quarta-feira, 25 de outubro de 2017

CANÇÕES ETERNAS CANÇÕES - "SUNDAY BLOODY SUNDAY", U2

Que eu fui fã incondicional do U2 não é novidade para ninguém. Digo fui, porque, na minha singela opinião, a partir dos anos 2000, o quarteto irlandês perdeu muito da essência pop rock (ora mais pop, ora mais rock...) que o consagrou nas décadas de 1980 e 1990. Por isso, para mim, o U2 "acabou" com o lançamento do "dançante" álbum "Pop", de 1997, o pior de todos os trabalhos da banda dos que eu conheço.

Neste capítulo da minha série especial Canções Eternas Canções, eu vou falar sobre uma das músicas, que, mais do que um clássico, se tornou um verdadeiro hino do U2. Passe o tempo que passar, sempre, em qualquer show que Bono Vox (vocal), "The Edge" (guitarra e backing vocal), Adam Clayton (baixo) e Larry Mullen Jr. (bateria e percussão) dão, ela sempre é pedida: belíssima, densa, política e reflexiva 

'Sunday Bloody Sunday'.

I can't believe the news today
[Não posso acreditar nas notícias de hoje]
I can't close my eyes and make it go away
[Não posso fechar os olhos fazê-las desaparecer]
How long, how long must we sing this song?
[Por quanto tempo, por quanto tempo teremos de cantar essa canção?] 
How long, how long?
[Por quanto tempo, por quanto tempo?]
'Cos tonight
[Porque esta noite]
We can' be as one, tonight
[Podemos ser como um só, esta noite] 
Broken bottles under children's feet
[Garrafas quebradas sobre os pés das crianças]
Bodies strewn across the dead-end street
[Corpos espalhados em beco sem saída]
But I won't heed the battle call
[Mas eu não vou atender ao apelo da batalha]
It puts my back up, puts my back up against the wall
[Isso coloca minhas costas, coloca minhas costas sobre a parede] 
Sunday, bloody Sunday
[Domingo, sangrento domingo]
Oh, let's go!
[Oh, vamos lá!] 
And the battle's just begun
[E a batalha apenas começou]
There's many lost, but tell me who has won?
[Há muitos que perderam, mas diz-me: quem ganhou?]
The trenches dug within our hearts
[As trincheiras cavadas em nosso coração]
And mothers, children, brothers, sisters torn apart
[E mães, filhos, irmãos, irmãs dilacerados] 
Sunday, bloody Sunday
[Domingo, sangrento domingo]
How long, how long must we sing this song?
[Por quanto tempo, por quanto tempo teremos de cantar essa canção?]
How long, how long?
[Por quanto tempo, por quanto tempo?] 
'Cause tonight
[Hoje a noite]
We can be as one, tonight
[Nós podemos ser como um só, esta noite]
Sunday, bloody Sunday
[Domingo, sangrento domingo] 
Wipe the tears from your eyes
[Enxugue as lágrimas dos seus olhos]
Wipe your tears away
[Limpe as suas lágrimas]
I'll wipe your tears away
[Vou limpar as suas lágrimas]
I'll wipe your bloodshot eyes
[Vou limpar os seus olhos vermelhos] 
Sunday, bloody Sunday
[Domingo, sangrento domingo] 
And it's true we are immune
[E é verdade que somos imunes]
When fact is fiction and TV reality
[Quando o fato é ficção e a TV realidade]
And today the millions cry
[E hoje milhões choram]
We eat and drink while tomorrow they die
[Comemos e bebemos enquanto eles morrerão amanhã] 
The real battle just begun
[A batalha real apenas começou]
To claim the victory Jesus won
[Para reivindicar a vitória de Jesus]
No [Não]
Sunday, bloody Sunday
[Domingo, sangrento domingo]
Vídeo alternativo de 'Sunday Bloody Sunday', com cenas do filme "Domingo Sangrento", do diretor Paul Greengrass, lançado em janeiro de 2002, no Reino Unido

O que foi o "Domingo Sangrento"


A canção 'Sunday Bloody Sunday', da banda irlandesa U2, é a primeira faixa e terceiro single do álbum "War", sendo lançada em 11 de março de 1983, na Alemanha e na Holanda. 'Sunday Bloody Sunday' é conhecida pela sua batida militarista, guitarra dura e harmonias melódicas. A letra descreve o horror do episódio que ficou conhecido nos anais da história como "Domingo Sangrento"  (Bloody Sunday) em Derry na Irlanda do Norte, ocorrido no dia 30 de janeiro de 1972, quando tropas britânicas atiraram e mataram manifestantes de direitos civis.

Conheça a história


Os 14 mortos no massacre
No dia, 14 manifestantes foram mortos e 26 ficaram feridos. Dentre as vítimas, seis menores de idade foram mortos. Todas as vitimas estavam desarmadas e cinco delas foram alvejadas pelas costas.

