Guerra santa é um assunto que ganhou destaque na imprensa depois dos trágicos atentados de 11 de setembro de 2001 - marco negativo na história recente dos EUA. E normalmente causa mal-estar e pesadas críticas de cristãos sinceros ao lembrar que, naquela ocasião, mais de 2 mil inocentes morreram nos choques dos aviões contra as Torres Gêmeas, em Nova York. Porém, o que poucos se dão conta é que algo muito parecido aconteceu milhares de anos atrás e está registrado nas páginas da própria Bíblia. Ali, mais precisamente no livro de Josué, Deus ordena sem qualquer cerimônia a seu povo que invada a cidade de Jericó e mate todos os cananeus que lá encontrar, seja eles homens, mulheres ou mesmo crianças.
Um Deus que é amor e manda matar?
Não é de hoje que a ordem divina provoca consternação geral. Afinal, por que um Deus tão bom, que quer a salvação de todos, ordenou tal massacre? Essa questão já gerou acaloradas discussões e realmente não há explicações fáceis. À primeira vista, a impressão que dá é que a divindade do Antigo Testamento é muito diferente daquela que enviou o próprio Filho para morrer numa cruz pela humanidade no Novo.
De fato, há uma descontinuidade de algumas práticas do Antigo para o Novo Concerto. Antigamente, os israelitas eram usados por Deus como instrumentos de seu juízo. Hoje, é uma traição ao Evangelho pegar em armas para promover os interesses de Cristo, diz o teólogo Tremper Longman III, no livro "Deus Mandou Matar?" (Editora Vida).
Para tentar solucionar o imbróglio, Longman propõe analisar a situação sobre dois atributos pessoais de Deus: seu amor e sua justiça. Ao mesmo tempo em que ele é amor e quer salvar a todos, também é justo e cobrará a cada um segundo suas obras. O relato de Josué mostra que houve pessoas em Jericó, inclusive a prostituta Raabe, de quem descenderia Cristo (Veja artigo http://circuitogeral2015.blogspot.com.br/2015/04/uma-prostituta-na-genealogia-de-jesus.html), que foram poupadas. Se houvesse outras pessoas que mudassem sua posição, igualmente seriam poupadas.
Deus não é injusto. Porém, naquele contexto, a população de Jericó teve conhecimento da chegada dos israelitas e tomou partido de seus deuses contra Yahweh. Naquele tempo, a revelação ainda começava e demoraria tempo para que os valores cristãos pudessem ganhar força e moldar a consciência social. Mesmo assim, quem tem problemas com relação à conquista de Canaã, também terá em compreender o juízo de Cristo, pois nele, todos os desobedientes, independente de idade ou condição serão jogados no lago de fogo.
Uma questão de fé
Inevitavelmente, a questão puxa outra: como um Deus amoroso permite tanto sofrimento no mundo? Para debater “o problema da dor”, como C. S. Lewis certa vez chamou o assunto, é necessário deixar algumas coisas claras. De acordo com a Bíblia, nessa história não há inocentes, todos pecaram e estão sujeitos às mais diversas situações em um mundo de injustiça. Não que esta seja a vontade divina. Pelo contrário: ele criou tudo perfeito, mas quando o homem se afastou de seus caminhos, permitiu a entrada da dor, do sofrimento e da morte no mundo. E é sabido por todos que o salário do pecado é a morte (Rm 5:12, 6:36, 1 Co 15:56, Tg 1:15) e isto, desde sempre.
A lição de que a rebelião – e todo pecado – leva à morte é muito clara no Jardim do Éden. Na ocasião, Adão e Eva deveriam ser mortos na hora, mas foram poupados e receberam uma nova chance. Essa graça é o motivo de qualquer um de nós ainda estar respirando. Deus minimiza o mal causado pelo homem. Assim operam sua justiça e seu amor, ainda que não aceitemos muito bem tudo isso.
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