Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino, pois a Escritura diz: "Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal", e "o trabalhador merece o seu salário". Não aceite acusação contra um presbítero, se não for apoiada por duas ou três testemunhas. Os que pecarem deverão ser repreendidos em público, para que os demais também temam.
"Eu o exorto solenemente, diante de Deus, de Cristo Jesus e dos anjos eleitos, a que procure observar essas instruções sem parcialidade; e não faça nada por favoritismo.
Não se precipite em impor as mãos sobre ninguém e não participe dos pecados dos outros. Conserve-se puro. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína.
Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores" (1 Timóteo 5:17-22; 6:9,10).
No artigo de de hoje veremos o cuidado e a dedicação de Paulo para com sua missão pastoral. Ele estava atento aos assuntos de interesse da igreja. Ao ler as suas epístolas pastorais, podemos perceber que Paulo deu especial importância à manutenção dos obreiros, discorreu sobre a questão da disciplina dos líderes, especialmente dos presbíteros que viessem a falhar. De forma bem clara, doutrinou a respeito dos relacionamentos na igreja local.
Paulo recomenda que
"os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina" (5:17, grifo meu).
É importante ressaltar que neste texto, presbíteros significam pastores. Assim como os doze apóstolos de Jesus deixaram tudo para segui-lO, muitos homens, na igreja do primeiro século, deixaram tudo para se dedicar ao pastorado. Estes deveriam ser sustentados pela igreja.
"Porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário" (5:18).
Aos coríntios, ele fez observações idênticas, revelando seu zelo pela manutenção dos obreiros (1 Coríntios 9:6-12).
Estudaremos partes do capítulo cinco e seis da primeira Epístola de Timóteo. Neste capítulo Paulo dá a Timóteo instruções mais específicas quanto à liderança da igreja. Paulo deseja que o jovem pastor prossiga alegremente e de modo irrepreensível.
Como pastor, Timóteo precisava aprender a lidar com os idosos e com todas as demais faixas etárias que compunham a igreja. O pastor precisa cuidar, apascentar o bebê, a criança, o adolescente, o jovem, o adulto e o ancião, pois todos fazem parte do rebanho do Senhor. No capítulo seis Paulo vai dar prosseguimento as suas recomendações quanto ao relacionamento de Timóteo com as ovelhas.
I. O cuidado com o rebanho
1. O cuidado com os anciãos (5:1)
O pastor precisa se relacionar bem com os membros de diferentes idades. Paulo procurou ensinar a Timóteo a maneira correta de lidar com as pessoas mais velhas. Todavia, isso não significa dizer que o pastor não deve corrigir, disciplinar os mais velhos, porém segundo o Comentário Bíblico Beacon o conselho de Paulo a Timóteo é:
"Em vez de repreender o mais velho, solicite-lhe; apela a ele como se fosse teu pai".
2. O cuidado com as mulheres idosas e viúvas (5:2)
As mulheres idosas deveriam ser tratadas como mães, ou seja, membros da família. O pastor deve proteger as irmãs idosas e ajudá-las para que continuem a crescer na graça e no conhecimento de Jesus Cristo.
Paulo também dá a Timóteo algumas orientações para que ele pudesse resolver as questões das viúvas na igreja (5:3-8). No mundo antigo, as viúvas enfrentavam uma situação difícil. Não havia o serviço de previdência social e quando o marido morria, se os filhos e parentes não cuidassem delas, elas passavam por sérias dificuldades financeiras.
Não havia espaço para a mulher viúva no mercado de trabalho, por isso, a igreja deveria sustentar aquelas que não tinham nenhum parente.
3. O cuidado com os ministros fiéis (v.17)
Os líderes que são fiéis ao Senhor e à Igreja devem ser estimados e apoiados. Sabemos que não é fácil agradar a todos e que os líderes sempre acabam sendo alvo de críticas. Como temos tratado os líderes de nossas igrejas? Com estima e apreço? Assim como os primeiros apóstolos, muitos dos obreiros de Éfeso deixaram tudo para seguir a Cristo, vivendo exclusivamente da igreja e para a igreja.
O cuidado espiritual e econômico fazia parte das recomendações de Paulo a Timóteo. Aos coríntios, ele fez observações idênticas, revelando seu zelo pela manutenção dos obreiros (1 Co 9:6-10).
Nos tempos da Bíblia, as viúvas geralmente não tinham meio de ganhar a vida. Aquelas que não tinham filhos nem netos que as sustentassem eram literalmente necessitadas.
Os judeus e os primeiros cristãos mostraram grande preocupação por estas mulheres, e eram cuidadosos em prover para elas. Esta carta a Timóteo sugere que as viúvas cristãs não se limitavam a receber ajuda. Aquelas que tivessem demonstrado um caráter cristão recebiam papéis quase oficiais na igreja (5:9,10), e um ministério ativo junto a jovens casadas (Tito 2:3-5).
