sexta-feira, 6 de maio de 2016

TAIS PAIS, TAIS FILHOS

"Ouvi, filhos meus, a instrução do pai; prestai atenção, a fim de alcançardes porquanto o ensino que vos ofereço é excelente; não desprezeis a minha doutrina. Quando eu era menino, ainda muito pequeno, filho único de meus pais, e meu querido pai me ensinava, dizendo: “Retém em teu coração as minhas palavras. O justo caminha na sua integridade; felizes serão os filhos de sua descendência." - Provérbios 4:1-4; 20:7 [Versão King James Atualizada]
Entre os vários assuntos abordados no livro de Provérbios, a educação dos filhos ocupa lugar de destaque. Neste artigo, a partir desse compêndio sapiencial, analisaremos algumas orientações em relação à instrução dos filhos no temor do Senhor. Atentaremos, a princípio, à realidade do sistema educacional moderno, respaldado no relativismo e na ausência de limites. Em seguida, nos voltaremos para o valor da instrução e correção, com base em Provérbios. Ao final apresentaremos conselhos práticos para o crescimento não apenas físico, mas, sobretudo espiritual dos filhos.

1. A Educação na modernidade


A educação na modernidade está fundamentada em princípios seculares, isto é, em valores que fogem aos padrões judaico-cristãos. As instituições de ensino foram tomadas pelo pensamento iluminista, a ofensiva, nesses últimos anos, está voltada para as famílias. Os pensadores educacionais se distanciaram de Deus, passaram a negar a realidade da fé, e a criticar a crença em um Criador. Como resultado, as pessoas estão cada vez mais sem esperança, voltadas para o materialismo, centradas no egocentrismo. 

O material didático produzido para as escolas sequer cogita a possibilidade da existência de Deus. Muitos professores, formados em universidades centradas no ateísmo, voltam-se contra a religião, afirmando que essa não passa de ópio, conceito filosófico defendido pelo nietzchismo. Nessa correnteza os valores cristãos, há muito defendidos para a família, estão sendo questionados, em favor de uma tendência culturalista. 

Tais pensadores incitam os pais a não repreenderem seus filhos, defendem que a ausência de limites é necessária para o desenvolvimento do caráter. A consequência dessa realidade é a formação de uma geração inteira de jovens que não se submete a autoridade dos pais, que desrespeitam os mais velhos e que vivem como se o universo girasse em torno de seus umbigos. 

As orientações paternas deixaram de ter valor, tudo passou a ser objeto de questionamento. Qualquer atitude de censura por parte dos pais é alvo de denúncia, até mesmo uma simples repreensão. Há ainda a ausência de ideais, de modelos a serem seguidos, os filhos não tem mais em quem se espelhar. A ênfase no individualismo enseja também comportamentos dúbios, a hipocrisia generalizada, assumida como algo normal, a fim de tirar vantagem do outro. 

Muitos filhos estão frustrados com os pais, que dizem uma coisa, mas fazem outra totalmente diferente. Esse comportamento hipócrita adentrou até mesmo as igrejas, muitos filhos não acreditam mais na fé exposta pelos pais, que não confere com suas práticas diárias.

2. Provérbios: uma visão educacional


Em oposição a essa realidade moderna, o livro de Provérbios nos apresenta uma série de orientações quanto à educação dos filhos. Para o autor desse livro a disciplina faz parte do processo de criação dos filhos. A repreensão não deve ser motivo de culpa, mas uma necessidade, um ato de amor, de alguém que considera seu filho (Pv 3:12). A passagem anterior é citada em Hebreus 13:7-9: "Lembrai-vos dos vossos líderes, que vos ensinaram a Palavra de Deus; observando-lhes atentamente o resultado da vida que tiveram, imitai-lhes a fé. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e eternamente! Não vos deixes influenciar pelas várias doutrinas heréticas. Porque o mais importante é fortalecer o coração pela graça" [VKJA], reforçando o princípio da disciplina amorosa. 

O uso da "vara" na correção


Ao contrário do que defendem alguns adeptos do humanismo sem limites, a correção, quando desempenhada com amor, traz resultados. Há uma passagem bastante controvertida no livro de Provérbios, que se encontra em 13:24, na qual existe uma orientação quanto ao uso da vara. Existem diversas análises teológicas a respeito do significado desse texto. 

Para alguns estudiosos, não se tratava da vara para açoitar, como se costuma fazer em alguns contextos, mas para chamar a atenção. O princípio, no entanto, permanece em relação à importância da correção, contanto que essa seja com amor. Essa também precisa ser feita no tempo apropriado, pois o tipo de disciplina depende da idade, e não pode ser postergada (Pv 19:18). 