Os manifestantes protestavam contra a política do governo irlandês de prender sumariamente pessoas suspeitas de atos terroristas. Essa política era dirigida contra o Exército Republicano Irlandês, o IRA, uma organização clandestina que luta pela separação da Irlanda do Norte da Grã-bretanha e posterior união com a República da Irlanda.

Após o "Domingo Sangrento", o IRA ganhou um número enorme de jovens voluntários, dando força ainda maior a esse grupo guerrilheiro.

As palavras do médico legista da cidade, Hubert O’Neill, resumem bem o sentimento que o ocorrido deixou:
"Isso se tornou conhecido como 'domingo sangrento',e foi sangrento. Era desnecessário. Surpreende-me o que o exército fez nesse dia, atiraram sem pensar no que eles estavam fazendo. Eles estavam atirando em inocentes. 
Estas pessoas podem ter tomado parte em uma marcha que foi proibida, mas isto não justifica que as tropas tenham disparado indiscriminadamente contra eles. Eu diria sem hesitação que foi puramente um assassinato. Foi assassinato."
As 26 pessoas que participavam da marcha pelos direitos civis foram atingidas por tiros disparados pelo Primeiro Batalhão de Paraquedistas Britânico, comandado pelo Tenente-Coronel Derek Wilford e seu segundo em comando, Capitão (mais tarde promovido a General) Mike Jackson.

Os tiros foram iniciados quando parte dos manifestantes tentou vencer, atirando pedras, uma barricada montada pelos militares para conter a passeata. Treze pessoas, incluindo seis menores de idade, morreram na hora. Uma outra pessoa morreu (possivelmente devido aos ferimentos) seis semanas depois. Duas pessoas foram atropeladas por veículos militares. Segundo testemunhas e jornalistas presentes, nenhum dos atingidos estava armado. Cinco deles foram atingidos pelas costas.

Investigações levadas a cabo logo após o evento inocentaram os envolvidos. Uma segunda investigação iniciada em 1998 ainda está em andamento. O Exército Republicano Irlandês (IRA), organização paramilitar que pede a separação de parte da Irlanda do Reino Unido, fundado dois anos antes, teve um considerável aumento no número de recrutamentos e maior simpatia do público após o evento do dia 30 de janeiro.

Uma música com o mesmo nome do clássico do U2, 'Sunday Bloody Sunday', foi gravada por John Lennon no álbum "Some Time In New York". O mesmo álbum traz também a música 'The Luck of the Irish'. Lennon era descendente de irlandeses. Paul McCartney, também descendente de irlandeses, lançou o single 'Give Ireland Back to the Irish' após o incidente; a faixa foi a única da carreira solo de Paul a ser banida pela rádio BBC.

Ruas sujas de sangue


Foto real do local do massacre mostra dois dos mortos
Protesto pacífico virou campo de batalha e acirrou tensões religiosas. Veja passo a passo como foi se deu o desenrolar do sangrento domingo:
  • 1. No ensolarado dia 30 de janeiro de 1972, entre 5 mil e 20 mil pessoas se reúnem na área residencial de Creggan, em Derry, Irlanda do Norte, para reclamar contra as prisões arbitrárias de supostos membros do IRA. Era o segundo dia de marcha pacífica, apesar de o governo ter proibido, em 18 de janeiro, qualquer protesto na Irlanda do Norte até o final daquele ano.
  • 2. Às 15h25, os manifestantes já estão na rua Westland, próxima ao centro da cidade. Vinte minutos depois, encontram uma das barricadas do Exército na rua William. Aconselhados pela organização do evento, se desviam pela rua Rossville para se reunir na praça Free Derry Corner. No entanto, parte do grupo continua pela rua William, onde estão tropas britânicas.
  • 3. O exato estopim do conflito é incerto. Posteriormente, o general Robert Ford, comandante das tropas inglesas, afirma que elas foram recebidas a tiros pelos civis, mas nenhuma arma é encontrada no local. O fato é que houve o confronto – manifestantes com paus e pedras, soldados com balas de borracha, gás lacrimogênio e jatos de água. Dois civis levam tiros e ficam feridos.

Roteiro errado


O local onde se deu o massacre
Parte dos manifestantes seguiram por uma rua barricada e bateram de frente com o Exército.
  • 4. O Exército recebe instruções para prender o maior número possível de manifestantes. Uma unidade do Primeiro Batalhão do Regimento de Paraquedistas avança pelas ruas William e Rossville, inclusive com carros blindados e rifles SLR. Após 25 minutos de tiroteio, o saldo já era de 13 mortos e 14 feridos (um deles morreu meses depois por causa dos ferimentos).
  • 5. Nos dias seguintes, em represália, o IRA convoca uma greve geral, atendida por 90% da população local. Manifestantes atiram pedras e bombas e incendeiam carros. Em Dublin, na Irlanda, é ateado fogo à embaixada britânica. O ressentimento dos católicos aumenta, bem como a luta armada por direitos civis – jovens não politizados passam a simpatizar com o IRA.
  • 6. O primeiro inquérito pós incidente acusa os civis de terem dado o primeiro tiro (ainda que um legista de Derry afirme que a morte dos manifestantes tenha sido "puro assassinato"). Mas, em 2010, um novo relatório conclui que os disparos do Exército não tiveram justificativas. O primeiro ministro britânico David Cameron se desculpa publicamente no Parlamento.

