Olha, confesso que falar sobre filmes de super heróis não é uma tarefa muito fácil para mim, pois não gosto muito do gênero. Mas gosto do Batman e de todo o mistério que o cerca. Na verdade, sou fã mesmo é da clássica série de televisão da década de 1960, Batman & Robin. Considero-a imbatível à despeito de toda a tecnologia com a qual conta os Batmans atuais.
Bom, mas não é da série que vou falar e sim de um dos filmes do Batman mais densos, mais sinistros, mais impecáveis que assisti: Batman - O Cavaleiro das Trevas, de 2008.
Bem, senhores, esta é uma incumbência de grande responsabilidade, escrever sobre este filme, eu quero dizer. Porque estamos diante de uma obra-prima. Está bem, em termos cinematográficos eu posso estar exagerando, não sei. É certo que eu sou um pouco parcial aqui, uma vez que, como já confessei, filmes de super heróis não são os meus preferidos e sobre super herói o meu preferido é o Batman.
Sobre o filme
Creio que temos que analisar os filmes dentro da proposta, gênero e universo que eles trazem consigo. Temos aqui um filme que poderia ser classificado como ação, a proposta é representar um super herói nas telas do cinema. A verdade é que nos dois quesitos Cristopher Nolan consegue um trabalho extraordinário. Eu falo, agora sem exagero nenhum e sem qualquer receio: é o melhor filme de super herói já feito na história do cinema. Na época da estreia do filme, não só parte da crítica e da imprensa mundial estava comigo, como também os números estavam ao meu lado para provar isto.
Os números
Com apenas 6 dias de exibição, o filme desbancou toda a bilheteria do antecessor “Batman Begins”, ou seja, passou dos 205 milhões de dólares. Aliás, foi o primeiro filme da história do cinema americano a alcançar os 200 milhões com 5 dias de exibição. À época (2008) ele também quebrou outro recorde: foi o filme de maior arrecadação de todos os tempos para um filme em sua segunda semana de exibição. No fim das contas, com a mesma facilidade o filme alcançou o segundo lugar da maior bilheteria de todos os tempos desbancando o vice há décadas Guerra nas Estrelas de 1977! Só perdeu para Titanic. Atualmente se encontra em 4º lugar, atrás de Avatar (1º), Titanic (2º) e Vingadores (3º). Todos que eu considero inferiores a este Dark Knight, mas nem tudo é perfeito…
Isto tudo no ranking dos EUA, já no ranking global o filme ocupa a 12ª posição de maior bilheteria de todos os tempos no mundo. Bom, se levarmos em consideração o mundo e toda a sua produção cinematográfica e todos os seres humanos da face da Terra que vão aos cinemas, até que não é uma posição ruim, e ainda, é o filme que inaugura a casa dos bilhões em arrecadação, com seus $1,001,921,825, atrás dele nenhum arrecadou em bilhões de dólares no mundo. Só a título de curiosidade, o primeiro lugar é também de Avatar, com seus módicos $2,781,505,847. Não era pra tanto, né?
Heath Ledger
Pode parecer piegas, mas falar sobre este filme sem exaltar o saudoso Ledger é cometer um pecado mortal. Ele já havia detonado em uma interpretação bombástica no polêmico e também premiado O Segredo de Brockbak Montain - um filme que, superando os preconceitos, é simplesmente maravilhoso. Mas o romântico e perturbado cowboy que se apaixonou pelo rancheiro foi só um ensaio para demonstrar o talento estupendo do soturno ator Heath Ledger.
Pra começar, vamos lembrar de toda aquela história de mistério que envolveu o filme? Um homem morreu por este filme, e eu falo de um bom ator. Não tenho certeza (e ninguém tem) se Heath Ledger morreu por complicações decorrentes especificamente da carga de stress e pressão que o papel de Coringa trouxe para ele, mas isso é verdade para muitas pessoas, e o que alimenta ainda mais a história fantástica é uma declaração do ex-Coringa e ator consagrado do Olympo de Hollywood, Jack Nicholson.
Conta à lenda que Jack procurou a produção do filme porque queria novamente encarnar o Palhaço no cinema (como já havia feito magistralmente em 1989 na primeira adaptação do Batman para a telona), mas como a ideia era arrumar um ator novo (tanto em idade, quanto em carreira) recusaram o pedido de Jack. Nunca procurei, e nunca soube se isso é verdade ou não, mas é a história que rolou na época. Uma coisa que aconteceu mesmo e tem vídeo no youtube para provar é a tal declaração de Nicholson, que depois da notícia da morte de Heath dada por um repórter a Nick numa entrevista, o veterano ator responde: "eu o avisei (i warned him)".
Nunca ficou claro o que ele teria avisado a Heath. A declaração, dentro destas circunstâncias, fica bastante macabra, não? Diz-se que ele teria conversado com Heath quando soube que o papel seria dele, e o alertado que era um papel muito difícil de se fazer, era uma personagem complexa. A questão é que Heath fez o melhor papel da carreira dele e infelizmente o último. Foi aquele papel crucial, decisivo para dar uma guinada em sua carreira, para elevá-lo à condição de ótimo ator perante muita gente, e muita gente importante.
Tal qual Cristoph Waltz no seu papel em Bastardos Inglórios do Tarantino, entende o que eu quero dizer? Prova disso é que logo depois de Batman viria a estrear O Imaginário de Dr. Parnasus, filme de Terry Gilliam – diretor genial, por sinal – em que Heath tinha um papel central, mas quando morreu deixou as filmagens no meio (Como contornaram este problema? Assistam ao filme, vale a pena.).
