- Nota ¹: Este artigo é um complemento do artigo anterior. É imprescindível a leitura da primeira parte para que você entenda a segunda. Nessa segunda parte vou propor uma análise sobre a supervalorização da autoestima, um excesso perigoso e frontalmente anti-bíblico.
Crianças e adultos precisam realmente de auto-estima? A baixa autoestima conduz a sérios problemas na vida? Os pais deveriam se esforçar para desenvolver a autoestima em seus filhos? A Bíblia incentiva a autoestima? Muitos cristãos têm suposições sobre este assunto; mas, o que diz a Bíblia? O que dizem as pesquisas?
A gênese da autoestima
O movimento da autoestima tem seus fundamentos mais recentes na psicologia clínica, isto é, nas teorias da personalidade elaboradas por Wiliam James, Alfred Adler, Erich Fromm, Abraham Maslow e Carl Rogers, cujos seguidores popularizaram o movimento. Contudo, as raízes do movimento da autoestima retrocedem aos primórdios da história humana.
Tudo começou no terceiro capítulo de Gênesis. Inicialmente, Adão e Eva tinham consciência de Deus, consciência um do outro, das coisas à sua volta e não de si próprios. A percepção de si mesmos era incidental e secundária na sua focalização em Deus e um no outro. Adão compreendia que Eva era osso dos seus ossos e carne de sua carne (2:23), mas não estava consciente de si do mesmo modo que seus descendentes seriam. O ego não era problema até a queda.
Comer da árvore do conhecimento do bem e do mal não trouxe a sabedoria divina. Resultou, sim, em culpa, medo e na separação de Deus. Assim, quando Adão e Eva ouviram que Deus se aproximava, esconderam-se entre as árvores. Mas Deus os viu e perguntou:
"Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses" (3:11)?
O ego pecaminoso
Adão e Eva responderam dando-nos o primeiro exemplo de autojustificação. Primeiro Adão culpou Eva e Deus, e então Eva culpou a serpente. O fruto do conhecimento do bem e do mal gerou o ego pecaminoso representado pelo amor-próprio, autoestima, autoaceitação, autojustificação, hipocrisia, auto-realização, autodifamação, autopiedade, e outras formas de autofocalização e egocentrismo.
Desse modo, o atual movimento da auto-etc. tem suas raízes no pecado de Adão e Eva. Através dos séculos, a humanidade continua a se deleitar na árvore do conhecimento do bem e do mal, que tem disseminado seus ramos do saber mundano, incluindo as vãs filosofias humanas e, mais recentemente, as filosofias "científicas" e a metafísica da psicologia moderna.
As fórmulas religiosas do valor-próprio, do amor-próprio e da auto-aceitação escorrem da tela da televisão, vertem dos monitores de computadores, fluem pelas ondas do rádio e seduzem através da publicidade. Do berço ao túmulo, os defensores do ego prometem a cura de todos os males da sociedade por meio de doses exageradas de autoestima, valor-próprio, auto-aceitação e amor-próprio. E todo mundo, ou quase todos, repetem o refrão:
"Você só precisa amar e aceitar a si próprio como você é. Você precisa se perdoar",
e:
"Eu só tenho de aceitar-me como sou. Eu mereço. Eu sou uma pessoa digna de amor, de valorização, de perdão."
A resposta cristã para o mundo
Como o cristão deve combater o pensamento do mundo, que exalta o ego e o coloca no centro como a essência da vida? Como o cristão deve ser fiel à ordem de nosso Senhor, de estar no mundo mas não ser do mundo? Ele pode adotar e adaptar-se à filosofia/psicologia popular de sua cultura, ou ele deve manter-se como quem foi separado por Deus e encarar sua cultura à luz da Palavra? Jesus disse:
"Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve" (Mateus 11:28-30).
Este é um convite para deixarmos o nosso próprio caminho, submetendo-nos a um jugo de humildade e servidão – com ênfase no jugo – num relacionamento de aprendizado e vida. Jesus fez Seu convite ao discipulado com palavras diferentes, mas para o mesmo relacionamento e o mesmo objetivo, quando disse:
"Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á" (16:24,25).
Nenhum mandamento para amar a si próprio
Jesus não nos ordena que amemos a nós mesmos, mas que amemos a Deus e ao próximo. A Bíblia apresenta uma base para o amor completamente diferente daquilo que a psicologia humanista anuncia. Ao invés de promover o amor-próprio como a base para amarmos os outros, a Bíblia diz que o amor de Deus é a fonte verdadeira. O amor humano é misturado com o amor-próprio e, em última análise, pode estar em busca de seus próprios interesses.
Antes de continuarmos, vamos fazer uma análise bem apurada do que disse Jesus:
"Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.
Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei; que dessa mesma maneira tenhais amor uns para com os outros. Através deste testemunho todos reconhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros" (Marcos 12:30,31; João 13:34,35).