Grupo Sambô e a "criminosa" desconstrução de um clássico


Marcha realizada em protesto contra o Domingo Sangrento,
à frente familiares das 14 vítimas carregam cruzes
com os nomes dos mortos e as fotos de cada um deles
O clipe de uma versão infame de 'Sunday Bloody Sunday' apresentada pelo horrível grupo brasileiro Sambô em forma de samba (eu não cometeria a cumplicidade em postar o clipe aqui, mas se você quiser conferir, clique no link) nos remete a um momento agradável, contagiante, "criativo" e extremamente alegre, no qual as várias pessoas participantes do vídeo se sentem felizes e dispostas a escutar a música.

Mesmo que algumas delas (afirmo sem medo de erra, que a maioria) possam não entender a letra, elas interagem com o grupo, considerando que esta é a hora para ser feliz, esquecer as obrigações e curtir o momento. Um clima de felicidade que aparentemente não demonstra nada de errado, não é mesmo?

Tocando em um ritmo acalorado, com sorrisos de orelha a orelha e dançando juntamente com o público, podemos apostar em algo muito agradável e com uma bela mensagem, certo? Ou você pensa que a música possa ter uma temática triste e nebulosa? E então, a letra da música dá conta de suas expectativas? Nem tanto não é?

O que aconteceu com aquela descontração presente na versão regravada, a qual todos cantam e aplaudem alegremente como algo esplêndido? Assim, a composição original, gravada pelo U2, apresenta grande diferença, não só no ritmo, mas no seu sentido, comparada com a recente e inaudível versão.

É visível que a música trata de um assunto relacionado a uma guerra, que, como vimos, ao contrário do que possamos imaginar não é meramente ficcional.


Porque a versão do Sambô é horrivel?


As 14 cruzes com os nomes das vítimas do massacre, expostas em
um memorial erguido em homenagem a eles
Como pode um tema trágico tornar-se base para um ritmo alegre como se fosse algo comum, não sendo utilizado para fazer-nos refletir sobre as circunstâncias?

Ou você realmente acredita que com a nova versão da música, alguém pare para entender o que está sendo dito? Pra começar não há sentido algum em cantar e agir alegremente diante de uma tragédia, a não ser que se esteja apenas acompanhando as pessoas sem ao menos entender do que se trata.

Por meio disso podemos ver o quão manipulados somos diante da sociedade. Vivemos cercados de padrões, construídos pelo que chamamos de indústria cultural. Esta decide o que ouvimos e conhecemos de modo que melhor lhes convém, e nós simplesmente aceitamos isso acreditando que o que nos é apresentado é o que realmente vale.

Atualmente as pessoas preferem ouvir coisas fáceis de serem consumidas, sem prestar atenção na mensagem, pois as produções culturais são vistas e tratadas como mercadorias. Uma das razões disso é que vivemos muito ocupados e essa situação faz com que não possamos procurar canções além daquelas que nos são oferecidas apenas para entretenimento.

Por isso, não se engane com tudo o que vê e ouve, isso não é nem a metade de toda a variedade cultural que existe. Busque expressões culturais diferentes, que façam mais sentido e que lhe proporcione uma reflexão sobre assuntos importantes e que muitas vezes nem percebemos.


Conclusão


À direita uma cena real do dia do massacre; à direita a banda em
frente ao mesmo prédio onde a cena ocorreu
A canção 'Sunday Bloody Sunday' ficou na posição 268° entre as 500 Melhores Canções de Todos os Tempos da revista Rolling Stone, em 2004.

A revista britânica New Statesman classificou-a como uma das canções do "Top 20" das canções políticas.

Curiosidades

  • O "Domingo Sangrento" irlandês é geralmente confundido com o "Domingo Sangrento" russo, que ocorreu em 1905 e foi um dos motivos da Revolução Russa, de 1917.
  • Bono Vox, líder e vocalista da banda U2 é conhecido por seu engajamento político.
Por revelar de forma poética, mas sem deixar de ser contestadora, o quão estúpido é tudo o que envolve uma guerra ou simplesmente por ser uma belíssima canção, 'Sunday Bloody Sunday' é eterna e, claro, recebe o meu carimbo de
[Fonte: sites Britannica Online; The Guardian; The Telegraph; Folha de S.Paulo; Jornal do Brasil; BBC e The Museum of Free Derry; com assessoria de Pedro Paulo Abreu Furnari, professor do departamento de história da Universidade Estadual de Campinas, Tania Regina de Luca, professora de história da Unesp]

A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.

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