O Coringa
Ok, tivemos nesta masterpiece um Coringa perfeito. Lunático e doentio como nos quadrinhos do Dark Knight, com trejeitos e tiques nervosos sinistros, como um cara altamente perturbado, mas ao mesmo tempo que é irônico, engraçado e inteligente. Uma coisa interessante no filme são os seus discursos. Ele fala coisas extremamente lúcidas, faz análises filosóficas e sociológicas da condição humana, as quais poderíamos muito bem ouvir sair da boca de um filósofo, de um sociólogo ou até de um psicólogo.
Os seus discursos não são simplesmente vilanescos, montados segundo aquele estereótipo do bandido clássico de cinema, e do bandido de filmes de super heróis. Está certo também que a própria estrutura e psicologia do personagem dos quadrinhos ajuda o filme a se basear nisto, mas o filme ter este cuidado é louvável, é um ponto positivo, muitos diretores estragariam a personagem (como na própria primeira adaptação de 1989).
Vilanesco, sim, é ele pegar estes seus discursos e levá-los ao extremo, aplicar a teoria em condições extremas, causar uma abordagem anárquica, irresponsável, espalhar o caos (ele mesmo diz que é um "agente do caos… haha…" perfeito). Na história da humanidade mesmo tivemos vilões assim. Mas o trunfo aqui neste filme é que não temos um só vilão. Aqui neste Batman, Nolan soube muito bem como levar a história, apresentar os vilões todos, com foco no Coringa. E Heath Ledger abusou do direito de fazer bem feito.
Filmaço!
Bem desde a sequência inicial, você já sabe que não está diante de um filmezinho. A maneira como já começa o filme é provocante, é instigante, e isso já capta o espectador. Todos surpreenderam, porque experimentaram, e cinema é isso, o tempero fica muito melhor quando você muda um pouquinho que seja a receita, mas com segurança e determinação.
O diretor quis fazer experimentações e apostar em coisas inéditas feitas num filme de ação, os atores também ousaram e se liberaram, como o Heaht Ledger ou o Aaron Eckhart (Duas Caras/Harvey Dent), que costumavam mais fazerem papéis água-com-açucar em filmes românticos, não estavam habituados com papéis de vilões, e vilões complexos, nem com o gênero de ação/super herói, então como dar verossimilhança à personagem? Um problema facilmente contornado pela ousadia dos dois atores e pela capacidade que tiveram de se permitir aos respectivos papéis, de se doar mesmo à fantasia dos quadrinhos, do vilão.
E ainda temos Morgan Freeman - Eita, negão! -, Michael Caine e Christian Bale, que dispensam maiores comentários, pois sempre foram atores de destaque, muito competentes e acostumados a papéis variados. Daí temos cenas memoráveis, quase todas protagonizadas pelo Coringa - Olha o Heath Leadger aí, gente! Temos também frases de efeito memoráveis durante o filme. O figurino é um show a parte, a roupa e maquiagem do Coringa, não tem o que falar, né?! A roupa do Batman, toda reformulada e deram um jeito de colocar uma razão para esta reformulação no próprio filme (quando Wayne está se recuperando do ferimento dos cães da primeira luta, contra o Espantalho, e comenta com Alfred que precisa reformular a armadura).
A trilha sonora, outro show. O encarregado era o mestre dos mestres Hans Zimmer. Os efeitos sonoros também tivera preocupação clínica na sua montagem, contrataram um violoncelista apenas para a música que definia a personagem do coringa, e segundo eles, procuraram fazer com que toda a complexidade desta personagem fosse resumida em duas notas, que o violoncelista fez parecer uma corda que vai se esticando e nunca quebra (o som do qual eu falo é aquele de suspense de quando aparece o coringa), parece um avião que está chegando cada vez mais perto e faz aquele barulho constante mas crescente, que vai lentamente variando.
O nível de detalhe para cada cena do filme foi desse nível, ou seja, contratar um violoncelista, que foi várias vezes ao estúdio, tocar só duas notas, que até uma criança faria, e para ser trilha de uma personagem só, para uma ou outra cena que tem duração total ínfima dentro de 2h30. É realmente muito esmero e zelo para um filme, e tudo isso merece os milhões que a fita ganhou nos cinemas de todo o mundo, durante meses em cartaz.
Conclusão
Tivemos de tudo, desde um Christian Bale que fez questão de estar em pessoa numa situação de risco naquela cena em que estava no alto da torre em Hong Kong (que foi filmada sem truques, mesmo, no alto de uma torre em Hong Kong, com Bale lá, na beirada), cena de perseguição alucinante e clinicamente preparada como a do túnel, até a morte de um ator, que se tornou o ator principal do filme, a figura central, tomou a atenção para si, e teria sido assim também mesmo se Ledger não estivesse morto. A magia do cinema, os truques e ilusões, as explosões, tudo levado às proporções que a tecnologia e os tempos atuais nos permitem, mas com qualidade, refino, sem apelo puramente estético e entretenimento barato.
E no fim das contas, estamos diante de um épico mesmo. Novamente suscito aqui os número de bilheteria e recordes que o filme bateu. Ficou para a história. Quando assisti de novo, ao final do filme, exatamente quando termina o discurso épico do comissário Gordon e iniciam-se os créditos, inconscientemente tive a mesma reação da primeira vez que assisti sozinho (prefiro ir sozinho ao cinema), e na telona, a mesma empolgação de quem assiste pela primeira vez, e diga-se de passagem que a reação é mais ou menos a de uma garotinha vendo seu Justin Bieber ao vivo.
- Título Original: The Dark Knight
- Ano do lançamento: 2008
- Produção: EUA
- Gênero: Ação, Drama
- Direção: Christopher Nolan
- Roteiro: David S. Goyer e Christopher Nolan
- Elenco: Christian Bale, Heath Ledger, Michael Cane, Aaron Eckhart, Gary Oldman e Morgan Freeman
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