Onde está escrito que eu devo me amar em primeiro lugar? Em lugar nenhum!!! Antes, o que a Bíblia ensina é que:
- Devo amar a Deus em primeiro lugar;
- Amar ao meu próximo em segundo lugar - ou seja, eu só conseguirei amar ao meu próximo se eu conseguir amar a Deus, e;
- Amar a mim só quando eu conseguir amar a Deus e ao próximo.
Matemática simples:
1º Lugar = DEUS
2º Lugar = o próximo
3º Lugar = eu
Continuando o nosso raciocínio bíblico
Mas o amor de Deus entrega a si mesmo. Portanto, quando Jesus convida Seus discípulos a negarem a si próprios e tomarem sobre si o Seu jugo e a Sua cruz, Ele os conclama a um amor que doa a si mesmo, não a um amor que satisfaz a si mesmo. Até o advento da psicologia humanista e de sua intensa influência na igreja, os cristãos geralmente consideravam a autoestima como uma atitude pecaminosa.
Apesar da Bíblia não ensinar o amor-próprio, a autoestima, o valor-próprio ou a auto-realização como virtudes, recursos ou objetivos, um grande número de cristãos de hoje têm sido enganado pelos ensinos pró-ego da psicologia humanista. Ao invés de resistirem à sedução do mundo, eles se submetem à cultura do mundo. Não somente eles não resistem à gigantesca onda do egocentrismo; como estão na crista da onda da autoestima, da auto-aceitação e do amor-próprio. Na área do ego, dificilmente se pode perceber a diferença entre o cristão e o não-cristão, exceto que o cristão afirma ser Deus a fonte principal de sua autoestima, auto-aceitação, auto-valorização e amor-próprio.
Através de slogans, bordões e textos bíblicos deturpados, muitos crentes professos seguem a onda existencial da psicologia humanista e estabelecem seu próprio sistema motivacional. Desse modo, qualquer crítica contra os ensinamentos do valor-próprio, amor-próprio e autoestima é considerada, por isso mesmo, como prova de que se deseja que as pessoas sejam infelizes. Além do mais, qualquer crítica contra o movimento da autoestima é vista como um perigo para a sociedade, já que a autoestima é considerada como panaceia para seus males e placebo para a alma. Então se alguém, na igreja, não apoia completamente a teologia da autoestima, é acusado de promover uma teologia desprezível.
Se há algo que o mundo e muitos na igreja têm em comum nos dias atuais, é a psicologia da autoestima. Embora cristãos professos possam discordar em algumas das nuanças da autoestima, auto-valorização, auto-aceitação, e mesmo em alguns dos pontos mais delicados de suas definições e de como elas são alcançadas, muitos têm reunido forças contra o que acreditam ser um inimigo terrível – a baixa autoestima. Contudo, mesmo o mundo ainda não consegue justificar o incentivo da alta autoestima pelos seus próprios métodos de pesquisa.
As pesquisas não apresentam justificativas em favor da autoestima
Há alguns anos, o legislativo da Califórnia aprovou o projeto de criação da "Força-Tarefa Californiana para Desenvolver a Autoestima e a Responsabilidade Social e Pessoal". O legislativo reservou para o projeto 245.000 dólares ao ano durante três anos, num total de 735.000 dólares. O duplo título da Força-Tarefa foi realmente muito pretensioso. Ninguém nunca conseguiu demonstrar que o estímulo à autoestima está, de algum modo, ligado com a responsabilidade social e pessoal. Nem se provou que todos aqueles que demonstram responsabilidade social e pessoal possuem autoestima elevada. Na verdade a autoestima e a responsabilidade social e pessoal têm relação negativa e não positiva.
A Declaração do Objetivo da Força-Tarefa foi a seguinte:
- Procurar determinar se a autoestima e a responsabilidade social e pessoal são as chaves para descobrir os segredos do desenvolvimento humano sadio, de modo que consigamos atingir as causas e desenvolver soluções eficazes para os principais problemas sociais, fornecendo a cada californiano as mais recentes experiências e práticas quanto à importância da auto-estima e da responsabilidade social e pessoal.
- A Força-Tarefa acreditava que apreciar a si mesmo e fortalecer a autoestima reduziria "dramaticamente os níveis epidêmicos dos problemas sociais que enfrentamos atualmente".
Há uma relação positiva entre a alta ou baixa autoestima e a responsabilidade social e pessoal?
Com o objetivo de pesquisar esta relação, a Força-Tarefa estadual contratou oito professores da Universidade da Califórnia para examinar a pesquisa sobre a auto-estima e sua relação com as seis áreas seguintes:
- Crime, violência e reincidência;
- Abuso de drogas e álcool;
- Dependência da Previdência Social;
- Gravidez na adolescência;
- Abusos sofridos por crianças e esposas;
- Deficiência infantil no aprendizado escolar.
Sete dos professores pesquisaram as áreas acima e o oitavo resumiu os resultados, que foram publicados num livro intitulado 'The Social Importance of Self-Esteem' (A Importância Social da Autoestima). Esta pesquisa confirmou a relação entre a auto-estima e os problemas sociais?
