quinta-feira, 12 de outubro de 2017

DISCOS QUE EU OUVI - 36: CAPITAL INICIAL "ACÚSTICO MTV"


Dezessete anos se passaram desde que o Capital Inicial lançou o "Acústico MTV". O disco mais vendido da discografia da banda, com 2 milhões de cópias comercializadas em um período em que a pirataria já ganhava força, é até hoje emblemático. E quinze anos depois, Dinho Ouro Preto e seus companheiros voltaram a testar mais uma vez o formato: "Acústico NYC", gravado em julho de 2015 em Nova York, em CD e DVD.

Este trabalho certamente não teve a audácia de substituir o "Acústico MTV" mas foi essa gravação que fez com que o Capital Inicial descobrisse que seu projeto de mais sucesso está atualmente fora de catálogo. 
"Descobrimos isso depois da gravação. A gente não tinha se dado conta", 
revelou um Dinho Ouro Preto atônito, em conversa com o site UOL. 
"Fui olhar no iTunes, não achei. Fui olhar em outros streamings, não achei. Eu não estava encontrando o disco em lugar algum. Aí liguei para a gravadora e eles também não sabiam de nada". 
Mas o que aconteceu? Onde foram parar os acústicos, o bem sucedido projeto realizado entre a MTV Brasil (aquela dos bons tempos) e a Abril Music?

Os álbuns acústicos lançados pela extinta gravadora Abril Music, que fechou em 2003, caíram em uma zona cinzenta, intensificada quando a editora Abril devolveu, em 2013, a licença da MTV para a Viacom. 
"Caso isso não se resolva, o Capital deve entrar na Justiça. É o fim da picada que um empecilho legal possa fazer com que uma obra desapareça", 
disse o cantor. E não pode desaparecer mesmo. O "Acústico MTV Capital Inicial", lançado em 2000, além de ter sido um divisor de águas na carreira da banda, foi também o álbum que apresentou o Capital para uma nova geração de fãs.

Quem é o Capital 


A banda em sua atual formação: da esquerda para a direita
Dinho Ouro Preto, Fê Lemos, Flávio Lemos e Yves Passarell
Capital Inicial é uma banda de rock brasileira formada em Brasília, Distrito Federal (DF), no ano de 1982, depois que o grupo Aborto Elétrico encerrou as atividades, dando início também à banda Legião Urbana. 

A banda é composta por Dinho Ouro Preto (vocais e guitarra), Flávio Lemos (baixo), Fê Lemos (bateria), Yves Passarell (guitarra) e, pelos músicos de apoio Robledo Silva (teclado e violões) e Fabiano Carelli (guitarra e violão). Nos últimos anos sofreu grandes modificações em seu estilo, tendo como maior influência o rock inglês.

O começo


Brasília, maio de 1983. Um grupo de jovens é preso por usar pulseiras de tachas e alfinetes, sob a alegação destes acessórios serem armas em potencial. A resposta veio no editorial do "Fan Zine", em seu segundo número, escrito por um jovem que assinava apenas "Dinho".

O "Fan Zine" trazia outros assuntos, como a "Discografia básica da nova música", que incluía Sex Pistols, The Clash, The Damned, Ramones, Siouxie and the Banshees, P.I.L., Adam and the ants, Joy Division, UK Subs e Dead Kennedys. 

Naquelas páginas, às vezes escritas a mão, com colagens de outras publicações, lia-se um pequeno panorama do punk rock de Brasília (com letras do Aborto Elétrico, XXX e Plebe Rude), quadrinhos, poesias e textos de diversos colaboradores (Hermano Vianna, Marcelo Rubens Paiva, Guilherme Isnard, entre outros).

A postura deste grupo que expunha seus pensamentos através da música, de fanzines e de sua atitude, pode ser caracterizada pela música "Geração Coca-Cola", de Renato Russo, como fez Jamari França em artigo publicado no Jornal do Brasil, em 12 de novembro de 1984, quando reproduziu os versos da canção: 
"Depois de 20 anos de escola / não é difícil aprender / todas as manhas deste jogo sujo / não é assim que tem que ser? / vamos fazer nosso dever de casa / aí então vocês vão ver / suas crianças derrubando reis / fazer comédia no cinema com suas leis. / Somos os filhos da revolução / somos burgueses sem religião / somos o futuro da nação / Geração Coca-Cola". 
O Capital Inicial surgiu em 1982, formado pelos irmãos Fê (bateria) e Flávio Lemos (baixo), ex-integrantes do Aborto Elétrico, ao lado de Renato Russo , e Loro Jones (guitarra), oriundo da banda Blitz 64. Em 1983, Dinho Ouro Preto, após um estágio como baixista da banda "dado e o reino animal" (assim mesmo, com letras minúsculas), onde também tocavam Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá, entra para os vocais. 

Em julho estreiam em Brasília, tocando em seguida em São Paulo (SESC Pompéia) e no Rio de Janeiro (Circo Voador). Aliás, esta foi uma das características marcantes do início da carreira: as constantes viagens e apresentações nos principais palcos do underground do rock brasileiro. 

Baixos e altos


Após um período de altos e baixo na carreira, o ano de 1999 é dedicado a turnê brasileira, e ao longo dos shows a banda, além dos antigos fãs, encontra um novo público, adolescentes que não conhecem seus primeiros discos. Então surge a ideia de fazer um disco ao vivo, juntando novos e antigos sucessos. Rapidamente esta ideia se transforma no projeto de um disco Acústico, em parceria com a MTV. 

