quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A SÃ DOUTRINA - TALENTO, DOM, MINISTÉRIO (UNÇÃO) E VOCAÇÃO: SÃO SINÔNIMOS ENTRE SI?

Muitas vezes fazemos uma verdadeira confusão entre Talento, Dom Ministério (Unção) e Vocação, inclusive há casos em que se mistura tudo dentro de um liquidificador e se tenta fazer uma "vitamina espiritual" para o cristão. Só que esses termos tem distinções entre si em sua origem, causa e efeito. Tentar unificá-los para se criar uma doutrina, caracterizar um indivíduo ou distribuir atribuições dentro do ambiente eclesiástico pode provocar inúmeras confusões. Neste artigo vamos analisar um a um em seus devidos lugares.

  • 1. Talento 

1) Natural

Talento: do latim: talentum, do grego antigo: τάλαντον, (leia-se talanton) significando "escala", "balança". Nome de moeda; Rico; Grande e brilhante inteligência; Disposição natural ou qualidade superior; Grande capacidade; Pessoa possuidora de inteligência rara.

Trata-se de uma CAPACIDADE concedida por Deus a todos os homens indistintamente, com o objetivo de capacitá-los ao serviço à humanidade e à própria realização, na esfera natural. O Talento Natural pode e precisa ser desenvolvido e pode ser aprimorado ao longo da vida.
  • Obs.: Pode ou não ser colocado à serviço de Deus. Pode ou não ser colocado à serviço da humanidade. Pode ou não ser colocado à serviço do próprio indivíduo. Pode ou não ser colocado à serviço do bem ou do mal.

2) Adquirido

CAPACIDADE conquistada e desenvolvida através da perseverança individual, motivada pelas circunstâncias ou pela apreciação do talento natural. O Talento Natural, na maioria das vezes, será superior ao Talento Adquirido. Sua serventia, porém, é igual ao do Talento Natural.
  • Obs.: Um indivíduo pode realizar tarefas e/ou desenvolver um Ministério Cristão Evangélico (no sentido real do termo) bem sucedido usando apenas seus talentos naturais ou adquiridos (consagrados ou não ao Senhor), sem a intensidade do Dom Espiritual, na dimensão do Espírito Santo.

  • 2. Dom Espiritual


Dom: Dádiva, presente; Capacidade, habilidade especial que nos é dado por Deus para realizar determinada função; Poder, virtude. Dons (do grego charismatõn) – poderes espirituais dados pelo Espírito Santo aos filhos de Deus.

"Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus" – (1 Pedro 4:10, grifo meu)

Trata-se de uma CAPACIDADE PERFEITA –  ou seja, não requer qualquer aprimoramento, por causa de sua origem  –concedida pelo Espírito Santo aos crentes indistintamente por ocasião do novo nascimento.

Os Dons Espirituais têm o objetivo de capacitar o crente para servir à Deus e à Igreja na esfera espiritual. O crente, por outro lado, experimenta o gozo do Espírito Santo.

A manifestação dos Dons Espirituais não significa, necessariamente, que aquela pessoa ou Igreja é "espiritual". Para ser espiritual, o crente e a Igreja precisam buscar a maturidade espiritual e o aperfeiçoamento do manejo dos Dons Espirituais.

Todas as Igrejas Cristãs Evangélicas têm todos os dons espirituais de que necessitam (segundo a "multiforme graça de Deus", já manifestados ou ainda latentes), distribuídos entre os crentes pelo Espírito Santo, de acordo com seu propósito, que é o de capacitá-las a reproduzir o ministério de Cristo. Os Dons Espirituais são imprescindíveis para a saúde espiritual da Igreja, sem o que ela funciona numa perspectiva puramente humana.

Um indivíduo pode pedir ao Espírito Santo que lhe conceda determinado Dom Espiritual, no qual gostaria de ser usado. O Espírito Santo pode lhe conceder ou não.

  • Obs.: A manifestação dos Dons Espirituais não depende dos talentos, porém, ambos podem se manifestar em harmonia num determinado momento.

  • 3. Unção Ministerial 


É a DISTINÇÃO ESPECIAL concedida por Deus que marca, separa e capacita alguns crentes para ministérios específicos no Reino de Deus e na Igreja Local, sendo que para isso o Espírito Santo relaciona-se com eles num grau e numa dimensão muito maior.

Estes ministérios específicos estão relacionados em Efésios 4:11, a saber: Apóstolo, Profeta, Evangelista, Pastor e Doutor (Mestre). A medida da unção é diretamente proporcional ao sucesso ministerial, isto é, na capacidade de realizar a obra de Deus.

  • 4. Vocação


"Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova" (Romanos 6:4). 

A pergunta "o que você vai ser" é tão antiga quanto o homem. Muito mais que um questionamento teológico responder a essa incógnita é assumir uma postura filosófica ante a vida de uma sociedade que marginalizou a transcendência da palavra "vocação".

Evidencia-se na vida humana em âmbito universal o dilema para responder a esta que é uma das mais inquietantes perguntas: por que estamos aqui?

Diante deste porquê a vida cristã torna-se um quebra cabeças a ser montado, a fim de desfrutarmos da alegria que o exercício da vocação produz. Entendendo que a vocação tem sua profunda dimensão "religiosa" seria muito profícuo examinar a teologia paulina da vocação. Para o apóstolo Paulo a vocação se distingue do mero talento humano. Partindo da sua própria experiência ele conceitua vocação como "uma convocação para ser instrumento de proclamação do governo e da providência divina" (Atos 9:15,16).