Paulo, no entanto, limita ainda mais os membros neste papel oficial, embora sem limitar os direitos das viúvas que não tinham famílias que as sustentassem. Ele incentiva as viúvas jovens a se casarem novamente. E adverte que 'a viúva que vive em deleites, vivendo, está morta'.
A expressão 'que vive em deleites' é uma única palavra em grego, spatalao, que significa viver auto indulgentemente ou em luxúria. Paulo não está acusando estas viúvas de uma conduta sexual errada, mas sim de materialismo, de uma perspectiva voltada a si mesmas, que contrasta com a de uma viúva que 'espera em Deus e persevera de noite e de dia em rogos e orações'.
Uma mulher assim está 'morta' no sentido de que ela é insensível às realidades que marcam os outros como sendo particularmente vitais e vivos.
II. O trato com o presbitério
1. Acusação contra os presbíteros
Os presbíteros, ou pastores, não são isentos de falhas. Eles estão sujeitos a pecar, por isso, precisam vigiar e orar ainda mais (Mateus 26:41). Nenhum obreiro pode pensar que é infalível. Sabemos que os líderes cristãos são alvo de críticas, calúnias, injúrias e difamações, por isso, Paulo dá orientações importantes quanto aos pastores dizendo:
"Não aceites acusação contra presbítero, senão com duas ou três testemunhas" (1 Tm 5:19 cf. Deuteronômio 19:15).
Mas, se o líder for realmente culpado, precisa se arrepender, confessar, deixar os seus pecados e ser disciplinado (Provérbios 28:13). Encobrir os erros daqueles que pecaram não é a solução, pois
"Deus não tem o culpado por inocente" (Neemias 14:18).
2. A repreensão aos presbíteros
"Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor" (5:20).
Aqui, Paulo ensina a respeito da forma como aqueles que pecaram e tiveram suas faltas comprovadas por testemunhas, devem ser disciplinados. O pastor que aplica a disciplina precisa ter muito cuidado para agir conforme a reta justiça. A disciplina deve ser feita de maneira criteriosa, com sabedoria e amor.
3. O cuidado com a saúde (v.23)
Paulo aconselhou Timóteo a não beber somente água pura, mas misturar um pouco de vinho à água. Não sabemos ao certo o porquê de tal conselho, mas sabemos que naquele tempo as pessoas não podiam contar com os medicamentos que temos hoje. Sabemos também que o crente não deve beber vinho.
Encontramos na Palavra de Deus inúmeras advertências a respeito do vinho (Levíticos 10:9; Pv 20:1; 23:31 e Ef 5:18). O importante aqui é ressaltar que esse texto contraria a ideia de que o crente não pode adoecer. Certamente Paulo sofreu algum tipo de enfermidade (Gálatas 4:13); seus companheiros, como Trófimo, adoeceram (2 Tm 4:20). Essas pessoas não tinham fé? Estavam em pecado? De forma alguma! O líder também está sujeito a enfermidade, por isso, precisa cuidar da sua saúde física e emocional a fim de que possa cuidar do rebanho do Senhor.
Presbíteros (5:17-20)
Paulo observa que os presbíteros ‘dirigem os interesses da Igreja’. O vocábulo grego proestotes quer dizer presidir, supervisionar a vida da congregação. A expressão ‘merecedores de dobrados’, no contexto, parece querer se referir aos os aspectos financeiros e de respeito.
A mensagem de Deuteronômio 19:15 insiste que até mesmo os comuns do povo devem ser protegidos contra as acusações de terceiros. O cargo público faz com que seus ocupantes sejam mais vulneráveis à hostilidade e falsas acusações do que as outras pessoas. Se acreditarem nessa acusação, estariam obstruindo a liderança.
Na igreja, não há quem esteja isento de responsabilidades. Com efeito, a projeção do cargo de presbítero implica em censura pública caso venha a cometer alguma falta. Ao protegermos nossos líderes da responsabilidade de seus atos pecaminosos, corrompemos a igreja, pois seus membros não levarão a sério quando forem admoestados.
III. Conselhos Gerais
1. Aos que não respeitam a sã doutrina (6.3,4)
Doutrina é a exposição sistemática e lógica das verdades extraídas da Bíblia. Na igreja em Éfeso havia alguns falsos mestres que resolveram disseminar falsos ensinos. Algumas igrejas, infelizmente, têm sucumbido aos apelos dos falsos mestres que deturpam a sã doutrina (1 Tm 1:10), falsificando a Palavra (2 Co 4:2), e seguindo os ensinos de Balaão.
Para piorar ainda mais a situação, essas igrejas, à semelhança de Tiatira, acabam tolerando a imoralidade (Apocalipse 2:14,15,20,22). Porém, a autêntica noiva de Cristo mantém-se fiel às Escrituras (João 14:15,21,23; Tt 1:9), pois, é
"a igreja do Deus vivo a coluna e firmeza da verdade" (1 Tm 3:15).
