Você já deve ter visto a cena: um líder de uma igreja se envolve em algum escândalo e os meios de comunicação se voltam para ele, violentamente. Em momentos como esse, não adianta nem pedido de perdão em cadeia nacional, pois quanto mais se fala, mais enrolado se fica,
Imagino que as comunidades cristã nunca se acostumarão com a possível queda de seus líderes. O problema é que, apesar do número de escândalos estar cada vez maior, as igrejas não sabem nem mesmo como reagir. O dilema em horas como esta costuma ser defender o pastor das críticas alheias, ou ajudar a derrubá-lo com uma devastadora disciplina.
Tem ainda a mania de muitos líderes se posicionarem como "super-homem" e/ou "mulher-maravilha". Eles se apresentam diante da igreja como semi-deuses, se dizem blindados, inatingíveis, infalíveis, insofismáveis... e isso é uma mentira. Um teatro. Não existe nenhum ser humano infalível, imbatível, indestrutível, pois somos limitados e passíveis de erros em nossa trajetória de vida. Quando alguém assim comete algum erro, quando cai. O estrago é ainda maior, pois aqueles que o admiravam serão os mesmos que irão "crucificá-lo" na mesma ou em maior proporção.
O escritor Harry Schaumburg, no livro Falsa Intimidade, assusta-nos com a informação de que 37% dos pastores americanos já se envolveram sexualmente com pessoas de suas igrejas. Este número só contabilizou os desvios sexuais. Se outros desvios de comportamento estivessem em pauta (escândalos financeiros, conjugais etc) o susto se transformaria num pesadelo.
Socorro!
Em hipótese alguma desejo fazer apologia do pecado, mas uma defesa do amor cristão pelos pecadores, quer sejam líderes ou não. Suas posições já são bem pesadas (cf Tiago 3:1, 2), e falta de amor das igrejas faz com que a maior parte deles, ao passar por dificuldades, acabe escondendo, camuflando ou usando máscaras, em vez de procurar ajuda.
O problema está, então, dentro de nossas fronteiras. Não adianta esconder a cabeça debaixo da terra imaginando que as situações se resolverão naturalmente. A tendência de fingir que tudo vai bem não ajudará ninguém, muito menos a Igreja de Deus. Precisamos urgentemente repensar a maneira como trabalhamos ou tratamos o erro dos nossos líderes.
A própria Escritura Sagrada nunca tentou esconder os erros dos seus personagens. Os exemplos mais claros podem ser encontrados nas narrativas da monarquia, que começa com Saul e termina com o último rei de Judá. Todos gostam de relembrar os belos atos desses homens, mas não podemos nos esquecer das suas falhas. Eles não são simplesmente modelos de virtude. São, na verdade, protótipos de homens e mulheres que, no ministério de Deus, vencem, sofrem, choram, perdem... vivem! E até morrem.
Quem foram eles? Saul, o maior entre todos os homens de Israel, terminou como um louco suicida, atormentado por demônios, consultando feiticeiros e caçando os aliados como se estes fossem presas. Davi, o homem segundo o coração de Deus, o maior dos valentes de Israel, tornou-se assassino e adúltero. Entretanto, ao contrário de seu antecessor, ele reconheceu seu pecado, o confessou, o abandonou, alcançou o perdão divino e foi restaurado sem, contudo, deixar de colher as consequências de todos os seus (Salmo 51, 2 Samuel 12:10-12; Gálatas 6:7, 8).
E Davi pagou um alto preço pelos seus erros. Vou enumerar alguns: 1) O filho primogênito de sua relação adúltera com Bate-Seba morreu, pois Deus avisou que levaria a criança (12:18); 2) Um dos filhos de Davi, chamado Amnon, se apaixonou pela própria irmã Tamar e cometeu incesto ao estuprá-la sua irmã (13:1-14); 3) O filho de Davi chamado Absalão, mata seu irmão Amnon, por causa do estrupo cometido contra a irmã (13: 23-32); 4) O mesmo Absalão se volta contra seu pai e tenta usurpar o seu reinado, perseguindo-o implacavelmente (2 Sm 15 em diante); 5) E não parou por aí, Absalão promoveu uma orgia sexual em praça pública com as mulheres (16:22); 6) E ainda o mesmo Absalão é morto, e Davi lamenta e se culpa por sua morte (18:9-33). Ufa! E tudo isso aconteceu após a confissão, arrependimento e restauração do rei de Israel. E é válido salientar que todas as promessas de Deus para Davi se concretizaram gloriosamente em Jesus (Lucas 1:32, 33; Atos 15:14-18; Apocalipse 1:9).
Conclusão
Precisamos aprender a enfrentar o pecado, tanto em nossas vidas quanto na vida dos outros. Devemos estar o tempo todo examinando-nos para ver se ainda estamos de pé. Devemos ter consciência da própria pecaminosidade, fragilidades e limitações. Devemos crer no poder de Deus para restaurar a qualquer pecador. Assim, apesar das cicatrizes que com certeza ficarão, vai ficar mais fácil passar por todas as fases de um líder, desde os dias de glória, até as noites de pranto.
"Meus irmãos, se alguém for apanhado em alguma falta, vocês que são espirituais devem ajudar essa pessoa a se corrigir. Mas façam isso com humildade e tenham cuidado para que vocês não sejam tentados também. Ajudem uns aos outros e assim vocês estarão obedecendo à lei de Cristo. A pessoa que pensa que é importante, quando, de fato, não é, está enganando a si mesma. Que cada pessoa examine o seu próprio modo de agir! Se ele for bom, então a pessoa pode se orgulhar do que fez, sem precisar comparar o seu modo de agir com o dos outros. Porque cada pessoa deve carregar a sua própria carga. [...] Não nos cansemos de fazer o bem. Pois, se não desanimarmos, chegará o tempo certo em que faremos a colheita. Portanto, sempre que pudermos, devemos fazer o bem a todos, especialmente aos que fazem parte da nossa família na fé" - Gálatas 6:1-5, 9, 10 [NTLH].
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