Buscando uma compreensão mais clara da Bíblia sobre o assunto encontramos no pensamento de Paulo a vocação como uma tremenda compulsão interior (1 Co 9:16).

Exegeticamente falando na referida passagem vocação é uma pressão interior, porém vinda de fora sobre sua vontade interior e pessoal. "Vocação é o lugar onde sua profunda alegria se encontra com sua profunda necessidade do mundo" (Frederishe Buchener).

No pensamento de Paulo a vocação tem duas dimensões:

  • A convocação à salvação precede a convocação ao serviço cristão (1 Ts 2:13; 1 Tm 6:12; Ef 1:4-5)
"Deus não colocou marcas brancas nas costas dos eleitos, do contrário eu passaria o resto dos meus dias levantando camisas nas ruas de Londres, por isso é meu dever pregar Cristo a todos" (Charles Spurgeon).

  • O serviço cristão precede o ingresso na família de Deus (Hb 3:11; 2 Pe.1:3; Fp.2:13; 2 Co.5:18).

Conclui-se então que não chegamos a este planeta com habilidades inatas, mas com um princípio vocacional: DESCOBRIR QUAL SUA VOCAÇÃO EXIGE QUE CADA UM MONTE AS PEÇAS DE SEU QUEBRA-CABEÇA.

Construamos, pois, uma rota com o mapa das escrituras que nos levem ao coração da vocação onde se encontram os tesouros do Espírito de Deus. 

A palavra vocação é oriunda da língua latina significando VOZ. Descobrir a vocação implica ouvir com atenção, fazer uma leitura das circunstâncias vivenciadas onde fomos utilizados de uma forma diferente e demonstramos habilidades que desconhecíamos.

Não existe romantismo na vocação, o exercício da vocação vai nos fazer transpirar responsabilidades. A vocação destrói toda virtude barata e toda paciência teatral, visto que na metáfora paulina do atleta a carreira que corremos é uma carreira de paciência (Filipenses 3:18). Não vencem os mais velozes, mas os que mantêm os olhos fitos no autor e consumador da vocação que lhe foi outorgada.

Pelo Batismo, o cristão é chamado a seguir Jesus Cristo, vivenciando seus ensinamentos, unido-se a Deus como filho e aos outros como irmão, formando a família de Deus que é a Igreja. Esta é a vocação cristã fundamental, válida para todos os cristãos indistintamente, sejam padres, religiosos ou leigos. 

A vocação cristã leva à plenitude o sentido da vida humana em relação a Deus, enquanto comunhão trinitária. O mistério do Pai, do Filho e do Espírito Santo fundamenta a existência humana como chamado ao amor no dom de si e na santidade. Pelo batismo, passamos a pertencer inteiramente a Deus e assumimos uma existência totalmente marcada por seu amor. Todos os cristão, consagrados pelo batismo, são chamados para viverem no mundo à maneira de Jesus Cristo. Nada e nem ninguém poderá cancelar essa vocação.

O Papel da Igreja e dos Pastores


  • Em relação aos talentos:
  1. Fazer um levantamento dos talentos que há na Igreja local.
  2. Levar os crentes a decidir consagrar seus talentos ao Senhor.
  3. Designar tarefas aos crentes de acordo com seus talentos.
  4. Proporcionar atmosfera adequada para que os talentos sejam usados em ordem e harmonia na Igreja local.
  5. Ensiná-los sobre as diferenças entre Talentos, Dons Espirituais e Unção Ministerial.

  • Em relação aos Dons Espirituais:
  1. Fazer um levantamento dos Dons Espirituais que há na Igreja Local.
  2. Designar tarefas aos crentes de acordo com seus Dons Espirituais.
  3. Proporcionar atmosfera adequada para que os Dons Espirituais se manifestem em ordem e harmonia na Igreja local.
  4. Ensiná-los sobre as diferenças entre Talentos, Dons Espirituais e Unção Ministerial.

  • Em relação à Unção Ministerial:
  1. Fazer um levantamento dos crentes que têm um chamado especial ao ministério.
  2. Conduzi-los ao seu ministério (treinamento e ordenação).

  • Em relação a vocação
No caso específico do entendimento no âmbito cristão, o mesmo procedimento referente à Unção Ministerial.

Conclusão


O talento é algo natural, o homem já nasce com ele, seja cristão ou não. O dom é dado por Deus, é uma capacidade, habilidade sobrenatural que é dada exclusivamente ao crente para edificação do corpo de Cristo.
Pois bem, sabendo isso, podemos agora analisar as diferenças existentes entre si.

No contexto bíblico, entende-se que Deus escolhe o homem para determinados fins. Ele, através de sua onisciência e onipotência, criou o homem com uma característica inigualável no aspecto da sua individualidade.

Assim, quando imaginamos que para execução de um determinado serviço é necessário a utilização de vários instrumentos, podemos deduzir que para cada tipo de obra, Deus se utiliza dessa individualidade do homem.

Então, pode-se concluir que todos nós nascemos com um TALENTO e através desse talento, descobrimos a nossa VOCAÇÃO. Quando essa vocação é voltada para a obra de Deus, recebemos o DOM de Deus que nos capacita para exercermos o MINISTÉRIO ao qual Deus tem nos chamado.

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