Então, o Acústico MTV


O último ano do século 20 começa com a banda se preparando para a gravação do "Capital Inicial - Acústico MTV", que acaba ocorrendo em Março. O disco é lançado dia 26 de maio, e a primeira tiragem rapidamente se esgota nas principais lojas do Brasil. 

A primeira música escolhida para tocar nas rádios, 'Tudo Que Vai', de Alvin L. e Dado Villa-Lobos, é amplamente executada em todo o país, e a banda vê reconhecido o seu empenho em fazer um disco acústico de rock simples, despojado, mas com a mesma atitude dos seus melhores discos. 

Em DVD a gente consegue perceber melhor a qualidade deste Acústico MTV, projeto que reconduziu o Capital Inicial ao grande sucesso - pouco tempo depois de lançado, o CD ganhou disco de platina, com mais de 250 mil cópias vendidas. O maior êxito comercial da banda até então tinha sido o LP de estréia, "Capital Inicial", de 1986, que estourou as faixas 'Fátima', 'Psicopata' e 'Música Urbana'. 

Elas eram herança do Aborto Elétrico. Elas estão lá no "Acústico...", amaciadas, como relíquias de um tempo distante. O que aconteceu com o Capital Inicial é que ele foi se formatando como uma banda pop, com canções para conquistar o ouvinte de rádio com suas melodias, não com um magnetismo messiânico, como a Legião fazia. Dessa forma, o "Acústico..." (primeiro ao vivo gravado pelo quarteto) foi feito para ser a apoteose do poder pop reforçado ano após ano pelo Capital.

Gravado em 21 de março de 2000 no pequeno mas charmoso Teatro Mars (SP), o especial é todo bem pensado e bem ensaiado. O cenário e os figurinos são elegantes - que diferença para os do Rock Brasil dos anos 80! -, bem como as releituras do Capital para as suas próprias músicas. Há muito que Dinho havia dado uma podada naqueles exageros vocais do começo da carreira, e a banda também se mostrou mais sóbria, com reforço de teclado, percussão e dos violões de dois contemporâneos de rock brasileiro: Kiko Zambianchi (cuja 'Primeiros Erros' voltou a ser hit com esse Acústico e ainda hoje é uma das músicas mais tocadas da banda e do próprio Kiko, que, aliás, também conseguiu uma nova projeção em sua carreira, justamente por causa de sua participação nesse disco) e Marcelo Sussekind (do Herva Doce), que também produziu o disco. 

'O Mundo', 'Tudo Que Vai', 'Eu Vou Estar' (com vocais e bandolim de Zélia Duncan, amiga de colégio de Dinho em Brasília) e 'Natasha' ganham os ouvidos de primeira e provam de vez que o Capital é hoje um dos fortes nomes do pop nacional, ao lado de Paralamas, Kid Abelha e Lulu Santos.

A imagem e o som do DVD, como era de se esperar, são impecáveis. No entanto, não há faixas extras em relação ao disco. Ao comprador deste formato do Acústico MTV, resta o bônus das legendas (com as letras das músicas) e de um making of de categoria, feito pela MTV. Enfim, tanto a visão e/ou são uma diversão certa para uma tarde de sábado.

Conclusão

O legado do "Acústico..."


Em 2002, após a turnê "desplugada" o capital volta com força total às guitarras fazendo um disco totalmente rock n' roll. Com Yves Passarell assumindo o posto de guitarrista (cumprindo a dura missão de substituir o excelente Loro Jones, o nosso Slash), é lançado "Rosas e Vinho Tinto". Os hits "À sua maneira" e "Mais" explodem nas rádios e o disco já alcança a marca de 200.000 cópias vendidas. Tudo, obviamente, graças ao "Acústico..."

Na cola do sucesso do "Rosas e Vinho Tinto", em 2004 sai o cd “Gigante!”, que estoura com os hits 'Sem Cansar', 'Respirar você' e 'Não Olhe pra Trás', que inclusive, vira tema da novela global "Começar de Novo". A turnê ganha cenário novo e o robô Gigante. A banda agora faz parte do casting da Sony/ BMG e vende mais de 150 mil cópias. 

O "Acústico MTV - Capital Inicial", além de ser um dos grandes registros do projeto, hoje já bastante saturado, é, portanto, um disco que merece meu seleto carimbo de

Faixas


  1. O Passageiro (The passenger) - (James Osterberg, Ricky Gardner, Vrs. Dinho - Bozzo)
  2. O Mundo (Pit Passarell)
  3. Todas as Noites (Bozo Barretti, Dinho, Alvin L.)
  4. Tudo Que Vai (Toni Platão, Alvin L., Dado Villa-Lobos)
  5. Independência (Fê Lemos, Flávio Lemos, Bozo Barretti, Dinho, Loro Jones)
  6. Leve Desespero (Fê Lemos, Flávio Lemos, Dinho, Loro Jones)
  7. Eu Vou Estar (Dinho, Alvin L.)
  8. Primeiros Erros (Chove) - (Kiko Zambianchi)
  9. Cai a noite (Mark Rossi, Loro Jones)
  10. Natasha (Dinho, Alvin L.)
  11. Fogo (Bozo Barretti, Dinho)
  12. Fátima (Flávio Lemos, Renato Russo)
  13. Veraneio vascaína (Flávio Lemos, Renato Russo)
  14. Música urbana (Fê Lemos, Flávio Lemos, Renato Russo, André Pretorius)

A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.

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