sábado, 30 de setembro de 2017

FILMES QUE EU VI - 35: "O JOGO DA IMITAÇÃO"

Confesso que filmes de guerra não são os de minha preferência e, justamente por isso, para que eu assista um filme com essa temática, deve ser sob uma recomendação de fonte bem confiável (um cinéfilo, que faça algo mais que apenas assistir um filme), uma boa crítica (se bem que os critérios de avaliação dos críticos sejam um tanto quanto peculiares) e, em alguns casos, pelo sucesso de público (nesse caso, com muito mais reservas, pois o público tem uma forte tendência e possibilidade de ser manipulado).

No caso do filme em questão, eu o assisti como item disciplinar de Informática, no curso de Técnico em Administração que eu estou fazendo. De início, por estar atrelado à uma atividade curricular do curso, pensei que seria algo mais, digamos, “pragmático”. Sabe aquela sensação de “ter que assistir” para conseguir uns pontinhos na disciplina? Mas qual não foi minha excelente surpresa quando me deparei com uma história um tanto reflexiva que mescla contextos históricos, didáticos, psíquicos e comportamentais. 

Inteligência artificial X Personalidade


Cumberbatch, brilhante no papel de Alan Turing
Tudo isso você encontra no enredo de “O Jogo da Imitação”. Com oito indicações ao Oscar 2015, O longa é, sem dúvida, um filme que muito mereceu estar na seleta lista de concorrentes à estatueta mais importante do cinema internacional. Além desta, as outras indicações foram: melhor ator (Benedict Cumberbatch), melhor atriz coadjuvante (Keira Knightley), melhor direção (Morten Tyldum), melhor roteiro adaptado (Graham Moore), melhor edição (William Goldenberg), melhor design de produção e melhor trilha sonora (Alexander Desplat – que concorreu pela mesma categoria com a trilha sonora de O Grande Hotel Budapest, outra grande produção do cinema).

O verdadeiro Turing
O emocionante filme conta a história de Alan Turing (Cumberbatch), grande matemático e criptologista do começo do século XX, que teve uma influência muito grande no desenvolvimento do que chamamos de inteligência artificial e formalizou os conceitos de algoritmo e computação, sendo considerado, assim, o pai da computação.

A história do filme, o filme da história


Após o Reunio Unido declarar guerra em 1939, Turing vai trabalhar no centro britânico de quebra de códigos, sob poder superior do Comandante Alaistar Denniston (Charles Dance), e entra para a equipe de decifradores comandada por Hugh Alexander (Matthew Goode) e composta por mais Peter Hilton (Matthew Beard), John Cairncross (Allen Leech) e outros dois especialistas. A missão que é dada à equipe é a de decifrar o código nazista usado em mensagens escritas a partir da máquina Enigma.

O maior problema de decifrar o código é o tempo. Às seis da manhã a primeira mensagem é interceptada e, a partir dessa hora, os especialistas tem dezoito horas para decifrar o código, pois, à meia noite, o código muda e eles precisam começar tudo do zero. De certa forma arrogante e verdadeiramente muito difícil, Turing não é o melhor dos colegas de trabalho e, enquanto o resto da equipe tenta decifrar o Enigma na ponta do lápis, o matemático diz estar desenvolvendo uma máquina que poderá fazer isso de forma muito mais fácil. E, claro, isso irrita toda a equipe, que já está frustrada por trabalhar tanto durante o dia e, ao bater da meia noite, ter todo o trabalho jogado no lixo.

Turing, então, irritado por não ter todo o investimento que precisa para sua máquina, primeiro negado por Hugh e, depois, por Denniston, resolve enviar uma carta ao primeiro ministro Winston Churchill, que o coloca no comando da equipe e decide bancar a máquina, coisa que não agrada muito a ninguém. A primeira providencia que Turing toma é a de demitir dois dos especialistas que antes estavam na equipe, que considera incompetentes, e convocar outros dois. 

Para isso, publica um dificíl jogo de palavras cruzadas no jornal; quem conseguisse resolver, deveria se apresentar e passaria por um segundo teste: resolver outro problema dificílimo em menos de seis minutos. Joan Clarke (Keira Knightley, que em um show de interpretação) aparece, então, como a única mulher a resolver o jogo de palavras cruzadas e a primeira do grupo de selecionados a resolver o problema em menos de seis minutos (cinco minutos e trinta e quatro segundos, como o mesmo Turing observa).

Sem entrar muito nos meandros do roteiro (porque já começaria a dar muitos spoilers para aqueles que não conhecem a história), Turing e sua equipe conseguem quebrar o código e, como é informado ao final do filme, isso encurta a guerra em cerca de dois anos e poupa milhões de vidas, conforme estimam os historiadores.