Em Pv 22:6, os pais são orientados a ensinarem a criança no caminho em que devem andar, para que não se esqueçam dele quando crescerem (texto conhecidíssimo e sempre recorrente quando o assunto é educação no contexto cristão). Destacamos inicialmente que o exemplo é relevante, os pais precisam, portanto, estar no caminho, ou seja, precisam viver o que ensinam, para inspirar os filhos. Mesmo assim, isso não é garantia de que esses não se desviaram, pois o livro de Provérbios traz princípios gerais, não verdades específicas. 

Evidentemente as chances de se afastarem serão menores se os pais assumirem a responsabilidade de fazerem a sua parte. O problema é que não raramente muitos pais querem repassar essa responsabilidade à outrem: educadores, pastores, psicólogos. Timóteo é um exemplo de um jovem que foi instruído desde a tenra idade nas Sagradas Letras, produzindo frutos (2 Timóteo 3:15). Os filhos não são perfeitos, têm uma natureza pecaminosa, por isso carecem de repreensão (Pv 22:15). Esse é um motivo, em alguns casos, para o uso da vara, a fim de fustigar, não para espancar, e orientá-los quanto ao caminho a ser trilhado (Pv 23:13,14). 


"Síndrome de Eli"


Eli, o sacerdote, falhou nesse sentido, tratando seus filhos com liberalismo, resultando em ruína (1 Samuel 3:13). Os erros precisam ser identificados e corrigidos para conduzir os filhos ao caminho da sabedoria (Pv 29:15). Alguns filhos causam inquietação nos pais porque não foram disciplinados, não receberam a correção no tempo adequado, os pais foram omissos, não assumiram sua responsabilidade (Pv 29:17), é o que caracteriza o que eu chamo de "síndrome de Eli", um problema que infelizmente vem sendo identificado em muitas famílias no seio da igreja.

3. Orientações cristãs para a educação dos filhos


A educação dos filhos é uma tarefa complexa, para a qual os pais devem atentar, cientes das suas possibilidades e limitações. Isso porque existem diferentes tipos de pais, bem como de filhos, cada um deles com suas particularidades. Há os pais que são muito dominadores, que querem controlar todos os comportamentos dos filhos, mas isso pode resultar em amargura e revolta (Colossenses 3:21). Outros os superprotegem, evitando, a qualquer custo, a frustração, cujo resultado é facilidade desses serem manipulados pelos outros quando crescerem (Pv 13:24). 

Existem pais que acabam causando um excesso de dependência nos filhos, por serem possessivos e controladores, acompanham excessivamente tudo que os filhos fazem, fazendo com que esses se tornem indecisos e temerosos (Jr 17:5). O oposto disso é a falta de cuidado em relação aos filhos, a ausência de todo e qualquer tipo de responsabilidade, que pode causar insegurança e falta de objetivos definidos no futuro (1 Tm 3:4). 

O ideal é que os pais busquem ensinar aos filhos a se desenvolverem, acompanhando-os, através do encorajamento sincero, resultando em confiança e sabedoria (Lucas 2:40). Várias passagens da Bíblia admoestam quanto à necessidade de tratar os filhos com respeito (Cl 3:21), ao cultivo do diálogo produtivo (1 Tessalonicenses 4:1), à identificação de comportamentos negativos (Pv 19:18), ao encorajamento à responsabilidade (Pv 17:5), bem como ao reconhecimento das atitudes positivas (1 Ts 5:11). 

A educação dos filhos passa por uma série de atitudes, tais como: 
  • disposição para ouvi-los (Tiago 1:19), 
  • manifestação de amor entre os cônjuges (Efésios 5:33), 
  • não agir com favoritismo entre os filhos (Tg. 2:1), 
  • a disposição para pedir perdão diante das falhas (Mateus 5:23,24), 
  • sabedoria para lidar com as emoções (Cl 3:8) e 
  • disciplina amorosa, nunca fundamentada na raiva (Apocalipse 3:19).

Conclusão


Vivemos em uma sociedade marcada pelo secularismo, que se distancia cada vez mais dos princípios divinos. O humanismo anticristão favorece o relativismo e a ausência de regras, de limites. Diante dessa realidade, precisamos resgatar, a partir de Provérbios, e da Bíblia como um todo, orientações que oportunizem a educação consistente dos filhos, a fim de que esses temam ao Senhor, e vivam de acordo com Sua palavra. Mas a educação deve se pautar também pelo exemplo, não podemos ensinar uma coisa a agir de modo diferente, isso repercute negativamente na formação dos filhos.

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