David L. Kirk, colunista do jornal San Francisco Examiner, disse rudemente:
"Esse... volume erudito, 'The Social Importance of Self-Esteem', resume todas as pesquisas sobre o assunto numa ridícula abordagem maçante de cientistas pretensiosos. Economize seus 40 dólares que o livro custa e conclua: Há pouquíssima evidência de que a autoestima seja a causa de nossos males sociais" (ênfase acrescentada).
Mesmo tendo procurado uma conexão entre a baixa autoestima e o comportamento problemático, eles não puderam encontrar uma relação de causa e efeito (Contudo, estudos mais recentes indicam uma clara relação entre o comportamento violento e a alta autoestima.). Apesar disso, a fé na autoestima não morre, e as escolas continuam a trabalhar para elevar a autoestima.
Pior do que a continuação nos ensinamentos da autoestima no mundo é a confiança que cristãos professos continuam a depositar nos ensinamentos da autovalorização e do amor a si próprios. Assim, o movimento secular da autoestima não é um ataque frontal contra a Bíblia com linhas de batalha claramente demarcadas. Ao invés disso, é habilidosamente subversivo, e realmente não é obra de carne e sangue, mas dos principados e potestades, dos dominadores deste mundo tenebroso, das forças espirituais do mal nas regiões celestes, como Paulo diz em Efésios 6:12. Lamentável é que muitos cristãos não estão alertas para os perigos. Muitos mais do que podemos enumerar estão sendo sutilmente enganados por um outro evangelho: o evangelho do ego.
O amor bíblico
Jesus convida os Seus para um relacionamento de amor com Ele e de um para com o outro. A alegria dos Seus deve ser encontrada nEle, não em si mesmos. O amor vem de Seu amor por eles. Assim o amor deles, de um para o outro, não vem do amor-próprio e da autoestima, tampouco aumenta a autoestima. A ênfase está na comunhão, na frutificação e na prontidão para ser rejeitado pelo mundo. A identificação do crente está em Jesus ao ponto de sofrer e segui-lO até a cruz. Somente através da semântica forçada, da lógica violentada e da exegese ultrajada alguém pode querer demonstrar que a autoestima é bíblica ou mesmo parte da tradição ou do ensino da igreja.
O foco do amor na Bíblia é para cima e para fora ao invés de ser para dentro. O amor é tanto uma atitude como uma ação de uma pessoa para com a outra. Embora o amor possa incluir sentimentos e emoções, ele é essencialmente uma ação determinada pela vontade para a glória de Deus e para o bem dos outros. Assim, quando Jesus disse:
"Amarás, pois o Senhor, teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força" (Mc 12:30),
Ele quis explicar que todo o nosso ser deve estar comprometido para amar e, portanto, agradar a Deus. O amor a Deus é expresso com um coração agradecido e determinado a fazer o que agrada a Ele de acordo com o que está revelado na Bíblia. Não se trata de um tipo de obediência mecânica, mas de um desejo para conformar-se à Sua graciosa vontade e de concordar que Deus é a fonte e o padrão para tudo que é certo e bom.
A segunda ordem é uma extensão ou expressão da primeira:
"Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (12:31).
João acrescentou detalhes a respeito. Ele descreveu a sequência do amor. Em contraste com os mestres do amor-próprio, que dizem que as pessoas não podem amar a Deus e aos outros até que amem a si mesmas, João diz que o amor começa em Deus e, então, se estende aos outros:
"Nós amamos porque Ele nos amou primeiro. Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dEle, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão" (1 Jo 4:19-21, grifos acrescentados).
Deus nos amou primeiro, o que nos capacita a amá-lO, o que se expressa, então, em amar uns aos outros.
Conclusão
Desde o primeiro fôlego de Adão, os homens foram destinados a viver em relacionamento com Deus, e não como egos autônomos. A Bíblia inteira está apoiada nesse relacionamento, porque após responder ao fariseu, afirmando que o grande mandamento é amar a Deus e o segundo é amar ao próximo como a si mesmo, Jesus acrescentou:
"Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas" (Mt 22:40).
Jesus veio para nos livrar do ego e para restabelecer esse relacionamento de amor para o qual fomos criados. Durante séculos, foram escritos livros sobre amar a Deus e uns aos outros. Contudo, atualmente, cada vez mais, a igreja está sendo inundada por literatura ensinando-nos como amar-nos melhor, nos estimarmos mais, aceitar-nos como somos e desenvolvermos o nosso próprio valor.
- Nota ²: Quero deixar bem claro que não tenho absolutamente nada contra usar os recursos da Psicologia - antes, muito pelo contrário. Eu a considero uma ferramenta que não só pode mas deve ser usada. Entretanto, nenhum conceito psicológico se sobrepõe à autoridade absoluta das Escrituras. Na Bíblia - o manual de Deus para sua criação - temos todas as respostas que precisamos.
A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://circuitogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
Muitíssimo lindo e importante esse texto, as considerações finais foram incrível.
ResponderExcluirValeu por sua participação Marcelo. Um super abraço a você e continue me privilegiando com sua presença no blog.
ResponderExcluir