santo, mas sim fogo estranho (Levíticos 10:1,2)! E somente por meio daquela água prometida por Jesus em João 7:38 poderá ser apagado. Que Deus nos guarde, até que passe este vento, trazido por uma banda podre da onda Gospel, e que nos livre de ver algo semelhante a uma coreografia da tal dança do céu na Igreja.
“Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai verdadeiramente desolados, diz o Senhor. Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm águas” (Jeremias 2:12,13).
Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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