Fatos históricos à parte, a produção do filme é maravilhosa. Há idas e vindas (o filme acontece em três períodos: na juventude de Turing, no seu trabalho durante a guerra e pouco antes de seu suicídio), mas nada que deixe o espectador confuso. As atuações são brilhantes. Bom, sobre as atuações eu acredito que há um comentário pessoal a ser feito: eu não sou o maior fã de Cumberbatch. 

Na verdade, não gosto dele de maneira nenhuma e ele nunca me convence nos papéis que faz; portanto acredito que ler de minha parte que a atuação dele como Alan Turing é absolutamente impecável quer realmente dizer alguma coisa. Sua indicação ao Oscar de melhor ator foi extremamente justa e ele me convenceu do começo ao fim (principalmente na última cena que faz com Knigthtley e que me fez chorar). 

Keira Knightley também faz um ótimo trabalho como Joan Clarke e também acredito ter sido justa sua indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. As atuações das outras personagens também são fantásticas. Sou muito fã de Matthew Goode e de Charles Dance (gente, desculpa, não há como não amar Tywin Lannister) e todo o trabalho conjunto de atuação é muito bom.

Conclusão


Biografias costumam ser livros fáceis de adaptar para o cinema: a ação é cronológica, o arco de transformação do protagonista é claro e bem definido e, normalmente, um personagem que teve sua história escrita é naturalmente um indivíduo interessante. O problema é que figuras como Turing são seres multifacetados, homens cuja existência se espalha para mais âmbitos do que um filme consegue captar. 

Um livro pode dar conta dos diversos lados de uma figura, mas um filme de duas horas dificilmente tem a mesma capacidade. O maior tema do filme não é realmente a vida de Alan Turing, mas o lugar do gênio, a possibilidade de que um ser humano seja extraordinário. A ideia romântica do gênio permeia toda a narrativa: Turing sofre de TOCs, é anárquico, antissocial, arrogante, quase insuportável. Mas acima de tudo isso, ele é capaz de mudar o mundo apenas com sua inteligência. “O Jogo da Imitação” começa como um thriller, um filme sobre uma equipe de especialistas tentando decifrar o enigma mais difícil do mundo, mas muda de foco e torna-se uma história sobre um ser humano extraordinário esmagado pela mediocridade do mundo. 

Se você está procurando por um filme exclusivamente sobre a Segunda Guerra Mundial, “O Jogo da Imitação” não é seu filme ideal, ainda que esteja centralizado num dos grandes feitos do período que foi a quebra do Enigma. Se você está procurando por um filme com uma história emocionante de um homem genial que tinha muitos problemas pessoais (além de sua personalidade difícil, Turing era homossexual, que era crime na década de 1940 e que culminou com a condenação dele à castração química e posterior suicídio), mas, que ainda assim, conseguiu os feitos que conseguiu, eu recomendo fortemente que você assista. Ganhei muito mais que os pontos na disciplina do curso ao assistir esse excelente filme.

Ficha Técnica


O Jogo da Imitação (The Imitation Game)
  • Data de lançamento 5 de fevereiro de 2015 (1h55min)
  • Direção: Morten Tyldum
  • Elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode 
  • Gêneros: Biografia, Drama
  • Prêmio: Oscar de Melhor Roteiro Adaptado
  • Nacionalidades: EUA, Reino Unido
A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://circuitogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade 
E nem 1% religioso.

5 comentários:

  1. Leo,quero parabenizá-lo pelo seu trabalho. É muito gratificante termos pessoas assim. Seu conhecimento dividido com próximo de uma forma tão legal.

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  2. Parabéns querido e estimado Leonardo. Muito lindo este seu trabalho, orgulho-me, por dar-me então, o privilégio de ser professor de um aluno, assim, tão dedicado como você. Que Jesus continue iluminando-te sempre.

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  3. Amém e obrigado querido professor (e padrinho) Cláudio. Pela indicação do filme - devo confessar que se não por sua indicação talvez não teria o interesse em assisti-lo - e pelo incentivo que nos tem dado a que cresçamos cada vez mais no conhecimento. Eu que me sinto privilegiado por ser seu aluno, principalmente por conhecer um pouco de sua história de lutas e superação, certamente, um aditivo a mais que nos impulsiona a ir em frente. Abraços!

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  4. Adorei esse filme! Amei assistir! O Jogo da Imitacao é um dos meus favoritos. Acho que Benedict Cumberbatch é um dos melhores atores. Que talentoso é Benedict Cumberbatch, eu o vi no trailer de Brexit, estava espetacular, recomendo que o vejam, já vai passar na TV, Vai ser um filme interesante, para mim um dos melhores Benedict Cumberbatch filmes Acho que a historia será boa que nos mantêm presos no sofá. Eu já quero ver. Parece um filme bom e muito interessante, um dos grandes filmes de HBO. De verdade, adorei que tenham feito o filme.

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