2. Aos que querem ser ricos (6:9,10)
É muito eloquente a exortação de Paulo acerca dos que buscam riquezas. Ele se refere aos "que querem ser ricos" ou que vivem buscando bens materiais, não dando valor às coisas de Deus. São como o rico da parábola, de quem Jesus disse:
"Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus" (Lucas 12:21).
Paulo não é contra o possuir bens materiais, pois estes podem ser usados para o Reino de Deus, beneficiando a obra do Senhor. Paulo fala aqui do desejo de ser rico a qualquer custo. Ele fala do amor ao dinheiro e da cobiça. A Palavra de Deus nos ensina que a cobiça leva a todos os tipos de males: adultério, roubo, corrupção, suborno, etc.
3. Conselhos aos ricos (6:17-19)
Paulo aconselha aos ricos que não sejam arrogantes e não depositem sua esperança na riqueza. Os bens materiais são efêmeros, pois não vamos levar nada quando partirmos desta vida (6:17). Paulo exorta aos ricos que
"façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis" (6:18).
boas obras não salvam ninguém (Ef 2:8,9), mas são necessárias ao bom testemunho cristão e fazem parte da vida cristã (2:10). O crente sábio não entesoura para esta vida, mas para a futura (Mt 6:19-21).
"Foge destas coisas" (1 Tm 6:11-19). 'Fugir' no sentido figurativo significa evitar ou abster-se. Voltemos às costas para o desejo de tudo o que este mundo tem a oferecer e optemos pela justiça, piedade, fé, amor, tolerância e gentileza. Se estas qualidades são verdadeiras em nós, também é o nosso tesouro. Assim, estaremos a salvo das tentações que arrastam e lançam muitos à ruína.
Aos ricos, Paulo recomenda que não sejam arrogantes nem depositem sua esperança na riqueza. Mudem todo o foco de sua expectativa para o futuro com Deus. Usem o dinheiro para as boas obras. Sejam generosos e repartam. Estejam seguros de que o fundamental seja ampliado a cada dia, não na terra, mas nos céus.
Conclusão
Paulo era cuidadoso em sua missão pastoral. Ele se preocupava com diversos assuntos de interesse da igreja, de sua liderança e de seus membros. Deu especial importância à manutenção dos obreiros, discorreu sobre a questão da disciplina dos líderes, especialmente dos presbíteros que vierem a falhar.
De forma bem clara, doutrinou igualmente sobre o relacionamento humano, na igreja local, entre servos e senhores. O texto que estudamos no presente artigo são partes dos capítulos cinco e seis da primeira epístola de Timóteo. É a ultima lição que abordará a primeira epístola de Paulo a Timóteo.
Um ponto muito importante para a liderança cristã é a exposição de Paulo a partir do versículo 17. Ali, aparecem algumas responsabilidades dos líderes e da própria igreja em reconhecê-los como tais:
"os presbíteros que governem bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina" (v.17).
Ou seja, se o presbítero for servidor e competente, segundo consta em 1 Timóteo 3:1-7, naturalmente ele terá da comunidade local respeito e tratamento digno. Neste aspecto, a orientação do apóstolo é que o jovem pastor não recebesse nenhuma denúncia de incompetência ministerial, ou prática pastoral soberba e autoritária, que fosse um "blefe". Por isso, a orientação de Paulo para que façam a denúncia com o mínimo de duas ou três testemunhas.
O contrário do que pensam muitos, a orientação do apóstolo Paulo não se dá pelo viés do "corporativismo ministerial", mas o da prudência e o do senso de justiça para não sermos injustos no julgamento de um líder cristão (como igualmente não se deve ser injusto no julgamento de um membro local).
Entretanto, no caso de uma denúncia autenticamente comprovada contra um oficial da igreja, a orientação apostólica é clara:
"aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor" (1 Tm 5:20).
A liderança cristã deve honrar sua vocação, principalmente na disciplina.
Entretanto, temos de ter o cuidado de não fazermos uma "caça às bruxas", pois há uma grande diferença entre a pessoa arrependida de seu pecado e outra impenitente, de dura cerviz. Para a pessoa impenitente, a mensagem das Escrituras é clara, a fim de causar impacto em seu coração e ser salva no dia do juízo:
"o que tal ato praticou, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus" (1 Co 5:1-5).
Mas para a pessoa arrependida de coração, a mensagem de Jesus Cristo é a mesma dada à mulher adúltera:
"E disse-lhe Jesus: 'Nem eu também te condeno; vai-te e não peques mais'" (Jo 8:10).
O sumo pastor é um só, e o seu nome é Jesus Cristo.
[Fonte: RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 7ª Edição. RJ: CPAD, 2012, pp.471-72; 837, 838]
A Deus toda glória.
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